Laís

Dou play em She’s Not Afraid e ando em rumo ao refeitório. Com minha saia vermelha quadriculada e minha blusa branca e apertada, os garotos não paravam de me olhar. Sorrio de lado. É bom ser popular e gostosa. Mas na minha cabeça, ser popular inclui caráter também. E talvez por isso eu me dou bem com a maioria das pessoas daqui.

- Nossa Laís... Como você está gostosa hoje! – Um dos jogadores de futebol fala, passando a língua na boca em seguida. Levanto o dedo do meio pra ele.

Eu disse que me dou bem com a maioria, mas isso não significa que eu suporte os tarados.

- Laís! Eu preciso falar com você mais tarde! – Sam me grita, enquanto passo por ele. Apenas assinto e passo direto.

- Laís, quer ir a nossa festa hoje? – Um grupo de garotas me chama.

- Verei isso! – Grito para elas.

- Não, venha ao nosso! – Outro grupo sugere. – Vamos cozinhar coisas gostosas. – Uma das garotas me entrega um papel.

- Quer entrar no clube de xadrez? Adoraríamos você lá! – Um garoto com aparelho e a sobrancelha mal feita, sorri para mim. Dou um risinho.

- Eu detesto xadrez. Que tal culinária? – Entrego o mesmo papel que o grupo de antes havia me entregado.

Volto a andar e rapidamente já estou no refeitório. Três grupos mais populares olham para mim. Todos em mesas diferentes. Líderes de torcida acenavam em minha direção. Os jogadores de futebol mais populares sorriam para mim. As outras garotas populares e que, para ser sincera, eram as garotas mais mimadas do colégio, acenavam como a rainha da Inglaterra acena. Sorrio. Eu disse que sou popular, mas não quer dizer que eu queira sentar com algum deles. Eu prefiro meus melhores amigos.

- Cheguei! – Digo com um enorme sorriso, sentando-me em cima da mesa.

- A insuportável chegou, que animação! – Harry finge estar animado. Reviro os olhos. Ele ainda sente ciúmes de mim e do Louis.

Hum... Louis.

Desço da mesa e me sento ao lado do Louis, que engole em seco na mesma hora. Seguro o riso. Chega a ser engraçado como ele estava tentando se controlar.

She’s not afraid of all the attention

(Ela não tem medo de toda a atenção)

She’s not afraid of running wild

(Ela não tem medo de ser livre)

- Nossa Louis, hoje sua calça está apertada demais. – Sussurro para ele depois que olho para sua calça vermelha. Ele sempre teve coxas grandes. E uma bunda também.

- Me deixa. – Ele diz tentando não olhar para mim. Apenas rio.

- Alguém te disse que você está gostoso hoje? –Aperto sua coxa e subo mais minha mão. Ele tira a mesma.  – É difícil resistir... – Passo levemente minha unha em sua nuca. Ele se arrepia, mas ninguém nota. Todos conversavam.

- Laís... Para!

- É difícil resistir a mim, não é? – Sussurro bem próxima ao seu ouvido. Louis se vira, fazendo com que nossas bocas quase se tocassem. Afasto-me um pouco, assustada com o que poderia acontecer. Louis ri.

- Ótimo percebe isso. Quase a gente se beija e você recuou. Você é péssima, Laís – Ele sussurra.

- Se eu te beijasse você poderia deixar de me desejar.

- Quem disse que te desejo? – Ele aproxima mais o rosto do meu. Engulo em seco. Não afasto meu rosto do dele, apenas continuo daquele jeito.

- Se não desejasse, não ficaria nervoso. – Dou de ombros. Ele revira os olhos.

- Você acha que só porque está usando uma saia que deixa suas pernas grandes ou a sua bunda empinada, só porque está com uma blusa branca que marca seus seios ou só porque sorri de uma forma sedutora, acha que vai me fazer desejar você? – Ele sussurra e desvia seu olhar de minhas pernas para meu rosto. Eu rio.

- Acho que sim.

- Se você continuar assim... – Louis desce o olhar para meus peitos, mas logo volta a olhar pra mim. – Eu vou entrar no seu jogo.

- Você acha que me faria desejar você? – Reviro os olhos.

- Pode apostar que sim. – Louis aproxima mais seu rosto dos meus, mantenho meu olhar em sua boca. – Se prepare, eu também sei provocar. – Então ele se vira. Faço o mesmo.

- Você não vai conseguir. – Sussurro mais uma vez.

Mas e se ele conseguisse? Eu sou boa em provocar, mas não muito em resistir. Talvez isso fosse considerado um ponto fraco.

[...]

Saio do banho com uma toalha enroscada em meu corpo e outra em meu cabelo. Vou até a gaveta e escolho uma roupa. Visto a mesma e penteio meus cabelos em frente ao espelho. Quando já estou quase pronta, observo um frasco rosa em forma de coração. Estico-me e pego o mesmo frasco em cima da mesinha que acompanhava o espelho. É aquele perfume que a minha tia havia me dado. Nunca usei.

Minha tia é digamos que... Uma cigana falsificada. Estranho, eu sei, mas ela diz ser uma cigana. O ‘’falsificada’’ foi eu mesma que coloquei no meio. Ninguém da nossa família acredita, mas mesmo assim ela se acha a mulher que tem poderes em poções. Dou de ombros. Não custa nada tentar esse perfume da ‘’poção do amor’’ que ela havia me dado. Lembro-me de suas palavras enquanto ela me entregava este perfume aos meus 15 anos.

‘’Use apenas quando necessário, o rapaz ficará louco por você!’’

Minha tia é uma louca... Mas vamos ver se estou errada.

Borrifo um pouco do perfume em mim. Até que tinha um cheiro agradável. Aliás, muito agradável. Tinha um aroma doce e lembrava flores.

Levanto-me e saio porta a fora, dando de cara com o quarto do Louis. Dormíamos em quartos na frente um do outro. Antes de bater na porta, respiro fundo e me concentro no meu objetivo. ‘’Provocá-lo.’’ E bem... Fazer o trabalho de redação.

- Entra! Está aberta!

Ouço o Louis gritar. Abro a porta e fecho logo em seguida. Assim que me viro, ando em direção a cama, onde estava seu caderno com as anotações da redação. Sento na cama e começo a ler o que tem escrito, até que ouço novamente a voz do Louis.

- Apareceu quando eu estava no banho.

Deixo de olhar o caderno para olhá-lo e fico boquiaberta. Sua toalha branca estava em seu ombro e ele estava totalmente nu. TOTALMENTE.

- Lou... – Tento falar, mas não consigo. Meus olhos percorrem todo o seu corpo. Engulo em seco.

- Está admirada, Laís? – Ele sorri maliciosamente.

- Ai meu Deus... É realmente grande...

- O que? – Ele ri. Dou-me conta do que acabei de falar e coloco o caderno na frente.

- Vai se vestir, idiota! – Digo de olhos fechados.

Ótimo. Eu só não apareço nua na frente dele por que... Porque meu corpo é muito sagrado pra ser mostrado desse jeito. Pelo menos eu acho.

- Pronto. – Louis diz. Tiro o caderno da frente e abro os olhos. Ele estava só de bermuda.

- Você não pode por uma camisa? – Levanto a sobrancelha.

- Não.

- Se for assim, eu vou tirar minha blusa. – Dou de ombros. Lou corre em minha direção. Chego pra trás na cama, quando ele vem querendo ficar em cima de mim. Estou deitada, olhando-o sem entender. Ele me olha com um sorriso no rosto. Ele deixa seu corpo cair um pouco sobre o meu e passa a mão em minha perna.

- Se você quiser, eu mesmo tiro ela... – Louis sussurra, segurando minha perna e colocando-a em sua cintura. Fico com a boca entreaberta e sinto a minha respiração acelerar. – Ou então a gente fica logo nu. Eu sou ótimo em tirar a roupa das garotas.

- Saia de cima de mim. – Digo tentando desviar do seu olhar.

- Por quê? – Ele começa a beijar meu pescoço. Tento não fechar os olhos. – Você acha mais gostoso ficar em cima?

- Sai Louis! – Eu o empurro para o outro lado, fazendo-o cair no chão. Ouço o barulho de sua cabeça batendo com força no mesmo. Mordo a boca e corro para vê-lo. – Louis?

- Isso doeu. – Ele diz passando a mão na cabeça.

- Vem cá. – Eu dou minha mão para ajuda-lo a levantar, mas ele me puxa, fazendo com que eu caia em cima dele. Reviro os olhos.

- Pronto. Agora você está em cima, satisfeita? – Ele ri levemente, permito-me rir um pouco. – Que cheiro é esse? – Louis afasta meu cabelo e puxa-me pela nuca, cheirando meu pescoço. É o perfume. – É delicioso!

- É? – Mordo a boca levemente. Louis engole em seco. – Foi um perfume que minha tia me deu, você gostou? – Eu me aproximo, deixando nossas bocas próximas.

- Aham... – Ele coloca uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. – Nossa... Eu acho que eu estou te...

- Me?

- Te... Te desej... – Então Louis ri, jogando-me ao lado. Ele se levanta, mas não consegue parar de rir. Reviro os olhos e levanto também. – Acha mesmo que iria cair nessa da sua tia cigana? Eu acho que você não se lembra de quando jogou esse perfume em mim e me contou a história. Sua boba, vamos fazer o trabalho, vem. – Ele me puxa, abraçando-me, então me dá um beijo na testa. – Eu não vou te desejar jamais Laís, te vejo como minha prima. Só que meio safadinha. – Ele dá de ombros.

- Cala a boca. Vamos logo.

E você ainda vai me desejar. Eu preciso ganhar essa aposta.

[...]

Eu e Louis passamos a tarde toda fazendo o trabalho, ou tentando. Eu fiz a capa e ele o conteúdo. Já estava quase acabando, mas não queria me mostrar até que estivesse no fim. O trabalho era uma redação, na verdade, uma entrevista de alguém interessante. E eu ainda não sabia quem ele havia entrevistado.

- Deixa logo eu ver isso! – Falo tentando puxar o papel de sua mão, mas ele não deixa.

- Espera... – Louis escreve mais alguma coisa, então olha para mim. – É sobre você. Toma. – Ele me entrega o papel. Seguro o mesmo, desconfiada, e me deito em sua cama para ler. Louis deita-se ao eu lado.

- Você fez a redação sobre mim? – Pergunto olhando para ele. Louis assente. – Certo... Vamos lá! Você não me entrevistou, mas tudo bem... – Dou de ombros e começo a ler.

‘’ Entrevista sobre Laís

Pra começar... Ela não tem medo de nada. Talvez isso seja o que mais me atraia nela. Ela brinca, é alegre, engraçada, tem o sorriso lindo. Ela é perfeita. Ela gosta de ser notada, gosta das pessoas aos seus pés, gosta como as pessoas dizem fazer tudo por ela. Gosta de ser o centro das atenções e mesmo não querendo ela sempre é. Ela atrai qualquer um. Não precisa fazer nada. Só ser ela mesma. Incrível é como consegue manter o semblante de ‘’bem’’ mesmo quando está mal. Nunca tira o sorriso do rosto, sempre passa por cima de tudo com a cabeça erguida. Mais uma coisa que eu gosto nela.

Ela só tem uma coisa que ainda não decidi se gosto... Aquele ímã que me atrai a ela. É como se eu fosse pra qualquer lugar, em qualquer situação, em qualquer momento com ela. Eu faria tudo, tudo que estivesse ao meu alcance. Tudo pra ver um simples sorriso que é capaz de me deixar com cara de bobo. É... Ela tem mesmo essa coisa... Aquela coisa que me prende a ela. Ela tem o que me falta, o que me completa. Eu a amo. E ela é a minha melhor amiga.’’

Olho para o Louis. Ele ainda estava deitado, mas virado para mim. Louis dá um sorriso de canto. Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu o abraço forte. Como se ele fosse algo que eu não poderia jamais perder.

- Eu te amo, sabia? – Sussurro.

- Eu te amo mais, gordinha. – Louis alisa meu cabelo. Olho para ele. – Agora você parar de me provocar?

- Não. – Eu rio. – Mas por hoje chega... – Levo minha mão ao seu rosto e aliso o mesmo. – Tenho sorte por ter você e eu espero que nunca me deixe.

- Nunca... – Louis sussurra. Ele me puxa mais para ele. Fecho os olhos assim que o sinto alisando meu cabelo novamente. – Mas só se você parar com essa ideia de me provocar.

- Cala a boca. – Nós rimos. – Porque? Você fez a aposta e agora quer desistir, não entendo.

- É porque as coisas podem pegar um rumo diferente. – Louis suspira. – Isso não está muito longe.

Olho para ele e franzo a testa. – Do que você está falando?

- Nada... – Louis deposita um beijo em minha testa. – Que tal a gente dormir como sempre fazemos depois dos trabalhos? – Eu sorrio. – Te vejo mais tarde.

- Te vejo mais tarde, bobão. – Eu respondo com um leve sorriso e fecho os olhos, enroscada em seus braços.