Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 1
Consertando TVs


Notas iniciais do capítulo

Eu fiquei muito hesitante em escrever essa fic, pois eu já tinha concluído a trilogia. Mas acabei criando, pois vários fãs pediram.
NÃO, essa história não altera nada da trilogia.
SIM, ela é só uma história á parte. Um bônus.
SIM, espero que vocês gostem.



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- Mas... – Tentei dizer, mas minha mãe me interrompeu.

- Mas nada. – Disse ignorando meus protestos, mas de forma bem calma. Sua voz era controlada, embora a minha transmitisse toda a minha preocupação. Passei a mão pelo cabelo, e segurei o telefone com mais força.

- Mãe... Tem uma pizzaria nova aqui por perto. – Tentei como uma de minhas últimas esperanças – Eu tenho certeza que dá bastante gente, e que a comida é boa. Não é muito cara também, por isso...

- Não. Nem tente. – Cortou ela. Um corte rápido e violento, que fez meu coração e arder. Estava tensa e passava freneticamente a mão pelo cabelo, enquanto fechava os olhos buscando concentração.

Não tinha como. Daquela vez eu não poderia fugir, por isso eu tinha que fazer as coisas ficarem o menos deprimentes possível.

- Certo. Tá bom. – Confirmei um tanto irritada – Mas de jeito nenhum. Nenhum. Eu repito... Ne-nhum fale isso para o Ares. Ouviu?

- Tudo bem, Alice. – Confirmou minha mãe ao ver que ao menos eu iria dessa vez. Antes de desligar, entretanto, ela adicionou mais um ponto – Filha... Vai ser o aniversário dele. Por favor, não fique de cara fechada ou reclamando demais, ouviu? Por ele.

- Ah... Tudo bem. – Revirei os olhos. Ela me deu tchau e desligou o telefone. Deixei meu corpo cair no sofá, e soltei um suspiro pesado. Meus olhos bateram com o pequeno calendário ao meu lado na mesinha de cabeceira da sala de estar.

Dali á cinco dias seria o aniversário de 45 anos de William Hanks Lewis. Vulgarmente conhecido como senhor Kelly, meu padrasto. Ou só Will, é claro.

Esse detalhe também varia de acordo com quem pronuncia. Se for a minha mãe, em seus melhores dias, é Will em um tom extremamente doce e ameno. Se for meu pai, Hermes, é em um tom de nojo, como se estivesse tomando um remédio com um gosto detestável. Will.

Podia até imaginando ele torcendo o nariz ao pronunciar seu nome. Podia até imaginar ele fazendo uma careta ao saber que sua filha, musa de Apolo, garota da guerra, está de saída para uma visita ao seu lugar mais odiado em todo o mundo: Alabama.

Meu nome é Alice Hanks Kelly, 20 anos, imortal, e completamente desprovida de dons artísticos. Novamente, dependendo do jeito que você fala... Meu nome varia um pouco. Pode ser como a minha mãe, Jennifer (ou Jenny, para os amigos e familiares), em um tom repreendedor. Ou como...

- Kelly! – Desse jeito. Ares exclamou isso de modo um tanto impaciente, como sempre é claro, e entrou na sala sem tocar a campainha. O Deus da guerra usava sua típica jaqueta preta, óculos escuros, e uma calça jeans surrada – Cadê você, sua lesada?

- Bom dia, Ares. – Resmunguei olhando para ele. Os olhos de Ares me encontraram sentada no sofá, e ele os revirou.

- Você tem problemas de memórias por acaso? – Perguntou ele cruzando os braços um tanto irritado e impaciente. Eu olhei para ele sem entender, e Ares baixou os óculos de Sol.

- O que houve? – Perguntei sem saber, mas então me lembrei – Ah, você está falando da sua TV?

- É lógico que eu estou falando de minha TV! – Exclamou ele irritado – Para que mais você acha que eu viria aqui ás 9 da manhã?!

Eu bufei de cansaço. Além de ter que ir para o Alabama no dia seguinte aceitando a carona do Will e de minha mãe, eu ainda tinha que aturar Ares com seus ataques infantis.

Ares parou para refletir por um segundo e sorriu torto. Ele foi até o sofá e segurou o meu queixo ainda me olhando maldoso.

- Tudo bem... Eu poderia vir aqui para outras coisas. – Disse ele desviando seu olhar rapidamente para o meu minúsculo decote do suéter em V – Mas por enquanto é pela TV. Agora é melhor você me compensar pelo que fez.

- Eu já disse para você que a culpa não foi minha. – Disse desviando meu rosto de sua mão.

- Claro que foi. – Rebateu ele mantendo a calma.

- Foi nada! Você ficou irritado, e chutou o fio da TV. Ela tombou para trás e caiu. A culpa não foi minha. – Retruquei.

- Lembra porque eu fiquei irritado? Porque uma certa pirralha filha de Hermes estava discutindo comigo. – Comentou ele – E eu acho que a mesma pirralha filha de Hermes deve subir as escadas agora mesmo, e usar todo o seu charme para fazer um tal filho de Hefesto consertar a TV.

Eu ri disso, incrédula.

- Ah, claro. Eu vou subir e seduzir o Scott para ele consertar a sua TV. – Confirmei em sarcasmo – Já que você quer tanto isso, vai lá você e usa o seu charme.

- Se eu subir, eu vou usar outros meios. – Comentou ele com um sorriso maldoso. Eu franzi o cenho, um tanto incerta, mas acabei dando de ombros.

- Tá. Vai lá. – Disse despreocupada. Ares subiu as escadas e eu revirei os olhos achando aquilo ridículo. Ele era um Deus. Será que não podia concertar a porcaria da TV sozinho?!

Achava que ele faria algum acordo com Scott, mas o resultada foi um pouco diferente...

- Ah! – Berrou Scott do andar. Eu dei um pulo do sofá e arregalei os olhos para a cena. Ares segurava o pescoço de Scott, que se debatia tentando respirar.

- Ares! – Exclamei chocada – Põem ele no chão!

- Vou colocar ele no chão assim que chegar em casa, não se preocupe. – Sorriu ele descontraído. Quando Ares pisou no chão da sala, eu impedi sua passagem.

- Quer soltar ele?! – Reclamei. Ares revirou os olhos, e fez careta para mim.

- Você é mesmo uma chata. – Resmungou soltando Scott. O filho de Hefesto caiu de cara no chão, e começou a respirar pesadamente, pegando o máximo de ar que conseguia.

- Scott, você está bem? – Perguntei um tanto preocupada.

- Eu vi a minha vida... Passar diante dos meus olhos. – Murmurou ele sem ar – Ia ser um Game Over.

- Ainda vai ser se ficar enrolando aí no chão, moleque! – Reclamou Ares fingindo que iria dar um chute nele. Scott deu um pulo e se colocou de pé do meu lado – Ótimo. Agora vem logo.

Ele passou pela porta e eu fui logo atrás com Scott. Meu melhor amigo, filho de Hefesto, tentou arrumar o cabelo castanho que estava (como sempre) completamente bagunçado enquanto continuava a andar até a casa de Ares.

- O que ele quer comigo? – Perguntou ele sem saber.

- Ele quer que você concerte a TV dele. – Resmunguei de volta – A que ele mesmo quebrou.

- Mentira! Foi você, pirralha. – Rebateu Ares á alguns metros de distância. Eu soltei um suspiro pesado e olhei para Scott.

- Mas ele não estala os dedos e consegue uma nova? Ou fala “Abracadabra”, ou bate palmas... Sei lá. Coisas assim. – Perguntou Scott confuso.

- Eu também não entendo, mas se você perguntar ele vai responder “Por que eu não estou afim”, então é melhor ignorar. – Respondi revirando os olhos.

- As férias dele não vão acabar não? – Resmungou Scott.

- Vão. – Confirmei sabendo que assim que acabassem Ares iria embora – Daqui á 49 anos.

Scott arregalou os olhos para mim, mas assentiu devagar.

- Ah, claro. 49 anos. Eu só vou ter... Uns humildes 69 anos. – Confirmou ele – Se eu durar até lá, é claro, eu ajudo ele com as malas.

- Eu ouvi isso! – Berrou Ares com raiva, e Scott passou a mão pela cabeça. O Deus da guerra se virou com raiva, e Scott me fitou chocado.

- Alice! Mas que coisa mais horrível de dizer do seu namorado! Não repita isso. – Disse ele como se eu que tivesse pronunciado aquela frase. Eu assenti.

- Ah, desculpa. – Disse fingindo estar arrependida. Scott entrou na casa de Ares antes que ele ameaçasse todo o seu corpo, e eu o segui.

O filho de Hefesto ficou tentando consertar a TV o melhor possível, mas estava na cara que aquilo levaria um tempo. Ares jogou-se no sofá e observou a cena, enquanto eu sentei na outra ponta da mobília.

- Quem te ligou agora há pouco? – Perguntou Scott mexendo na TV. Eu gelei um pouco, pois Ares olhou para mim esperando a resposta também.

- Minha mãe. Ela quis lembrar que o aniversário do Will é daqui á cinco dias.

- Ah, e por acaso vocês vão á algum lugar? – Perguntou Ares inocente, esperando que eu respondesse “Alabama”, mas não faria isso.

- Não. Ele vai passar o dia inteiro trabalhando no banco. – Menti – Não vai ter tempo, por isso nós vamos só comprar os presentes para ele mesmo.

Ares bufou frustrado, e eu prendi um sorriso de felicidade. Se ele soubesse que eu iria para o Alabama, ia querer ir junto para me infernizar. Como se a família do Will já não fizesse isso, ele faria também.

- Cara... Eu tenho uma má notícia... – Murmurou Scott olhando para a TV. Ares inclinou-se para frente um tanto preocupado, e eu não entendi porque.

- Acho melhor isso não ter nada a ver com a minha TV. – Advertiu ele. Scott ficou mudo, e depois de alguns minutos, Ares quebrou o silêncio – Então?!

- Não vai querer ouvir, então. – Respondeu Scott.

- Fala logo, Collins! – Rugiu ele com raiva. Scott se levantou e foi andando para o canto mais afastado da sala.

- Olha... Eu sou só o cara que conserta a TV. A culpa não é minha, mas... – Scott respirou fundo tomando coragem – Não tem como consertar. Você quebrou quase todas as peças dela, e trocar é ridículo.

- Não fui eu! – Rugiu Ares levantando-se do sofá e apontando para mim – Foi a lesada da sua ex namoradinha!

- Ok... Mas mesmo assim... Não vale a pena consertar. – Respondeu Scott.

- Por que não vale a pena consertar?! É claro que vale a pena consertar! – Rugiu ele impaciente e raivoso como sempre.

- Não vale não. As peças custam muito mais o valor de uma TV nova. – Disse Scott – Cada uma custa em torno de uns 90 dólares. O tubo de imagem, as...

- Eu não quero saber os nomes ou o preço delas! Quero que você conserte, seu inútil! – Berrou Ares.

- Certo. Eu conserto para você. – Assentiu Scott – Dá as peças então.

- Como é que é? – Perguntou Ares.

- Ares, ele está falando que as peças são caras e que para consertar ele precisa delas. Só dá as peças para o Scott, ou faz surgir uma TV nova. – Traduzi para o cérebro minúsculo dele entender.

- Eu...! Eu... – Ele parecia irritado, mas ao mesmo tempo confuso – Não dá.

Seu cenho estava franzido como se aquela situação fosse uma grande conta matemática, complexa e impossível de se resolver. Ares começou a fazer algumas contas no dedo, e eu tive que me segurar para não rir da dificuldade que estava tendo com aquilo.

- Quantas peças quebraram? – Perguntou ele.

- Seis. – Respondeu Scott.

- Ahm... 90 cada, não é? – Murmurou ele confuso. Ares colocou a mão no bolso e contou algumas moedinhas – Uhm... Seis vezes... 90... Ahm... Zero... É...

Ele contou nos dedos novamente, mas ao ver que calcular 6x9 era difícil demais, ele simplesmente deu as moedas para Scott.

- Ah, toma aí e se vira. – Falou ele. Scott olhou para as moedas, fez uma conta rápida e olhou para Ares.

- Ahm... Para trocar as peças você vai gastar 540 dólares. – Disse Scott.

- Fica com o troco então. – Ele deu de ombros. Ares achou uma nota de dez dólares no bolso, e mais algumas moedas que não eram americanas e entregou tudo para Scott – Toma. Isso vai ajudar.

- Você... Você só me deu 10 dólares, 75 cents, e... Umas moedas chinesas. – Contou Scott. Ares fez uma careta.

- Droga... – Murmurou ele e depois olhou para mim – Kelly, dá para ele o resto.

- O “resto” são uns 530 dólares. – Comentei olhando para ele, e Ares deu de ombros – Ah, claro! Eu pago 530 dólares agora. Deixa eu pegar no meu bolso.

- Está sendo sarcástica? – Perguntou ele irritado.

- Não sei. Eu pareço sarcástica, ou você realmente acha que eu tenho 530 dólares? – Perguntei olhando para ele – Ares, só faz a porcaria da TV aparecer e pronto! Para de dar trabalho para o Scott.

- Se fosse por isso, eu já tinha feito uma TV aparecer antes, sua lesada! Ou você acha que eu gosto de pedir ajuda para o filho do Hefesto? – Rebateu ele irritado.

- Qual é o problema então? – Perguntei sem entender. Ares ia gritar alguma coisa, quando resolveu ficar quieto. Ele olhou em volta, como se alguém o observasse.

- Tá quase na hora do jogo de Futebol americano... Droga... – Resmungou sozinho, mas então olhou para mim com um sorriso tenso – Problema? Problema nenhum. Nenhum...

Ares foi dando passos discretos e duros em direção á TV, como se ele não quisesse que alguém notasse que ele se aproximava de lá. Eu e Scott nos entreolhamos pensando que ele estava maluco.

Ele tocou na TV e de repente ela começou a funcionar. Só que o volume estava alto. Ares arregalou os olhos.

- Abaixa! Abaixa isso! – Gritou ele nervoso. Eu peguei o controle e abaixei o volume. Ares suspirou aliviado e se jogou no sofá. Depois da alguns momentos de comemoração sozinho, ele olhou para nós dois – Vocês não viram nada, ouviram?!

- Tá... Bom. – Respondi sem entender. Alguém bateu á porta, e eu me levantei para atender. Ares parecia um pouco tenso, embora eu não entendesse porque. Quando abri a porta, Atena entrou na sala com um largo sorriso no rosto. Ares olhou para ela e sorriu também.

- Ah, é você. Como vai maninha? – Perguntou ele com um sorriso.

Atena ergueu uma sobrancelha para ele.

- Não. – Respondeu ele, como se lesse os pensamentos da Deusa – Não, eu não perdi! Eu não fiz nada.

- Fez sim. – Atena apontou para a TV – Você perdeu, irmãozinho.

- Mentira! O moleque consertou a TV para mim. – Reclamou Ares.

- Mentira! Eu ouvi muito bem. – Disse Atena rindo. A Deusa começou a dançar comemorando, enquanto Ares a xingava de vários nomes ruins – Eu ganhei a aposta, Ares! Você sabe muito bem disso!

- Aposta? – Repeti junto com Scott, sem entender nada. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Se vocês não gostaram, podem falar, ok?
Mandem reviews. Dessa vez eu fiquei insegura em postar essa fic.
Até os reviews, e o próximo capítulo! Beijos e obrigada por lerem.