Levantei a cabeça pasma. Eu não estava ouvindo aquilo, estava? Me mudar? Com os olhos arregalados fiquei encarando a minha avó. Ela não podia estar falando sério, podia? Milhares de coisas começaram a passar pela minha cabeça desde felicidade até desconfiaça, alívio até desespero e tudo por causa de uma proposta inofensiva para eu me mudar de país, simples.

– Calma aí, a senhora está falando sério? - a voz de Elle me despertou do meu transe, fazendo-me virar bruscamente para olhá-la.

Nossos olhos se encontraram e eu consegui distinguir as mesmas emoções estampadas em seu rosto, só que com mais confiança.

Seus lindos cabelos negros e ondulados pendiam em uma frouxa trança que caía sobre seu ombro direito. Os olhos âmbar tão claros e maravilhosos que pareciam de vidro estavam com pouca maquiagem e brilhavam encantados com a nova ideia. Ela era a típica garota popular e simpática que fazim amizade com todos e se dava bem em qualquer lugar, para ela seria tudo mais fácil, para se adaptar e deixar tudo que fez aqui, já a tímida aqui...

– Sim, seríssimo! Vocês são as netas mais velhas, precisam expandir seus horizontes, não podem se limitar a cidade chuvosa de Londres. A Inglaterra pode ser linda e vocês podem estar acostumadas ao ambiente inglês, mas existem outros lugares igualmente interessantes ao redor do mundo. Quero que vocês pensem durante o almoço e depois nós conversaremos, quanto ao restante de vocês, Bom Apetite.

Como ela estava tão calma? Como todos estavam tão controlados? Eu poderia estar exagerando, mas parecia que isso não era tão importante quanto realmente era e ninguém estava ligando para isso, parecia que todos já sabiam, menos eu. Levantei-me da cadeira, joguei o guardanapo na mesa, não iria aguentar ficar no mesmo cômodo que todas aquelas pessoas.

– Com licença, eu perdi o apetite.

Saí da sala de jantar e caminhei em direção a varanda, senti uma movimentação atrás de mim, mas não dei importância, eu só queria sair daquele lugar.

Quando cheguei a varanda, puxei uma espreguiçadeira e me sentei olhando para o horizonte observando agitação que acontecia nas ruas ali perto. Aquela era a MINHA cidade, ok, não minha mas, onde eu nasci e morei todos esses 16 anos da minha vida. Então, se eu fosse eu não perderia Annie nem Elle, minhas duas confidentes, mas aí eu perderia minha família, meus amigos, minha casa, minha infância. Uma lágrima desceu silenciosamente pela minha bochecha que só limpei quando a uma voz calma e terna falou atrás de mim:

– Alex, meu bem, o que aconteceu? - virei-me e dei de cara com a minha querida Annie, ela estava parada e me olhando com uma doçura imensurável no olhar.

– Nada, vó, só preciso de um tempo sozinha - respondi, fixando o olhar no céu cinzento de Londres.

– Vamos lá, me diga - ela disse se sentando ao meu lado - eu sei que algo está lhe incomodando, pode me dizer, sabe que estou aqui para isso.

Encarei seus olhos cor de mel, eles estavam realmente mostrando a preocupação que ela sentia por mim. Eu não era assim, eu nunca me sentia tão fraca e impotente desse jeito.

– Por que a senhora não me avisou antes? Por que me deixou parecer uma idiota em frente a toda nossa família?

– Você tem que entender que essa não era a minha intenção! Eu juro, eu não queria ter feito mal a você - quando ela me disse me senti ainda mais culpada, outra lágrima escorreu e ela limpou-a com o polegar acariciando em seguida meus cabelos.

– Eu não sei se serei capaz de abandonar a minha cida aqui, ou até meus amigos e família, mas também, se eu não forn, não sei se conseguirei abandonar a senhora e Elle. Por que a senhora fez isso? Tornou tudo mais complicado, e semana que vem a senhora já vai viajar, como posso decidir em menos de seis dias? Isso não é justo.

– Eu vi como você e Elle estavam tristes pelo fato de eu ter que ir embora, seus pais também notaram isso, então nós conversamos, e eles concordaram em deixar vocês irem comigo - pegou a minha mãe e colocou entre as suas, deixando tudo mais confortável - e para deixar minha oferta um pouco mais tentadora - bufei e revirei os olhos fazendo-a rir - vocês duas não vão precisar levar as suas roupas, só se quiserem, pois faremos compras nos Estados Unidos, eu pagarei por tudo, é apenas um presente, eu estava precisando fazer algo mais por vocês, além do mais, o que poderia fazer com esse dinheiro todo? Ajudar as minhas netas foi a melhor ideia que me ocorreu.

Olhei assustada para ela, meus Deuses, era uma das coisas que eu nunca pensei que escutaria da minha avó, não pelo fato dela ser mão de vaca, ou qualquer coisa assim, mas dar presentes?

– A senhora está falando sério? - exclamei.

– É claro, por que não? Então, Alex, o que me diz? Estados Unidos ou Inglaterra? É uma boa oportunidade, você não pode negar - sorri levemente e ela retribuiu com mais intensidade.

– Eu... - abaixei a cabeça, eu estava preparada para tudo isso que me aconteceria? Sim poderia ser uma oferta tentadora, mas, ah eu não sei - Vó, eu...

Fiz uma pausa, eu estava tão confusa.