No escritório de Yuji, os irmãos aguardavam a chegada de suas respectivas garotas para jantarem num restaurante, uma já era esposa e a outra ainda... Kenzo ainda não sabia como definir o relacionamento de ambos.

_ Então? Como foi a lua-de-mel? Valeu a expectativa? – o médico sorriu para o empresário.

_ Você está muito curioso – o irmão sorriu de um jeito cândido. – Mas é óbvio que duas pessoas recém-casadas estejam ainda num mar de rosas. E quanto a você? Soube que já estão morando juntos. Quando vamos ter um outro casório?

_ Ora, pelo seu humor eu diria mesmo que está tudo bem. Quanto a mim... – serviu-se de um gole da bebida e olhou para o líquido dentro do copo – não quero apressar algo que não está definido.

_ Meu Deus! Você não aprendeu nada? – Yuji recostou a nuca no sofá.

_ O que você sabe que eu ainda não saiba?

_ Kenzo... Você é um caso perdido – inconformado balançou a cabeça, respirou fundo e a seguir falou como se estivesse explicando algo muito importante para uma criança. – Meu irmão... Não digo que você deve seguir meus passos. Eu sei que na maior parte do tempo, eu fui muito irresponsável, mas prudência em demasia pode nos fazer perder um tempo que não temos. Entende?

_ Não se esqueça que sou médico, Yuji. Vejo pessoas morrendo todos os dias... Penso em Maya todos os dias, como ela poderia estar aqui conosco...

_ Se tem essa consciência... Não deixe a vida passar sem que tenha vivido porque o melhor de morrer é saber que não deixamos muita coisa para trás.

_ Okay! Chega de sermões. Onde iremos jantar? Você escolhe.

_ Ah! Então, é você quem vai pagar?

_ Claro! Estamos oferecendo as boas-vindas para os recém-casados. Aproveitarei a ocasião para fazer uma encomenda – Kenzo disse cinicamente.

_ Agora me deu medo. Já quer sobrinhos??

_ De preferência bonita como a mãe.

_ Isso é óbvio! Não que eu seja feio...

_ Não posso discordar.

_ Mas eu sou o irmão gêmeo mais bonito – eles riram um do outro.

A conversa seguia entre risos e deboches, sem prever que o destino tinha uma rota diferente para o caminho que eles gostariam de trilhar.

***

Umi entregou-se àquele sonho porque sentia que a felicidade não bateria à sua porta duas vezes e vivia cada dia com Kenzo como se fosse o último e talvez por isso sentisse suas emoções a flor da pele. Ou seria o coração apaixonado que tornava os sentimentos mais intensos e vibrantes? Sentia o peso da felicidade transbordando em sua alma.

_ Senhorita Obara?

_ Sim.

_ Por favor, sente-se. O laudo de seu exame acabou de sair...

Alguma coisa nos modos do médico, a deixaram apreensiva. Ela se sentou cruzando as pernas e aguardou para receber a notícia que não veio. Ela foi atropelada por um questionário extenso antes disso. O médico folheava os papéis como se estivesse analisando uma questão difícil até que por fim ouviu falar calmamente.

_ Seu E.C.G e ecocardiograma indicam uma leve arritmia, ou seja, uma alteração em suas batidas cardíacas. Segundo o que acabamos de pesquisar, todos os sintomas confirmam esse resultado. Faremos um tratamento inicial com medicações para normalizar sua freqüência cardíaca.

_ É grave?

_ Ainda é cedo para dizer. Porém as complicações não estão descartadas.

_ O que isso quer dizer?

_ Que se não conseguimos controlar seus batimentos através da medicação estará sujeita a lesar os músculos que bombeiam sangue para o seu coração e para os outros órgãos – ele fez uma pausa e o silêncio minava seus nervos.

_ Se isso ocorrer poderá necessitar de um transplante.

_ Transplante?? – empalideceu. Era irônico que após receber um transplante de córnea, ela fosse necessitar de um transplante de coração.

_ Sim... As dificuldades são imensas porque há uma longa lista de espera para encontrar um doador, há os riscos da cirurgia que precisam ser enfrentados e ainda o combate a rejeição. Mas não vamos colocar a “carroça antes dos bois”, está bem?

Ela apenas anuiu balançando a cabeça.

_ Aqui está a receita. Preciso que venha todo o mês, fielmente. Concorda?

_ Obrigada, doutor – ela guardou a receita e apertou a mão estendida do médico antes de sair.

Do lado de fora, as lágrimas surgiram embaçando a vista, não conseguia enxergar o chão muito menos o caminho para a saída. Ela tateou a parede do corredor, sentia a frieza através de sua palma e deslizou acabando sentada num assento.

_ Umi Você está bem?