Greg acordou num lugar levemente iluminado, mas, depois de toda aquela escuridão, seus olhos estranharam a claridade. Ouviu vozes. Tinha pessoas lá. Murmuravam algo... Resolveu voltar a fechar os olhos, mas ficar bem atento à conversa.

- E pode não parecer, mas, eu me importo com ele. Me faz uma falta danada não ter de treiná-lo por esses dias. Você soube da história? – falava uma voz familiar, que Greggory ainda não tinha conseguido assimilar.

- Não.

- O primo de Greg, Thomas, veio à cidade, e... – ela contou a historia inteira, nada novo, que Greggory não soubesse... Com exceção do final; - Ele inclusive perguntou se eu queria trabalhar para ele, e começou a me olhar de um jeito estranho, e falando no modo imperativo, como se exercesse algum poder sobre mim. Rejeitei cada comando, segui em frente. Como eu disse, ele já está na cidade há algum tempo, e acho que foi há mais ou menos duas semanas, um dia depois de eu ter começado a treinar Greg... – Ai que ele percebeu quem falava: Malina. A outra voz também participante da conversa era Nice, a enfermeira.

Ela silenciou Malina com um “Shhhh...” e tudo que Greggory entendeu foi que estava dormindo. Então Thomas tentou atingir Greg com Malina também? A Sra. Evans, Malina... Todas estavam sofrendo, ou sofreram de algum modo por culpa dele. Mas sabia que era exatamente esse o efeito que Thomas queria causar nele, e não ia deixá-lo vencer tão fácil. Mas era difícil ficar acordado. Seu corpo pesava quase tanto quando suas pálpebras, que insistiam em permanecer fechadas. Quando acordou definitivamente, olhou para o lado e viu os rostos de Sabrina e Dylan.

- Ele está acordando. – sussurrou Sabrina, devagar.

- Como você está, cara? – perguntou Dylan.

- O-O que aconteceu? Achei que eu tinha morrido. – disse Greggory.

- Nós que te perguntamos. Dylan disse que Thomas queria matar você... – disse Sabrina, lentamente, como se as palavras fossem assustá-lo.

- Como você sabe disso? – Greg perguntou.

- Descobri, ainda na sexta-feira, que o Sr. Payne é meu Mentor. Todos os Heróis tem um. Não é treinador, é Mentor. Eu estava andando na rua, quando percebi que estava sem o meu cordão, e presumi que ele tivesse caído no chão do hospital. Resolvi voltar, com o Sr. Payne me seguindo, é claro. Cheguei lá e ouvi um grito: Eu pego você, Field! E logo soube que tinha algo errado.

“Entrei, correndo, e fui aos poucos vendo que as pessoas que estavam lá, tinham o olhar vidrado. Olhavam para o nada... Roger disse, pelos seus anos de experiência, que estavam hipnotizados.  Quando nós chegamos ao local onde ele estava, vimos você no chão, quase apagado. Sua perna tinha uns espasmos, que constataram que você foi eletrocutado.”

Ele fez uma pausa para respirar.

- E isso é tudo que sei. – disse, ao fim.

Então Greggory sobrevivera pela atitude de Roger. O barulho agudo que Greg tinha ouvido era o som da verruga do Sr. Payne. E era por isso que ele dava mais atenção a Dylan, porque Roger era seu mentor.

- Greggory, o que exatamente aconteceu desde que nós saímos do hospital? – perguntou Sabrina, fitando Dylan brevemente, mas Greg não entendeu essa troca de olhares repentina.

- Tiffany e Kimberly tiveram uma conversa estranha com Thomas. Elas o chamaram de Mister T. Elas eram cúmplice dele e não eram minhas irmãs. Na verdade, nunca foram. Eram minhas primas. Thomas é meu verdadeiro irmão. O poder dele é eletricidade (energia) e controlar e fazer as pessoas esquecerem-se do que quer que seja.

“Foi ele matou meus pais. Não sei por quê. Não entendi direito essa parte. Ele matou minha Tia, Magda, que eu nem cheguei a conhecer, por ela saber demais da história dele. Minhas “irmãs” me fizeram acreditar que Magda era mãe dele. Tia Magda era irmã do meu pai, tornando quem for filho ou filha dela meu primo ou prima.

“Mary, a que atacou Dylan, é verdadeira filha de Magda. Mary era humana, foi hipnotizada. Thomas matou um Herói e deu o poder do morto para Mary. Ele disse que não se pode hipnotizar Heróis da família, mas como eu disse, Mary era humana, mas, prima dele. Bem, nossa prima.”

- Thomas é o Homem do Fogo. Ele botou fogo na minha casa como um sinal, ele deu curto-circuito do sistema elétrico. Ele hipnotizou a Sra. Evans, por isso o sumiço repentino dela. Esqueci algo? – disse Greggory, com a respiração afetada.

- Me deixa ver se entendi: Todas as pessoas que te ou nos atacaram foi por culpa de Thomas? É isso? Sem mencionar que ele matou seus pais, sua tia, e te iludiu a vida inteira com irmãs falsas? – resumiu Dylan, pasmo.

- Isso. E aquele cara que nos atacou ontem...

- Ontem? Greg, você está aqui há dois dias. – corrigiu Sabrina.

- Certo. Anteontem, o cara que nos atacou, que se chama Darius, também foi armação dele. A Sra. Evans avisou que vocês iriam buscar Thomas comigo. Ele queria que eu viesse sozinho. Ele já tinha tudo planejado: O hospital mais próximo; O médico, que ia dar um laudo errado; tudo. Justamente, para me deixar a sós com ele.

- Mas Darius ainda está na delegacia, certo? – perguntou Dylan.

- Não sei. Ele pediu para minhas irm... Para Kimberly e Tiffany irem buscá-lo. Mas... E a Sra. Evans, ela está normal?  Ele já a tirou do transe?

- Greggory, não sei como te falar isso, mas...

- Certo, crianças, fim da hora do recreio. – disse o Sr. Burguins, entrando na ala hospitalar, local que Greg só reconheceu uns 10 minutos depois de ter acordado. O diretor estava acompanhado por Roger, e a moça que estava conversando com eles sobre mudar-se para sede, a que Greggory lembrou que se chamava Srta. Sanders.

- O senhor quer que a gente saia? – perguntou Sabrina.

- Isso. – respondeu o Sr. Payne, seco.

Dylan e Sabrina saíram, olhando para o chão.

- É verdade tudo isso que acabamos de ouvir, meu jovem? – perguntou o Sr. Burguins.

“Sabia que é feio ouvir pessoas atrás da porta?” Greg lembrou-se da frase de Thomas. Apesar de ter lembrado, não queria tê-la mencionado, afinal, esse irmão tentou matá-lo.

Greggory apenas assentiu com a cabeça.

- E como está a perna? – Sr. Payne perguntou, observando a perna estendida por uma tipoia presa no teto.

- Melhor. Mas ainda fica dormente constantemente. – Greg respondeu.

- Você deveria agradecer por ainda ter essa perna, porque, num choque com esse tipo de voltagem, é normal as pessoas amputarem. O choque pode paralisar todos os músculos e a perna ser apenas um desvio de sangue inútil no seu corpo. Ah, e a propósito, acho que não me apresentei. Sou a nova secretaria do Sr. Burguins. Chamo-me Jessica Sanders.

- Bem, Greggory, eu acho que já está mais do que claro que vamos ter nos mudar para a Sede, certo? – disse o diretor. Como ele sabia que Greg já estava ciente da mudança? – Não só por falta de dinheiro, mas também, como uma medida de segurança.

- Dylan me contou tudo que sabia, inclusive, que vocês andam xeretando por ai. – explicou Roger, como se tivesse lido a mente de Greggory, o que o garoto não duvidou. – voltando ao assunto principal. Você está sem guardiã ou guardião responsável, estou certo? – perguntou ele. – suas “irmãs” se mandaram.

O que será que ele quis dizer com se mandaram? Tinha muitas e muitas perguntas martelando na cabeça de Greg, mas a que mais o incomodava, ele tinha de obter uma resposta, e ia fazê-lo agora:

- O que houve com a Sra. Evans? – perguntou, não especificamente para alguém.

Eles três suspiraram, se entreolharam e decidiram em silencio quem iria contar.

- Thomas sumiu com ela. Parece que Malina também tomou chá de sumiço. – disse Srta. Sanders. – quando Roger te tirou do hospital, ele só se preocupou com você. Thomas ficou lá. Até mesmo porque a gente não sabia da historia...

Como eles puderam deixar Thomas lá? Mesmo sem saber da historia, Dylan tinha concluído que ele estava tentando matá-lo.

- TEMOS QUE IR ATRÁS DELAS! – berrou Greggory, tentando levantar-se da cama, mas sua perna o impedia. Os espasmos estavam voltando – vocês não podem deixá-las com ele! Thomas vai matá-las!

- Calma Sr. Field. Já mandamos reforços. Sabemos exatamente onde ele está. Em sua casa. Temos a situação sob controle. Ele mantém as duas como reféns, mas estamos negociando. – disse o Sr. Payne, como se isso fosse tranquilizador.

- Vocês não o conhecem! Ele não tem nada a perder! Ele vai matá-las sem hesitar! – Greg recomeçou a se debater na cama, e sua perna fez o mesmo na tipoia suspensa.

- Temos soldados armados cercando toda a casa. Qualquer movimento suspeito e eles atiram.

- A gente vai para lá, certo? – insistiu Greggory.

- Nós três – sinalizou o Sr. Burguins; Ele mesmo, o Sr. Payne e Srta. Sanders – talvez. Mas você, em hipótese alguma.

- Ah, acho muito bom mesmo. O garoto está se recuperando. – disse a enfermeira. – a conversa acabou? Ele tem de descansar.

- Não! Eu preciso ir com ou sem vocês. Acho que não entenderam a gravidade da situação... E Darius. Ele está na cadeia. Ele poderia dar informações para vocês. Bem, se minhas irm... Se Tiffany e Kimberly não tiverem tirado-o de lá... – disse Greg, com uma voz afetada.

- Greggory, sejamos realistas. Nós não temos um plano. Não podemos entregar de bandeja um garoto de quatorze anos inexperiente, sendo que é a coisa que um psicopata obcecado mais almeja. – disse o Sr. Payne. – Acabamos por aqui, Nice. – e os três saíram.

- NÃO! VOCES, VOCES NÃO ENTENDEM! ELE VAI MATÁ-LAS, M-A-T-A-R! VOLTEM! – e os gritos de Greg foram morrendo. Ele sentiu algo injetado em seu braço e o efeito foi quase instantâneo. Ele apagou rapidamente.