Lágrimas por Amor escrita por Aki Nara


Capítulo 1
Capítulo 1 - A oração




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O vento entrou movendo as cortinas. Sentada à janela senti o sopro refrescar meu rosto. Uma estrela cadente passou veloz e então tocando meu pingente pedi para que ele fosse feliz.

Foi numa noite cálida como aquela, que ele perdeu a esperança. E de bom grado trocaria a sua felicidade pela dele, era uma pena que nada neste mundo vinha de graça. Nem mesmo o pedido mais singelo de uma criança.

Queria voltar para os dias em que o mundo parecia melhor. Para os dias de ingenuidade infantil onde pedia para as estrelas um desejo e rezava para a lua realizá-lo, mas foi para Deus a quem prometi voltar a ter esperança.

Nunca pensei em ter mais direitos que outras pessoas, nem que viver pudesse causar sofrimento... Muito menos para alguém que cruzaria meu caminho e viria a amar. Não pensei que minha vida dependia da infelicidade de quem nunca deveria conhecer.

x-x-x

Era 09 de setembro de 1999, no Hospital de Saint Elmo’s. Umi Obara realizava alguns exames anuais sem perder as esperanças. Uma forte gripe havia adiado sua partida, mas ela esperava ter alta naquele mesmo dia.

Sentava-se na cadeira de rodas enquanto se expunha ao sol, que lhe aquecia o corpo. As pessoas passavam por ela, sem perceber que não podia enxergar e, ali sozinha, lembrava dos dias em que corria feliz pela campina perto de sua casa, colhendo flores para a mãe.

Eles viviam felizes... Pelos menos assim ela supunha, porque recordava cenas nebulosas onde havia muito riso. Ela não lembrava do acidente fatal que vitimou os pais. E quando acordou para a vida encontrava-se num catre, na enfermaria do orfanato que seria seu lar por um longo tempo.

A vida havia perdido o brilho e a luz que iluminava seus dias desapareceu gradativamente de seus olhos. Tinha oito anos quando a escuridão a envolveu... E foi nessa ocasião que ela percebeu a diferença entre escolher a solidão tendo pessoas à volta ou sentir o impacto de realmente estar só.

Talvez, tivesse que ser assim, perder a visão para ver o mundo através da sensibilidade das pessoas ao seu redor. Ela não tinha uma opinião que pudesse dizer ser sua. Tudo que conhecia do mundo era pelo que as pessoas lhe diziam.

_ Mona-neechan! – Yurika, uma menina de cabelos curtinhos jogou-se em seus braços esbaforida.

_ O que aconteceu? – ela disse surpreendida.

_ Você conseguiu!

_ O-o quê? – gaguejou esperando a notícia mais aguardada.

_ Um doador para seus olhos. Você vai voltar a enxergar!

As mãozinhas apertaram as suas e de repente, a sua volta sentiu outras mãos tocando sua face, os cabelos, os ombros e várias pessoas que conseguia distinguir felicitavam-na.

Enfim, seu desejo havia sido concedido. Provavelmente teria derramado lágrimas se pudesse tê-las, mas Umi nunca mais chorou. Nem uma única gota que seja de felicidade ou tristeza pela simples razão de não possuir as janelas de sua alma.

E mesmo estando apreensiva para enfrentar o desafio de uma nova realidade e com medo de se decepcionar diante da perspectiva de enxergar novamente, só conseguia demonstrar seu sorriso de Mona Lisa.

x-x-x

No mesmo dia no Centro da cidade, setembro chegava trazendo o frio e o tom avermelhado das folhas nas copas, revelando o outono no parque enquanto dois adolescentes caminhavam de mãos dadas pela orla dos arcos.

_ Você prometeu que sairia comigo, Asuka.

_ Faz um tempo que a turma me convida e toda vez eu recuso. É só por algumas horas, Maya.

_ Algumas horas pra mim é muito tempo pra ficar sem você – ela disse amuada. – Você ainda me ama?

_ Eu gosto muito. É cedo pra falar em amor. E depois, aos dezessete... Nós temos todo o tempo do mundo, não? – o rapaz beijou a namorada na testa.

_ Como sabe se a gente vai estar aqui amanhã? Você me deve um milk shake.

_ Não faz drama. Fechado.

Naquele dia, Asuka não deveria ter largado a mão de Maya. Talvez, ela ainda estivesse viva. Mas... Aos dessete era difícil pensar no acaso, a vida seguia seu curso sem perceber que o dia seguinte poderia não existir. E ele havia seguido voltando-se apenas para acenar enquanto ela o observava partir.

Maya esperou o sinal abrir para atravessá-lo, ela nem sequer chegou a dar dois passos antes que o carro a jogasse no ar e seu corpo caísse sob asfalto. A morte era imparcial e por vezes impiedosa.


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