Lágrimas por Amor escrita por Aki Nara


Capítulo 4
Capítulo 4 - Oomissoka




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De repente, a bela senhora procurou seus olhos, encarando-a como se quisesse ver dentro dela. Seu coração doía vendo aquela mulher derramar lágrimas e as palavras fluíram sem pensar. Era estranho... Mas era como se soubesse o que Maya diria naquele momento.

_ Umi... – a mulher sorriu de um modo doce e se levantou – Ficarei imensamente feliz. Vou deixá-la para que possa se trocar. Kenzo virá lhe buscar. Até depois.

O quarto tinha seu próprio banheiro. Ela já havia tomado um banho e trocado de roupa. Apesar do tecido leve, não sentiu frio. A casa toda tinha aquecimento central. Era um sonho estar ali, estaria sonhando e acordaria a qualquer momento no sofá gelado com mais três crianças? Assim pensava quando a porta bateu.

_ Você está muito graciosa, “Rosa pequena do mar”.

_ Doutor Kaneshiro? O q-que fa-faz aqui? – gaguejou tamanho o susto. O doutor fez troça do seu nome.

_ Agora é Kenzo. Esta é minha casa. E vim até aqui porque minha mãe me pediu para levá-la até a sala de jantar.

_ Sua casa? Então...

_ Sim. Maya foi minha irmã.

_ Oh. Mas...

_ Deixe as conjecturas para depois. Venha... Tivemos um péssimo natal e o ano novo seria muito triste sem você. Pronta?

_ Não... Virá muita gente? – estava nervosa.

_ Só as pessoas mais próximas. É a primeira vez que mamãe recebe gente nesta casa novamente.

_ Estou bem mesmo? – voltou-se para o espelho.

_ Deixe-me ver... – ele disse pensativo. – Acho que está faltando algo.

_ O quê? – ela arregalou os olhos. – O que esqueci?

_ Isso – fez aparecer um cordão com um crucifixo por entre os dedos colocando-o em seu pescoço. – Feliz natal atrasado. Espero que ainda esteja aqui conosco depois do ano novo.

_ Obrigada – tocou a cruz como se aquilo pudesse protegê-la de tudo que estava por vir.

_ Agora, vamos.

_ Vamos – sorriu feliz.

x-x-x

A sala de jantar não chegava aos pés do refeitório em tamanho, mas era muito luxuoso. Por alto, havia cadeira para umas vinte pessoas e no exato momento que eles entravam, todas as cabeças se voltavam para eles.

_ Boa noite! – ela cumprimentou educadamente.

_ Boa noite – ouvia o eco de todas as partes.

_ Umi, aqui ao meu lado – a senhora Kaneshiro apresentava a cadeira vazia ao seu lado.

O senhor Kaneshiro aguardava pacientemente que o doutor e ela se acomodassem.

_ Boa noite. Amigos e família. É com muita alegria que os recebo hoje. Espero que possamos fazer isso sempre por muito tempo. Como todos vocês sabem... Este ano... – a voz dele saiu embargada e ele limpou a garganta – tivemos uma grande perda nesta família. Minha filha era jovem demais, mas a vida deve continuar... Eu e Takako pensamos em dar um sentido para nossa vida sem a presença alegre de Maya.

Havia expectativas em demasia e as palavras do senhor Kaneshiro doíam-lhe na alma. Eram sensações novas e emoções vibrantes. Umi sentia seu coração bater forte, desesperado e sofrido.

_ E resolvemos dar continuidade ajudando alguém na mesma idade e proporcionar a mesma vida que daríamos a ela, um lar, uma família, um futuro... E escolhemos você, Umi. Espero que concorde em ficar conosco.

Antes mesmo que ela pudesse responder uma cadeira foi derrubada. Ela olhou para onde o som vinha. Um garoto de sua idade estava de pé, havia raiva e zanga em suas palavra, mas seus olhos estavam impregnados de tristeza. Foi ali que ela teve a certeza que os olhos eram realmente as janelas da alma.

_ O senhor está louco? Dar continuidade? Esquecendo a Maya e colocando outra no lugar dela? – ele caminhou em sua direção e a puxou com força. – Essa garota nunca vai tomar o lugar dela. NUNCA!

De pé, ela puxou seu pulso preso enquanto o doutor colocava as mãos no ombro do garoto para tentar acalmá-lo. Por incrível que pudesse parecer não conseguia odiá-lo por sentir falta de Maya e quando abriu a boca falou com uma calma eloquente que não sabia possuir.

_ O que você sabe sobre a vida vivendo tão bem? É muito egoísmo seu achar que é o único que perdeu alguém querido. Visite o orfanato onde eu moro e você vai ver quantas pessoas perderam tudo. Pelo menos você tem uma família, tem casa para morar, pode cursar a universidade que quiser, trabalhar no que escolher e para isso, basta continuar a viver sua vida.

A sala estava tomada pelo silêncio exceto por suas palavras.

_ Sei que Maya foi irmã do doutor e que era muito estimada. Eu sinto pesar por todos aqui porque reconheço essa dor. Mas não vim para ocupar o lugar de uma pessoa que não conheci. É sobre meu futuro que estamos falando. Que direito você tem de interferir na oportunidade que o senhor e a senhora Kaneshiro querem me dar?

O garoto saiu da sala como um furacão. De repente, a noite perdia o brilho e um clima pesaroso se instalava. Porém, o jantar foi servido apesar do contratempo. Era impossível não comparar a mesa com comida farta e o prato de sopa que serviam no orfanato. E assim, Umi tentava comer o que podia.

_ Não ligue para as coisas que o Asuka disse. – o senhor Kaneshiro se aproximou – eles eram namorados e tem sofrido bastante.

_ Ele não é o único – ela tocou-lhe no braço delicadamente.

O senhor Kaneshiro continha as lágrimas que teimavam em querer sair.

_ Desculpe. Acho que preciso ir ao banheiro - ele se afastou desviando de todos em seu caminho.

_ Claro.

_ Eu era contra a sua vinda – o doutor a olhava pensativo.

_ Por quê?


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Notas finais do capítulo

Oomisoka - Véspera de Ano Novo