Eu andava... Bem, quer dizer, andava na cadeira de rodas em direção ao Glee Club. Eu sabia que podia encontrar o apoio e a amizade de todos ali, porque era o único lugar onde eu sabia que era realmente amada. O Sr. Schuester era como um pai pra mim, e tinha Brittany e Santana, que estiveram comigo desde sempre... Mas o que mais me importava era ela. Rachel Berry. Meu grande amor.

Jamais eu conseguiria odiá-la pelo o que ela havia me feito. Eu sei, normalmente eu ficaria com raiva de alguém me fizesse sofrer um acidente, me deixar à beira da morte, e ainda me fazer perder o movimento das pernas. Mas eu nunca poderia odiar ela. Como eu disse antes, a culpa é minha. Isso jamais teria acontecido se eu não tivesse me apaixonado por ela. Mas o que eu poderia fazer? Como resistir àqueles olhos tão profundamente castanhos, e os lábios tão perfeitos, e bem desenhados. Como resistir aquela voz doce e poderosa que ocupava meus pensamentos durante à noite?

E tudo sempre me leva ao mesmo lugar: apaixonada por ela. A diferença é que desta vez não estou caminhando pra longe... Estou indo na direção certa.

Antes que eu pudesse sequer chegar na sala do Glee, eu a avistei de longe. Ela e Finn, conversando. Ou discutindo? Tudo que eu podia ver eram os olhos vermelhos de Rachel, e aquilo me deu um aperto enorme no coração. Quem gostava de ver o amor de sua vida daquele jeito? Ela estivera chorando, isso eu sei. É bom que não seja porque aquele idiota tenha magoado-a, porque se for... Bem, o matarei enquanto ele estiver dormindo. Se eu decapitar, fatiar em pedacinhos, e depois jogar pros cachorros da igreja comerem, acho que nunca vão saber que fui eu.

Observei de longe enquanto eles brigavam com mais intensidade. Até que aqueles belos olhos dela se desviaram pra mim. Novamente, meu maldito coração acelerou, e meu corpo inteiro (com exceção das pernas) tremeu. Foi como estar apaixonada pela primeira vez de novo. Um primeiro amor. Talvez ela fosse meu primeiro amor de verdade, o único amor, que depois de tanto tempo guardado, ainda durava.

- Quinn... - eu não tenho certeza absoluta se foi isso que ela falou, pois ela não falou nada, apenas mexeu os lábios, olhando na minha direção. Aí o Finn olhou também, e deu um sorriso de pura pena. Mané.

Sorri confiante, e fui rodando as rodinhas em direção á ela. Ela também vinha na minha direção, com um sorriso que só aumentava cada vez mais. Quando ela chegou perto o suficiente, notei que os olhos dela estavam marejados. Merda.

- Oi - falei, mostrando meus dentes brancos.

- Oh, Quinn... - foi tudo que ela falou, antes de me abraçar, e desabar em lágrimas no meu ombro.

Respirei fundo, e colei meu rosto dentro do pescoço dela, sentindo seu aroma de rosas. Passei minhas mãos cuidadosamente sobre as costas dela, acariciando. Sempre acabava em abraços, quando eu sempre queria algo mais. Ela não se apaixonaria por mim de repente, e por enquanto, eu teria que me conformar apenas com aqueles abraços apertados e que faziam meu coração bater mais rápido.

- E-Eu sinto tanto... - ela falava, soluçando contra minha nuca.

- Rachel... - murmurei baixinho, afastando-a. Meus olhos se encontraram com os dela. Mordi meu lábio, e acariciei a mão dela. - Não foi sua culpa. Não foi culpa de ninguém. - mentira, a culpa era minha. - Foi apenas mais uma armadilha idiota do destino. Eu estou bem, vê? Estou viva. Não é isso que importa?

- É sim, mas... - ela mal conseguia falar sem soluçar. - Eu não consigo parar de me sentir culpada. Se eu não tivesse mandado aquela mensagem, talvez você ainda estivesse andando.

- Rachel, era pra acontecer - falei, juntando todas as minhas forças pra não chorar. - Eu precisava disso pra realmente entender o sentido da vida. Mas fico feliz por saber que se importa tanto comigo.

- Se eu me importo? - ela falou, se abaixando pra ficar na minha altura. Que irônico, antes era eu que fazia isso. - Quinn, você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, como eu poderia não me importar com você?

Foi inevitável, eu juro que me segurei. Mas o choro foi mais forte, e uma lágrima escorreu, enquanto eu mordi meus lábios, assentindo. Estendi meus braços, e ela juntou seu corpo ao meu novamente. Nos consolamos. Abri meus olhos, apenas pra observar Finn nos olhando de forma desconfiada e ciumenta. Digam-me, existe coisa melhor que você ver seu adversário observando você e a namorada dele se abraçando?

Mas em breve a namorada dele seria minha namorada. Afinal, eu sou Quinn Fabray, e eu nunca desisto, até conseguir.

Novamente, eu a afastei, pra não dar muita bandeira, mas foi só ver aquela carinha triste dela de novo que me deu vontade de segurá-la pra sempre.

- Quer uma carona pro ensaio? - perguntei batendo com a mão no meu colo, indicando pra que ela se sentasse lá.

Ela olhou pro meu colo, e depois pra mim, enquanto colocava uma mexa de cabelo atrás da orelha.

- Mas... Não vai te machucar ou te prejudicar em alguma coisa?

- Claro que não, Rachel - falei, dando um sorriso amigável. - Vamos?

- Sim - ela disse, abrindo um sorriso contente. Aquele sorriso que eu amava. Ela se ajeitou levemente enquanto eu a ajudava a sentar comigo na cadeira. Ela sentou-se no meu colo, cruzou as pernas, e passou um braço ao meu redor pra se apoiar.

Sabe quando parece que seu coração vai explodir de tantas batidas aceleradas? Bem, é assim que eu me senti na hora. Ter ela em mim, literalmente, era como se todo meu corpo fosse explodir. Ah, eu tinha me esquecido dessa parte: o suor.

- Espera... - Finn disse, se aproximando de nós, antes que eu pudesse fazer uma manobra em direção ao clube. - A gente ainda tem que conversar Rachel. Sobre nós dois, lembra?

- Eu não quero falar com você, Finn. Pelo menos não por hora - falou ela, me apertando com mais força, como se eu fosse seu porto seguro. E aquilo me fez sentir mais feliz do que nunca. - Vamos, Quinn.

Ela não precisou me dizer mais nada. Apenas sorri, e voltei a girar as rodinhas. Engatamos uma conversa sobre como eu estava me sentindo, e o tempo todo ela me pedia desculpas. Um lado meu odiava ver ela daquele jeito, triste, e ao mesmo tempo culpada, mas o outro lado gostava ao ver que ela se importava tanto comigo. Okay, Rachel gostava de mim.

- Sobre o que você e o Finn estavam discutindo hoje? - perguntei, tentando ser discreta.

- O nosso casamento, que não aconteceu - ela falou, ainda me apertando com força. - E também mais pelo fato de que eu... Vou pra NYADA.

- Mas eu pensei que esse assunto já estava resolvido - falei, pestanejando. - Quer dizer, pra mim você tinha dito que se casaria com ele e ficaria aqui.

- O problema Quinn, é que... - ela olhou pra baixo, umedecendo os lábios, e então me falou. - Eu não sei mais o que sinto pelo Finn. Depois do seu acidente, as coisas mudaram. A gente briga direto, eu não tenho dormido, e ele cismou que eu me preocupo demais com você, e que você vai acabar me machucando de novo como você fazia antigamente.

Olhei pra baixo também. Lembrar de tudo que eu havia feito pra Rachel me magoava profundamente, mas eu sabia que era minha culpa. Por que fugir?

- Então... - eu engoli em seco. - Você vai pra Nova Yok. Certo, mas brigaram por causa disso?

- Ele quer ir pra Califórnia - ela falou, sacudindo a cabeça. - Finn e eu... Somos muito diferentes um do outro. Eu fui uma tola ao achar que um cara como ele entenderia que eu tenho sonhos, e que eu pretendo realizá-los. Por isso, resolvi ir pra NYADA.

- Isso... É bom. - falei, dando um sorriso, mas por dentro quebrando aos pedaços. - Você vai realizar os seus sonhos.

- É, só que... Algo mudou - Rachel falou, piscando os olhos. - Os meus pais decidiram me levar pra passar uns tempos em Nova York, afinal, nossas férias estão chegando, e... Se eu gostar bastante da minha estadia lá, talvez eu fique de vez.

Dei uma freada brusca, que quase jogou-a no chão, mas não pensei nisso no momento.

- Mas Rachel... - a minha voz saiu desesperada. - Só falta uma semana pra ficarmos de férias...

- Eu sei, um lado meu não queria ir - ela disse, fazendo um biquinho triste. - Eu amo o Glee, amo vocês todos, e não queria deixar ninguém, mas Finn e eu não paramos de brigar, não vejo mais razões pra frequentar os mesmos lugares que ele. Mas... - ela me olhou de um jeito estranho. - Caso alguma coisa aconteça, e me faça ficar, talvez eu fique...

Espera... Isso foi uma indireta? Rachel me olhava sorrindo, com um olhar que eu nunca havia visto antes. O que será que ela quis dizer com isso?

- Espero que aconteça algo que te prenda aqui - falei, segurando na mão dela. - Você se tornou muito importante pra mim, Rachel, vai ser muito difícil pra mim te ver ir.

- Você também é muito importante pra mim, Quinn - ela me falou, com os olhos brilhando. Finalmente chegamos na sala do coral, e todos os olhares foram na nossa direção.

Rachel saiu do meu colo, permitindo que todos os outros fossem me abraçar. Depois de muitos depoimentos lindos da parte deles, finalmente fomos nos sentar, e eu me sentei ao lado de Rachel. Uns tempos depois, Finn entrou, e Rachel entrelaçou a mão na minha, segurando-a com força. Finn fechou a cara para nós duas, e foi se sentar entre Puck e Brittany.

E foi assim que passamos a aula toda. Sr. Schuester explicando novas músicas, Rachel com a mão agarrada na minha, e Finn nos encarando de forma mortal.

Quando a aula acabou, Kurt puxou Rachel pra fora da sala, e os dois saíram conversando. Oportuunidade perfeita.

-- Artie! - gritei, levando a minha cadeira próxima a dele.

- Oh, olá Quinn - ele me olhou, dando um sorriso dócil. - Como você está?

- Bem, obrigado - falei, calmamente. - Artie, preciso da sua ajuda.

- Pra quê? Dificuldades com a cadeira de rodas? - ele perguntou, confuso.

- Não, quer dizer, talvez, mas é outra coisa - eu falei, baixando meu tom de voz. - Eu preciso que você me ajude a fazer uma declaração pra uma pessoa.

- Uma pessoa? Pra quem? - ele perguntou, animado. Eu ia falar, mas ele me interrompeu. - Não, não me diga, eu quero me surpreender. Vou te ajudar, Quinn. Mas o que exatamente você pretende fazer?

- Bem, é o seguinte... - e comecei a falar meu plano pra ele.

Está decidido. Em uma semana, Rachel Berry será minha. Só minha.

CONTINUA...