A guerra acabou.

E nós finalmente estamos livres.

Como eu gostaria de acreditar nisso.

Como queria ter a certeza de que foi tudo por algo maior.

Mas depois de cada bomba, de cada vida, de cada segundo... Eu apenas me perguntou: Por onde que andei? Por quais motivos mudei? Por que eu simplesmente me esqueci de quem era, de quem gostaria de ser?

A guerra acabou.

Nós vencemos.

Mas eu me sinto como um perdedor.

Perdi ela. E me perdi. Tudo por um motivo nobre, por um motivo que no fim talvez nem tenha feito sentido.

Talvez agora não faça mais sentindo. Não posso voltar no tempo, não posso mudar, não minhas escolhas, mas o jeito como tentei alcançar os objetivos. Não posso mais me recusar a lutar, não posso não dar idéias sobre armadilhas, não posso mais. Eu me arrependo de ter feito tudo que ele se recusou a fazer. Peeta foi mais forte. E foi muito mais exposto a Capital do que todos nós. Me arrependo de ter visto ele como um inimigo, quando na verdade o inimigo era eu mesmo. Lutando a favor da causa, e contra aquilo que acreditava.

Tentando me livrar da Capital eu simplesmente me entreguei ao distrito 13 sem perceber o quanto eles eram parecidos. Buscando sempre o poder sobre o outro. Querendo fazer com que o outro siga as regras certas, e eu simplesmente não tive capacidade de perguntar se seria realmente possível existir apenas uma regra certa. Quando pessoas matam outras, não existem regras, não existe certo, existe apenas o pecado. E a dor.

Eu não posso voltar no tempo, mas se voltasse...

Não estaria no distrito 2 tentando relembrar quem realmente sou. Mas seria impossível voltar a olhar para ela. Não depois do que fiz. Não depois do que vivemos. Depois de me perder em mim mesmo. Katniss nunca me perdoaria. Eu mesmo nunca me perdoarei por deixar que desaparecesse tudo em que eu acreditava.

Liberdade.

Pagamos um preço muito alto por ela.

E nunca a temos por completo, nunca conseguimos ser completamente livres.

E as ilusões de que sim fazem com que coisas como as que eu fiz aconteçam.

Não posso voltar no passado. Não posso consertar os erros. Não posso ser o mesmo Gale de antes. E mais do que tudo não posso odiar ninguém por isso. O que posso fazer é apenas seguir em frente. Tentar me esquecer daqueles dias. Tentar me esquecer de mim. E enquanto isso não acontece eu posso apenas dizer: Desculpas.

E esperar que alguém me ouça.

Esperar.

Esperar.

Esperar.

E perceber que só serie perdoado quando a liberdade completa se apresentar. No fim da minha vida.

No fim da luta.

Quando as memórias serão fracas, e até mesmo eu poderei dizer: Adeus. Sem precisar me lembrar do que me transformei, sem sentir falta do que eu era.

Um simples, Adeus.

Um duro, me desculpa.

O fim.

E de volta ao Gale que sempre quis ser.

The End.