Fui recobrando meus sentidos aos poucos e quando acordei a primeira coisa que vi foram os olhos verdes e as sobrancelhas franzidas de Brandon.

"Demônio!" Gritei.

"Praguejando feito um bêbado, é, ela tá acordada." Os olhos de Brand que antes estavam um ou dois tons abaixo do normal agora estavam mais vívidos do que nunca.

"O que aconteceu? Eu lembro de ter te batido e depois mais nada." Olhei em volta. Estava em um quarto simples, limpo e arrumado. Brandon equilibrava a cadeira nas pernas de trás e após um ou dois segundos batia com força no chão. 

"Você desmaiou depois de perceber que havia danificado minha magnânima beleza com seus raivosos  punhos e eu, sendo o perfeito cavalheiro que sou, a tomei em meus braços fortes e másculos e a trouxe até esta enfermaria de confiança." Ele jogou seu cabelo para trás, estreitou os olhos e abriu um sorrisinho malicioso.

"Pare de fazer essa cara, parece que você comeu alguma coisa estragada," Tentei me movimentar para tacar uma almofada nele, mas o movimento fez doer meu ombro onde a bala havia acertado. Dei um gritinho de dor.

"BRANDON QUAID!" A porta do quarto se abriu com um estrondo e uma mulher alta (e linda) irrompeu no aposento. "Eu saio por cinco minutos e a menina já se machuca? Você é impossível, Don!"

Coisas que me incomodaram:

1 - ''Menina''?! Ela não parecia ser muito mais velha do que eu, aparentava uns 20, 21. Como se 4 anos fizessem muita diferença.

2 - "Você é impossível, Don." Não sabia o motivo, mas aquilo me irritou.

3 - Existem limites de beleza? Não para ela. Cabelos longos, loiros e cacheados, olhos azuis límpidos, pele alva como a neve... Ela era perfeita. E isso me incomodava. Muito.

"A culpa não foi minha." Ele bateu a cadeira com força no chão. "Quanto tempo você acha que demorará para ela melhorar?"

"Uma recuperação de navio? Uma semana."

"Bom. Muito bom. É o tempo necessário." Brandon usou a aba do chapéu para tapar seus olhos e começou a murmurar coisas sem sentido.

"Com licença, eu poderia saber o que é uma recuperação de navio e quem é a senhorita? Só se não for incômodo, é claro."

"Perdão! Que más maneiras as minhas! Clare Sutcliff, aprendiz de curandeira!" Ela estendeu sua mão irritantemente perfeita para mim.

"Beatri-" Apertei a mão dela.

"Tris." Brandon me cortou.

"Bea-"

"Tris." Ele rosnou por baixo do chapéu.

"Beatrice-"

"Tris Collins, é um prazer conhecê-la também, ó nobre curandeira!" Brandon pulou de sua cadeira, sacudiu nossas mãos e voltou a  sentar-se.

"Isso que o pirata disse." Bufei.

"Don, você não mudou nada." Clare riu.

Ignorei o comentário e prossegui:

"O que seria uma 'recuperação de navio'?"

"Muitos marinheiros se machucam mas precisam estar de volta à sua tripulação em um curto período de tempo, recuperação de navio é o termo usado para uma recuperação parcial, que permita movimentos sem dor, mas não perfeita." Clare sorriu para mim.

"Faz sentido..." Murmurei.

"É claro que faz." Brandon rosnou. "Agora eu tenho assuntos a tratar, senhoritas." Ajeitou seu chapéu de modo que não pude ver seus olhos, deslizou seu dedo pela cabeceira da minha cama, inclinou-se em minha direção mas virou para a porta e saiu.

Quero dizer, ia sair.

"Você esqueceu de uma coisa, Don." Clare o puxou sem rodeios pelo braço e o beijou.

Sim. Ela o beijou. Na boca.

Quaid riu e atravessou a porta, deixando pra trás uma Clare sorrindo e uma tal de Tris Collins com a boca aberta e os olhos arregalados.

"Mas que diabos foi aquilo?!"