Capitol Hunger Games escrita por Azula, AnaCarol


Capítulo 21
Finalmente paz.


Notas iniciais do capítulo

Perdoem os erros de gramática.



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Quando voltamos para casa, só quero retornar ao meu quarto. Abro a porta e suspiro de alivio. Eu estou de volta. Os livros na estante estão empoeirados, a grande cobra de pelúcia permanece na minha cama, como deixei no dia da colheita. Jogo meu corpo cansado na cama. Conforto, finalmente. Penso nas crianças dos distritos, na pobreza e na falta de conforto. Enquanto eu tive conforto por 14 anos, quase 15, elas dormem em colchões finos a vida inteira. Apago todos os pensamentos. Talvez eu mereça um pouco de descanso. Durmo rapidamente com a roupa do corpo.


Sem sonhos.


Acordo com batidas na porta, olho pela janela, a cidade está iluminada e o sol está se pondo.

– Pode entrar. – digo e me endireito na cama.

Era Hasse.

– O corpo de Dan ainda não foi enterrado, quer ir ao enterro? – ele pergunta.

– É hoje? Claro que quero.

– Sim, vou com você. Vai tomar um banho e se arrumar. – Hasse beija minha testa e sai do quarto.


Tomo um banho. Como eu sentia falta de água limpa e quente. Escolho o sabonete com cheiro de bromélias, cujo significado é amizade eterna, exatamente o que eu tinha com Dan. Nossa amizade nunca iria morrer.


Visto uma roupa simples e quando saio do quarto todos estão me esperando na sala. Dean e Hasse estão conversando alegremente e rindo, eles se deram tão bem. Todos nós iremos ao enterro, eles sabiam a importância de Dan para mim.


O cemitério e o resto da cidade eram muito diferentes, no primeiro, nenhum cidadão estava colorido e alegre, todos usavam preto. A sala do velório de Dan não estava muito cheia, devia ter mais ou menos 30 pessoas. Procuro sua mãe, e a identifico facilmente, vendo que ela era a que mais chorava ao lado do caixão.

Ela levantou a cabeça e o seu olhar me fez chorar, sem dizer uma palavra ela me abraçou.

– Eu sinto muito. – murmuro e ela assiste.

Dan está de terno, os olhos fechados dão um ar mais sereno ao rosto.

Chute a bunda daquele bastardo, certo?


Lembro-me de suas palavras, até morrendo ele conseguia ser engraçado. O pouco tempo que convivi com ele me fez perceber que eu não tinha só Dean como irmão. Dan também.

Fico ao lado de seu corpo imóvel por horas até Hasse colocar o braço ao meu redor.

– Eles já vão retirar o corpo, vão enterrá-lo. Quer acompanhar ou ir para casa? – ele pergunta.


Eu queria ir para casa sofrer em silêncio, mas eu não podia, não conseguia aceitar a ideia de que Dan estava morto, e vê-lo sendo enterrado só confirmaria o que eu não quero acreditar.

– Vou só me despedir. – digo e ele vai ficar perto de Dean. – Me desculpe Dan, eu não devia ter me separado de você. Eu te amo, irmão. – sussurro para seu corpo e uma brisa entra pela porta levantando meus cabelos.


Eu sabia, ele também me amava. Agora ele poderia ter paz.


Ao invés de ir para casa, passo primeiro no túmulo de Kyra e Silena, que estão lado a lado e já estavam enterrados há mais tempo. Coloco duas orquídeas, uma em cada túmulo e não digo nada. Dou a mão para Hasse e Dean enquanto meus pais vão à frente.

Não abro a boca o caminho inteiro e quando chego em casa, a comida já foi posta na mesa por uma empregada. Eu tinha emagrecido demais durante o período dos jogos, então não comi os pãezinhos de costume, mas peixe, eu adorava, só não gostava de tirar os espinhos. À mesa todos esquecem a tristeza e a trocam pela alegria da minha presença. Tento fazer o mesmo, mas ainda lembro do rosto calmo de Dan.

– Hasse, ficará conosco? – meu pai pergunta.

– Com toda certeza. – Ele sorri. Hasse não tinha família no distrito 7, morava sozinho na vila dos vitoriosos e tenho certeza de que adorava estar novamente em família.

– Já mandamos preparar um quarto para você, assim que Lynn venceu. – é a vez de minha mãe falar.

Fico animada por um instante, pois agora todos que eu amo estão perto de mim. Paro de ouvir todos e me concentro na comida, fazia tempo que eu não comia nada tão bom. A sobremesa é sorvete de baunilha e eu como duas vezes.

– Você tem que preparar sua roupa para a entrevista. – Dean se dirige a mim.

– Que entrevista? – pergunto, mas lembro do que eles estão falando. Todo ano o vitorioso dava uma entrevista para Caesar Flickerman. – Ah, essa entrevista.


Eu nem me lembrava disso, não estava com ânimo, mas eu era obrigada. Quando voltariam os meus dias normais?

Depois do jantar deixo todos conversando na sala e me preparo para dormir. Coloco um pijama de ursinhos confortável, e volto pra sala. Hasse se segura para não rir, isso é bem familiar.

– Boa noite. – abraço meus pais, Dean e Hasse, mas esse me beija quando tento me soltar de seu abraço. Novamente fico corada, mas sorrio e digo. – Até amanhã.


Vou para o meu quarto e me deito na cama. Era tão macia, eu sentia falta disso.

Todos os tributos estão deitados, imóveis. De seus olhos saem lágrimas de sangue.. Localizo Dan, ele está do lado de Kyra e Silena. Eles ainda estão vivos, sento-me ao lado dos meus amigos, não consigo chorar, pela primeira vez.

– Oi Lynn. – Dan fala de olhos fechados.

– Como sabe que sou eu? – pergunto.

– Você faz muito barulho. – É a vez de Silena responder, um sorriso se forma nos meus lábios, assim como nos dela.

– Já me disseram isso antes. – brinco. – Me perdoem por deixá-los morrer.

– Se nada disso tivesse acontecido, nós não teríamos te conhecido. – a pequena Kyra fala.

– Não fique se lamentando, não seja fraca. Nós te amamos e sabemos que você nos ama, óbvio que não queria que morrêssemos. Mas aconteceu. Na vida você sempre vai perder e ganhar pessoas importantes. Nós podemos não estar com você em matéria, mas estaremos sempre no seu coração. – Dan fala e sorri.

– Adeus, Lynn Snow. – todos falam em uníssono. Diversos canhões soam, sinalizando todas as mortes.

E essa foi a verdadeira despedida.

O despertador toca e acordo com um sorriso no rosto. Agora eu tive a chance de me despedir de verdade. A entrevista é antes do almoço, pois será transmitida no horário que todos estão com a televisão ligada. Levanto-me, vou tomar o café da manhã e me deparo com todos já na mesa. Bocejo e me sento.

– Dormiu bem? – Dean pergunta.

– Sim, obrigada. – sorrio.

– Preparada para a grande entrevista?


Não sei qual resposta devo dar. A entrevista é bem curta e por isso não devo temer, depois disso posso finalmente ter paz.


– Preparada. – respondo e acabo de comer meus pãezinhos.


Hasse pede licença e vai ao banheiro. Com isso, me levanto e vou para o meu quarto me arrumar. Mas antes passo no quarto de Hasse. Ele está no banheiro do seu quarto, então espero na porta. Ele abre e eu o abraço forte.

– Com essa recepção devo ir ao banheiro mais vezes. – ele diz e eu rio.

– Eu senti tanto a sua falta. – digo e lhe dou outro abraço. – Senti falta desse seu cheiro de pinheiro.

– Só disso? Não sentiu falta da minha beleza sobrenatural e nem das brincadeiras sem graça? – ele brinca e faz biquinho. – Poxa hein.

Dou-lhe um beijo e ele sorri com a resposta.

– Eu também senti sua falta. Muito mesmo. – ele fala. – Vá se arrumar, hoje é um grande dia.

– Você sabe que não precisa mais ser meu mentor, não sabe?

– Sei. – ele sorri, o que me faz derreter, e me abraça novamente. – Você acha que eu vou de terno ou de bermuda de ursinhos? Se escolher a segunda opção, você vai com esse pijama para combinarmos.

– Bermuda de ursinhos, com certeza. – brinco e saio do quarto. – Já volto.


Tomo um banho caprichado, limpo toda a tristeza do meu corpo e escolho o sabonete com cheiro de pinheiro que eu sentia tanta falta. Faço uma trança bagunçada e coloco um vestido branco rendado. Não faço maquiagem alguma, não me sinto bem com o rosto pintado. Saio do quarto e todos já estão arrumados. Minha mãe usa um vestido verde simples, meu irmão, meu pai e Hasse usam terno. Quando chegamos à porta da casa o carro da presidente nos espera. Essa entrevista deve ser mesmo importante. Sinto um frio na barriga.


O palco já está preparado, muitas pessoas já estão na platéia. Minha família se senta na primeira fila, e Hasse, como meu mentor, me acompanha até os bastidores.

– Não fique nervosa. Responda só se achar que deve, não minta, mas não diga toda a verdade. Você já vai entrar no palco. Só precisa respirar fundo.

– Eu não estava nervosa, agora eu estou. – digo.


Ele me beija e me abraça em seguida.


– Ainda está nervosa? – pergunta sorrindo.

– Não, obrigada.

– Falta só a entrevista e finalmente vai ter paz.

– Relativamente.


Um homem chega e pega no meu braço.

– Está na hora. – ele diz e me arrasta para o palco.

– Vou estar na primeira fila, lembre-se da primeira entrevista, se ficar nervosa, olhe para mim. – Hasse fala e vai para a platéia.


O homem me solta e diz:

– Entre no palco só quando Caesar te apresentar.

– Tudo bem.


Espero, as luzes do palco se acendem e Caesar sorri como uma gárgula. Sua boca está forçando um sorriso tão aberto que tenho medo que ele possa me morder.

– Vamos receber... – ele faz suspense e grita – Lynn Snow!

A platéia aplaude como nunca e eu entro sorrindo. Sento-me na cadeira ao lado de Caesar e olho para Hasse. Ele sorri de modo encorajador, como da primeira vez.

– Lynn, você imaginava que poderia ganhar os jogos? – ele pergunta.

– Não mesmo. – digo sincera. – Quer dizer, em parte eu acreditava, mas outra parte de mim dizia que eu não tinha nenhuma chance.

Ele dá uma risada e o resto da platéia também ri. Eu não disse nada engraçado, qual o motivo das risadas?!

– Vamos mostrar as melhores imagens dos seus jogos. – ele diz e eu olho para o telão ao meu lado.

Aparece o inicio, quando eu pego as armas e as mochilas, nossa primeira noite na arena, a armadilha de Kyra e sua morte, a de Silena e Tripoon, na terceira tenho vontade de fechar os olhos, não queria lembrar que eu matei aquele garoto. Uma das imagens que mais comove o público sou eu gritando por Hasse. Eu não sabia que eu podia gritar tão alto. Fico um pouco constrangida por gritar sem nada ter realmente acontecido. A morte de Dan finalmente chega, esforço-me para não chorar.

Cala a boca, Snow. – O Dan do telão diz. – Lembra-se da promessa? Se eu morrer...

– Eu devo vencer – completo, não só no telão.

A Lynn do telão fica chorando em cima do corpo de Dan até que ele morre e ela finalmente corre até Larky. A última luta foi realmente sangrenta e não tenho vontade de olhar. Quando finalmente mostra a minha vitória e o meu desmaio, o telão se apaga.

– Foi bem emocionante, não? – Caesar pergunta para a platéia.

– Foi! – todos gritam em uníssono.


O entrevistador se vira em minha direção novamente.

– O que você vai levar com essa experiência? – ele pergunta.

– Tudo. Dos pesadelos aos amigos. Eu amadureci com eles.


A entrevista continua por mais ou menos 5 minutos e as perguntas começaram a ficar totalmente ridículas e fúteis.

– Lynn Snow, primeira e única vitoriosa do Capitol Hunger Games! – ele grita e a entrevista termina.


Saio do palco sorrindo e a platéia grita meu nome. Encontro Hasse no final do corredor.

– E agora? – ele pergunta pegando na minha mão e me levanto de volta para a minha família.

– Agora teremos paz.



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Notas finais do capítulo

NÃO ME ABANDONEM, EU TO PENSANDO EM FAZER MAIS UM CAP, TALVEZ. Eu não sei, depende.