Fragrance escrita por Usagi


Capítulo 2
Até a simples ternura tem crescido.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo e agora em primeira pessoa por é meu vício, wee. Espero que esteja bom e o próximo será o último. Boa leitura.



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Kaya's POV

                Se passaram quinze anos. Eu nunca mais ouvi falar de seu nome. Nunca mais ouvi sua voz e senti o seu cheiro.

                Tivemos aquele ano todo juntos. Ele me ajudava nas matérias que eu tinha dificuldade, eu via todos os seus jogos e ficava torcendo como um namorado devia fazer. Entreguei meu corpo a ele em uma noite na casa de seus avós que não era mais habitada e depois, eu não sentia mais vergonha de nada.

                Ele era meu e eu era dele.

                Era.

                Ele se foi. Depois de sua formatura, ele sumiu. Não deixou uma carta ou qualquer outra coisa. Simplesmente, em um dia que fui andando até sua casa, ninguém estava lá. Nem seus pais e nem seu cachorro. Nada.

                Um vazio da mesma forma que meu coração se encontrava e persistia até hoje.

                Mudei-me faz um mês e estava atrás de um trabalho descente até então. Hizaki me liga todo santo dia mesmo depois de ter constituído família ao lado de Kamijo. Eles iniciaram o namoro logo após Mana e eu e continuavam como duas rosas entrelaçadas em seus ramos.

                Fui chamado para uma entrevista às dez da manhã e às sete, eu já estava pronto sentado no sofá do meu pequeno apartamento com poucas mobilhas. Era aconchegante e o que mais me agradava era o cheiro. A fragrância.

                Depois de tanto andar por loja de perfume, consegui achar o perfume dele. Espirrei por toda a casa e ainda faço isso. Só preciso me conforma.

                Eu estava mudado por fora, mas por dentro ainda era a mesma criança apaixonada e sensível que só queria um pouco de atenção e um carinho gostoso na hora de dormir. Meus cabelos não estão mais loiros e minhas roupas estão mais formais do que a saia de pregas preta e a camisa de botões.

                Levantei-me para pegar alguns dos bicoitos coloridos que comprei no supermercado aqui da frente. O bairro era sossegado e eu já tinha uma amiga: minha vizinha de frente. Uma senhorinha de cabelos grisalhos e que vive sozinha com seu gato persa.

                Os minutos passavam como lesmas apostando uma corrida. Eu precisava me distrair. Desci as escadas em passos curtos até sentir a brisa em meu rosto. Caminhei pelo bairro e o barulho dos pássaros e das folhas das árvores caindo me agradava.

                Eu estava nervoso. Algo me dizia que essa vaga de emprego era muito concorrida e que era possível, e provável, que aparecesse várias outras pessoas muito mais qualificadas do que eu para este cargo.

                Eu seria secretário. Sim, pode parecer pouco, mas para mim estava de bom tamanho. Eu só precisava cuidar de mim e com certeza o dinheiro dava. Dava e sobrava. Aprendi a organizar os meus gastos desde que meus pais faleceram. Aprendi a dar valor.

                Comprei um sorvete, uma revista, comi pipoca e joguei peteca com um garotinho. Quase nove e quinze quando decidi fazer o caminho até a empresa.

                Um prédio alto com maios ou menos quinze andares. Eu sabia que por alguma obra do destino, eu teria de ir até o último andar. Nem tenho medo de altura, imagina.       Que absurdo.

                O elevador parou e junto dele, as minhas mãos também. Elas tremiam intensamente e eu podia sentir um pingo de suor descer pela minha testa. Encaminhei-me até o primeiro banheiro que avistei e retoquei a maquiagem, o perfume e o penteado.

                Bati na última porta do corredor, como o recepcionista tinha me dito para fazer. Uma voz lá dentro pediu para que eu entrasse e assim fiz. A mulher me sorriu inúmeras vezes até me mandar para uma nova sala, ou melhor, um auditório.

                Sentei-me na quinta fileira da lateral e esperei até que todos se acomodassem. As luzes foram baixando e somente a que mirava para o centro de um pequeno palco permaneceu acesa.

                Tirei uma pequena agenda da bolsa e uma caneta para fazer qualquer anotação necessária. Se todos aqueles que estavam presentes também queriam a vaga como secretário, eu estava mesmo sem chances.

                Um homem passou pela porta prendendo minha atenção. Estava inteiro de preto. Seus cabelos e as roupas eram tudo o que eu conseguia ver. De alguma forma, minha necessidade de enxergar seu rosto se tornou quase absurda.

                –Olá, senhores. Sou Mana-Sama e...

                Eu não ouvi mais nada. Eu não estava raciocinando. Por um instante, pensei que desmaiaria, mas minha atenção foi chamada novamente.

                –Desculpe senhora, mas esse cargo é só para homens. –Ele disse com um meio sorriso nos lábios e eu me levantei.

                –Etto... Enquadro-me perfeitamente para isso. –Minha voz saiu chorosa.

                Ele não me reconheceu. Ele nem devia lembrar-se de mim e das coisas que tivemos juntos. Eu era um tolo em pensar que ele esperaria por mim onde quer que estivesse.   

                Mana assentiu desculpando-se e eu aceitei voltando a me sentar.Ele começou a falar sobre a empresa e sobre seu cargo. Ele seria o chefe de quem fosse escolhido e eu queria muito sair logo dali para nem concorrer a essa chance.

                Eu não saberia me comportar perante ele. Nunca soube.

                As horas passaram em um estalo. Eu não tinha ouvido quase nada. Minha mente se ocupava em processar informações e criar novas loucuras de que Mana simplesmente não ligou para nada que um dia pertenceu a nós.

                No final, depois de algumas gincanas e testes, só sobrou cinco pessoas e eu estava entre elas.

                Caminhamos para um espaço aberto banhado por gramas verdes e árvores altas. Parecia que ao fundo tinha um campo de futebol, mas a vasta vegetação me impedia de ver.

                Mana sentou-se em uma cadeira em meio a todos nós que fizemos uma roda em volta dele. Eu não conseguia encará-lo.

                –Vocês terão que procurar por algumas bolinhas iguais a essas que estão escondidas por ai. –Deu uma pausa mostrando a tal bolinha e olhando para cada candidato, inclusive para mim. –Os três que tiverem mais bolinhas no momento que eu soar o apito, passa para a próxima fase.

                Todos se afastaram e eu, em passos lentos, fiz o mesmo. Senti sua mão pousar de leve sobre meu ombro me fazendo virar de frente para si. A distância entre nossos rostos era pequena. Sua respiração quente batia contra minhas bochechas e eu corava, com certeza. Corava livremente como um lindo tomate polido.

                –Não prefere trocar de sapatos? –Olhou para minhas plataformas e sorriu.

                –Não será necessário, senhor, mas obrigado. –Curvei-me brevemente e dei mais um passo, mas ele me segurou com um pouco mais de força.

                –Já não nos conhecemos?

                Eu sabia que ele esperava por uma resposta, mas eu não queria dizê-la. Meus olhos estavam mais úmidos e eu precisava ser forte o suficiente para segurar essas lágrimas. Neguei com a cabeça e andei mais rápido para não ser segurado novamente. Posicionei-me ao lado dos outros e Mana deu a partida.

                Esse seria o momento exato para eu perder o cargo. Eu só precisava ficar parado embaixo de alguma árvore mais afastada e esperar que todos pegassem suas bolinhas e eu ficasse em último. Ainda podia brincar dizendo que a culpa foi do salto.

                Adentrei o espaço fechado passando por várias folhas até achar que estava longe o suficiente. Sentei-me devagar encostando ao tronco de uma árvore alta e tentando parecer o mais camuflado possível.

                Passaram-se quinze minutos e eu já estava agoniado. Por que Mana não podia tocar o tal apito logo? Eu já estava quase começando a falar com um aglomerado de formigas que passava por ali quando ouvi passos em minha direção.

                Escondi-me na parte de trás do tronco. A pessoa estava logo atrás de mim e a pressão fez com que eu fechasse meus olhos esperando que ela se fosse.

                Os mesmo lábios. O mesmo toque em meu rosto. O mesmo corpo encostando ao meu e principalmente, a mesma fragrância exalando pela pele branca.

                Eu devia ter me afastado, cessado, gritado, esperneado e tudo o que eu estava acostumado a fazer se fosse surpreendido dessa forma, mas não. Eu simplesmente deixei. Deixei-me pertencer a ele mais uma vez. 


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Notas finais do capítulo

Mereço alguma coisa com essa nenénzisse do Kaya? q :3