Quando resolveram se separar do abraço tão reconfortante, não havia mais clima algum para verem o filme. Eles resolveram então cair em boas e bem-vindas lembranças, lembranças de um passado de amizade, brincadeiras, felicidade e tristeza. O dialogo foi pouco, mas foi o suficiente para ambos voltarem para anos atrás. 

Uma pequena garotinha de oito anos, acompanhada de seu irmão mais velho, estava sentada em um dos balanços do parque sem se balançar, esperando o irmão terminar de "dar em cima" de uma garota que estava ali por perto. Com as feições tristes, a garotinha ficou ali sentada sem se mexer. Um sorriso brotou em seu lábios ao sentir o impulso feito ao balanço, mas para sua grande surpresa, ao se virar não encontrou seu irmão, encontrou um pequeno garoto em seus dez anos de idade, com os cachos de seus cabelos balançando com o vento e seus olhos azuis brilhando com o sol.
 Imediatamente ela desceu do balanço sem ao menos esperá-lo parar.

-Por que desceu?- perguntou o garotinho.

-Porque eu não te conheço, e a minha mãe sempre me diz para não falar com estranhos- falou ela com toda inocência.

-Eu apenas quis ajudar você estava tão triste ai.- disse ele levantando os ombros.

-Obrigada, eu estava esperando o meu irmão, o Russ.- disse ela.

-Ah, e onde ele está?- falou o pequeno garoto.

-Hm...- falou ela esticando um pouco o pescoço tentando achar seu irmão- Está ali!!- disse apontando para onde seu irmão estava.

-Ah tá- disse ele após olhar para Russ.- Já que você não pode falar com estranhos, eu me apresento, sou Jack Hodgins.- disse ele levantando a mão para um aperto.
 
 Temperance hesitou antes de finalmente apertar sua mão.

-Eu sou Temperance Brennan.- ela sorriu e ele devolveu o sorriso.

-Agora que ninguém é mais estranho, que tal você sentar no balanço e eu te empurrar?- ela fez um meneio e alegremente foi para o balanço.

 Algum tempo depois, Russ se deu ao trabalho de ir ver sua irmã, apenas para encontra-la com Jack.

-Marco-  disse Russ.

 Temperance prontamente se virou para responder.

-Polo.- Jack apenas riu com a brincadeira dos irmãos.

-Temos que ir, Tempe. Papai e mamãe disseram para não demorarmos.- Russ se virou e foi andando na frente.

 Temperance desceu do balanço e virou-se para Jack.

-Tchau, Jack. Foi bom te conhecer.

-Ei, agora que somos amigos, não vai se livrar de mim tão fácil. Você vem aqui amanhã?

-Amanhã e todos os dias- respondeu ela.

-Então nos vemos amanhã.- ele disse sorrindo.

-Até amanhã, Jack!

-Até amanhã, amiga.

~.~

Essa foi a lembrança boa de quando o destino agiu a favor deles. Mas logo depois veio a lembrança trágica, de uma noite chuvosa quando ambos estavam felizes.

~.~

-Tempe, está chovendo, por que você não dorme aqui em casa? - perguntou Jack para sua amiga.

 Naquele dia eles haviam passado a manhã e a tarde inteira jogando e se divertindo. Já fazia mais de um ano desde aquele dia no parque.

-Acho que não tem problema. Minha mãe vai deixar, você sabe, ela ficou super amiga da sua mãe.

-Eu sei. Vou pedir pros meus pais comprarem comida.

-Oba!- disse ela animada.

  Os pais de Jack aceitaram numa boa e saíram para comprar comida. Tudo estava indo muito bem. Mas então eles começaram a demorar e Jack perguntou para o mordomo o porque e ele apenas respondeu que deveria ser por causa da chuva. Uma hora se passou, e então duas, e então três, até que finalmente, às dez horas da noite a campainha soou pela casa. Jack correu para atender, apenas para ver o policial em frente a sua porta querendo falar com um responsável. Momentos depois a noticia foi dada. Os pais de Jack estavam mortos, vítimas de um trágico acidente de carro. E ali estava ele, um garotinho de 11 anos desolado pela perca dos pais, chorando compulsivamente no ombro de sua unica amiga. Ela apenas acariciava sua cabeça e dizia: "Calma, tudo vai ficar bem!"

  Meia hora depois, Christine Brennan estava entrando pela porta da mansão, dando um abraço materno em Hodgins, um abraço que ele nunca mais iria receber de sua própria mãe. O jovem garoto ficou aos cuidados de seu mordomo, tendo herdado, com a morte dos pais, um patrimônio muito maior do que uma criança de 11 anos poderia compreender.

~.~

-Eles te amavam muito- Disse Temperance para Jack- Estariam com você a todo momento se estivessem vivos, jamais te abandonariam.

-Temperance, só porque os seus pais foram embora não quer dizer que eles não te amavam, eles podem ter um bom motivo- falou carinhosamente.

-Mas isso não muda o fato deles terem ido. Não muda o fato de que Russ também foi e que a única pessoa com quem eu realmente pude contar foi você.

~.~
 toc-toc.

Jack lentamente se levantou de seu sofá e andou pela casa vazia, era sempre assim desde 6 anos atrás. Ele abriu a porta e viu, com surpresa, sua amiga, agora com 15 anos, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ela rapidamente se lançou em seus braços e chorou mais ainda.

-Calma, calma. Venha, entre, está muito frio aqui.- falou ele. Havia passado uma semana desde o Natal, ainda havia neve nas ruas.

 Ele não tinham se falado muito no ultimo mês. Ele estava prestes a completar 18 anos e teria que ter responsabilidades para com seu patrimônio.
 
 Ele a fez sentar-se no sofá e foi buscar um copo d'água para ela.

-O que aconteceu, Tempe?- ele estava realmente preocupado.

-No...no Natal, meus pais... eles sumiram, foram embora.- Ela limpou uma lágrima que saia de seus olhos- Russ tentou o máximo dele para fazer um Natal normal mas eu.... eu...

-Pensou que seus pais tinham voltado- ajudou Jack.

-É, e eu fiquei com raiva. Queria meus pais de volta- ela parou um pouco- E hoje ele aparentemente se cansou, quando eu me dei conta, ele já estava dentro do carro dele indo embora. Estou sozinha, Jack. Vou entrar no sistema e ir pra Deus sabe onde!- ela se jogou nos braços do amigo.

-Hey, você nunca vai estar sozinha, escutou? Nunca! Eu te prometo que sempre vou te proteger! Sempre- ele falou dando um beijo em sua têmpora.

-Obrigada, Jack.

-De nada, Tempe.

~.~ 

Depois de tantas lembranças, eles viram o quão importante era a amizade deles, que mesmo depois de 9 anos, continuava tão forte quanto naquele dia, no parque. Naquela noite, Temperance dormiu na casa de Jack, no outro dia teria que ajudar Booth e fazer outras coisas, além de explicar para os seus foster parents o por que de ela não ter dormido em casa.