Ela caminhava lentamente pela relva verde e fresca sobre as suas botas de salto fino, violino às costas, flores num braço, e um gatinho branco no outro, com o qual ela brincava e acarinhava. Tinha encontrado o gato pelo caminho e encantada com o gatinho com o pelo incrivelmente branco chamou-o, o gato aproximou-se receoso dela, mas rapidamente se afeiçoou às caricias que ela fazia na sua cabeça. Ela então pegou nele e levou-o consigo, planeando deixá-lo depois no mesmo sítio. Provavelmente não dariam pela sua falta.

Entretida com o gatinho, nem reparara que já tinha chegado ao seu destino, apenas um enorme portão lhe barrava o caminho.

Ao olhar para aquele cenário respirou fundo, já há alguns meses que não ia ali, ela realmente não tinha tempo nenhum para si desde o debut da Spiral, ela já nem sabia o que eram noites longas e bem dormidas.

Melancolicamente pousou o gatinho, que ficou a olhar para ela, e abriu o portão apertando as flores em suas mãos. Entrou naquele lugar frio e tristonho. Tudo parecia ainda mais triste por causa do tempo nublado.

Caminhou entre as lápides, procurando uma em especial. Ela estivera durante dois dias na sua terra natal para visitar os pais, mas só naquele dia, o dia em que se iria embora, decidiu ir ali, ainda estava tudo muito fresco na sua memória, e continuava a ser doloroso.

Finalmente encontrou a lápide da sua avó, ajoelhando-se à sua frente, pousou a mala com o violino no chão e pegou num vaso que estava sobre a lápide juntando as flores que trouxera com aquelas que ontem a sua mãe lá pusera.

As saudades que ela tinha da sua avó, ela sempre lhe dera um grande apoio, fora ela que a ensinara a tocar violino, afinal a sua avó fora uma grande violinista, e fora dela que herdara o fascínio pela música.

No fim de colocar todas as flores, olhou para a lápide, levou a mão direita até às pontas do cabelo do lado esquerdo, puxando para o direito, revelando os três furos, preenchidos com brincos de diversas formas e feitios, na orelha. Sorriu tristemente.

– Oi Vovó, soou eu a Minjoo – disse baixo, quase sussurrando – Já viu o que encontrei pelo caminho? – Pegou no gato, que reparara, naquele momento que se mantinha ao seu lado.

Pousou o gatinho no seu colo e suspirou, estava à procura das palavras certas, não sabia o que dizer ou se valia de alguma coisa estar ali a falar para um pedaço de pedra. A sua avó já não estava ali mesmo.

– Vovó! Você me está ouvindo, né? ... Eu gosto de pensar que sim, assim não fico parecendo uma boba falando aqui para o ar. – riu melancolicamente mas com uma expressão doce no rosto - Eu espero que você esteja orgulhosa de mim e que me esteja observando daí onde você está. Você viu, nós lançamos uma nova música se chama “Like a Dream”, hoje irei voltar para Seoul para começar as promoções. Por favor, esteja junto a mim e me apoie… - respirou fundo, enquanto olhava para o gatinha lhe acariciando o pelo macio, que a acalmava - Quem me dera que a vovó ainda aqui estivesse, assim eu poderia saber a sua opinião, se está gostando de me ver, se está pensando orgulhosa “Esta sim, é a minha neta” – Uma pequena lágrima escorreu dos olhos maquiados com delineados e sombra escura. – Oh! Vovó, porque teve de ir tão depressa? Eu ainda precisava do seu apoio, sabe?

A saúde da sua avó sempre foi muito frágil, e com o passar dos anos ela ia piorando, o que deixava Minjoo de rastos. O maior sonho de Minjoo era que a sua avó ainda estivesse viva durante o seu debut.

Antes do debut de Spiral a saúde da avó, que estava acamada numa cama de hospital, melhorou, o que deixou Minjoo mais esperançosa ainda. Aquando do debut, os pais de Minjoo iam todos os dias ao hospital, visitá-la e lhe mostraram os teasers e até mesmo o mv, nessa altura Minjoo tentava falar todos os dias ao telefone com a avó, recebendo sempre palavras maravilhosas de apoio. No dia do debut stage, a sua avó o assistiu na televisão que tinha no quarto do hospital, mas o inesperado acontecera, e ela acabara morrendo nesse mesmo dia.

Quando soubera Minjoo ficara destroçada, mas ela não podia chorar, não o devia fazer, tinha de ser forte e seguir em frente com o seu sonho, o sonho que partilhava com a sua avó. Ela tinha que fazer aquilo pelas duas, não se podia mostrar fraca, mesmo que a sua única vontade fosse deixar tudo aquilo.

– Eu ainda tenho aqui a carta que você me deixou no dia em que a vovó foi embora. – Fungou de leve, tentando conter a lágrimas.

Minjoo colocou a mão dentro do bolso dos calções e tirou de lá um papel todo amachucado, começando a lê-lo em voz alta:

“Minha Minjoo.

A vovó a viu hoje na televisão e não tenho palavras para descrever o quão orgulhosa estou. Você já me deixou orgulhosa tantas vezes, mas esta vez superou as outras, afinal você conseguiu finalmente concretizar o seu sonho. Você cresceu tanto e se tornou uma linda mulher, admito que para mim você sempre fora a minha menina pequenina e eu nunca tivera a noção do quanto você crescera, mas vê-la ali sobre aquele palco me deixou sem palavras. Agora você é uma mulher concretizada, já não precisa das palavras e dos conselhos de uma velha como eu.

Oh! Minha Minjoo, você sempre foi a minha alegria, foi apenas por você que eu consegui viver por tanto tempo, se não fosse por você, eu já não estaria aqui há muito e muitos anos.

Por favor mantenha-se forte, seja a mesma menina alegre e divertida que eu sempre conheci, continue sendo poderosa sobre o palco, continue dançando como dança, mas por favor não se esqueça, nunca, do violino.

Cuide bem de si, se alimente – meu deus, você está tão magrinha – e cuide muito bem das outras meninas do grupo. Eu sei que todas vocês chegarão muito longe. Mesmo que eu já não esteja estre vocês, eu a irei sempre a apoiar, e irei observá-la com orgulho.

Muito amor da sua vovó.”

Algumas lágrimas escorreram pelo rosto de Minjoo, borrando subtilmente a maquiagem pesada. Ela sempre chorava quando relia e relia a carta. O que ela mais queria se tinha realizado, a sua avó tinha ficado orgulhosa, isso era o mais importante.

– Vovó, eu vou a deixar ainda mais orgulhosa. – Disse com um sorriso aberto.

Levantou-se, nem se lembrando que o gatinho ainda estava sobre as suas pernas, colocou o violino às costas e compôs as roupas justas e um tanto provocativas.

– Até já vovó! – Despediu-se sorrindo. – Tenho um comboio para Seoul para apanhar e de a deixar orgulhosa, uma vez mais.

continua...