Éramos cinco, entre adolescentes e crianças, espremidos e esmagados no banco de trás de um humilde carro de passeio. Apesar do frio que estava do lado de fora do carro, dentro onde esse aglomerado de seres humanos estava o ar pesava e esquentava mais a cada minuto, dando-me a sensação de que estava dentro de um forno.

Ok, deixe-me explicar o que está acontecendo, eu, meus dois irmãos e mais dois primos estávamos sendo levados para a belíssima cara da minha querida avó materna, era para ser um simples almoço em família para comemorar a novidade, sim, ela iria se mudar, deve estar se perguntando para onde ela vai, nada menos, nada mais que a CALIFÓRNIA, nos ESTADOS UNIDOS, eu sei que estou sendo dramática e exagerando, mas não é nada fácil deixar uma das pessoas que você mais confia e ama na face da Terra ir embora e ficar a milhares de quilômetros longe de você!

Annie Parisse, minha querida avó, uma bela senhora que ao longo se sua vida conseguiu se tornar uma pessoa absurdamente rica, pelo menos para mim, e mesmo assim não ser rabugenta e infeliz, ela lidou muito bem com esse lance de mudar de classe social, como se já tivesse nascido assim, por isso que ela é minha heroína, não se deixou afetar pela pressão desse mundo, se é que posso chamá-lo assim, e fez tudo com suas próprias mãos, ela teve sucesso no que queria, uma das donas de uma grande empresa, grande mesmo, admiro muito minha avó e sei que posso contar com ela para tudo, ela realmente me entende, não irei suportar perdê-la.

Enfim, quando finalmente chegamos aquela maravilhosa casa meus pais estacionaram o carro e por um milagre dos Deuses conseguimos sair do automóvel, suspiros e palavras de alívio podiam ser ouvidos a uma boa distância de onde estávamos. Minhas pernas estavam tão fracas que eu quase caio assim que meus pés tocaram o chão. Recuperei o equilíbrio esperai que todos se arrumassem e caminhamos em direção a porta de entrada. Joseph William, o mordomo e meu amigo abriu a porta e cumprimentou a todos e pegou bolsas e casacos.

Escutei um salto batendo contra os degraus de mármore vindo em nossa direção apressadamente, soube na hora quem fazia o barulho e sai correndo em direção a minha avó. Ela abriu os braços e me esperou calmamente na base da escada, abracei-a com força sentindo seu perfume levemente adocicado penetrar em meu nariz. Ela estava linda como sempre, seus sapatos pretos com detalhes de pérola, um sobretudo azul claro com um broche da nossa família, um chapéu azul, tipo aqueles de pessoas que vão no hipódromo. Ela estava linda como sempre, mas o que mais me chamou atenção foi o fato de ela estar usando o brinco de pérolas que dei para ela quando ela fez 60 anos.

– Vó, como a senhora está? - Falei com mais animação que deveria, fazendo-a rir.

– Estou bem e você, pipoquinha? - Esse era o apelido que ela tinha me dado quando eu era bem pequena, porque eu não parava quieta nem um segundo!

– É, estou um pouco triste que a senhora vai embora, mas tirando isso estou bem - respondi com sinceridade.

– Não fiquei assim Alexandra! Você sabe que eu tenho mesmo que ir para lá, pelo menos por algum tempo.

Seguimos para a sala de jantar sem mais nenhum comentário. Ela estava certa, precisava ir para lá, cuidar de negócios, mas eu não queria, não mesmo!

A família começou a chegar e a casa foi ficando cheia, todos se sentavam e aguardavam o discurso que a nossa querida Annie sempre dava antes de uma refeição.

– Queridos familiares, todos estão aqui pelo mesmo motivo, como vocês sabem, estou me mudando paras os Estados Unidos, - abaixei a cabeça e fechei os olhos, não queria mais ouvir nada - a despedida é triste, eu sei, mas preciso falar um coisa, um comunicado importante, já conversei com minha filhas e meu genros. Queria levar minhas netas, Alex e Elle, para a Califórnia comigo, se elas aceitarem, é claro.