Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 25
Capítulo 25




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Gale

 Era finalmente o dia da minha chance de pedir novamente perdão a Katniss, dizer a ela o quando a morte da única pessoa que eu amava pela filha dela mostrava que eu entendia a dor de perder alguém.

 Aquela manhã começou chuvosa, como se o céu não estivesse querendo que eu a visse novamente, ignorei. Eu tinha que ir, era o dia da apresentação da vencedora dos Jogos ao povo do distrito 2, eu iria ver a pessoa por quem meu filho deu a vida.

 Eu ainda não havia superado bem a morte de Matt. Eu sentia falta do meu filho, animado de manhã, me acordando para podermos ir treinar, jogar espadas e lanças, ajudar os soldados a ficarem bons o suficiente para virarem pacificadores.

 Fiquei na cama a manhã inteira e, quando deu a hora de ir para a praça, eu estava finalmente preparado para dizer as palavras que estavam há 30 anos na minha cabeça para Katniss.

 Cheguei à praça e fiquei na primeira fila, aonde teria uma visão clara de tudo que acontecesse no palco. As pessoas se acumulavam ao meu redor, algumas até falavam comigo, pessoas conhecidas me cumprimentado ou me dando os pêsames por Matt. Eu já não aguentava mais tanta gente sentindo pena.

 Então o prefeito subiu ao palco. Ele não era uma figura bonita, mas eu não estava interessado nele. Apenas sabia que seu nome era Cendrick.

 - Bem vindos – gritou Cendrick – estamos aqui nesta tarde para ver a pessoa que superou todas as expectativas e venceu 23 tributos nos Jogos Vorazes desde ano. Mas antes de ver a grande estrela, vamos conhecer as pessoas por trás disso. Que venham ao palco, Marzuri, Peeta Mellark, Katniss Mellark, Haymitch...

 Era finalmente a hora, eu ia ver a mulher por quem fui anos apaixonado novamente. Ela subiu ao palco e não era bem a visão que eu esperava.

 Katniss estava linda, obvio. Mas havia algo errado com ela. Não conseguia andar direito, se apoiava em Peeta como se ele a estivesse segurando em pé. Estava pálida e em seu rosto havia uma expressão de dor, como se cada respiração doesse. Se vestido branco pontilhado de vermelho estava um tanto grande, devido a sua grande barriga de grávida.

 O rosto de Peeta também não demonstrava felicidade por estar ali. Segurava Katniss com certo ar possessivo, mas ele parecia muito mal, com o rosto pálido e magro, como se não comesse há dias.

 Alice foi chamada ao palco, mas nem vi como ela estava o meu foco era Katniss, tão frágil e tão perdida ali. Então os nossos olhares se cruzaram e ela abriu um pequeno sorriso, como se dissesse “é bom te ver de novo”.

 Depois de alguns minutos, Alice foi chamada para falar de Matt, o que me fez finalmente prestar alguma atenção no que ela dizia.

 - Matt era uma pessoa incrível. E não estou dizendo isso apenas porque ele deu sua vida para me salvar, mas por todas as vezes que ele havia me ajudado antes. No centro de treinamento, ele foi muito gentil comigo, e ninguém sabia disso, mas antes de irmos para a arena, ele foi ao meu quarto e me deu a sua pulseira, para que eu soubesse que ele era confiável. Disse que ninguém, nem mesmo sua família deveria chorar sua morte, pois ele sabia que não iria sair daquela arena vivo.

 Assim que Alice terminou de falar, Katniss teve um ataque. Começou a tossir muito, e logo começou a sair sangue junto com a tosse. Peeta a segurou e sussurrou algo em seu ouvido, e ela apenas balançou a cabeça afirmativamente.

 Peeta pegou Katniss no colo, e a levou do palco, mas quando estavam saindo ela olhou em minha direção e fez um sinal de quando caçávamos juntos. Dizia para eu ir vê-la.

 Sai correndo em direção ao Edifício da Justiça, derrubando todas as pessoas que estavam a minha frente. Eu tinha que saber o que estava acontecendo com Catnip, ela parecia realmente mal.

 Cheguei ao Edifício da Justiça sem ar, mas não parei para respirar até chegar ao lugar aonde os convidados deveriam ficar. Eu sabia que era o lugar certo, pois havia guardas nas portas. Tentei passar por eles, mas eram muito grandes e barraram minha entrada.

 - Deixe-me entrar – gritei a plenos pulmões, esperando que Peeta aparecesse e abrisse a porta – Katniss me chamou para vir aqui, ela quer falar comigo.

 Eu podia ouvir grito do outro lado da porta, a voz que gritava era a da minha melhor amiga, e não suportava não saber o que estava acontecendo com ela.

 - Catnip, Catnip! – gritei, ate que finalmente Peeta apareceu.

 - O que você quer? – perguntou ele, tentando parecer com raiva, mas seu rosto estava coberto por lágrimas.

 - Quando estavam saindo do palco Katniss me chamou – ela gritou novamente do outro lado da porta – O que esta acontecendo lá?

 - Quando estávamos na Capital fizemos um plano para matar a filha de Coin, que estava por trás dos Jogos, mas Katniss foi capturada e injetaram um veneno que iria matá-la assim que ela desse a luz a nossos filhos. O momento é este, ela esta morrendo.

 Senti o meu sangue virar gelo. Ela estava morrendo. Não podia ser verdade, mas então ouvi um choro de bebe vindo do outro lado da porta. Peeta se virou e disse para os guardas:

 - Ele pode entrar, não impeçam mais. Mas não deixem mais ninguém entrar aqui.

 Respirei fundo e entrei, não queria olhar para a mulher que eu ainda amava naquelas condições, então olhei para todos os outros lugares possíveis, mas todo o sangue espalhado na cama chamava a minha atenção.

 Katniss estava deitada em um sofá-cama, seu vestido agora manchado com seu sangue, Alice e seu irmão estavam ao lado dela, segurando sua mão, e uma medica estava tirando um segundo bebe de dentro dela.

 - Gale – disse Katniss fracamente.

 - Hey Catnip – eu disse, tentando conter as lagrimas que começavam se acumular em meus olhos.

 - Bom ver você – ela parecia tão fraca, não deveria estar falando.

 Neste momento o segundo bebe nasceu, Katniss gritou, mas foi um grito breve, e então começou a agonizar.

 - Katniss – gritou Peeta, deixando o bebe que estava segurando nos braços de uma enfermeira que esta ali.

 Corremos para o seu lado. Ela estava branca como papel. Seu rosto molhado de suor. A vida sendo drenada de seu corpo.

 - Eu... te... perdoo – disse ela, quase inaudível.

 - Não precisava me perdoar por nada, Katniss. Queria que soubesse que as bombas não foram projetados por mim. Era um projeto de Coin.

 - Muito... melhor... – seus olhos começaram a se fechar – eu... amo... vocês... dois... e... Peeta... cuide... bem... das... crianças...

 - Pode deixar. Eu também amo você, mais do que minha própria vida – disse Peeta, chorando muito.

 - Eu também amo você, Catnip. – consegui dizer – sempre amei.

 - Eu... já... sabia...

 E então, Katniss deu um ultimo suspiro. E seu coração parou de uma vez por todas.

 A Garota em Chamas havia morrido.

Alice

 Aqueles sim foram os momentos mais terríveis da minha vida. Nem a arena conseguiu ser mais assustadora.

 A imagem de minha mãe, agonizando e eu sem conseguir fazer nada. Só conseguia chorar. O pai de Matt estava lá, mas acho que ele não conseguiu escutar o que ela estava falando comigo.

 - Alice – disse-me ela – eu tenho muito orgulho de você. Não é para qualquer pessoa passar pelo que você passou, e ainda continuar aqui. Tentando superar e sobreviver. Você é muito especial, e lembre-se. Mesmo que pareça que não há nenhuma esperança em sua vida, eu estarei vendo você, de onde quer que eu esteja eu irei lhe mostrar a direção em que seguir, assim, como eu vejo hoje, do mesmo jeito que o meu pai fez comigo. E um dia, mesmo que não pareça, eu vou voltar para você. Será a minha prova de amor

 Eu não conseguia parar de chorar. Então assenti brevemente e apertei sua mão. Minha mãe olhou para Theo, que estava chorando mais que eu, já que ele sempre fora mais apegado a minha mãe, eu sempre fui mais apegada a meu pai. Minha mãe passou a mão no rosto de Theo, aonde lhe deixou um caminho de sangue, mas ele nem se importou.

 - Theo, você sempre foi à alegria da família, com o seu jeito engraçado de ser, mas também era muito responsável. Continue assim, você também é uma pessoa incrível. E agora eu quero que você fique no meu lugar e cuide de tudo. Mas não se julgue por falhar. Todos falham. Eu te amo muito.

 - Eu também te amo, mamãe. – não sei da onde Theo conseguiu voz para falar, mas então nós a abraçamos e olhamos seu rosto pela ultima vez, então Gale entrou no quarto.

 - Cuide de seus irmãos e de seu pai, eu sei que ele ficara perdido depois que eu me for, mas sejam fortes. – estas foram suas ultimas palavras para mim.

 Nosso irmão nasceu, e então era chegada a hora. Minha mãe começou a agonizar, mas ainda conseguiu falar algo que eu não consegui ouvir para Gale e meu pai. E então ela finalmente se foi. Minha mãe havia morrido.

 Meu pai soltou sua mão e olhou para Gale

 - Ela nunca superou a perda de Prim, mas agora eu entendo que ela nunca voltou a falar com você apenas por orgulho. Ela sentia sua falta. – disse meu pai.

 - Obrigado, isso significa muito para mim. – respondeu Gale.

 Meu pai andou em nossa direção e nos abraçou. E ficamos lá, nós três chorando. Ate que vieram buscar o corpo, que seria levado novamente para o distrito 12, e esperaria em nossa casa por nós, já que a Turnê não seria cancelada.

 Tentei ser forte. Meu pai pegou os bebes que haviam acabado de nascer, meus irmãos. Eu sabia que ele agora iria fazer de tudo para conseguir que nós 5 voltássemos a ter uma vida comum.

 - Parabéns – disse uma das enfermeiras – é um casal de gêmeos.

 - Já pensou nos nomes? – perguntou a outra.

 - A menina, irá se chamar Prim, em homenagem à irmã de Katniss. E o menino. Eu não sei Alice, escolha o nome de seu irmão.

 Eu não precisava pensar muito. Iria homenagear o melhor amigo que eu havia conseguido a pessoa que havia me protegido, me ensinado e se tornado especial para mim em apenas um mês e meio.

 - O nome dele será August.

 Meu pai abriu um sorriso fraco, mas sincero.

 - Muito bem. Katniss não suportava que chorassem por ela, e não será agora que iremos mostrar isso não é? – disse meu pai. Mas eu sabia que ele estava dizendo isso só para nos sentirmos melhor, ele não iria superar nunca a morte da minha mãe.

 - Vamos sair daqui. – eu disse – ainda tenho que passar no 1 e na Capital para finalmente podermos voltar para casa e poder começar a superar isso.

 Meu pai suspirou, pegou a minha mão e a de Theo e nos guiou ate a cama, aonde minha mãe parecia estar dormindo. Demos o nosso ultimo adeus e saímos do quarto sem olhar para trás, seguidos pelas enfermeiras.

 Fomos para um quarto separado e vestimos Prim e August, e então voltamos para o palco, para contar as pessoas estupefatas que ainda esperavam na praça o que havia acontecido.

 O prefeito chegou e perguntou-nos o que havia acontecido antes de conseguirmos falar para o publico.

 - Os bebes que Katniss estava esperando nasceram, houve complicações no parto e ela acabou não aguentando e falecendo – disse meu pai, baixo, isso era mentira, mas achei melhor não falar nada.

 - Sinto muito – disse o prefeito.

Subimos ao palco e ele anunciou o acontecido. Então fomos dispensados, apenas seriamos preparados para a festa que iria acontecer. Não que eu estivesse com cabeça para pensar nisso.

 Sai do palco e imediatamente fui abraçada por Cinna, que chorava muito.

 - Sinto muito por sua perda – disse-me ele – ela era uma pessoa incrível.

 - Obrigada, mas você a ajudou a ser a pessoa que ela era.

 - Mas vamos, vou dar um jeito em você e, quais são os nomes dos seus irmãos?

 - Prim e August.

 - E, sim, vou arrumar umas roupas para eles também.

 Fui para dentro do edifício da justiça, e lá fui encaminhada para uma sala aonde a minha estranha equipe de preparação começou a acabar com todos os vestígios de lagrimas que havia em meu rosto. Arrumaram meu cabelo, mas o deixaram solto, apenas com alguns fios brilhantes.

 Cinna entrou no quarto com Theo o seguindo. Theo estava todo de preto, a cor do luto. Vestia uma calca preta e uma camisa de seda preta também. Mas seu rosto não estava mais vermelho e com marcas de lagrimas.

 - Está na hora de voltar a ser a Princesa do Gelo – disse-me Cinna.

 Ele pegou o meu vestido, era incrível. Apesar de ser preto, o tecido era fluido e lembrava a água de um lago sob a luz do luar, que quando se mexia brilhava com uma luz pálida.

 - Eu serei a Princesa do Gelo, não irei demonstrar fraqueza nunca mais. Eu sei que sou forte. As pessoas não precisam saber o quanto as coisas me destroem por dentro, mesmo por que elas não se importam.

 - Muito bem, Princesa do Gelo. – disse-me Cinna – saiba mesmo cercada por um mundo que parece cruel. Ainda terão pessoas que iriam fazer de tudo para que você ficasse feliz. Sua mãe foi uma destas pessoas. Mas não se engane a maioria só quer se aproveitar. Saiba em quem confiar.

 Decidi naquele momento que seria a Princesa do Gelo ate encontrar alguém que me compreendesse. Cinna me deu um abraço e respirei fundo antes de sair da sala. Panem inteira estava assistindo, e eu não ia demonstrar fraqueza nunca mais! 


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Notas finais do capítulo

Eu realmente odiei o final, mas não tive capacidade de pensar em algo melhor