A música era hipnotizante.  Parecia que cada palavra dita na música fazia com que meu corpo reagisse com movimentos diferentes, criando uma sequência tortuosamente sensual. Senti Shannon ao meu lado, dançando junto a mim, mas logo meu anjo apareceu e me tomou nos braços.

-Não aguento ver esse bando de idiotas olhando pra você como se fosse um prêmio de loteria. - ele sussurrou de um modo protetor e quase selvagem em meu ouvido, e me puxou para um dos bancos almofadados em couro vermelho. Corei levemente e desviei o olhar. Ele se importava comigo, isso era um fato, mas minha sanidade gritava para mim que era apenas um protetor, quase um pai ou um irmão mais velho. E não era isso que eu queria. Logo Shannon veio se sentar ao nosso lado e sorriu, fazendo sinal para nos aproximarmos dele.

-Adivinha quem acabou de ganhar um convite pra filmar o novo comercial do Love Rocks, da Victoria's Secret? - ele sussurrou, num tom apenas alto o suficiente para que fossemos os únicos ouvintes. Olhei para ele com uma expressão estranha no rosto.

-Mas Shan, esse perfume não é feminino? - fiz cara de quem não entendeu. Ele sorriu ou me ouvir chamá-lo pelo apelido e fez que sim com a cabeça.

-Exatamente. - ele fez cara de quem tinha acabado de explicar o óbvio... E eu ainda não havia entendido. Meu anjo logo arregalou os olhos e abriu a boca em surpresa, pelo visto ele havia entendido mais rápido do que eu. Shannon olho novamente para mim e sorriu, animado.

-Você! - ele sussurrou, quase pulando de animação. Jared mantinha a expressão de assustado.

-O que tem eu? - perguntei, confusa. Sim, eu demoro para entender as coisas mesmo.

-Você recebeu um convite para filmar o novo comercial do perfume Love Rocks! - Shannon apertou meus braços e me sacudiu animadamente. Sacudi a cabeça enquanto a informação era absorvida pelo meu cérebro.

-Eu? Tem certeza? - perguntei, novamente.

-Claro. Disseram que as filmagens começam na segunda-feira, se você aceitar assinar contrato. - Shannon explicou.

-Mas eu? Por quê? Não sou atriz, não sou bonita, não... - tentei terminar a frase mas Jared colocou o dedo indicador em meus lábios, para que eu me silenciasse.

-Nunca diga isso. - ele sussurrou em meu ouvido, se aproximando de mim. -Principalmente quando não faz idéia de que está me fazendo perder o controle.

Minha respiração perdeu o ritmo, até então impecável, e me senti formigar em lugares até então nunca descobertos. Soltei uma lufada de ar pelos lábios e fechei os olhos, tentando me concentrar.

-Onde eu assino? - perguntei, decidida, ainda sem olhar para Shannon.

-Eles falarem que hoje mesmo, se você quiser. No último andar, tem um escritório deles. - ele respondeu. Meneei a cabeça e fiz sinal para ele levantar.

-Me leve até lá. - declarei e me levantei, vagamente consciente de Jared nos acompanhando. Chegando no último andar, haviam várias portas, porém só uma delas continha o logo da Victoria's Secret. Bati na porta.

-Entre.

Adentrei a sala, percebendo que Shannon e Jared haviam permanecido do lado de fora da sala. A cadeira suntuosa girou em seu eixo, revelando um homem com uma expressão enigmática.

-Sou Dante McGuiller. Você dever ser Moon, certo? Ou melhor, Lanna Dewyts. - o homem me cumprimentou, e eu me espantei. Como ele sabia meu nome de nascença? Quem realmente era ele?

-Sim, sou ela. - murmurei, tentando manter a expressão concentrada, evitando que a surpresa transparecesse em meu rosto.

-Sou vice-presidente da Victoria's Secret. Acredite, tenho ouvido muito sobre você ultimamente. - ele declarou e eu me senti chocada.

-Desculpe-me a rudeza, mas, quem diabos é você e como você sabe meu nome? - não me controlei e as palavras escaparam meus lábios. O canto de sua boca se levantou, como que em um sorriso sarcástico.

-A mídia está enlouquecida com a "morena misteriosa" que está na casa dos Leto e nunca sai de lá. Com relação ao seu nome... Bem, acredite, quando soube que sua mãe havia morrido me senti péssimo e eu realmente preferia que fosse ela a te contar isso. Por algum tipo de milagre você apareceu aqui no lançamento e eu tive certeza que é você.

Arrepios me subiram pela coluna. Arrepios ruins, muito ruins. Questões a serem respondidas: quem era ele, como ele sabia meu nome e como ele sabia da minha mãe? Um silêncio mórbido atravessou-nos e eu não tive coragem de quebrá-lo.

-Sou seu pai biológico. 

Juro, não percebi. A escuridão lentamente correu por minha veias e pegava fogo dentro de mim, como veneno e vinho misturados em minha corrente sangüínea. Tontura me tomou e de repente ficou extremamente difícil de respirar. Forcei uma risada.

-Boa piada, sério mesmo. Afinal, quem realmente é você? - perguntei, revirando os olhos.

-Sou seu pai. - ele repetiu e colocou uma foto em cima da mesa. Era uma foto realmente velha e desgastada, com uma linda mulher deitada em uma maca de hospital com um bebê nos braços, e um homem abrançando-a. Era Amelia e eu não duvidava de que eu fosse o bebê em seus braços, porém o assustador era o fato de que o homem na fato parecia o mesmo exato ser que estava frente a mim (por mais que os traços da velhice começassem a alcançá-lo).

-Pai?