Respirei fundo e caminhei até Percy. Ele me olhava um tanto surpreso, não sei bem porque. Só sabia que tinha que dizer tudo para ele. Meu coração nunca batera tão rápido, e minhas mãos tremiam cada vez mais conforme eu ia me aproximando. Naquele dia, em que eu me declarara, ele estava dormindo, e agora, estava ali, acordado, prestando atenção em tudo que eu fazia. Não sabia direito por onde começar.

– Percy, eu... tem um coisa que eu preciso te falar... - lhe disse me sentando no sofá ao seu lado, porém afastada.

– Também tenho que te dizer uma coisa - ele disse com os olhos fixos nos meus.

Respirei fundo novamente e me lembrei do dia em que o conheci. Não o conheci exatamente naquele dia, mas fora o início de nossa amizade. Devia ter uns 5 anos, e estava no bersário enquanto meus pais assistiam o culto na igreja. Tinham muitas crianças lá, mas eu não falava com ninguém. Quando era menos, tinha esse problema, só falava se falassem comigo. Estava quieta no meu canto colorindo um desenho, quando escuto alguém me dizer:

– Me empresta o marrom?

Me virei e vi um garotinho de olhos verdes sentado ao meu lado. Não lhe disse nada, apenas entreguei o lapis. Ele o pegou e voltou sua atenção ao desenho.

– Minha mãe sempre me ensinou que temos que agradecer aos outros. - eu disse.

Ele apenas virou os olhos para mim e disse:

– Obrigado.

Depois deste dia, minha mãe e Sally acabaram virando amigas, e Percy e eu nunca mais nos distanciamos. Tínhamos algumas brigas de vez em quando, mas era coisa passageiro. Eu não sabia porque, mas não consegui ficar brava com aquele cabeça de alga.

Voltei para a realidade e notei que Percy ainda me encarava.

– Percy, lembra do aniversário de Silena, ano retrasado? E que você decidiu não ir de última hora? - eu o olhava nos olhos, mesmo sabendo que hora ou outra começaria a chorar - Então, eu não me importava com mais nada, só queria que você estivesse lá. Mas você não foi. O que em partes foi bom, porque foi quando descobri a amiga maravilhosa que Thalia é. Só que a única pessoa que eu queria ver lá, era você Percy.

Meu coração agora quase quebrava minhas costelas, minha respiração estava cada vez mais rápida, e Percy... me olhava surpreso.

– Lembra que você me perguntou porque eu tava estranha nos dias seguintes? Bem, era isso. Eu não sabia direito o que fazer, o que pensar. Aquele sentimento... era mais que a amizade, e eu estava com medo. Com medo de perder meu melhor amigo.

As lágrimas começaram a rolar por meu rosto, mas não limpei nenhuma, só conseguia olhar fixamente para aqueles olhos verdes, que agora estavam também repletos de lágrimas.

– E todas as vezes que você me falava das meninas que pegava... aquilo doía demais. Saber que você estava namorando a Rachel então... foi como uma faca em meu peito. Por tantas vezes eu pensei que eu não era importante para você. Que eu não significava para você, Percy, tudo aquilo que você significa para mim. Mas dai você vinha, todo sorridente, me fazia dar risada, e eu percebia que isso não era verdade.

Abaixei minha cabeça e esperei o mar de lágrimas escorrer um pouco. Estava ficando difícil falar e chorar ao mesmo tempo. Mas no finla seria bom, porque eu tiraria todo aquele peso de minhas costas.

– Cheguei até a sentir ciúmes de Thalia, da pra acreditar? É que, na maioria das vezes, você fazia as bincadeiras todas com ela e eu... não sei nem te explicar o que eu pensava, só queria que você me notasse. Cada dia, cada minuto que eu passei ao seu lado, foi perfeito. As risadas, as lágrimas, as maluquices, os conselhos... você é você, Percy, e isso é perfeito.

Agora era ele quem chorava. Eu conhecia Percy, ele apenas deixaria as lágrimas escorrerem, mas não soluçaria nem nada. Tentava limpá-las, mas eram muitas e ele não dava conta.

– E teve aquele acidente... Não tenho palavras para explicar o medo que eu senti de te perder. Te ver deitado naquela cama de hospital, fez com que eu me sentisse o pior ser de toda face da terra, porque era minha culpa. Mas eu ia te visitar sempre que podia, e nunca perdi a esperança de te ver acordado novamente, embora muitos me dissessem o contrário.

Suspirei e limpei as lágrimas de meu rosto. Já tinha parado de chorar.

– Depois que tudo aquilo passou, você me convidou para te acompanhar no baile e... eu quase explodi de felicidade, estava contando os dias para que aquele dia chegasse. Mas então, você me contou que estava indo para Londres, e eu... não sei, devo ter tido um surto de coragem e.. te beijei - senti meu rosto esquentar quando eu disse isso - Essa é toda a verdade, Percy. Queria ter tido coragem de te contar tudo antes.

Ao terminar de falar, abaixei minha cabeça para não olhá-lo. Ainda não sabia como iríamos nos falar depois de tudo o que eu disse. Expus a ele tudo o que eu sentia, bastava agora ele me dizer o que se passava dentro de seu coração.

– Annie, eu... admiro você, muito. - Percy disse puxando minha cabeça pra encará-lo - Porque você teve coragem de fazer algo, que eu tanto queria e não tive coragem de fazer.

O olhei supresa. Ele falava do beijo, ou de falar sobre seus sentimentos? Eu ainda o olhava nos olhos.

– Annabeth Chase, você tem noção da bagunça que fez em minha cabeça? - me disse rindo.

– Eu? Por que?

Ele riu novamente. Então sentou-se mais perto de mim.

– Você é minha amiga sempre foi, mas de uns tempos pra cá, algo mudou. No começo, eu não sabia exatamente o que era. Naquele dia em que você e Lee... - ele fez uma careta ao se lembrar - ... bem, eu queria matá-lo. Não conseguia imaginar outro garoto te tocando. Não podia imaginar outro garoto te beijando. Mas se você amasse mesmo Lee, eu te deixaria ia, porque, pra mim, é isso o que importa, te ver feliz.

As lágrimas voltaram para meu rosto. Aquilo sempre fora o que eu queria ouvir, e agora meu maior sonho estava se realizando.

– No dia do acidente, eu não pensei duas vezes, te tirei da mira daquele carro. Não podia te perder, Annie. Eu ouvia a sua voz no hospital, apenas ela. Escutei você dizer que em ama, e aquilo me marcou, pois pensei que tinha sido apenas um sonho. E depois que eu acordei, você era a única coisa que passava pela minha cabeça. Já era desde muito tempo antes, eu só não sabia o que estava sentindo. Agradeça ao Nico, foi ele quem abriu meus olhos.

Demos risada juntos. Ele tinha escutado, ele realmente me escutara aquele dia no hospital. Então estendeu a mão e pegou a minha. Me arrepiei com seu toque. E Percy também.

– Eu ia me declarar antes Annie, mas dai chegou aquela carta e... eu não sabia o que fazer. Mas saiba disso, cada minuto que eu passei naquela escola, eu passei pensando em você. Queria te trazer pra perto de mim. E o seu beijo... não sabe por quanto eu desejei sentir o gosto de seus lábios.

Percy tocou meu lábio inferior com a ponta dos dedos.

– Annie... não sei ao certo quando isso começou, nem como vai terminar... mas eu queria que você soubesse disso. Gosto de você, muito. Mas não apenas como amiga, é muito mais do que isso. Só não disse nada antes porque tinha medo de você não sentir a mesma coisa. Assim eu te perderia.

Eu já não cabia mais dentro de mim de tanta felicidade. Um sorriso bobo se abriu em meu rosto em meio a tantas lágrimas. Eu sempre sonhara com isso. Meu sonho era ouvir da boca de Percy "É você Annabeth". E agora que eu tinha escutado tudo aquilo, o que eu mais queria era ficar ao lado dele.

– Somos dois bobos. - eu disse e ele riu, e depois enxugou algumas lágrimas.

A mão que segurava a minha mão foi para meu rosto. Ele contornou e foi se aproximando. Eu sabia o que estava prestes a acontecer, então fechei meus olhos esperando o tocar suave de seus lábios. Percy segurava meu rosto, e logo os senti minha boca. Eu estava beijando Percy Jackson! Meu melhor amigo, e também o cara que eu amava. Mas aquele beijo não foi como o do baile de formatura. Aquele fora calmo, cheio de saudade e sentimento. Enfim meu maior sonho acabara de se tornar realidade. Nossas línguas dançavam sincronizadamente. Eu poderia ficar ali o dia todo, apenas sentindo seus lábios.

Decidi sentar mais para a frente e segurar sua nuca. As mãos de Percy foram para a minha cintura, e me puxavam fortemente para ele. Estava incrível, estava perfeito. Melhor do que em meus sonhos. Naquele momento, queria poder saber o que Percy estava pensando. Queria saber se ele estava tão feliz quanto eu estava.

Então ele parou de repente. Pareceu ter uma ideia.

– O que foi? - lhe perguntei.

Ele me lançou um sorriso maroto e me disse:

– Confia em mim sabidinha?

As vezes eu tinha medo das ideias de Percy.

– Depende, o que tem em mente? - lhe disse erguendo a sobrancelha.

– Já te explico.

Ele disse e me puxou para mais um beijo. Eu era a garota mais sortuda do mundo, porque eu o amava. E ele me amava também, agora eu sabia disso. Ele era um mala, e me irritava quase sempre, mas não importava o que acontecesse, eu sabia que ele sempre estaria do meu lado. Porque é isso amigos de verdade fazer. E antes de eu amar Percy, ele era meu melhor amigo. Era não, é, e sempre vai ser.