O Coração de um Caçador escrita por Joanna


Capítulo 49
Capítulo 50




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Se passaram alguns dias até que a situação se normalizasse.  Alguns aerodeslizadores passaram pelo céu e foram motivo de pânico entre todos, que pensaram ser o golpe final da Capital. Mas o aerodeslizador desceu nos limites de nossa visão, e logo uma mensagem clara de paz foi dada. Reuni um grupo e andamos até um lugar longe do campamento, com sinais combinados. Caso houvesse qualquer tentativa de ataque, boa parte das pessoas saudáveis conseguiriam se salvar.

- Sr. Hawthorne.

- Sou eu. - Recebi um sorriso ínfimo do homem de meia idade em pé, em frente aos seguranças.

- Me acompanhe, por favor.

- Até aonde?

- Acredite, é importante. Sabemos que você tem contato com personalidades importantes para a revolução. E pelo visto, tem feito por onde organizando os sobreviventes do distrito 12. Me acompanhe.

O aerodeslizador é amplo, e o vento nas hélices balança meu cabelo. Cada passo é dado com segurança e receio, visto que eu sou o líder de uma resistência, alguns pacificadores estão por perto e, por menos que eu tente deixar á mostra, lembra assustadoramente do episódio em que fui chicoteado. Que tipo de punição seria dada a mim? A pena de morte? Ou o fim do resta do 12 e a minha prisão?

Ao entrar no cômodo vejo diversas portas e sou informado da situação. Os sobreviventes seriam levados ao distrito 13 por ordem de idade, sexo e condições de viagem. Os primeiros grupos foram organizados com a ajuda de enfermeiros e eu me virava o tempo todo para assistir a cena. 

Sobrevoávamos o distrito quando vi a casa de Madge: uma pilha de cinzas. Depois das buscas por sobreviventes se repetirem, depois de instantes de apelo silencioso, eu não posso acreditar que ela apenas morreu.

~*~

- Johanna?

Não obtenho resposta por um tempo, encosto a orelha na porta para ouvir melhor, mas ela não está nem mesmo se mexendo.

- Vá embora!

Abro a porta e me deparo com ela, sentada na cama e com o rosto escondido.

- Se você ia entrar de qualquer jeito, por que bateu na porta?

- Questão de educação. Se não queria que ninguém entrasse, por que não trancou a porta?

- Segundo o meu 'médico de cabeça', eu sou uma paciente instável, logo eu não tenho a chave junto comigo.

- Eu tenho certeza de que ele está certo.

- E por que você diz isso?

- Porque um minuto atrás, eu ouvi alguém chorando dentro desse quarto. E agora você parece bem melhor.

- Pois é. Eu ficaria melhor ainda se você parasse de fazer essas perguntas sem noção.

- Hm... Uma última pergunta então: O que você faria se eu continuasse perguntando?

- Eu procuraria alguma coisa pra te matar.

- Ninguém deixa objetos perigosos nas mãos de pacientes instáveis. Sendo assim, eu vou fazer quantas perguntas eu quiser.

- Ah, você jura? Eu não preciso responder nenhuma delas.

- Então tá; Eu posso ficar aqui por tempo indeterminado, e seria horrível passar tanto tempo em um silêncio completamente constrangedor.

- Nada mais é constrangedor pra mim.

- Eu imagino. - Sento ao seu lado e fixo meus olhos nela. Johanna mexe os ombros desconfortavelmente, muda o rosto de lado, mas logo olha para mim e diz:

- Foi com essa insistência que você ficou com a Katniss? Porque se foi eu entendo o lado dela! Meu Deus, que chato você! - Ela me empurra de leve e volta a virar o rosto.

- Claro que entende o lado dela, você me ama.

- Eu não amo ninguém.

- Aaah. Então você não se importa se eu for embora e te deixar sozinha, né?

Ela deu de ombros.

- Todo mundo deixa.

- Eu não sou todo mundo. Por isso eu não fui embora quando você pediu, nem quando me chamou de chato, e nem agora que você está me olhando como se fosse me matar.

- Não tenho como. 'Ninguém deixa objetos perigosos nas mãos de pessoas instáveis' - Diz ela, em uma tentativa falha de imitar meu tom de voz.

- HÁ-HÁ. Engraçada demais você, hein?

- Você nem tem ideia. - Ninguém diz nada. Durante longos segundos eu virei o rosto para uma parede e encarei as cores claras do quarto. Só volto a prestar atenção quando ela encosta gentilmente no meu ombro.

- O que? Desculpa, não te ouvi.

- É, eu vi. Perguntei se você está triste. Agora que Peeta voltou, e Katniss tem andando mais tempo refletindo... Não sou de me meter na vida dos outros, mas já me metendo...

- Não... triste. Mas eu só... não sei o que sentir. Ás vezes soa até errado gostar da Katniss, depois de eu ter descoberto da história do Peeta na entrevista. Não sei se é verdade, não sei se ele gosta dela mesmo depois do telessequestro, sei que soa estranho achar que posso competir com ele em relação a isso. Sei lá, eu gosto dela. Mesmo. Mas eu não sou apaixonado desde X anos de idade, nem nunca... sei lá.

- Não devia me contar essas coisas. Não posso te dar nenhum conselho. Primeiro porque eu sou desastrosa, segundo porque... A gente só sabe do que se trata quando acontece com a gente. Certo?

- Certo.

- Não posso oferecer nada além do meu silêncio.

- Mais ou menos. Você pode rir da minha cara assim que eu terminar, se quiser.

- Não. Sua vida é entediante, Hawthorne.

- Ah, é? E a sua?

- Como assim, a minha? Você já sabe tudo da minha vida, o que mais você quer saber?

- Não sei... Como era a sua vida, tipo, antes?

- Antes do que?

- Você sabe... antes disso tudo. Quando você era só a Johanna Mason, e não a vitoriosa Johanna Mason. Gosto de imaginar você antes de tudo.

- Quando eu era normal?

- Não. Não consigo te imaginar normal.

Ela sorriu, mas ainda assim não disse nada. Senti medo de ter forçado demais, de ter feito com que ela revivesse momentos dos quais sente falta. De ter derrubado todo o muro que ela mantém sempre firme.

- Se você assistir minha entrevista, vai saber de tudo.

- Não vou. Quero saber de você, no seu distrito, na sua casa... E aquela ali não é você.

- Um dia desses eu te conto.

- Ok. Não queria te forçar a dizer nada.

Ela deu uma gargalhada sonora.

- Sei bem como é um interrogatório. Se quiser me fazer falar vai precisar de mais do que isso. - Ela levantou, arrumou a blusa nos quadris e virou as costas. Já tinha ido embora quando dei por mim.

O horário coincidiu com a minha seguinte tarefa. Estava exatamente no horário da próxima reunião. Estávamos "catalogando" sobreviventes, quaisquer ferimentos e tratamentos pelos quais estejam passando, e mesmo o tempo já ter passado desde que chegamos, boa parte dele foi consumido, contando perdas. Por coincidência, peguei uma pasta com os sobrenomes M-N, e não tardou até que encontrasse "Mason". Não pude deixar de olhar a fotografia da Johanna, nos primeiros Jogos. O cabelo na altura da orelha, a franja cobrindo os olhos, e o rosto sério. É até raro vê-la completamente séria. Johanna tem sempre um resquício de sarcasmo.

Johanna Mason

Distrito 7

Vitoriosa da 68° Edição dos Jogos Vorazes

Avaliação com psiquiatras uma vez por semana.

Só isso? Eu aqui, mexendo na ficha dela indiscretamente e só encontro isso? Ela é só uma das vitoriosas dos Jogos Vorazes, e não existem relações familiares, ficha médica, qualquer registro anterior a vinda ao D13? Fechei a pasta, frustrado, e um pouco culpado por ter invadido sua intimidade. Minha curiosidade tinha afastado-a de mim até um momento atrás, e eu agora estou fuçando nos arquivos atrás de qualquer pista.

Droga.

Depois de digitalizar as fichar a mim designadas, a sala de reuniões se concentrou em providenciar remédios para a maioria, em segredo. O carregamento deve ser feito aos poucos, e dividido severamente. Não duvido que seja fácil dividir, uma vez que tudo aqui é controlado, mas é um grande carregamento de remédios. Durante a reunião, chegamos a conclusão de que é melhor dividir os remédios em pequenos carregamentos, para tornar o processo mais discreto. Os remédios seriam levados por rotas diferentes, também.

Olhei para o relógio. O dia estava quase no fim, e me sentia improdutivo. A pequena manufatura de drogas não supria nossas necessidades agora que quase 20% do D12 estava aqui. Seriam tempos difíceis, e não pude fazer nada para ajudar. E ainda tinha a ficha da Mason. Difícil, mas a maior parte dos meus pensamentos faziam parte do passado dela. Gosto de imaginá-la estudando, rindo de verdade, ou qualquer coisa assim. Passei meus últimos dias tentando tirar aquele traço de deboche que sempre estava com ela. Parece estranho, mas quero Vê-la sorrindo de verdade. Só pra ver como é.

Depois do jantar, e ter visto Katniss tão abatida, desisti de mascarar o que acontecia. Katniss gosta de Peeta. Demais. Há quanto tempo ela está apática, nossos sussurros durante a caçada são menos frequentes? E como ela é absorta nos próprios pensamentos; Sinto sua falta. Pensar que Peeta a odeia do meio jeito que a amava soa estranho. Ele está louco. Perguntar o porquê das pessoas fazerem isso é inútil. Peeta é o homem que mais amou, e a sede por poder, pelo mais, acabou com ele.

Nessas horas me sinto um monstro. Por ter tirado o que ele mais amava. Peeta está sem família, e sem nada a se agarrar. A loucura bate todos os dias à sua porta, e ele encontra um fiozinho de lembrança real, sua parte boa volta á tona, por mais que seja difícil. Só por um instante, desejei não amar Katniss. Para que eles dois seguissem caminho, curando suas feridas, e que eu pudesse seguir o meu. 

Como seguir meu caminho sem ela?


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Notas finais do capítulo

Volteeeeeeeeeeei! Sinto muito por não ter escrito, mas sei lá... faltava a criatividade, e eu não queria um capítulo mais-ou-menos. Espero que gostem >