SasuHina :: Moon Light escrita por Nana


Capítulo 2
Monotonia


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo, obrigada a todos os lindos e lindas que leram e para os que comentaram. *-*



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Hinata's POV

Eu carregava uma pilha de papéis que deveria levar ao conselho do clã. E até aquilo me apavorava. Todos aqueles conselheiros pareciam querer apenas insinuar o mesmo que meu pai me insinuava há anos: “Você não está pronta. Não é digna do clã.” Meus passos eram apressados pelos corredores da mansão principal, que estaria vazia se não fosse por mim e Hanabi. Uma leve preocupação pairou sobre mim ao lembrar minha irmã. Kiba-kun deveria chegar logo para busca-la e imaginei que meu pai não gostaria muito da frequência com que Hanabi estava encontrando Kiba-kun. Fazia pouco mais de um mês que eles estavam namorando. Meus pensamentos flutuaram então para Neji e meu pai, que estavam bem distantes dali. Imaginei quanto tempo iria demorar para que meu pai melhorasse. Desde sua ida, eu tentava conseguir uma missão fora da vila, ou até mesmo dentro dela, só para não ter que ficar andando por ali sozinha. Deixava-me angustiada a ideia de meu pai não voltar. Ou de fazer algo errado e os conselheiros me entregarem.

Eu realmente me surpreendi por ele ter me deixado na liderança do clã durante sua ausência. Claro que eu já deveria ter assumido a liderança desde os meus dezoito anos, mas nem eu mesma acreditava estar preparada. “Talvez esteja me testando”, pensei. Agitei minha cabeça de forma negativa, tentando dissipar aquela ideia. Naruto-kun disse que meu pai talvez estivesse começando a confiar em mim. Talvez ele tenha razão. Sobre o Naruto-kun... Eu ainda sinto algo por ele. Só não sei dizer bem o que.

– Hyuuga Hinata. – Uma voz desconhecida me chamou, me tirando da minha linha de pensamento. Sobressaltei-me, por estar distraída, e quase deixei um grito escapar. Segurei firmemente os papeis, tendo certeza que tudo ainda estava ali.

– Sim...? – Indaguei, voltando meu olhar para o Anbu que eu não fazia ideia de onde havia saído.

– Hokage-sama espera por você. – Ele disse. Uma missão? Não importava qual fosse, eu aceitaria.

Não sei se isso vai te convencer ser o motivo de eu estar aqui, com Sasuke, mas foi mais ou menos isso. Eu precisava de uma missão. Ele precisava de mim para ter sua liberdade. E eu acreditava nele. Acreditava que ele poderia se agarrar a essa segunda chance. Uma segunda chance de honrar o nome do seu clã, diferente do que eu acreditava de mim. Uma segunda chance de honrar as palavras de Naruto-kun, que também esperava muito dele.


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Sasuke's POV

Os dias passavam rapidamente, pelo menos para mim, mesmo monótonos do jeito que eram. Qualquer coisa era melhor do que ficar naquela prisão. Eu realmente poderia ter saído de lá muito antes e ignorar aquela ideia idiota de ficar preso. Mas eu não tinha nada a fazer, de qualquer forma. Então, acreditei que o melhor a fazer era continuar. Agora estava ali, uma semana após ser libertado, sem previsão para o fim daquela história... Que para mim era uma farsa. Eu havia me acostumado com o silêncio da Hyuuga, ela parecia até mesmo invisível, às vezes. Imaginei que seu constante silêncio era resultado por ter reparado que era assim que eu preferia... ou sua excessiva timidez. Não precisava conversar, não queria. Ela também parecia ter se acostumado com o meu jeito.

Era domingo. O quinto dia em que ela ia até a casa, meu sexto dia de semiliberdade. Eu não havia entendido muito bem essa história também, mas imaginava que outro ninja a substituía quando ela ia embora, mas esse não se dava ao trabalho de se aproximar. Não que eu realmente soubesse a razão da Hyuuga me tratar bem. Neste final de semana, ela entrou na casa com um enorme sorriso no rosto. Este que eu não havia entendido. Passamos a manhã em silencio e, como de costume, ela preparou o almoço. Eu não havia mais tentado descobrir o motivo de ela fazer minhas refeições, havia apenas... Aceitado. Dessa vez, por algum motivo irritante, eu me sentei à mesa com ela – diferente dos dias anteriores que eu comia sozinho, após boas horas de treinamento. Almoçávamos em silencio, mas eu ainda podia ver vestígio de um sorriso em seu rosto. Por mais um motivo irritante, eu queria saber a razão daquela felicidade.

– Está diferente. – As palavras soaram estranhas até para mim, após tantos dias silenciosos. Ela me encarou, com os olhos arregalados perante a surpresa.

– Ah. – Produziu um ruído, indicando que foi pega desprevenida. – Na-Naruto-kun irá se tor-tornar Hokage a-amanhã.

– Uh. – Meio que concordei, meio que ignorei. Aquela coisa de gaguejar ao falar de Naruto me aborrecia, de alguma forma. Ficamos quietos durante maior parte do tempo, ambos concentrados em nosso prato com o delicioso almoço que ela havia preparado. Eu admitia até que ela cozinhava muito bem, mas não era algo que eu iria lhe dizer. Por fim, ela decidiu erguer seu olhar para mim, eu já reparando que ela queria dizer algo. A encarei, esperando.

– Você vai? – Indagou sem gaguejar, apesar de suas bochechas coradas.

– Você saberá se eu for, não é? – Respondi, logo voltando minha atenção ao prato, mas ainda tendo tempo de ver seu sorriso desaparecer.

Talvez eu tivesse sido frio demais. Ou ignorante demais. Ou algo demais que me deixou com um sentimento absolutamente perturbador... Semelhante à culpa. Culpa estúpida que eu sentia toda vez que me distraia e meu olhar voltava para ela, que permanecia presa em seus pensamentos, seu silêncio tão absoluto quanto nunca... Que, pela primeira vez, me perturbava. Não, Uchiha Sasuke não era homem de se preocupar com olhares tristes. Eu já havia visto até mesmo Sakura chorar e eu sabia que era por minha culpa. Por que diabos eu me importaria? Aqueles malditos anos de prisão estavam começando a me aborrecer. Eu havia me perdido no tempo, me perdido de mim.

Como sempre, ela foi embora quando começava a escurecer. Apesar de tudo, ela ainda dizia seu baixo “Boa noite” antes de fechar a porta. E nem mesmo a sua voz conseguiu mudar aquilo que eu sentia. Deveria ter continuado quieto, como sempre fazíamos... assim eu não tinha que me preocupar com algo tão estúpido quanto ter magoado uma kunoichi. Após um suspiro, me encaminhei até o meu quarto. Parei em meio ao percurso, ao ver o pergaminho sobre a mesa. Era semelhante ao que Naruto havia me mostrado na prisão. Abri o mesmo, passando rapidamente o olhar pelo conteúdo. Era uma convocação, com a assinatura bem trabalhada de Tsunade no final, para a nomeação do novo Hokage. Joguei o objeto por ali mesmo e continuei meus passos. Aproveitaria meu sono e deixaria para pensar nisso no dia seguinte.

O despertador tocava incansavelmente há cerca de dez minutos. Aquele barulho insuportável de uma canção desconhecida criada por alguém que não deveria ter nada melhor a fazer. Retirei o travesseiro de cima da cabeça – uma tentativa frustrada de afastar aquele som – e minha mão vasculhou sobre a cômoda, em busca do botão que desligava aquela coisa. Quando finalmente alcancei um pouco de “paz”, me sentei na cama. Aquela estranha inquietação ainda me perturbava. A lembrança do sorriso da Hyuuga – um dos raros sorrisos – se desmanchando. E eu talvez não a visse hoje. Passei a mão por entre os meus cabelos, desejando que aqueles pensamentos sumissem e a dor de cabeça latejante que eu começava a sentir fosse junto com eles.

Levantei-me, tomei meu longo banho frio e me arrumei, colocando uma calça escura e uma blusa branca, ambas eram peças que eu havia comprado com Hinata. O nome dela ecoou em minha mente mais uma vez. Acabei ficando irritado comigo mesmo, me sentindo estranho por não conseguir meu autocontrole. Era tão difícil deixa-la de lado? Era apenas uma mulher qualquer. Com quem eu nunca havia me comunicado verdadeiramente antes – não que eu lembrasse – e com quem, nem agora, eu trocava muitas palavras. Talvez isso me irritasse... Nossa única “conversa” ter tido esse resultado. Já arrumado, coloquei a mão nos bolsos da calça e sai da casa, tentando manter minha expressão de frieza e desinteresse. Era a melhor forma de enganar a mim mesmo. O prédio principal não era muito longe da área do clã, então não demorei muito para chegar lá, mesmo em meus passos lentos. Ino me encontrou durante o caminho, me lançando um enorme sorriso e já me puxando pelo braço, com aquela mesma intimidade que ela cismava em fingir ter comigo e nunca teve.

– Onde está indo? A gente vai lá pra cima. – Ela disse, andando apressadamente na direção do prédio. Reparei que outro ninja estava ali, e ela também o puxava, mas o segurando pela mão.

– Ino, se acalme. – Ele disse, sua voz me fazendo lembrar quem era. Shino. Um dos companheiros de time da Hyuuga. Ótimo, mais uma coisa para me fazer lembrar dela. Aquilo já estava começando a ficar idiota.

– Estamos atrasados, Shino. Como pode ficar tão calmo? – Indagou e o garoto só soltou um suspiro.

Subimos as extensas escadas até o terraço do prédio. O mesmo lugar aonde a loira hokage havia selado meu chakra, uma semana atrás. Finalmente, Ino fez o favor de me largar. Tentei não me surpreender quando ela depositou um beijo nos lábios de Shino. E só então me lembrei de uma das conversas desnecessárias de Sakura e que ela havia me contado sobre o namoro recente dos dois. Ino apontou para o lado esquerdo do local, onde percebi estarem outros ninjas conhecidos. Como provavelmente era de se esperar, o Kazekage Gaara e seu irmão Kankurou se faziam presentes. Shino deu alguns passos até lá, parando ao lado de Kiba – que não havia mudado nada. Parei por ali também, só então lançando um olhar para o lado direito do terraço. Sakura me lançou um sorriso, meus olhos passando rapidamente por ela e reparando nas outras kunoichi’s presentes. Tenten, Ino – que já havia se juntado a elas -, e Temari estavam ao seu lado. Hinata também estava ali, ao lado da irmã mais nova – que eu me lembrei o nome e só reconheci pelos olhos tão semelhantes e pelo fato da mesma ser um pouco menor. No fundo do lugar, alguns Anbu’s e Jounin’s. Kakashi me lançou um cumprimento.

Não demorou muito para que a “cerimônia” começasse. Tsunade deu alguns passos até a beirada do terraço, proferindo algumas palavras para a multidão que se encontrava lá embaixo. Enquanto ela discursava, Naruto apareceu, passando um dos braços sobre o ombro da futura ex-hokage. Ele soltou uma de suas típicas risadas e coçou a nuca. A loira se desvencilhou de seus braços e continuou o que tinha a dizer. Passaram-se alguns bons minutos até que Sakura se aproximasse, segurando o chapéu do novo Hokage e o colocasse sobre a cabeça de Naruto. A multidão gritou, em saudação a nova “sombra do fogo”... O novo líder da vila.

Todos aqueles gritos e aquela agitação não estavam me ajudando com a minha dor de cabeça. Eu estava feliz por Naruto, sem dúvidas. Mas não teria como dizer isso com toda aquela gente que já se amontoava a sua volta. Teria outras oportunidades mais tarde. Reparei quando, assim como todos os outros, Hinata deu seus passos – tímidos – em direção ao novo líder.

Com minhas mãos nos bolsos de minha calça, eu saí do local, descendo as escadas que agora estavam vazias. O barulho ensurdecedor dos gritos simultâneos ainda podendo ser ouvido dali. Já estava bem distante da multidão, podendo até mesmo apreciar o som dos meus próprios passos conforme cessavam os gritos de euforia e ue me afastava. As ruas estavam completamente vazias. Todos deveriam estar na cerimônia, apenas alguns vendedores permaneciam em suas lojas.

– Sasuke-san. – A voz melodiosa e já conhecida de Hinata me chamou. Meu nome soava estranhamente bem em sua voz. Parei de andar, virando para encará-la.

– Uh?

– Você... – Ela começou, sem desviar o olhar de mim. Surpreendente, não? – Não vai nem falar com Naruto-kun?

– Pode ficar e falar com ele. Eu vou fazer isso depois. – Proferi, já me virando e erguendo uma de minhas mãos em despedida. – Não pretendo destruir a vila, não se preocupe.

– Não é isso... Espere! – Ela pediu, se apressando e parando na minha frente. Ergui uma sobrancelha diante da ação que não fazia o seu “feitio”. Suas bochechas coraram novamente. Ela começou a falar as coisas mais rápido, parecendo incomodada com suas próprias e estranhas ações. – Vamos nos reunir daqui a pouco no Ichiraku. Naruto-kun vai gostar se você estiver lá.

Fiquei algum tempo observando seus olhos perolados, tentando encontrar qualquer sinal de que ela estava mentindo apenas para me convencer e poder ficar.

– Eu só acho que ele vai gostar de você lá... Podemos voltar, tudo bem. – Ela adicionou, percebendo que eu ainda não estava disposto a aceitar.

Meu lado teimoso lutando, insistindo que ela só queria permissão de permanecer ali, pelo sentimento que ela nutria por Naruto e o idiota nunca havia reparado. Mas seu olhar me dizia completamente o contrário. Ela parecia ser sincera e aquilo me deixava ainda mais irritado do que eu estava comigo mesmo. Fechei os olhos, respirando profundamente e passando a mão pelos meus cabelos. Havia adquirido essas manias e estava meio difícil larga-las. Dei-lhe as costas, dando passos na direção do Ichiraku, que não estava muito longe dali. Justifiquei aquilo como uma desculpa pela minha... Ignorância, no dia anterior.

– E que horas vai ser isso? – Indaguei, ela se apressando novamente para me acompanhar.

– Daqui a pouco. – Ela disse, ao meu lado. A olhei disfarçadamente, minha cabeça ainda virada para frente. Ela olhava para o chão, mas seu sorriso animado era totalmente aparente.

– Certo. – Eu disse, voltando meu olhar para frente, sem mudar minha expressão com um pouco de esforço.

Após pouco tempo de caminhada, avistamos o restaurante. Uma grande placa escrita “Ichiraku” era a única coisa que lembrava a antiga tenda. Aparentemente, o lugar preferido de Naruto havia lucrado bastante. Ichiraku agora era um grande restaurante e o “tio” havia precisado contratar um grande número de empregos para ajuda-lo. Isso era uma das poucas coisas que haviam me atualizado da vila, já que era a única coisa que Naruto não se cansava de falar: Seu amado Lámen.

Hinata entrou na minha frente e subiu as escadas que davam acesso ao segundo andar, um local aberto e repleto de mesas. Um canto estava enfeitado, várias mesas juntas formando uma única e gigantesca. Algumas pessoas já estavam sentadas ali, considerando que o prédio era mais próximo dali do que o local aonde Hinata havia me encontrado. Quando nos aproximamos, pude ouvir Temari chamando o namorado de “preguiçoso” enquanto ele resmungava algo sobre ela ser “problemática”. Neji me lançou um olhar que eu considerei como uma tentativa de ser ameaçador. Tenten lhe deu uma tapa no ombro quando reparou que ele não estava prestando atenção no que ela dizia. Havia descoberto que eles não eram namorados e isso explicava os olhares insinuadores que Neji lançava para Hinata sem que ela visse ou a forma irritada que ele se dirigia a mim.

Para a minha tristeza, Ino estava ali e deu um grande grito quando reparou na minha presença. Shino suspirou, tão incomodado com a extravagancia da loira quanto eu. Hinata se sentou em uma das cadeiras vagas e, apenas por falta de opção, me sentei ao seu lado.

– Hinata. – Shino cumprimentou e, coisa que raramente acontecia, eu o vi sorrir.

– Oi, Shino-kun. – Respondeu, lhe retribuindo o sorriso. – Viu Kiba-kun?

Assim que a mesma pronunciou, o latido de Akamaru pode ser ouvido. Ele correu, passando desajeitadamente por baixo da mesa e pulando sobre o colo de Hinata. Ela soltou uma risada baixa, surpresa. O cachorro se acalmou quando a Hyuuga acariciou-lhe a cabeça.

– E ai, gente. – Kiba disse, só então eu ergui meu olhar para ele. O Inuzuka se aproximava de mãos dadas a Hanabi. Céus, será que todos estavam namorando por aqui?

– Irmã. – Ela proferiu, exibindo um enorme sorriso para Hinata e sentando ao lado da mesma. Kiba sentou na cadeira do outro lado da namorada e me olhou, parecendo intrigado com a minha presença.

– Decidiu sair da toca, Uchiha? – Ele insinuou, com um sorriso de lado. Todos ficaram em silêncio, até mesmo Ino decidiu se calar. Cerrei meu olhar para o projeto de cachorro.

– Controle o seu mascote, Hanabi. – Foi a única cosa que eu disse, antes de bocejar. Havia acordado cedo, minha dor de cabeça não havia passado e eu tinha uma liberdade a ser mantida.

– Me chamou de quê? – A voz do Inuzuka saiu alguns tons mais alto.

– Kiba, comporte-se. – Hanabi disse, passando a mão nos cabelos do namorado. Ino deu uma risada divertida, que foi seguida por Tenten e Neji, que riu disfarçadamente.

Durante as risadas, Naruto chegou. Acompanhado de Sakura, Gaara, o irmão, Lee, Chouji e Sai. Ou seja, o resto dos amigos mais próximos.

– LAMEN PARA TODOS NA CONTA DO GAARA! – O loiro berrou, obviamente chamando a atenção de todos e fazendo muitos rirem. Gaara permaneceu em silêncio. Todos se sentaram e eu vi que a noite seria longa.

Todos passaram a conversar, uma voz sobressaltando a outra. Todo aquele ambiente de felicidade... Amizade... Aquilo me soava tão estranhamente bom, mesmo que eu parecesse apenas um observador. Eu, com muitos motivos, havia imaginado que nunca passaria por aquilo novamente. Em alguns momentos, até deixava um singelo sorriso de lado escapar. Naruto parecia realmente feliz, tanto quanto todos os outros ali. E ele também não parecia mais irritado pela nossa conversa sobre a Hyuuga ou os privilégios que eu estava tendo, comparado a outros “traidores”. Até tentava me incluir nas conversas muitas vezes.

Após todos comerem e falarem ainda mais, fiquei até agradecido por Shino ficar tão silencioso quanto eu. Às vezes, eu me deixava olhar para Hinata e observar seu sorriso. Ela estava alegre denovo, e eu já não sentia mais aquela culpa. Nem mesmo a dor de cabeça. Já deveria ser muito tarde quando todos começaram a se despedir. Lee havia bebido demais e precisou ser escoltado por Tenten e Neji para casa, o que arrancou mais gargalhadas simultâneas. Aproximei-me de Naruto, ele sorria bobamente observando Sakura que se despedia de Ino. Pousei minha mão em seu ombro, chamando-lhe atenção. Ele me observou, exibindo seus dentes naquela sua forma pouco discreta de demonstrar sua alegria constante.

– Parabéns. – Me obriguei a deixar o orgulho de lado, lançando um sorriso para ele. Esperei alguns segundos angustiantes de silêncio, até que ele deu um sinal de que havia me ouvido. Tentei não reparar nas lágrimas que escorreram pelo rosto do Uzumaki, escorrendo pelas suas bochechas até o seu sorriso gigantesco que permanecia ali. Ele deu uma alta risada e todos fizeram silêncio.

– Obrigado, Sasuke. – Ele disse, me abraçando. Um abraço de irmão, o que ele sempre foi, mesmo que eu não lhe dissesse. Dei alguns tapas em suas costas, lhe retribuindo o abraço, um tanto desajeitado. Não era algo que eu havia me preparado.

Quando nos afastamos, reparei que muitos desviaram os olhares, já que deviam estar nos observando há um tempo. Consideravelmente satisfeito com a noite, eu saí do restaurante. Dei meus passos em direção a minha casa, pronto para chegar o mais depressa possível e dormir. Ergui meu olhar para o céu, olhando atentamente as poucas estrelas que brilhavam ali.


Nem me lembrava de quanto tempo havia demorado a chegar a casa, ou aonde eu havia largado meus sapatos e minha camisa. Acordei com o irritante despertador, que insistia em me aborrecer. Sentei-me, pegando o aparelho e desligando. Levantei-me da cama e desci as escadas, enquanto avaliava cada centímetro do despertador e tentava encontrar um botão que desativasse aquela joça de vez. Cogitei a hipótese de tacá-lo pela janela, mas talvez eu precisasse dele, um dia.

– Bom dia. – Hinata proferiu, colocando um prato com ovos mexidos e bacon sobre a mesa. Quase tropecei no último degrau quando ouvi sua voz.

– Ah. Bom dia. – Disse distraidamente, esquecendo-me de disfarçar a surpresa em minha expressão. Ou de não sorrir quando reparei que ela corou intensamente ao ver que eu estava sem camisa. Ela desviou o olhar rapidamente, voltando-se para a cozinha. – Veio mais cedo.

– Uhum. – Concordou, pegando outro prato já pronto e se sentando. Sentei-me na cadeira a sua frente, em frente também ao primeiro prato que ela havia colocado na mesa, largando o despertador sobre a mesma. – Quis compensar que... Você comeu Lamen o dia inteiro.

– Uh. – Murmurei, avaliando sua expressão ainda envergonhada, enquanto remexia o ovo em seu prato. Lembrei-me do dia anterior, realmente não era um grande apreciador de Lamen e havíamos passado um dia inteiro em um restaurante especializado naquele prato. Ela ficou um tempo em silêncio, parecia criar coragem para prosseguir.

– Obrigada por ontem. – Ela disse, com um sorriso. Sim, ela sorriu para mim. Uchiha Sasuke. E eu não soube o que fazer diante daquele gesto.

– Sabe desativar isso? – Indaguei após alguns segundos de silêncio, estendendo o despertador para ela. Olhou-me confusa e pegou o objeto de minha mão.

– Ah... Sei. – Disse, enquanto apertava alguns dos pequenos botões do aparelho que apitava cada vez que ela mexia. Após alguns segundos, ela me devolveu, com outro sorriso. – Pronto.

– Estamos quites, então. – Eu disse, pegando o despertador e o deixando de lado. Comecei a comer, ignorando a expressão curiosa e confusa com a qual ela me observava. Terminamos o café, voltando a nossa rotina agradável da quietude. Levantei-me da cadeira, agradecendo pela comida e me dirigi até a porta da área de treinamento.

– Sasuke. – Cessei meus passos, a mão na maçaneta da porta, sem deixar de reparar a falta do sufixo. – Você acha que seria melhor se eu fosse igual ao Naruto-kun?

Ergui uma sobrancelha, mesmo ainda estando de costas para ela. As palavras saíram rápido, mas eu pude entender.

– Acha que... Eu deve-veria... Falar ma-mais? – Interrogou, com mais dificuldade em se confessar na segunda tentativa.

– Não tente ser outra pessoa. – A resposta foi tão rápida quanto sua pergunta e eu saí assim que terminei de proferi-la.


No dia seguinte, Hinata não veio. Interessante como até o seu silêncio fazia diferença naquela casa vazia, repleta apenas das lembranças da minha infância. Fiquei meio perdido, admito. Mas foi bom, tinha que me acostumar com sua ausência. Estava se tornando idiota toda aquela dependência. Passei a manhã andando pela casa. Comi uma fruta, por preguiça de preparar um café da manhã decente. Enquanto comia, andava pelos cômodos da casa que eu ainda não tinha tido a curiosidade de ver, após tanto tempo. Abri a porta de correr de uma sala que eu nem me lembrava: O escritório de meu pai. Eu nunca havia entrado ali quando era criança, era óbvio o porquê.

Dei mais uma mordida na maçã, olhando pelos livros empoeirados na grande estante que cobria toda a parede esquerda da sala. Caminhei até a extensa mesa, observando o que ainda jazia ali. Pelo jeito, ninguém havia entrado ali. Passei a mão sobre um livro que estava aberto, retirando uma grossa camada de poeira que havia ali. Percebi, então, que não era um livro e sim um álbum de fotografias, uma das últimas coisas que eu esperava encontrar no escritório de meu pai. Imaginei se teria sido a última coisa que ele viu. Joguei o resto da maçã na lixeira que havia ali. Sentei-me na cadeira de rodas e fiquei ali um bom tempo, apenas folheando o álbum. Muitas fotos me chamaram atenção, como as fotos com Itachi ou as raras em que meu pai estava conosco e sorria abertamente. Mas a que mais me trouxe lembranças, fora a imagem de uma visita ao clã Hyuuga.

Fechei o álbum, dando-me por satisfeito após ver aquela foto. Respirei profundamente e olhei para o relógio de parede, achando interessante que ele ainda funcionasse. Marcava 11h. Após criar coragem, decidi arrumar aquele lugar. Abri as grandes janelas, ar puro finalmente invadindo o local. Nunca fui muito bom em limpeza, mas não custava tentar. Era até meio vergonhoso eu estar ali, limpando a casa, quando podia estar treinando jutsus ou fazendo qualquer coisa que ninjas deveriam fazer. Mas eu não era mais um “ninja”. Não até decidirem parar com aquela brincadeira e tirarem aquele selo de mim.

Eu fiz uma pausa apenas para comer e voltei para o meu trabalho, que só não estava tedioso, pois eu parava muitas vezes para ver o conteúdo dos inúmeros livros dali. Separei alguns que falavam sobre a história de Konoha, do clã e uns sobre jutsus. Se um dia eu voltasse a ter permissão de usá-los, achei que seria útil. Quando terminei, devo dizer que me surpreendi. Até que não tinha ficado tão ruim. Imaginei que o ninja que estava me vigiando no lugar de Hinata, deve ter se divertido com a cena da limpeza. Mas eu não estava realmente me importando. Levei os livros que eu havia separado, deixando-os sobre a mesa de centro da sala de estar. Deixando o álbum de fotos sobre a mesa do escritório, como estava quando eu entrei lá. Tomei um dos meus banhos gelados longos e fui treinar meu taijutsu, mais uma coisa cotidiana. Após umas boas horas, comi um pouco de um lanche que Hinata havia deixado guardado. Ao terminar, me deitei no sofá e peguei o primeiro livro da pilha que havia se formado ali. Passei o resto da noite lendo o mesmo, até que dormi.

Pisquei os olhos algumas vezes, me acostumando com a luz intensa do lugar. Sentei-me no sofá, deixando o livro que jazia sobre mim cair no chão. Senti minhas costas e pescoço doerem pela forma que havia dormido. Realmente, eu estava ficando mal acostumado. Hinata estava sentada na cadeira, em frente a mesa, me observando. Ela se levantou, aproximando-se.

– Desculpa não ter vindo ontem. – Redimiu-se, o que me fez cerrar os olhos para ela. Era apenas uma missão, não era como se ela viesse para me agradar, certo?

– E o que houve? – Interroguei, sem encará-la, enquanto me levantava do sofá e me esticava. Estava descalço e sem camisa, trajando apenas uma calça de moletom azul.

– Sakura-chan teve um problema no hospital e precisou da minha ajuda. – Explicou, sorrindo. Não me lembrava de suas habilidades de ninja médica, mas não questionei.

– Certo. – Eu disse, dando alguns passos até a cozinha. Abri a geladeira e tirei de lá uma garrafa de água.

– Sasuke. – Ela me chamou. Estava estranhamente comunicativa ou era impressão minha? – Ontem era o dia das compras... Importa-se de ir comigo hoje?

– Não deveria me obrigar a te obedecer? – As perguntas irônicas vinham sozinhas. Davam-me vontade de bater com a cabeça na parede, às vezes. Coloquei um pouco de água em um copo e bebi em um longo gole.

– Ahn... Você é um morador da vila. Sempre foi. Não tenho porque te obrigar. – Seu jeito. Gentil demais. Preocupada demais. Irritava-me. Mas de uma forma diferente, não era irritante como Sakura fora. Não ficava bravo quando ela pronunciava meu nome. Eu só não conseguia lidar com ela, não conseguia não gostar de sua voz. Não conseguia entender seus objetivos. Bufei, largando a garrafa e o copo ali.

– Vou trocar de roupa. – Vociferei em resposta, já subindo as escadas. Ela permaneceu lá, me esperando. Coloquei apenas os primeiros sapatos que vi e uma blusa cinza. Desci as escadas, tão desleixado quanto as roupas que eu usava. Mesmo assim, ela sorriu para mim.



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Notas finais do capítulo

Review, review, review? *-* Podem dizer se tiver ficado ruim, estou aberta a conselhos e dicas construtivas >.< Obrigada por ler. sz