Harry se dirigiu até a janela e encarou a estrela laranja.

-Acho que não a veremos mais juntos. – ele falou para si mesmo. – mas, no fim das contas vai ser melhor para todo mundo.

Sentei na cama encarando ambos os braços e mais uma vez comecei a chorar, havia lembranças dolorosas em cada uma daquelas cicatrizes, mas também havia lembranças de certa forma reconfortantes.

-O que pensa que está fazendo?- a voz me fez dar um salto de susto, quando olhei para o espelho vi os olhos assustados do Harry me encarando. – Liz o que é isso?

-Não é nada. – falei largando a lâmina que caiu na pia branca exatamente no mesmo momento em que a primeira gota do meu sangue fez o mesmo, atribuindo uma coloração vermelha ao local.

-Por que estava se cortando? Por que está se machucando dessa forma?

-Não posso evitar. – falei me virando para encará-lo. – toda vez que me sinto mal ou que fico chateada essa é a única forma que encontro para me sentir melhor.

-Mas não está certo me deixa ver esses braços. – ele falou se aproximando e segurando minhas mãos para ver meus pulsos. – não é certo se machucar assim. Sua mãe sabe?

-Não! – falei rápido. – Harry ela não pode saber.

-Mas Liz...

-Me promete que não vai falar nada pra ela.

-Há quanto tempo você faz isso?

-Alguns meses.

-Meu Deus.

-Me promete, você tem que prometer que não vai dizer nada para ninguém.

-Liz..

-Harry promete?

-Está bem, eu prometo.

-Tem que jurar.

-Eu juro.

-Cruza os dedos e beija.

-Isso é mesmo necessário?

-Harry...

-Ok, eu juro. – ele falou fazendo o gesto. Depois se aproximou e me abraçou forte.

Eu tinha dez anos quando Harry descobriu que eu fazia aquele tipo de coisa e quatorze da última vez que ele soube.

-Pensei que a gente tivesse um acordo. – ele falou quando me viu de blusa de mangas compridas na escola.

-Do que está falando?

Ele se aproximou e segurou meus dois pulsos puxando a manga da blusa.

-Não seja tonta, você prometeu disse que tinha parado.

-Parado com o que? – tentei puxar os braços das mãos dele, mas foi inútil.

-Com isso Liz. – ele falou olhando meus pulsos, lá havia algumas cicatrizes antigas, mas também havia dois cortes recentes. -você tinha parado.

-Voltei. – falei puxando os braços.

-Liz é sério, isso não está certo vai ter que contar para a sua mãe.

-Não vou nada.

-Se não fizer eu faço.

-Não pode!

-Então de uma vez por todas pare com isso.

-Está certo eu paro.

-Promete? Me promete que vai parar.

Eu o encarei.

-Prometo.

-Nunca mais vai fazer?

-Nunca.

As lembranças me transportaram para a realidade e nessa nova realidade Harry não cuidava mais de mim.

No dia seguinte quando desci para o café da manhã minha mãe me encarou. Eu não conseguia olhá-la nos olhos, não depois do que eu descobrira, eu tinha sido injusta com ela.

-Mãe. – comecei e ela me encarou com um sorriso.

-Oi minha linda.

-Ele está na cadeia?

-Quem?

-Meu pai. – falei rápido e ela deixou que o copo de vidro que segurava caísse no chão.

-Por que está me perguntando isso?

-Eu sei o que houve, sei que sou fruto de um crime e sei que é por isso que nunca quis me dizer a identidade dele, agora eu entendo e prometo que não pergunto mais nada a respeito, eu só queria saber se a senhora o conhecia.

Ela ficou quieta.

-Me desculpe não quis trazer as lembranças de volta. – falei pegando uma maçã, me aproximando dela e lhe dando um beijo demorado no rosto. – tenho orgulho de você mãe por ter passado por algo tão horrível e ainda por cima ter tido coragem de criar o fruto de tal crime, sou grata que não tenha me abandonado e me desculpa se por acaso me pareço com ele, não vou te culpar se não quiser mais me olhar, vou entender.

Ela não disse nada, simplesmente me puxou e me abraçou forte enquanto na mesa minha tia enxugava as lágrimas.

-Eu nunca vou deixar de olhar para você meu anjo, eu te amo.

Eu sorri e segui caminho.

-Foi você? – minha mãe a encarou, minha tia deu de ombros.

-Ela merecia saber a verdade.

-Obrigada.

Quando minha tia se afastou, minha mãe me olhou subir, então agora eu sabia de quase toda a verdade? Era melhor deixar as coisas como estavam, afinal, remexer no passado só traria mais sofrimento.