Não tem sensação melhor do que dormir até você não poder mais. Fiquei na cama até enjoar. Estava acordada desde as 8h, por causa do costume de acordar cedo, mas só fui levantar lá pelas 10h, e ainda não me sentia totalmente descansada. Fui para o banheiro e tomei um banho gelado, tinha amanhecido um dia muito quente, eu mal estava aguentando ficar só de pijama, imagina usar uma roupa mais pesada então?

A água estava ótima, lavei o cabelo e aproveitei para dar uma cortada na minha franja que já tinha passado  um pouco do comprimento. Fui para o quarto e coloquei um vestido de alcinha rosa, que eu geralmente usava como saída de praia, nas raras vezes que eu ia para a praia. Penteei meu cabelo e desci descalça para a cozinha. Tinha esquecido meu celular na cozinha. Quando o liguei, tinha uma mensagem de Thalia:

"Para variar, machuquei meu joelho no jogo ontem, nosso programa vai ter que ficar para outro dia"

Costumávamos brincar que Thalia era podre. Como ela sempre jogava, normalmente voltava machucada. Já tinha quebrado o braço direito, o punho, o pé esquerdo e o joelho, que sempre voltava a dar problemas. Tínhamos combinado de ela vim para miinha casa para assistirmos um filme, dar risada, e conversar sobre coisas de meninas. Mas pelo visto, teria que esperar. Pensei em fazer uma visita à ela mais tarde, seria uma boa ideia.

Comecei a fazer um macarrão com queijo para mim comer, foi quando a campainha tocou. Fui correndo ver quem era. Ao abrir tive uma surpresa. Era Lee, e ele trazia consigo, uma rosa cor-de-rosa. Me olhava sem graça.

- Me desculpe por ontem. - ele disse me entregando a rosa.

Ergui a sobrencelha e aceitei seu presente. Ainda estava um pouco receosa, se eu o convidasse para entrar, ele poderia me agarrar ali mesmo. Mas Lee não teria coragem de fazer isso, não mais. Se fosse antes, eu bateria a porta em sua cara, mas hoje não. Fiz um sinal para que ele entrasse, e instantaneamente um sorriso se abriu em seu rosto.

- Estou fazendo macarrão com queijo, quer almoçar comigo hoje? - lhe perguntei colocando a flor num copo com água.

- Claro, o que eu faço? - Lee perguntou abrindo um pouco a panela em que o macarrão estava cozinhando.

A tampei na hora e disse a ele:

- Por enquanto nada, sente-se. Já estou quase terminando.

Apesar de eu não cozinhar muito bem, eu não gostava de gente me atrapalhando. E Lee era sinônimo de bagunça. Uma vez, eu, ele e Thalia tentamos fazer cachorro-quente. Bem, nós tentamos. No final, acabamos nós três todos sujos de molho de tomate. E quem começou com tudo? Lee, claro.

Quando vi que o macarrão estava quase pronto, joguei o queijo picado por cima. Entenda, para alguém como eu, não seria macarrão com queijo, seria queijo com macarrão. Eu realmente amo queijo. Tirei um pouco em um prato para mim e depois tirei mais um pouco para Lee.

Levei nossos pratos para a mesa e vi que ele se surpreendeu quando viu meu prato. Apesar de ser menina, eu como muito, muito mesmo. Não sei como ainda não virei uma bola. Depois, corri para a geladeira, e tirei uma coca aberta de lá. Peguei dois copos e voltei para a mesa.

- Está aprovada Annie, se quiser seguir carreira como cozinheira, vá em frente. - Lee disse com a boca cheia de macarrão.

Dei risada e dei uma garfada em meu queijo com macarrão. Não sei se era a minha fome, mas realmente, aquilo estava muito bom. Comemos os dois em silêncio. Não fiz questão de dizer nada. E me pareceu que Lee também não.

Era dia 4 de Julho, eu ainda tinha um mês de férias, e não fazia ideia alguma do que fazer em todos esses dias. Lembro-me que nas férias passadas, no começo, quase todos os dias, Percy e eu saiamos para chupar sorvete, eu só para caminhar mesmo. E depois do acidente, passei boa parte do tempo no hospital, com ele. E agora ele estava longe. Era estranho relembrar tudo, era como se tudo não tivesse passado de um sonho. E como sempre, os sonhos sempre terminam na melhor parte.

Terminei de comer e levei meu prato para a pia, Lee fez o mesmo. Eu lavaria mais tarde, agora estava com muita preguiça. Olhei no relógio e era meio-dia. Não sabia por quanto tempo Lee pretendia ficar em casa, pois queria descansar mais um pouco.

Fui para a sala e fiz um sinal para que ele me acompanhasse. Ele o fez. Chegando na sala, comecei a revirar umas gavetas, queria achar meus DVDs. 

- Quer assistir alguma coisa? Meus filmes devem estar em algum lugar por aqui... - eu disse revirando  primeira gaveta. Mas não tinha nada além de fotos antigas minhas. Eu era um bebê muito lindo, sempre achei isso.

Meu erro foi abrir a segunda. Dei de cara com meu DVDs dO Senhor dos Anéis. Suspirei e os tirei da gaveta. As vezes, Percy e eu brincávamos de "quem era quem" nesse filme. Sim, éramos dois adolescentes que ainda brincavam disso. Eu era Arwen, e ele, Legolás. Dois Elfos. Chegamos até a quase ir de elfos em uma festa a fantasia uma vez, mas desistimos porque não tinha como fazer aquelas orelhas. Era três filmes apenas, mas para mim tinham uma importância muito maior. Me lembrava que, tudo o que vivi com Percy, não fora apenas um sonho. Lee deve ter percebido que, meu corpo podia estar ali presente, mas minha cabeça estava muito longe.

- Eu... acho melhor a gente assistir outra coisa. - ele disse e eu acordei do transe.

- Hãn... claro. - lhe disse fazendo um esforço enorme para sorrir.

Revirei a terceira gaveta e também não tinha nada além de fotos, Fiquei com medo de minha mãe ter jogado meus DVDs fora. Bufei de raiva e fechei a gaveta com força.

- Ei, calminha ai, é só um filme. - Lee disse rindo.

Revirei os olhos e me sentei ao seu lado. Não sei como não tinha notado antes, mas Lee não tirava os olhos de minhas pernas. E eu estava de vestido. Senti meu rosto corar e percebi que ele ficou sem graça quando viu que eu percebera. Desviou o olhar na hora. Estávamos em silêncio, estava começando a ficar constrangedor, já não aguentava mais aquilo tudo. Foi Lee disse:

- Acho melhor eu ir Annie, a gente se vê um dia desses. - e ele se levantou.

- Já vai Lee? Vou ficar aqui sozinha a tarde toda, Thalia machucou o joelho de novo, e disse que não vem pra cá hoje.

Ele deu risada.

- Eu falo que Thalia já nasceu podre. Não sei como ela consegue se quebrar tanto assim.

Dei risada também, no fundo sabia que isso era verdade.

- Desta vez ela só machucou, palavras da própria Thalia. Espero que ela melhore logo. - lhe disse fazendo meu bico irresistível.

Lee pegou uma das almofadas de cima do sofá e tacou na minha cara, estragando totalmente minha cara de pena. Dei risada e joguei de volta nele, mas ele a segurou. Fez que ia jogar de novo em mim, mas ao invés disse, colocou a almofada delicadamente sobre o sofá novamente.

- Sério Annie, melhor eu ir.

Dei um sorrisinho e caminhei até a porta. A abri e meu coração quis sair pela minha boca. Quem estava lá, parado bem em frente a minha porta? Percy Jackson! Mas o que ele fazia ali? Pelo que eu soube, era muito difícil os alunos da Accua saírem de lá, mesmo no período de férias. 

- Percy. - só consegui dizer isso.

Senti meu rosto queimar. Devia estar parecendo um pimentão. Mas não era minha culpa. Não estava esperando vê-lo assim, tão cedo. Minha vontade era de pular em seu pescoço novamente, mas minhas pernas não me obedeciam. Elas pareciam estar congeladas. 

Ele usava uma calça jeans escura, um sapatenis cinza com listras vermelhas nas laterais e uma camiseta vermelha de gola pólo. Seu cabelo estava bem mais curto do que ele geralmente usava. Mas estava lindo, como sempre. Quando seu olhos encontraram os meus, senti as lágrimas se acumularem em meus olhos. Percy estava de volta. Eu não sabia o porquê, mas ele estava ali, na minha frente, sorrindo para mim novamente. Abri um enorme sorriso também, comecei a sorrir como uma boba. Não resisti e lhe dei uma abraço.

- Que saudades, cabeça de alga. - lhe disse com a cabeça em seu ombro.

- Eu também senti sua falta sabidinha.

Eu estava sorrindo, meu coração estava sorrindo, até meu cérebro, que não sei como, estava sorrindo também. Mas então me lembrei de todos os mêses que ele me deixou sem dar sinal de vida. Uma pontinha de raiva me atingiu. Me soltei do abraço e comecei a dar tapas em seu braço.

- Perseu Jackson, como ousa me deixar todos esses mêses sem dar notícias suas? Você tem noção de como eu fiquei preocupada? - eu disse ainda lhe batendo.

Ele deu risada e segurou meu braços fortemente.

- Calma Annie, lá naquele lugar não me deixavam nem usar o computador direito. Só poderia usar se fosse para estudar ou fazer trabalhos. - ele disse fazendo uma cara de dar dó.

Não adianta, por mais que eu tentasse, não conseguia ficar brava com ele.

- Acha mesmo que eu conseguiria ficar todo esse tempo sem falar com você? Só não falei porque não podia.

Senti um pouco de pena. Que lugar era aquele afinal? Sally tinha me dito mesmo que era um lugar muito rigoroso. Mas era bom para Percy, assim ele teria um diploma muito importante.

- Tudo bem, eu te perdoo. - eu disse cruzando os braços.

- Annie, agora é sério mesmo, estou indo. - ouvi uma voz passando por mim. Só então me lembrei que Lee ainda estava em casa.

- Ah claro Lee, a gente se vê.

Ele me fez um sinal de adeus e passou por Percy, que ainda estava parado na porta. Percy entortou os olhos e me encarou. Uma de suas sobrencelhas tinham subido, como ele sempre fazia quando estava com raiva. Continuava me encarando. Me perguntei se aquilo tudo era ciúmes de Lee.

- O que aquele cara estava fazendo aqui? - ele me perguntou num tom intimidador.

- Veio se desculpar. - fui curta e grossa, ainda não o tinha convidado para entrar.

- Se desculpar de que?

Percy estava um tanto curioso demais. Decidi contar a verdade.

- Porque ontem ele me beijou.

Percy bufou e notei que ele estava um pimentão. Tive que me segurar para não rir, nunca o vi daquele jeito.

- E você... ? - ele perguntou depois de respirar fundo.

- Eu não retribui, lógico, não é dele que eu gosto. - senti minha cara ficar vermelha. Aquilo tinha saido sem querer.

Percy se acalmou um pouco. 

- Entre. - lhe disse.

Ele sorriu e me obedeceu. Fechei a porta e pensei por um minuto se aquilo tudo não seria mais um de meus sonhos. Tantas vezes eu já sonhara que ele voltara, e então se declarava para mim, mas eu sempre acordava, e era obrigada a voltar para a realidade. Me virei e o encontrei sentado no sofá. Não poderia ser um sonho. Eu me sentia viva. Sentia meu coração, minhas mãos trêmulas... Talvez não tivesse outra chance. Talvez ele estivesse ali para se despedir de verdade. Podia estar indo morar em Londres para sempre. Aquilo doeu só de pensar. Tinha muita coisa para contar para Percy, e sabia que aquele poderia ser o momento certo.