Quase Sem Querer escrita por Loly Vieira


Capítulo 4
Capítulo 4 - Final do primeiro dia.




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Depois de um banho, roupas novas e tudo mais, eu me sentia pronta para mais uma corrida pela propriedade. Mentira. O que eu mais queria naquele momento era me jogar no sofá da minha sala e assistir mais um episódio de Friends enquanto eu comia chocolate e vivia feliz em meu mundo.

Mas como diria minha santa avó: Querer não é poder.

E agora aqui estava eu, caminhando lentamente com uma guia na mão, quero dizer, meu objetivo era andar lentamente, o do cachorro o qual eu tinha a frente não era o mesmo. Dougie e eu estávamos dando uma volta pelas redondezas. Tia Mona, uma senhora na casa de seus 40 anos que achava que beirava aos 20, soltou um berro fino e infantil semelhante ao da Gabi quando viu a própria, tinha sugerido que eu ajudasse, levasse o cachorro para dar uma volta pela região ou apenas sumisse com a sua existência dali.

E caminhando ali, por aquelas ruas limpadas de 6 em 6 meses, me senti grata por estar longe daquela confusão que chamava-se: família da minha melhor amiga. Família eu já tinha a minha e estava satisfeita com o tamanho e o que ela ocupava em minha vida, meu tempo e meus finais de semana. E eu não precisa ficar me encaixando em mais uma árvore genealógica como um galho torto e artificial.

–Sabe Doug - suspirei -Vamos fazer uma companhia e tanto um para o outro.

O cachorro virou a cabeça para o lado minimamente, ergueu as orelhas e abanou o rabo.

–Adoro a forma que os cachorros me entendem - eu sorri para ele. Mas naquele exato momento ele erguia a pata dianteira perto de um poste. - Bem, pelo menos a metade me entende, não é?

–Hey, menina do cachorro! - Eu nem precisei olhar nos olhos de quem me chamara, para saber que era um certo par de olhos azuis que me fitava.

–Hey, menino que gosta de falar assim!

Dougie ficou extasiado por ver o garoto dos olhos azuis quase a sua frente, soltei um pouco a guia, enquanto o cachorro se jogava nos ombros dele. Eu ri quando ele cambaleou.

–Doug... - eu puxei o cachorro, como se voltasse a brincar de cabo-de-guerra. O garoto passou as mãos pela camisa, desistindo quando notou que a mancha em forma de pata de cachorro feita com lama não iria sair.

Seus cabelos eram negros e arrepiados de maneira aparentemente por acaso, como se fosse normal àqueles cabelos arrumados e cheirosos estarem perfeitamente no lugar, ao contrário dos meus que estavam em estado de calamidade publica. Ele usava uma bermuda folgada e uma camisa branca, ou pelo menos antes era branca.

–Desculpe - falei envergonhada, abaixando-me na altura do Dougie, espalmando a mão na cabeça do cachorro, tentando aquietá-lo um minuto. - Digamos que o Dougie não foi adestrado na Suíça.

–Não deve ter sido por questão de dinheiro. Adestramentos devem pedir comprometimento dos donos, e é tudo que minha prima não faria. – O modo o qual ele falava me intrigou, o tom que ele usava era quase agressivo.

Será que ele tinha problemas com bebida?

Eu voltei a ficar em pé, Dougie logo colocou uma de cada pata ao redor da minha cintura, e eu as segurei.

–A Gabi tem a agenda um pouquinho ocupada - falei, cambaleando vários passos para trás.

–Como você pode ser amiga dela? - ele perguntou, me encarando como se eu fosse uma espécie nova de E.T. descoberto, mas já em extinção.

Oh céus, porque eu não poderia me envolver com um garoto normal? Quando eu finalmente acho um com olhos azuis, quase uma réplica de Harry Judd anos mais novo, ele tem problemas com o álcool?

–Ela é minha melhor amiga - retruquei, o meio tom ofendido. Eu podia dizer que a Gabi era uma patricinha, eu podia rir dela, eu podia até colocá-la numa situação constrangedora e vice-versa. Mas não os outros.

–Amigas porém falsas – resmungou.

Soltei as patas do cachorro e me coloquei na postura “discussão”, as mãos na cintura ou “nas cadeiras” como diria titia – Eu não sei o motivo da sua implicância com ela.

Então ele me encarou, as íris azuis demonstrando uma raiva transbordante. Talvez mais que isso, algo enterrado, muito mal enterrado.

–Não é assunto seu – falou, curto e grosso.

–Tem razão – respondi seca, dei meia volta, quase degolando o cachorro com a coleira para que me acompanhasse.

–Esse não é o caminho se você quiser ir pra casa! - gritou.

–E quem disse que eu quero ir pra casa? - gritei de volta, virando para encará-lo furiosamente.

–Só estou avisando - ergueu as duas mãos.

Suspirei fundo, tombei os ombros e não olhei pra ele quando perguntei:

–Hã... E qual seria o caminho se eu quisesse votar?



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Notas finais do capítulo

E o "garoto dos olhos azuis" continua no anonimato ~suspense eterno~
Não, brincadeira.
Uma pequena, realmente pequena, descrição do sujeito nesse capítulo... Eu prefiro que vocês o imaginem. Do mesmo jeito, vocês acabam o imaginando de uma forma diferente. Não quero prender a ninguém a uma forma. Sintam-se livres pra colocarem cabelos brancos, loiros ou ruivos em certos personagens que não cabem muitas descrições.
Qual seria o nome que vocês dariam ao dono dos olhos azuis, hun?
E as garotas que merecem ganhar uma tortuguita por comentarem no capítulo anterior: Seavei, Nathalia e Allison. Se eu fosse rica dava um ovo da cacau show pra cada uma. Mas não dá para comprar nem ovinho do kinder ovo T-T