Era uma tarde estranha. um vento soprava do oeste, o sol se punha e o céu estava uma parte laranja outra azul bem claro. Eu andava rápido para o portão do seminário. Então veio ele.

José.

Ou talvez agora ele nem fosse mais José e sim Padre José.

A batina meio aberta, solta ao vento.

O rosto feliz, alvo, límpido.

O sol poente derramava em seu rosto uma luz bonita. Eu poderia ficar ali vendo ele se aproximar de mim com aquele sorriso torto na boca que eu tanto amava. Era linda! me perdi olhando pra ele. Por um segundo a coragem esvairou-se de mim. Recuperei-a antes que a perdesse completamente. Eu precisava dela. Eu tinha uma missão.

- Que foi Lúh?

Sacudi a cabeça. " Para de olhar pra boca dele, sua tonta!" pensei comigo mesma. respirei fundo.

- OI José.

- Luh, desculpa não estar la no hospital quando você recebeu alta. precisei voltar com o Pedro, o Frei precisava do carro.

- Quem...quem é...? - me lembrei do outro padre que estava na sala do hospital, deveria ser ele

- Ahn...você parece meio confusa, eu sei que não quer falar disso mas...

- Não, tudo bem. Não deixei a Carol me contar muita coisa porque eu queria mesmo que você me dissesse tudo o que aconteceu.

- Tu...tudo?

- Tudinho. - olhei pra ele, ele corou. (kkk ki fofu ^^)

- Bem, vamos andando então...- ele pigarreou- Eu estava aqui no seminário quando de repente a Carol me manda uma mensagem dizendo que tem que falar comigo urgente. Que era sobre você. Então eu fiquei esperando por ela nas aberturas do muro. - ele apontou para elas - Quando a avistei e ela não estava com você eu já fiquei meio preocupado. Ela chegou e disse que Marília e os comparsas dela estavam te drogando e embebedando desde as seis da tarde e que planejavam algo muito maior. Ela não quis parecer estar me levando para o ninho das cobras, eu disse que mesmo que não tivessem me mandado chamar eu iria.

Deu um meio sorriso nessa hora. Parecia que tudo o que o José dizia agora, provocava uma reação diferente em mim.

Andávamos pelos arredores do seminário. Depois de uma breve pausa ele continuou.

- Chegando lá encontrei todo o pessoal da nossa sala na festa. Os grandões do futebol me seguraram  e me jogaram dentro de um cerco de grade que rodeava uma passarela. Marília apareceu nela e começou a falar umas besteiras sobre aproximar nós dois. Então ela disse: "Que comece o show" e eu estremeci. Sabia que coisa ruim vinha por ai. - ele parou um pouco - Luana, tem certeza que quer saber dessa parte porque...

- Jose!

- Tá, tá! Então começou uma música e empurraram você pra passarela. Você estava...bem pouco vestida - ele corava cada vez mais, eu sabia que ele queria pular essa parte mas EU queria saber o que eu tinha feito - você começou a dançar junto com as outras garotas da sala e teve uma hora que você caiu. Então veio aquele idiota do Luís e te deu mais droga e beijou você!! - ele estava com raiva (ui! kkk) - eu gritava pra ele mas os grandalhões me segurava e me obrigava a olhar pra você! Então você passou mal e caiu, começou a ter uma overdose. Eu não sabia o que fazer, todo mundo foi embora me soltaram e eu subi na passarela - ele parou e se virou pra mim - Luana foi uma das coisas mais horríveis que ja me aconteceram. Você estava muito mal! Espumava pela boca e se retorcia! Eu te peguei no colo, pedi pra Carol ligar pro Pedro que esta sempre de prontidão e pode usar o carro do pai dele. Ele veio correndo e te levamos pro hospital.

Ele tinha feito tudo isso por mim! Levei minha mão para o rosto dele e acariciei sua face, nos aproximamos.

- José...eu, eu te amo tanto!

Por um segundo eu achei que ia ver um sorriso. Mas não. Ele estava preocupado. Segurou minha mão que estava no rosto dele e a abaixou. Me desesperei. Ele não sentia o mesmo por mim?

- Acredite, eu sinto o mesmo por você. - parecia que tinha lido minha mente - mas não posso... - seu rosto era uma máscara de tristeza - entreguei minha vida a Deus e nela vou seguir. Eu não estou triste por essa decisão Lúh. Assinei esse compromisso em minha vida. Mas uma coisa eu te prometo: eu não serei Padre pra sempre.

Levantei minha cabeça que estava abaixada e olhei bem fundo em seus olhos.

- Onde você estiver, eu vou te esperar. - eu disse depois senti o peso das palavras.

Para sempre podia ser por muito tempo! Ele podeira abandonar a carreira de padre com 60 anos! Eu esperaria tudo isso ou tocaria minha vida? Minha vida sem José?

- Eu espero que sim - ele respondeu

Depois se aproximou de mim e deu um longo beijo em minha testa. Um beijo de Adeus. Não aguentei olhar pra ele. Eu queria chorar, mas segurei o máximo que pude.

Fui andando, me afastando. Ele me chamou. Olhei.

- Até breve Lúh. - e fez um sinal de tchau como sempre fazia

Olhei uma úlitma vez para aquele que havia sido meu amigo e companheiro e agora, o garoto que eu amava, e sua boca perfeita...

Corri um pouco ainda esperando dar tempo de pegar o ônibus da escola. Eu estava sem bolsa. A Carol ia levar minhas coisas pra casa. O ônibus ainda estava lá. Esperei todos entrarem. Falei com a professora e entrei. As conversas pararam. Esperei pelas risadas. Não vieram. Olhei para todos. Eles me olhavam. Marília estava de cabeça baixa. Caminhei até os fundos do ônibus. Havia um lugar, ao lado do Luis. O que havia me "beijado". Ele disse oi e foi sentar em outro lugar. As conversas recomeçaram. Ninguém disse nada sobre mim. De repente vieram as amigas de Marília, menos Letícia e me cumprimentaram.

- Oi Luana! Podemos sentar com você?

- Ah, podem, claro...mas se não se importarem eu preferiria ficar em silêncio.

- O que você quiser garota! - Uma delas disse e começaram a conversar entre elas

- Será que uma de vocês não poderia me emprestar um fone de ouvido?

- Ah, claro, toma o meu! - disse a mesma garota.

- Obrigada.

Parece que agora as coisas iriam mudar. Olhei de relance para Marília e Letícia. Elas estavam sozinhas e quietas. Não sabia o que havia acontecido com elas, e nem queria saber. Coloquei os fones no meu celular e comecei a ouvir a música preferida de José. E assim segui para casa. Estava anoitecendo, eu tinha muita saudade dele e isso não ia mudar tão cedo.