Quando recebi alta a médica me falou que eu estava bem, só havia entrado em choque pelo que tinha me acontecido mas que as toxinas da droga já haviam saído quase que completamente do meu corpo. Isso foi dois dias depois da festa do Recanto. A Novata me informou que por causa de uma grande tempestade e problemas com o ônibus, nossa sala havia ficado mais dois dias no recanto e que, eu poderia ir embora pra casa no mesmo dia que eles já que os professores ligaram para nossos pais avisando. Ela me disse também que ninguém tinha contado o que havia acontecido a nenhum de nossos professores. Eles sabiam que a festa tinha dado rolo mas não chegaram a saber de detalhes.

Eu estava no hospital, na cidade que ficava ao lado do Recanto. Novata e eu esperávamos pelo táxi que nos levaria para nossa cidade.

– Você escolhe o que ou se conta pra seus pais, Luana - Novata comentou depois de me explicar o que havia se passado nos últimos dois dias.

Ela não era assim tão bobinha quanto parecia. Era uma boa amiga. ^^

– Algumas coisas demoram pra sarar. Talvez eu chegue em casa e corra pra contar, ou talvez eu simplesmente guarde pra mim, como tenho feito com o que sinto pelo José todos esses meses que fiquei longe dele.

Ela encarou a rua movimentada pensando. Estava uma tarde bonita.

– Nosso táxi chegou - ela disse por fim.

Entramos e viajamos em silêncio. A certa hora vi a placa que anunciava que o Recanto estava a três quilômetros. Eu ainda tinha uma coisa por resolver.

– Nova...é...Carol,

– Me chamou de Carol?

Eu ri. É, eu tinha chamado. Béh!

– Eu quero fazer uma coisa - ela me olhou esperando que eu terminasse - Preciso ver o José, no seminário.

Ela abaixou os olhos como se lembrasse de uma coisa triste.

– Posso pedir pro táxi parar lá depois ele te leva pra casa.

– Mas como você vai voltar?

– Com o ônibus da escola - apontei pra frente, o ônibus estava parado na frente do recanto

– Não nem pensar! Não depois do que te fizeram!

– Eu vou ficar bem carol. Sei o que estou fazendo!

– Mas e se te zoarem! E se rirem de você!

– Confie em mim!

Olhei bem pra ela. Não tinha certeza se eu me tornaria motivo de piada, mas sabia que poderia enganar Carol. Não queria que ela se preocupasse.

– Tudo bem...Moço! Pare aqui!

Olhei pela janela. De carro era bem mais rápido chegar ao seminário do que correndo.

– Então, antes acho que deve saber o que aconteceu na festa...

– Não! Quero que ele me conte.

– Tem certeza?

– Sim!

– Então adeus amiga.

– Tchau.

Nos abraçamos e eu sai. Nunca pensei que ela seria uma amiga tão boa. Eu tinha acabado de sair de um hospital e estava simples. Uma calça jeans, uma blusa solta branca, uma bota leve, o cabelo solto e apenas uma corzinha nos lábios para disfarçar minha palidez. Andei até o portão do seminário. Era hora de enfrentar os sentimentos daquele padre. Fossem eles quais fossem.