Lágrimas por Amor escrita por Aki Nara
De repente, a bela senhora procurou seus olhos, encarando-a como se quisesse ver dentro dela. Seu coração doía vendo aquela mulher derramar lágrimas e as palavras fluíram sem pensar. Era estranho... Mas era como se soubesse o que Maya diria naquele momento.
_ Umi... – a mulher sorriu de um modo doce e se levantou – Ficarei imensamente feliz. Vou deixá-la para que possa se trocar. Kenzo virá lhe buscar. Até depois.
O quarto tinha seu próprio banheiro. Ela já havia tomado um banho e trocado de roupa. Apesar do tecido leve, não sentiu frio. A casa toda tinha aquecimento central. Era um sonho estar ali, estaria sonhando e acordaria a qualquer momento no sofá gelado com mais três crianças? Assim pensava quando a porta bateu.
_ Você está muito graciosa, “Rosa pequena do mar”.
_ Doutor Kaneshiro? O q-que fa-faz aqui? – gaguejou tamanho o susto. O doutor fez troça do seu nome.
_ Agora é Kenzo. Esta é minha casa. E vim até aqui porque minha mãe me pediu para levá-la até a sala de jantar.
_ Sua casa? Então...
_ Sim. Maya foi minha irmã.
_ Oh. Mas...
_ Deixe as conjecturas para depois. Venha... Tivemos um péssimo natal e o ano novo seria muito triste sem você. Pronta?
_ Não... Virá muita gente? – estava nervosa.
_ Só as pessoas mais próximas. É a primeira vez que mamãe recebe gente nesta casa novamente.
_ Estou bem mesmo? – voltou-se para o espelho.
_ Deixe-me ver... – ele disse pensativo. – Acho que está faltando algo.
_ O quê? – ela arregalou os olhos. – O que esqueci?
_ Isso – fez aparecer um cordão com um crucifixo por entre os dedos colocando-o em seu pescoço. – Feliz natal atrasado. Espero que ainda esteja aqui conosco depois do ano novo.
_ Obrigada – tocou a cruz como se aquilo pudesse protegê-la de tudo que estava por vir.
_ Agora, vamos.
_ Vamos – sorriu feliz.
x-x-x
A sala de jantar não chegava aos pés do refeitório em tamanho, mas era muito luxuoso. Por alto, havia cadeira para umas vinte pessoas e no exato momento que eles entravam, todas as cabeças se voltavam para eles.
_ Boa noite! – ela cumprimentou educadamente.
_ Boa noite – ouvia o eco de todas as partes.
_ Umi, aqui ao meu lado – a senhora Kaneshiro apresentava a cadeira vazia ao seu lado.
O senhor Kaneshiro aguardava pacientemente que o doutor e ela se acomodassem.
_ Boa noite. Amigos e família. É com muita alegria que os recebo hoje. Espero que possamos fazer isso sempre por muito tempo. Como todos vocês sabem... Este ano... – a voz dele saiu embargada e ele limpou a garganta – tivemos uma grande perda nesta família. Minha filha era jovem demais, mas a vida deve continuar... Eu e Takako pensamos em dar um sentido para nossa vida sem a presença alegre de Maya.
Havia expectativas em demasia e as palavras do senhor Kaneshiro doíam-lhe na alma. Eram sensações novas e emoções vibrantes. Umi sentia seu coração bater forte, desesperado e sofrido.
_ E resolvemos dar continuidade ajudando alguém na mesma idade e proporcionar a mesma vida que daríamos a ela, um lar, uma família, um futuro... E escolhemos você, Umi. Espero que concorde em ficar conosco.
Antes mesmo que ela pudesse responder uma cadeira foi derrubada. Ela olhou para onde o som vinha. Um garoto de sua idade estava de pé, havia raiva e zanga em suas palavra, mas seus olhos estavam impregnados de tristeza. Foi ali que ela teve a certeza que os olhos eram realmente as janelas da alma.
_ O senhor está louco? Dar continuidade? Esquecendo a Maya e colocando outra no lugar dela? – ele caminhou em sua direção e a puxou com força. – Essa garota nunca vai tomar o lugar dela. NUNCA!
De pé, ela puxou seu pulso preso enquanto o doutor colocava as mãos no ombro do garoto para tentar acalmá-lo. Por incrível que pudesse parecer não conseguia odiá-lo por sentir falta de Maya e quando abriu a boca falou com uma calma eloquente que não sabia possuir.
_ O que você sabe sobre a vida vivendo tão bem? É muito egoísmo seu achar que é o único que perdeu alguém querido. Visite o orfanato onde eu moro e você vai ver quantas pessoas perderam tudo. Pelo menos você tem uma família, tem casa para morar, pode cursar a universidade que quiser, trabalhar no que escolher e para isso, basta continuar a viver sua vida.
A sala estava tomada pelo silêncio exceto por suas palavras.
_ Sei que Maya foi irmã do doutor e que era muito estimada. Eu sinto pesar por todos aqui porque reconheço essa dor. Mas não vim para ocupar o lugar de uma pessoa que não conheci. É sobre meu futuro que estamos falando. Que direito você tem de interferir na oportunidade que o senhor e a senhora Kaneshiro querem me dar?
O garoto saiu da sala como um furacão. De repente, a noite perdia o brilho e um clima pesaroso se instalava. Porém, o jantar foi servido apesar do contratempo. Era impossível não comparar a mesa com comida farta e o prato de sopa que serviam no orfanato. E assim, Umi tentava comer o que podia.
_ Não ligue para as coisas que o Asuka disse. – o senhor Kaneshiro se aproximou – eles eram namorados e tem sofrido bastante.
_ Ele não é o único – ela tocou-lhe no braço delicadamente.
O senhor Kaneshiro continha as lágrimas que teimavam em querer sair.
_ Desculpe. Acho que preciso ir ao banheiro - ele se afastou desviando de todos em seu caminho.
_ Claro.
_ Eu era contra a sua vinda – o doutor a olhava pensativo.
_ Por quê?
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Oomisoka - Véspera de Ano Novo