Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, ando meio sem tempo para postar, mas espero que gostem!



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Alice

 Tenho certeza que se Matt e Guto não estivessem lá eu teria morrido. Mesmo minha espada não teria sido suficiente contra todos os 5 profissionais que atacaram de uma vez.

 Griffor pegou a lança e começou a tentar acertar todo mundo com ela, mas acho que isso não estava dando muito certo, então ele partiu para o ataque direto a um tributo diretamente, e sim, foi para mim.

 A neve que se acumulava cada vez mais no chão dificultava tentar fugir dos ataques, era muito escorregadio. A lança de Griffor veio direto em minha direção, mas por sorte eu escorreguei na neve e consegui fugir, a lança passou raspando em minha bochecha, fazendo um pequeno corte ali. Mas consegui pegar a lança e deixar Griffor desarmado.

 Olhei ao meu redor. A situação não estava boa. August estava enfrentando Sandiri e o tributo do distrito 4, ele estava quase se rendendo, pois ele estava sem armas, então estava apenas se defendendo com o corpo, mas eu vi que ele estava quase cedendo.

 - Guto – eu gritei e quando ele olhou para mim, consegui jogar a lança que eu havia pegado de Griffor para ele, que de algum jeito conseguiu agarrá-la, então cortou o braço do garoto do 4 e lhe deu um soco na cara, que o deixo inconsciente. Sandiri atacou, mas não puder ver o que aconteceu porque Griffor agarrou meus cabelos e me levantou, então com uma das mãos pegou o meu pescoço e apertou, depois com as duas.

 Eu estava perdendo a consciência, o ar não conseguia chegar aos meus pulmões, tudo estava ficando escuro e eu escutava um zumbido incomodo em meus ouvidos. Eu estava vendo que iria morrer, até já tinha aceitado o fato, quando Griffor me soltou.

 Cai no chão e vi que ele não havia me soltado por que queria, mas estava muito ocupada tentando respirar para ver o que tinha acontecido com ele. O corte em minha bochecha doía e eu ainda não conseguia respirar direito quando levantei, Matt estava todo cheio de sangue, mas aos seus pés Geridia e Francis, a garota do 4 estavam no chão, inconscientes, assim como o tributo masculino do 4. Sandiri era a única em pé, mas em sua panturrilha havia um corte profundo e em sua cabeça havia uma marca que estava começando a ficar roxa.

 August estava atrás de mim, com Griffor de refém. Os cabelos do garoto estavam presos fortemente nas mãos de Guto e a ponta da lança estava apontada para o seu pescoço.

 Sandiri olhou para Matt, seus olhos eram mais sanguinários do que os de Fatery, e isso era muita coisa.

 - Eai garoto cinzento, vai fazer alguma coisa para salvar a sua amiguinha? – disse ela apontando uma flecha para mim.

 A noite estava muito escura, então eu contava com as sombras para que a sua mira não fosse muito precisa na escuridão, mas eu não tinha tanta sorte. A atenção de Sandiri estava entre mim e Matt, mas em algum momento enquanto ela me olhava, Matt se abaixou e pegou um punhado de neve, e começou a andar na direção da garota.

 Sandiri ouvindo os passos de Matt, que estava a quase 5 metros dela se aproximar, ela olhou para ele, apesar de a mira do arco não mudar de mim. Matt chegou a um metro e jogou a neve nos olhos dela. Saímos correndo. Griffor ainda estava meio assustado com a sensação de uma lança em seu pescoço e Sandiri tentava desesperadamente tirar a neve dos olhos.

 Chegamos a floresta e finalmente paramos, ofegantes. August estava mancando e seu ombro estava com um pouco de sangue, mas não era muito preocupante. Já Matt, tinha cortes em diversas partes do corpo e sangue escorria de um corte em sua sobrancelha direita.

 - Vocês estão bem? – perguntou Matt.

 - Eu estou bem, apenas por este corte no ombro, mas não é nada demais. – disse Guto.

 - Eu estou bem – eu disse, já que eu era a menos machucada dos três – mas você parece que vai desmaiar a qualquer momento, Matt. Venham, vamos achar algum lugar para vermos nossas armas e suprimentos e dormir.

 Andamos um pouco até que achamos uma pequena clareira em meio aos pinheiros. Paramos ali e abrimos as mochilas. Eu tinha uma lanterna, um saco de dormir, um pouco de água, algo que eu não sabia o que era, mas devia ser útil e um pouco de carne desidratada. Matt tinha água, outro saco de dormir, algumas frutas secas, um kit médio o que poderia ser bom, e um moletom que ele já havia rasgado, mas que ainda daria para usar. Guto tinha um par de meias extras, uma tocha que não seria acesa tão cedo, água, uns biscoitos e outro kit medico.

 - Durmam vocês dois, está muito frio e o Matt parece que irá desmaiar mesmo a qualquer minuto. Eu fico com a primeira vigia.

 - Eu estou bem, não preciso dormir agora – disse Matt, mas ele estava muito pálido e o seu corte sangrava muito.

 - August está certo, você não está nem um pouco bem. – eu disse a ele – durma e deixe o orgulho de lado, você fica com a próxima vigia.

Ele me olhou com raiva, mas acabou entrando no saco de dormir e desmaiou assim que se deitou. Eu estava exausta, mas ainda consegui fazer a testa de Matt parar de sangrar antes de eu finalmente dormir.

 Tive sonhos muito agitados. Eu sonhei com os meus pais em seus jogos. Obvio que eu já havia escutado as historias sobre isso, mas eu estava vendo o horror que eles passaram ali, mas depois de algum tempo o meu sonho mudou.

 Eu estava no distrito 12, mas estava diferente, parecia mais velho e acabado. Eu e Theo estávamos correndo pelo campo, quando eu vi um velho curvado sobre as raízes de um grande carvalho. Me aproximei lentamente e encostei a mão no ombro do velho. Ele se virou e pude ver que o velho era um mistura de Matt e Guto. Tinha a pele clara de Matt, os olhos multicoloridos de Guto, os cabelos eram castanhos e encaracolados.

 - Por que me deixou morrer, Alice Mellark? – perguntou-me o velho.

 - Eu não o deixei morrer, - eu disse – eu nem sei quem é você.

 - Eu sou Matt, mas também sou August. Você deixou os dois morrerem, como se não importassem nada para você.

 - Do que você está falando? Claro que os dois me importam, eu não deixei ninguém morrer.

 - Tem certeza? – o velho ergueu as sobrancelhas e eu acordei com um sobressalto, eu estava suada e não conseguia respirar direito, mas eu não sabia se ainda era efeito do estrangulamento ou do sonho.

 Guto dormia serenamente ao meu lado e achei melhor não acordá-lo. Matt estava sentado no limite da clareira, olhando a neve, que agora começava a ficar rosa com o amanhecer.

 - Está acordado a muito tempo? – perguntei a ele, baixinho.

 - A mais ou menos uma hora. – disse ele, mas ele não parecia realmente estar prestando atenção em mim.

 Olhei a neve por alguns minutos sem dizer nada, mas o sonho não saía dos meus pensamentos.

 - Se você morresse para me salvar, você iria me culpar? – perguntei.

 - Não, pois se eu morri para te salvar foi uma escolha minha e não sua culpa, mas por que a pergunta?

 - Tive um pesadelo com isso.

 - Conte-me. O meu pai falou que quando falamos sobre os nossos pesadelos, eles não se tornam mais tão ameaçadores.

 - Eu estava andando em um campo quando vi um velho que era você e o Guto juntos. Ele ficava me perguntando por que eu deixei vocês morrerem.

 Do nada, Matt começou a rir, mas era uma risada irônica, o que não me deixou nada feliz.

 - Por que está rindo? – eu exigi saber.

 - Porque o seu sonho foi muito absurdo. Primeiro não tem a mínima chance de eu e August nos juntarmos em um único corpo. Segundo, nos dois estamos aqui para protegê-la, ou você ainda acha que não? Ontem não foi suficiente? E terceiro não tem porque isso. O seu sonho foi totalmente absurdo.

 Eu ri, e me senti muito melhor. Eu não sabia o porque, mas Matt e August me faziam lembrar da minha casa. Com as brigas constantes de meus pais, que eram tão bobas que chegavam a ser engraçadas, o velho Haymitch quando estava bêbado e dava showzinhos de piadas para mim, Theo e Ian. Eu precisava voltar para isso.

 Ficamos sentados, olhando o sol nascer, manchando a neve com seus raios amarelos.

 Eu estava faminta quando Guto acordou, mas o lembramos que não poderíamos comer toda a nossa comida, então decidimos sair para caçar. O problema era achar algo para caçar no meio de tanta neve.

 Andamos alguns minutos, tentando não cair ou nos machucar, até que encontramos um bando de cervos perdidos ali, tentando achar grama para comer. Matamos um, mas os outros correram antes que pudéssemos pegar outro. Resolvemos ver as árvores, se não havia pássaros, ou até mesmo ninhos.

 Pelo menos nisso tivemos sorte, no alto de um pinheiro eu achei um ninho de pássaro com 3 ovos e conseguimos pegar 5 pássaros que voam por ai. Voltamos para a clareira e arriscamos acender o fogo, tanto para derrete um pouco de neve para tomarmos e para assar a nossa caça. O fogo era difícil de manter, mas finalmente conseguimos comer algo quente.

 De repente ouvimos um som estranho, pensei que fossem passos, mas era um pouco diferente. Olhei para meus aliados, que estavam tão desconfiados quanto eu. Levantamos, pegamos nossas coisas e subimos nos pinheiros, coisa que para mim era fácil, mas Guto e Matt estavam tendo dificuldades, já que eram muito grandes para os galhos suportarem.

 As coisas que faziam o som se aproximaram e nós pudemos vê-las. Eram a coisa mais assustadora que eu já tinha visto, era mutações. Pareciam abelhas, mas uma forma diferente, pois tinham pés projetados para andar no chão, e braços que serviriam para nadar, se fosse preciso, mas ainda tinham asas e ferrões, que eu tinha a sensação de que seriam mortais caso você levasse uma picada. Mas no rosto das mutações ainda havia um nariz de lobo, que podia farejar qualquer coisa a quilômetros de distancia.

 Tentamos subir o mais rápido possível no pinheiro, esperando que o cheiro da árvore disfarçasse o nosso próprio. Finalmente paramos a uma boa altura e vimos às mutações farejarem o ar como se procurassem algo para matar. Por um instante elas olharam para a árvore em que estávamos e levantaram alguns centímetros do chão, mas algo chamou atenção delas em outro lugar e foram embora.

 Suspiramos aliviados e descemos para o chão. O dia já estava ficando escuro, logo iríamos saber se houveram mortes hoje.

 - Acham que alguém morreu hoje? – perguntei.

 - Não ouvimos nenhum canhão, então acho que todos continuam vivos. Por enquanto – disse Guto.

 Ficamos sentados um pouco, mas eu sentia que logo teríamos que nos mover, pois os carreiristas estariam procurando por nós com sede de vingança. Era incrível que não tivessem nos encontrado ainda. Mas eu sabia que era só uma questão de tempo.

 - Vamos sair daqui. – eu disse – temos que nos mover antes que os profissionais nos achem.

 - Sim, mas vamos rápido, logo irá escurecer e será mais difícil de enxergar.

 Começamos a andar, entrando cada vez mais na pequena floresta e lutando para não escorregarmos na neve lisa. Tínhamos andado por alguns minutos quando todos os sons da floresta pararam e o hino começou. Não havia rostos no céu naquela noite. Ninguém havia morrido.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Me digam, por favor!!