[You Need To Cut Your Hair - Ed Sheeran]

Esta devia ser a semana mais exaustiva de toda a minha vida.

- Hermione, eu não aguento mais!

- Mas Nott, a prova é amanhã e, sinceramente – ela me deu aquela típica olhada de Hermione, que dizia “escute o que eu estou dizendo, não quero ter de falar ‘eu te avisei’ depois” -, eu estou preocupada com a quantidade de conteúdos que você não sabe.

Bufei, largando-me no encosto da cadeira. Estávamos na biblioteca (pela quarta vez na semana) e eu já havia começado a associar este lugar à chatice.

- Há quanto tempo estamos aqui? – perguntei, entediado.

- De verdade? – Hermione sorriu sutilmente, olhando o visor de seu celular. – Há uns vinte e cinco minutos, mais ou menos.

Vinte e cinco minutos? Aquilo pareceu ter durado vinte e cinco horas!

- Concentre-se – ela deu uma batidinha com o dedo no meu caderno. – Não é tão difícil assim.

- Claro que não é difícil – eu rebati. – Você é Hermione Granger!

Ela deu uma leve revirada de olhos, mas notei que levou aquilo como um elogio.

- Isso não quer dizer nada – Hermione negou com a cabeça. – Eu só me esforço um pouquinho.

- Há uma grande diferença entre ser esforçado e ser inteligente – eu apontei com a borracha da ponta do lápis para ela. –, e, nesse caso, você é os dois.

A verdade era que eu estava num mau humor desgraçado. Meu cérebro estava cansado e sobrecarregado com todo o tipo de coisa, desde estas malditas provas até a ligação do meu pai, há uns dias atrás.

Eu não liguei de volta, claro que não. O que ele estava esperando? Que eu fosse correndo saber o que ele queria, depois de ele ter me ignorado por todo esse tempo? Ele que esperasse sentado um retorno meu.

E também tinha aquela dúvida crônica sobre o que Astória e Lilá estariam planejando fazer. Não sei porquê, mas minha consciência insistia em me dizer que era alguma coisa sobre mim, que eu estava totalmente envolvido nisso, mesmo que não tivesse a menor ideia do que estava acontecendo.

Agora me diga: como me concentrar em alguma coisa, mais especificamente em estudar para um lote de provas, com tudo isso na cabeça?

E o pior é que eu não podia contar para ninguém. Blaise não sabia de nada, assim como Luna e Hermione. Gina também estava totalmente fora de questão, já que, se eu contasse alguma coisa, eu podia vir com tudo a baixo.

Tinha o Draco, mas ele também estava com problemas com os pais dele. Acho que o tio Lúcio inventou mais alguma coisa para descontar em cima de Draco, e óbvio que tia Narcisa tentou defendê-lo, mas como Lúcio é o maior cabeça dura, isso gerou mais problema do que solução.

Resumindo: eu tinha de guardar tudo para mim, e isso estava acabando comigo. Um exemplo foi o que eu acabei de fazer com Hermione. Puxa, ela estava me ajudando, e eu fui lá e descontei toda a minha frustração em cima dela.

- Desculpe – eu falei, fechando os olhos com força depois de um tempo que ela ficou quieta, sem me olhar. – Eu só estou um pouco... estressado.

- Tudo bem – ela falou baixinho, concentrada em um rabisco que alguém havia feito no tampo da mesa da biblioteca, mas nem ela mesma parecia concordar com o seu “tudo bem”.

- Foi mal, eu juro que vou parar de reclamar – eu larguei o lápis e segurei sua mão. – Eu só estou, sei lá...

- De cabeça cheia? – ela me olhou, compreensiva, deixando minha mão na sua.

- É.

Ficamos em silêncio por um momento. Ela largou minha mão, tirou meu livro da minha frente e começou a passar um marca-texto amarelo sobre algumas frases.

- História é mesmo complicado de estudar, se você não presta atenção na aula – ela disse, sublinhando outra frase. – É preciso ler, ler e ler.

- E o que você está fazendo? – eu perguntei, curioso.

- Marcando o mais importante. Às vezes, se você bota um pouco de cor em volta – ela mostrou outro marca-texto, desta vez laranja -, é mais fácil para o seu cérebro guardar a informação. Você associa a cor ao acontecimento.

Comecei a ficar interessado. Isso podia dar certo.

- É um saco ter de ler tudo do livro – eu lhe passei outro marca-texto do seu estojo, desta vez um verde neon. – Parece que eu não consigo absorver tudo.

Ela concordou.

- Eu estudava assim há um tempo – ela marcou outra frase, desta vez com verde. – Ajudava a me concentrar melhor. Talvez funcione com você.

E então ela foi marcando tudo o que ela achava que podia cair na prova, cada parágrafo de uma cor diferente, o que eu achei muito legal, e ainda fez com que eu lesse cada uma das frases marcadas em voz alta para ela, tipo umas três vezes, para eu decorar melhor.

- O melhor seria se você compreendesse o que aconteceu – ela avisou. -, mas como a prova é amanhã, decorar é a única opção, agora.

- Você vai sempre me salvar, sabia? – eu olhei para ela, que sorriu fraquinho enquanto guardava todos seus marcadores coloridos de volta no estojo.

- Vou. Sempre que eu puder.

- E em pensar que tudo isso começou com uma tentativa de colocar ciúmes no Ron.

Hermione riu, escondendo o rosto entre as mãos.

- Deus, isso parece tão patético agora.

- Agora? – eu ri, sarcástico.

Ela ficou vermelha e deu um jeito de me chutar por debaixo da mesa.

- É, agora – ela afirmou. – Tipo, hoje eu penso o porquê de eu ter corrido atrás do Ronald durante todos esses anos, mas nunca acho algo decente como resposta.

- A gente sempre corre atrás do que acha certo, e pra você, naquele tempo, o Ronald parecia certo.

- E... – ela pediu que eu continuasse.

- E, sei lá, Hermione, às vezes a gente corre atoa, e o tal do certo acaba aparecendo do nada, sem pretensão nenhuma. Simplesmente aparece, e muda nosso rumo.

Ela ficou me olhando como se eu tivesse dito algo realmente inteligente, algo que a fizesse refletir. Seus olhos foram invadidos por um brilho discreto, mas ainda assim um brilho, e uma palavra começou a se formar na sua boca.

- Draco – eu e ela dissemos ao mesmo tempo, ela chocada; eu em compreensão.

- Será que eu ouvi meu nome? – alguém disse atrás de uma estante.

Um cabelo loiro apareceu de fininho por entre os livros, e então Draco surgiu ao nosso lado, sorrindo de um jeito bobo. Hermione levou um susto e deu um tapa no braço dele assim que ele sentou ao seu lado.

- Que isso? – Draco reclamou, rindo. – Muitas namoradas receberiam seus namorados com um beijinho, sabe... e não com um pancada dessa.

- É, mas eu não sou sua namorada – Hermione sorriu irônica para ele.

- Mas bem que queria ser – Draco convenceu-se.

- Rá, como você soubesse o que eu quero...

- Eu sei o que você quer, tipo, agora mesmo.

- Ah é? – Hermione duvidou. – E eu posso saber o que eu quero?

- Hmm, depende... – Draco segurou o queixo dela com os dedos. – Alguma coisa com a sua boca, com a minha boca e...

- Galera, to vazando – eu levantei do meu lugar e comecei a guardar minhas coisas na mochila.

- Nott, não – Hermione empurrou o rosto de Draco para o lado, envergonhada, deixando-o na vontade. – E a sua prova?

- Você já me ajudou muito, marcando todas aquelas coisas no meu livro. Sério. Agora é só ler isso até eu não aguentar mais.

- Então podemos sair daqui? – Draco levantou também. – Sei lá, esse lugar me faz sentir realmente diminuído.

- Diminuído? – Hermione riu, também guardando suas coisas. – Por quê?

- Ah, sei lá, olhe para todos esses livros. Eles foram escritos por alguém, e para se escrever um livro você precisa ser inteligente ou ter alguma coisa para contar. Agora tentem me dizer quantos livros têm nessa biblioteca... É quase como se tivesse um montão de gente aqui dizendo aos sussurros que é melhor que eu.

Hermione me olhou muito confusa e logo começou a rir.

- Draco, isso é patético.

- Não é nada! Pense como eu e tente me compreender. Faz sentido. – Draco olhou para mim. – Não faz?

Sem responder para ele, eu fui saindo na frente, enquanto os dois me seguiam para fora da biblioteca.

- O que vão fazer esse final de semana? – perguntei.

- Provavelmente eu fique no colégio – respondeu Draco. - Não estou a fim de ir pra casa e ouvir do meu próprio pai que eu não sirvo pra nada – ele respirou fundo, então falou: - Cara, uma festa cairia bem.

Pesado, pois é, mas Draco é assim. Acho que ele já está tão acostumado com isso que nem nota que está desabafando, o que é bom - de certo modo -, assim ele não explode.

- E você? – eu me dirigi a Hermione.

- Acho que vou pra casa – disse ela, não parecendo nada animada com a ideia.

- Por quê? – eu e Draco falamos ao mesmo tempo.

- Ah, meus pais vão a uma convenção de dentistas e não querem deixar a casa vazia o fim de semana inteiro. Então eu vou pra lá, passar dois dias de pijama, vendo seriados ou qualquer porcaria na TV.

Draco me olhou de um jeito cúmplice, e logo eu notei o que ele estava pensando.

- Por que vocês dois estão se olhando desse jeito? – Hermione fez uma cara preocupada.

Draco sorriu.

- Senhoras e senhores... sábado à noite, festa na casa de Hermione Granger!