Era uma manhã ensolarada, com passarinhos cantando e um doce cheiro de orvalho entrava pela janela da minha varanda entreaberta. Só conseguia sentir esse cheiro doce e o calor que impregnavam minha pele, e mesmo com a claridade que ficava cada vez mais intensa era difícil abrir os olhos e acordar para um novo dia. Mas não pude enrolar na cama por mais alguns minutos, pois minha mãe já berrava para eu acordar e tomar banho e se eu não quisesse me atrasar era melhor que eu me apresasse.

    Com uma lentidão fora do normal segui até o banheiro para me arrumar para mais um dia tedioso no colégio, estávamos no meio de agosto e já começariam a semana de "provas", isso me deixava ansiosa e muito tensa, eu e minhas amigas combinamos de estudar na minha casa depois que a aula acabasse, quem sabe assim seria mais fácil de estudar sem dormir em cima dos livros [?].

    Olhei-me no espelho e vi que a imagem que refletia era de uma menina triste, com cabelos castanhos na altura dos ombros, olhos verdes e grandes, um rosto assimétrico mas com traços muito fortes, magra porém elegante, seu olhar era misterioso  parecia que continha muitos segredos jamais revelados, uma beleza fora do normal.

    Uma gota escorregou em minha face, estava sentindo um vazio em meu peito, parecia que faltava algo, mas não sabia o que era, doía e machucava, mas antes que eu começasse a chorar aos prantos minha mãe abriu a porta do banheiro e gritou para mim:

- Seu irmão vai ficar louco com toda essa demora! Se você não se arrumar em 5 minutos você vai ir sozinha ao colégio hoje...

Eu respondi enquanto limpava minhas lágrimas:

- Já vou mãe, não vai levar mais que cinco minutinhos!

    Depois de tomar meu banho me arrumei numa velocidade tão rápida que até mesmo eu me surpreendi, peguei meu material e deu um beijo na bochecha de minha mãe enquanto eu e meu irmão estávamos saindo a caminho do colégio.

    No caminho meu irmão não parava de reclamar como eu era lenta e demorava a me arrumar, mas eu simplesmente ignorava enquanto voltava a pensar na imagem da menina refletida no espelho do banheiro, e eu perguntava a mim mesma:

    Por que tanta tristeza? Por que tinha que ser assim? Por que agora não existe nenhuma razão MUITO forte para eu continuar a viver?

    E de repente algo interrompeu minha concentração e todos os pensamentos que transbordavam segundos atrás agora tinham sido totalmente esquecidos.

    Um menino havia esbarrado em mim e derrubado todos os meus livros, eu cai no chão e ralei meu joelho, eu pensei atordoada, esse REALMENTE não é meu dia de sorte.

    O garoto me olhou nos olhos por alguns segundos antes de recolher meus livros e levantar-me delicadamente, seus olhos eram de um azul piscina muito vibrantes até parecia que ele conseguia invadir minha mente e ler o que eu estava pensando de tão profundos que eram, isso realmente me deu um arrepio e eu tremi com a possibilidade, mas logo dei um sorriso a ele de gratidão por ter ajudado a me levantar e ter recolhido meus livros.

    Ele me pediu desculpas pelo "encontrão" que tivemos e perguntou se eu estava bem, eu ainda sorrindo a ele disse que estava bem e só ralei um pouco meus joelhos.

    Logo ele disse que poderia me levar a enfermaria, mas meu irmão que eu já tinha até esquecido que estava ao meu lado, bufou e interrompeu meu momento de transe enquanto estava falando com o lindo menino.

- Acho que não será necessário! Eu levo minha irmã pra lá, mas mesmo assim obrigada pela preocupação.

    O menino agora com os olhos mais tristes me olhou e então disse:

- Tudo bem então, ah e já ia me esquecendo, qual o nome da senhorita?

    Ele era fofo e tão cavalheiro!Mas antes de responder olhei para meu irmão que agora me encarava com um olhar carrancudo que fiz questão de ignorar.

- Meu nome é Melissa, mas pode me chamar de Mel. E o seu?

- O meu é Johnny, mas eu gosto que me chamem de John também.

- Claro John, como você quiser!

- Você estuda na Larps School?

- Sim, sim, estou cursando o 2° ano do ensino médio e você?

- Nossa que coincidência! Eu vou entrar hoje mesmo nesse colégio, no 2° ano!

- Ow novato, espero que goste de nossa escola então, e se quiser eu posso lhe

mostrar ela e apresentar algumas pessoas bem legais pra você.

    Os olhos dele brilharam depois que falei aquilo, mas parecia que ele já tinha encontrado uma "pessoa" bem legal pra ele, eu corei e dei um sorriso torto pra ele.

    Meu irmão emburrado olhou para mim e disse:

- Acho que não vai mais precisar de mim então, já tem até companhia pra te

levar pra enfermaria.

- Yann (nome do meu irmão) depois da aula a gente se encontra aqui no portão, ok?

- Ok, Mel. Ele disse agora apagando o ar rabugento de seu rosto.

    Eu dei um beijo em sua bochecha e fui caminhando para a enfermaria, agora com o lindo anjinho de olhos azuis. Enquanto caminhávamos pela estradinha estreita até a enfermaria, o vento batia em seu cabelo meio ondulado e loiro e seu cheiro doce vinha ao encontro, neste instante eu senti uma pontada em meu coração que o fez bater em um tom descompassado e batia cada vez mais forte, eu então decidi me acalmar e respirar umas dez vezes antes que John notasse e achasse que eu iria ter um ataque ali mesmo.

    Chegamos à enfermaria e logo veio uma enfermeira me atender, ela disse para John esperar lá fora, e então começou a examinar meu machucado no joelho.

- Nada grave querida, a doutora disse e foi me dando um remédio.

- Tome para aliviar a dor, enquanto isso ela fazia um curativo com gases nos

meus joelhos.

- Ok, doutora, Já posso ir?

- Claro! Mas tome cuidado hein!

- Pode deixar, eu disse enquanto saia rapidamente de lá, claro que era para encontrar-me novamente com meu anjinho, até porque aqueles 5 minutos pareciam que não iam acabar nunca sem ele do meu lado.

    Encontrei-o me esperando na porta do lado de fora do consultório com os olhos fechados parecia que ele estava querendo aproveitar o sol, ou quem sabe aproveitar para dormir um pouco em pé [?] enquanto me esperava.

    Eu então me aproveitei que ele estava distraído e soprei em seu ouvido:

- Tendo bons sonhos?

    Ele arregalou os olhos assustados e quando me reconheceu, logo abriu um sorriso com os dentes mais branquinhos e lindos que jamais tinha visto igual.

    E então começamos a ir para nossa sala, no caminho ele começou a me fazer uma espécie de questionário e eu fiz o mesmo com ele.

    Quando chegamos à sala, comecei a apresentar meus amigos e colegas, ele cumprimentava simpático todos, e às vezes me dava umas olhadas carinhosas de canto de olho, eu só ria e corava que nem uma boba, agora uma boba apaixonada [?].

    Minhas amigas ficaram loucas com o menino novo e eu alertei a elas, que eu tinha visto antes e que elas não ficassem muito animadinhas para tentarem conquistar ele, porque eu já estava completamente doidinha por ele. Elas no primeiro momento não gostaram muito por ele estar indisponível para elas, mas logo se alegraram em saber que eu estava gostando dele e que eu ficaria mais feliz com isso e me disseram que me apoiariam e ajudariam com qualquer coisa para conquistar o gato.

    O sinal bateu e o professor chegou à sala e mandou-nos sentar porque hoje iríamos fazer prova surpresa de física. Eu tremi, e fui sentar em minha cadeira, John sentou logo atrás de mim e eu fiquei mais feliz por isso mas não deixava de pensar na prova relâmpago e comecei a roer as unhas e balançar meus pés impacientemente. Ele logo percebeu e logo sussurrou pra mim:

- Relaxa. Não precisa ficar nervosa é só uma prova.

    Eu pensei como é que ele também não estava nervoso, até porque ele era novo e não sei se ele sabia a matéria... E fiz uma expressão de você tem certeza disso [?] para ele erguendo uma sobrancelha.

- Mel, eu sou novo aqui, mas isso não quer dizer que eu sou burro certo?

- Desculpa, não foi minha intenção. Olhei tristemente pra ele e me virei pra

frente.

    O professor então comunicou que a prova seria em dupla, logo depois meu anjo loiro me chamou e perguntou se eu queria fazer com ele...

- Mas é claro, eu disse piscando pra ele.

    Enquanto fazíamos a prova, percebi que ele era muito inteligente, além de lindo e cavalheiro. E cada vez mais eu ia descobrindo mais e mais dele, ia surpreendendo-me e tendo cada vez mais certeza do que eu começava a sentir por ele.

    Terminamos a prova e ele foi entregar para o professor, eu quase não ajudei em nada, somente escrevia o que ele falava e as contas que ele me passava, às vezes tinha até que pedir pra ele repetir por eu estar tão distraída perdida em seus lindos olhos.

    Ele então me falou:

- Não foi tão difícil, foi?

- Hm, claro que não! Com você pra me ajudar então, ficou muito mais fácil, eu disse sorrindo para ele.

    Ele retribuiu o sorriso e foi então que o sinal interrompeu nosso momento e fomos para o intervalo.

    Eu lanchei com ele, e mostrei alguns lugares do colégio para ele conhecer, conversamos incansavelmente, intercalando olhares demorados enquanto passeávamos e então acabou o intervalo e tivemos que voltar para sala.

    O tempo com ele passava tão rápido que quando a aula estava prestes a acabar nem tinha reparado. Até que ele me cutucou no ombro da carteira atrás de mim e falou:

- Ei, quer ir ao Parksonville comigo amanhã depois da aula? Eu adoro andar de

bicicleta por lá.

- Claro, que horas?

- Às 15h está bom pra você?

- Uhum...

- Então eu passo na sua casa amanhã às 15h para te pegar, ok?

- Ok, eu disse abrindo um sorrindo e já arrumando as minhas coisas na mochila.

    Despedi-me dele com um beijo na bochecha e um meio abraço, e fui para o portão encontrar meu irmão para que fossemos para casa.

    Depois minhas amigas vieram lá em casa e estudamos até as 8h da noite, apesar do estudo sério, também nos divertimos muito, contando confidências e as novidades sobre o garoto novo do colégio.

    Aquele tinha sido um dia BOM demais pra ser verdade... Totalmente diferente do que havia pensando quando acordei.

    Logo estava em minha cama pensando nele e no dia maravilhoso que hoje tinha sido e agora tinha esperanças que o dia de amanhã seria melhor ainda e que agora eu tinha um belo motivo para viver, não que antes não tivesse mas agora eu queria muito viver e me agarraria à razão que tinha para viver intensamente, quem sabe um grande amor [?].

    E então peguei no sono e entrei no meu lindo mundo particular de sonhos em que John meu anjo loiro era o personagem principal...