Uma linda mulher estava sentada ao meu lado. Ela sorria levemente, observando meu rosto. Em outras circunstâncias, eu teria pulado do closet. Mas, com a presença daquela mulher, uma imensa paz me invadiu. A minha vontade era permanecer encolhida, apenas fitando o seu rosto, que era coisa mais extraordinária que eu havia visto. Primeiramente, aquele rosto não era uma coisa só. Ele mudava a cada piscar de olhos, misturando rostos que eu considerava estonteantes: Minha mãe, Johanna, Paylor, e até mesmo Prim. Em outras palavras, ela era muito bonita.

- Olá, Katniss Everdeen – disse ela. Sua voz era como milhares de diminutos sininhos, tocando em um ritmo sincronizado.

Eu franzi as sobrancelhas.

- Como sabe meu nome?

- Oh, Katniss. Eu sei de tudo, inclusive o que aconteceu e porquê está desse jeito. Agora me diga, qual é o motivo da sua confusão? – ela perguntou, mexendo em meus cabelos, e ainda sorrindo.

As palavras simplesmente jorraram de minha boca.

- Eu amo Peeta, mas...

- O quê? – ela interrompeu. – Espere, espere! Diga isto de novo!

Sua animação me deixou ainda mais confusa do que a sua presença.

- Dizer o quê?

- Isso que você acabou de dizer! – ela exclamou, impacientemente.

- Eu... Amo Peeta.

- Oh, que lindo! – ela sussurrou, juntando as mãos na altura do queixo.

Ela tem que ser alucinação, eu pensei.

- Então, continue – disse ela, sentando-se à minha frente, empurrando os casacos graciosamente. Seu vestido rosa-claro caiu sobre os seus joelhos. Ela me olhou, entusiasmada, esperando a continuação.

Contei tudo a ela, ciente de que era apenas fruto de minha imaginação. Contei minha história com Peeta, desde o episódio com o pão até o telessequestro. No final, a mulher enxugava o rosto com lencinhos cor-de-rosa.

- E agora, Cinna me beijou, e eu... Gostei.

Ela assentiu.

- Sim, a indecisão amorosa! É tão... Emocionante! – disse ela. – Olhe, é o seguinte, vou resolver para você. Você ama Peeta. O que você sentiu beijando Cinna foi apenas raiva, ânsia por vingança. E um certo senhor da guerra vai receber o que merece por atrapalhar os meus planos – ela disse, revirando os olhos. Apesar disso, posso jurar que vi eles brilharem por um segundo. – Mas precisa voltar para Peeta.

Eu olhei para as minhas mãos, preparando-me para a dor da relembrança.

- Mas, e a Delly?

A mulher revirou os olhos.

- Ela foi apenas um empecilho, querida. Sempre teve uma queda pelo seu garoto com o pão, e não podemos culpá-la por isso – ela explicou, dando uma piscadela e uma risadinha. – Ela apenas tentou, Katniss. Mas, no fundo, ela sabe que ele é só seu.

Suas palavras eram tão convincentes, que aliviavam o meu coração. A cada pausa feita, ele voltava a doer com a indecisão.

- Mas, ele...

- Não a impediu, eu sei. Mas, Katniss – ela pegou a minha mão, prestes a falar sério -, enquanto estava com Peeta, teve dúvida duas vezes: Com Gale, e agora com Cinna. Precisa dar uma chance a ele. Ele te ama muito – ela colocou dois dedos embaixo do meu queixo, levantando a minha cabeça e olhando em meus olhos. - Afinal de contas, algo que eu construo jamais pode ser destruído.

Ela piscou novamente. Olhei em seus olhos.

- Quem é você?

Ela sorriu, mas radiante do que nunca.

- Capítulo 7, querida.

E desapareceu.