Blood And Fire escrita por chasseresse b


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo, e sejam bem-vindos. E peço perdão por erros de português.



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Parei diante da porta da sala de música, ouvindo a suave melodia que ultrapassava a porta. Encostei meu ouvido na mesma, e tentei ouvir melhor. Reconheci as notas delicadas do piano de cauda, e me senti como se fosse hipnotizada.

"Durma, enquanto a manhã não chega.

O grito da águia no alto do monte avisa..."

As duas frases, tão simples e curtas, soaram como brisa em meus ouvidos.

Me grudei mais à porta, tentando ouvir melhor.

"... Que logo vem o amanhecer.

Não temais o escuro.

O medo apenas assombra a solidão

E você nunca esteve sozinho..."

Reconheci a voz de um garoto conhecido como Wade. 

"Durma, criança, enquanto o sol não irradia

Não se preocupes com a escuridão

Ela só irá durar até o próximo dia."

As notas finais soaram melodicamente, e um banco fora arrastado. Ainda não conseguia me mover; a canção rondava minha mente, e lá se implantava. Tal não foi minha surpresa ao sentir a porta ser aberta.

- Ah, olá... - Wade falou, surpreso. Me senti nervosa, como se tivesse sido pega fazendo pirraça. - Você... Ouviu a canção?

Involuntariamente assenti. A expressão dele se tornou severa.

- Não foi minha intenção. Provavelmente não ouvi toda ela. Mas a melodia chamou minha atenção... - Tentei me explicar, o fazendo sorrir de forma forçada.

- Não é isso que quero dizer. - Ele me interrompeu. - Gostou do que ouviu?

Assenti, fitando seus olhos castanhos amarelados. 

- Gostaria de ouvir toda a música? - Assenti, um sorriso leve se formando em meu rosto.

- Se você quiser me mostrar... - Falei.

Wade abriu mais a porta da sala de música, e colocou uma de suas mãos em minhas costas, me conduzindo até o piano de cauda na lateral do palco de ensaios.

- Posso lhe falar a verdade? - Wade disse, apontando para o banco de fronte ao piano. - Não gosto muito da canção que estava tocando. É uma canção de ninar, composta para meu irmão. Infelizmente ele não viveu por tempo o suficiente para ouvi-la.

- Sinto muito. - Murmurei, realmente sentindo.

- Não sinta. Foi melhor assim. - Ele sorriu, posicionando seus dedos no piano. - Provavelmente ele nem iria gostar da canção, de qualquer forma. Mas espero que você goste.

Ele começou a tocar a música; seus dedos corriam pelas teclas fazendo movimentos quase imperceptíveis. Wade respirou fundo, e começou a cantar:

"Lá no alto do monte, onde ninguém mais pode ver,

Um grito foi lançado logo ao amanhecer.

Ele doía em quem o ouvia; ele sofria ao chegar em seus ouvidos

Era um grito de dor que ninguém podia impedir

Era inumano, era natural.

Era a dor de quem um dia

Havia encontrado sua identidade real..."

Sua voz suave, em conjunto com a melodia e a letra, me levaram diretamente para uma lembrança. 

Eu tinha no máximo oito anos. Meu pai tinha o hobbie de caçar na floresta que ficava atrás de nossa casa.

Naquela tarde, ventava muito, e eu acordei junto com ele, um pouco antes de amanhecer.Observei enquanto ele vestia sua roupa de caça - um casaco escuro de um tecido grosso; calças igualmente grossas e botas de borracha -, pegava sua espingarda velha e descia pelas escadas com passos praticamente silenciosos.

- Papai? - Chamei-o, assim que ele chegou ao primeiro andar. O piso de madeira apodrecida rangeu sob suas botas, e ele sorriu.

- Você quer algo em especial, querida?

- Um lobo. - Respondi, sonhadora. - Mas vivo. 

Lembro-me de vê-lo sorrindo, e assentindo. 

- Tentarei, querida. Tentarei.

-

Acordei da lembrança quando a música tornava-se um pouco mais agitada, e adquiria um tom melancólico e doloroso.

"Eu ouvia a sua voz me chamando

Mas sem poder responder, eu seguia andando

Em direção ao nada

Onde você não poderia me ver

O escuro tomando forma, 

Os gritos dos fantasmas enxendo o ar ao meu redor

E você ao longe;

Eu não consigo chegar..."

Novamente, fui carregada até meu passado com a voz hipnotizante de Wade.

Eram dez horas da manhã. Eu olhava, da janela do meu quarto,para o ponto entre duas árvores antigas, com o tronco um pouco esbranquiçado de calcário, esperando meu pai voltar. 

Ele normalmente era rápido em suas caçadas. Saía pela manhã, e antes das nove horas, já estaria de volta. 

"Deve ser a neve", pensei. "Ou ele está perseguindo o lobo que pedi". Não tinha noção dos meus pedidos e sonhos exagerados. Sempre usei a desculpa de que eu poderia sonhar, afinal, eu era uma criança.

O vento soprou mais intensamente, e observei enquanto saía da floresta um pequeno animal mancando. Ele era branco como a neve, mas em seu dorso tinha uma ferida bastante ensanguentada. Senti um arrepio frio percorrer minha coluna, e soube que algo estava errado.

Lembro-me de descer as escadas correndo, passando por minha mãe. Saí de encontro ao animal apenas com a camisola de inverno e as pantufas.

Ao chegar mais próxima, percebi - com um misto de alegria e medo - de que se tratava de um filhote de lobo da neve, mas ele estava muito machucado, e talvez pela primeira vez senti um pouco de medo daqueles animais selvagens. Os olhos amarelados do filhote me acompanharam, e fui tomada pela coragem. Me aproximei dele, e acariciei levemente a cabeça dele. Mesmo sendo um filhote, minha mão era demasiada pequena ao lado da cabeça do lobo.

- O que aconteceu com você? - Murmurei, observando a ferida.O animal se ergueu, e começou a cambalear para dentro da floresta. Sem pensar duas vezes, o segui.

Ele se embrenhou pelas árvores até um ponto escuro, onde se abaixou e se encostou a algo vivo. Caminhei lentamente até o monte, e comecei a tremer involuntariamente. O casaco de tecido misterioso... A calça grossa... As botas de caça...Olhei em volta do espaço. A espingarda estava jogada a um canto. Olhei novamente para o pequeno lobo, e para o que - eu sabia, mas ainda tinha medo de admitir - provavelmente era meu pai.

Lembro-me de ter gritado tão alto, que senti o gosto de sangue ao parar de gritar. Logo, um amigo de meu pai apareceu, e assustado, pegou-o no colo e começou a correr em direção à minha casa. Peguei o filhote de lobo com um pouco de dificuldade, e corri atrás do homem, às vezes me perdendo entre as árvores, mas então o filhote uivava e apontava para onde seria o caminho certo.

-

Balancei a cabeça, afastando as lembranças. Voltei a me concentrar na melodia no exato momento em que ela se tornava doce e familiar.

"Durma, enquanto a manhã não chega.

O grito da águia no alto do monte avisa

Que logo vem o amanhecer.

Não temais o escuro.

O medo apenas assombra a solidão

E você nunca esteve sozinho...

Durma, criança, enquanto o sol não irradia

Não se preocupes com a escuridão

Ela só irá durar até o próximo dia."

Wade finalizou a música, sorrindo para mim.

- Gostou? - Ele perguntou.

- Adorei. - Respondi sinceramente. Wade fitou o palco por um tempo.

- Eu dificilmente toco essa música. Ela me traz lembranças.

Sorri timidamente, tocando uma das teclas do piano.

- Posso admitir? Esta música me trouxe uma lembrança realmente antiga, que eu havia esquecido.

- Quer conversar sobre isso? - Ele perguntou. Balancei a cabeça.

- Melhor não. São lembranças realmente tristes, e eu já deveria estar indo para casa. Seu nome é Wade, certo?

- Não. Meu apelido é Wade. Meu nome mesmo, é Ludwig. Kaleb Hamzah Ludwig.E você é Jhenny, acertei?

Balancei a cabeça.

- Kaylah Joseph Polary. - Falei. - Desculpe sair dessa forma, mas é que realmente, eu já deveria estar quase em casa.

- Quer uma carona? - Ele perguntou. 

- Não, imagina. Eu moro longe, fora da cidade.

- Eu também. - Ele respondeu. - Vamos, você não vai morrer por aceitar uma carona, uh?

-

Kaleb insistiu, e eu aceitei a carona. Ele tinha um Fiat Siena, o que era considerado praticamente um carro de luxo em nossa cidade. 

- Rodovia norte? - Ele perguntou.

- Vá até a floresta dos cascalhos. - Falei, apontando para a via oeste. - Sugiro que vá por ali, é mais rápido. 

Ele torceu o volante, e ao entrar na via, acelerou.

- Espero que não tenha medo de velocidade.

- Não tenho medo de nada. - Respondi, brincalhona.

••• 

- Posso fazer uma pergunta? - Cortei o silêncio de poucos minutos.

- Claro. Não garanto resposta, mas pode perguntar.

- Por que as pessoas o chamam de Wade? - O encarei, apenas para ver sua boca se torcer em um sorriso.

- Acho mais fácil perguntar a elas. Porque, sinceramente, nem eu sei da resposta. 

•••

Dez minutos de conversa jogada fora, e finalmente estava em casa. Saí do carro, o agradecendo pela carona, e lhe entregando o número do meu telefone.

- Te ligo mais tarde. - Ele disse, piscando.

- Claro. - Respondi, colocando a mochila em minhas costas. 

Cortei o caminho andando por sobre a grama alta, e observando a parte da fachada que não havia sido pintada a tempo do inverno. 

Entrei em casa; o cheiro do café já me deixou um pouco mais desperta.

- Olá, Kaylah. - Minha mãe falou fracamente da cozinha.

- Oi mãe. - Respondi, subindo para o meu quarto. Larguei a mochila, e tirei o casaco acinzentado de lona que eu usava. Pesquei do fundo do roupeiro o casaco de caça que era do meu pai, e desci novamente as escadas.

- Mãe, vou caminhar um pouco na floresta. - Avisei.

- Não demore, e cuidado com os lobos. - Era sempre assim. Depois da morte do meu pai, "cuidado com os lobos" era a frase que ela mais dizia. 

Mantive minha mente ocupada enquanto percorria o caminho até a entrada da floresta. 

Assim que alcancei as árvores antigas, olhei de relance para minha casa. Não podia negar que há muito tempo não considerava aquele casebre um lar.

Adentrei a floresta, começando a percorrer o caminho já tão conhecido pelos meus pés. Era incrível como tudo mudava lá fora; mas entre as árvores, era sempre a mesma coisa. Nada mudava. Poderia jurar que da mesma forma que agora eu desviava de certos troncos caídos, algum caçador fizera o mesmo há quase cinquenta anos atrás.

Imperceptivelmente, cheguei à clareira do lobo - como eu havia a chamado. Me sentei no tronco de carvalho caído, e me escorei na árvore que tocava minhas costas. Já estava entardecendo, mas agora eu não tinha mais medo. 

Comecei a cantarolar uma antiga canção; não lembrava muito bem a letra, mas era mais ou menos assim:

"Lá na casa do caçador, há uma criança perdida. Ela não entende as palavras, ela não entende a vida...

Lá na casa do caçador, onde tudo se conquista, a criança entra na floresta, e volta para a sua antiga vida..."


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Notas finais do capítulo

Bom, ambas as canções foram criadas por mim... Sei que não ficou legal, mas enfim. Sou péssima com primeiros capítulos, então... Críticas, elogios, sugestões? *-* Até o capítulo dois, até sábado irei postá-lo.