O Coração de um Caçador escrita por Joanna


Capítulo 44
Feelings




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Assim que ouvi pássaros cantando, sabia que o amanhecer chegava. Abri os olhos e fechei novamente com força antes de levantar. Minhas botas de caça estavam na soleira da porta e minha mãe já colocava leite de cabra na mesa, com sua baixa estatura. Beijei sua testa antes de me sentar e começarmos a conversar. Depois de um certo tempo, quando fiz a mesura de levantar, ela chamou minha atenção.

- Filho, você vai passar aqui depois, a tarde?

- Não, porque?

- Nada.

- Porque?

- Eu queria que você levasse essas roupas lá na casa do prefeito - diz ela - Eu ainda tenho muitas roupas pra entregar hoje.

- Só isso? Eu levo, passaria lá de qualquer jeito.

- Obrigada filho.

Depois da caçada de sempre, deveria voltar para casa e pegar as roupas. Fiz isso e passei na casa de Primrose, beijei sua testa e entreguei o que deveria. Logo eu teria que encarar a filha do prefeito.

Caminhei até a casa sem intenção de me apressar, com uma cesta nos braços e uma mala de roupas na outra, bati na porta de vidro nos fundos da casa. Logo Madge abriu.

- Oi.

- Sabia que você viria.

- Porque?

- Porque a gente conversou ontem e você ficou com saudades.

- Claro. - Joguei a trouxa de roupas para ela. - Então, vamos negociar. - Abri um sorrisinho (N/A: Que mercenário esse Gale u.u)

- Tudo bem, que tipo de negócio?

- Você sabe de que negócio eu falo.

- Sei, sim - E então ela me puxou para um beijo, ao qual não tive tempo de reagir a não ser para corresponder. Os beijos eram discretos, porém a empregada poeria ver-nos. Mesmo assim, eram tão ousados quato me permitiria nessas circunstâncias. O lugar onde estávamos poderia ser visto por qualquer habitante do distrito. Mas o porquê de ninguém estar prestando atenção é um mistério. Ou pior, a mãe de Magde não estar nos vendo. E então eu seria preso por caçar ilegalmente e dar em cima da filha do prefeito. Mas eu não pensaria nisso agora, disse para mim mesmo antes de voltar a beijá-la.

Só paramos quando ambos estávamos hiperventilando.

- É um pagamento pelos morangos?

- A primeira parcela.

E então um chiado encheu o distrito. Era o telão ligando. Não deixei Madge terminar a frase antes de correr para ter uma visão melhor antes de ver o riacho secando. E todas as piscinas naturais e qualquer gota de água cair. O índice de umidade na tela era de 10% e o rosto de Cato foi focalizado. Ele estava suando e ofegante, embaixo do sol quente apenas para checar suas últimas armadilhas em busca de comida e sua água estava abundante.

O telão desliga. Surpresas estão por vir, diz o ultimo eco de Claudius Templesmith.

E eu volto para casa sem olhar para trás.

Poderia parecer estúpido abandonar Madge assim que o telão terminasse, mas naquele instante, uma palavra me definia: Idiota.

Katniss estava na arena. Eu deveria ajudá-la. Peeta não deveria ajudá-la. Mas os papeis se inverteram, estou preocupado com minha vida enquanto Katniss se preocupava com a própria morte que poderia, independente da minha negação, acontecer. Mais palavras surgiram para me definir: Egoísta. Babaca. Falso. Descompromissado.

Aposto que caso fosse eu naquela arena, Katniss já teria vendido mais do que tinha para me ajudar. Já teria passado noites sem dormir caçando e lutando contra outros predadores mais poderosos que ela. Mas é claro que comigo seria diferente. Quantas vezes mesmo eu me sacrifiquei por alguém? Oh, Claro, diversas. Todas foram tão corajosas quanto a de Katniss Everdeen ao se voluntariar na colheita pela irmã.

Enquanto caminhava para casa um pensamento me atingiu e, de certa forma, me senti pior do que antes. 'Enquanto você se martiriza por estar com Madge, ela deve estar com Peeta fazendo o mesmo que você.'  É calro que esse pensamento foi como um raio me atravessando: Trouxe uma rápida e clara luz, mas depois tudo foi ficando tão escuro quanto antes. Peeta nunca pensaria nisso. Essa é uma coisa que vou acrescentar á lista de Motivos para Todas Se Derreterem Por Um Padeiro. Outra coisa a acrescentar: Eu sou um babaca.

Já na reta final dos Jogos, fui até o Prego e vendi o que poderia, e desta vez, não levaria dinheiro até o patrocínio. Os Jogos estariam na final, e mais um pensamento tão terrível quanto o primeiro raio me assolou: 'Guarde o dinheiro, pode ser útil caso precise fazer o velório dela'.

Nem preciso dizer que me senti desumano. Mas eu sussurrei um xingamento para mim mesmo, só para firmar minha opinião.

A caminhada até em casa pareceu um martírio. Não por causa do físico, mas por causa da minha mente. Quanto mais pensava, menos sabia qual das duas havia machucado mais. Eu não me daria ao luxo e egocentrismo de dizer que estava machucando mais ainda a mim mesmo. Eu não sabia qual machucaria não porque as duas me amavam, mas porque eu senti que as havia...  Traído. Nenhuma palavra soou mais verdadeira dentro de mim, porque sabia que era verdade. Meus pensamentos não fraquejavam em sua opinião quando imaginava Madge sozinha perto de casa. Ou quando imaginava Katniss nos braços de qualquer outro, mesmo que ele fosse mais correto que eu. Quem diria que eu, com tantas companhias passageiras, estaria preocupado com as que possovelmente perderia? Eu, tão acostumado com perdas, com finais, com ter de aguentar tudo sozinho. Não culpo meu passado tortuoso, ou meu destino incerto. Culpo a mim, que nunca soube traçá-lo.

Mal acompanhava o que estava fazendo. Estava repetindo o rotineiro, até que entrei em casa, segundo minha mãe, "Feito um desnorteado". Mais uma palavra para me definir: Desnorteado. Eu preciso mesmo de algo bom para não entrar em depressão. Como eu já disse, não existe tratamento psiquiátrico no Distrito 12. Mal havia tratamento para os mineiros, visto que qualquer um sabia que em um distrito com economia baseada em carvão, mão de obra não faria falta.

Abandonei meu momento "crise existencial" para me enojar novamente com a frieza da Capital. Eu já havia decidido que no dia seguinte faria minha inscrição para trabalhar nas minas, provavelmente me chamariam um ou dois dias depois. Um arrepio atingiu meu corpo todo ao saber que trabalharia nas minas. Mas aquele é o meu destino. Sempre foi. 

Todos os dias eu observava minha casa com cuidado. Eu não sabia o salário das trabalhadores nas minas, não sabia se valeria a pena sair da caçada para ali trabalhar. Mas o fato é que se eu largasse o emprego, ora ou outra não seria mais tão fácil evitar dúvidas daqueles que não soubessem o que eu fazia. Se os trabalhadores das minas soubessem o quanto seu trabalho é importante, pensei, Ah, se soubessem...

~*~

Hey, deem uma olhada na minha nova fic, pra quem ama Romione feito eu. É uma fic de capítulo único, espero que gostem :33

http://fanfiction.com.br/historia/270888/The_First_Rose/


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Notas finais do capítulo

Comentem no cap, amores :3
E alguém pode fazer o favor de abraçar o Luan Leandro, que deixou o primeiro review na minha outra fic, e ainda por cima recomendou essa aqui??? Cap todo dedicado á ele.