É tarde, estou na praça principal do Distrito 4. Estou tremendo e suando frio. Então, chamam o nome de uma garota que não conheço. Logo depois, meu nome é anunciado. Me dirijo ao palco com passos duros, como se eu fosse feito de madeira, como uma marionete. O que, de alguma forma, eu sou. Uma marionete da Capital. Então, quando ponho o pé no palco, a cena se dissolve e forma-se outra.

Agora é noite, estou sentado na praia, minhas mãos afundam gradativamente na areia, até que toco algo por baixo da grossa camada que agora esconde não apenas minhas mãos mas parte de meus braços também. 

É pele. Humana. Começo a cavar a areia em desespero, suando frio, tremendo, enquanto a noite fica cada vez mais gelada. Quando finalmente alcanço o objetivo, o que vejo é inacreditável: O corpo de uma das únicas pessoas que amo. Annie.

Acordo com um pulo, meu travesseiro e parte da cama estão molhados de suor frio, como nos pesadelos. Me levanto na cama e percebo que estou tremendo. Quando abro a cortina, vejo que já é dia. Preciso refrescar a cabeça, então vou até a cozinha tomar um café e ir caminhar, quem sabe. 

Quando chego na cozinha, vejo um bilhete de minha mãe em cima da mesa. "Querido, seu pai e eu fomos no centro, comprar grãos e outras coisas para o almoço, podemos demorar. Vá pescar, o.k? Para que nosso almoço no dia da colheita seja ótimo. Ass: Mamãe" 

Não gostei nada da ideia de ir pescar, pois sabia que ir à praia faria voltar todas as lembranças do pesadelo com Annie. Mas o que posso fazer? Tenho que obedecê-la. 

Depois de algumas horas pescando, volto para casa com uns 3 peixes. Não consegui pescar muito, olhar e pisar naquela areia que antes eu achava fofa e confortável me fazia lembrar das coisas horríveis com que eu sonhara esta noite.

- Voltei, mãe - Digo, despejando o que pesquei sobre a mesa da cozinha.

- Que ótimo! Farei um belo almoço - Ela diz, com um sorriso no rosto. Adoro aquele sorriso. Faz o dia valer a pena, se é que me entende - Obrigada, querido. Que tal ir tomar um banho enquanto cozinho a comida?

Faço o que ela pede, e depois de um maravilhoso almoço, lá pelas 3:00 da tarde, nos dirigimos para a praça central. Como sempre, procuro os olhos de Annie, mas nunca os encontro. Depois do mesmo discurso chato, anunciam o nome de uma garota que já vi na escola, mas nunca cheguei a conversar com ela. E, logo depois, meu pesadelo se torna realidade. Lá estou eu, andando com passos duros, como se fosse feito de madeira, em direção ao palco.