O sabádo finalmente havia chegado.

Eu mal dormi naquela noite, e nem sabia por quê.

Em teoria, o plano era fácil. Eu e o Freddie não costumávamos ficar juntos na frente da minha mãe, então eu não acho nós teríamos que nos beijar ou algo assim.

Eu realmente lamentei isso, porque, por mais que eu não quisesse admitir , eu SENTIA falta dele. Muita. Nós brigávamos muito, mas sempre foi assim , bem antes da gente namorar. Eu sentia falta de como ele era doce comigo – e os beijos deles, o jeito como ele me abraçava quando estávamos juntos - aquele nerd tinha jeito pra essas coisas. Ele conseguia me deixar sem ar e totalmente confortável ao mesmo tempo, quando estávamos juntos. Não, nós nunca fizemos nada demais... Sempre que nós estávamos sozinhos, nós conversávamos até ele discordar de mim em alguma coisa, eu bater nele e ele fazer beicinho pra mim, então eu o beijava por alguns minutos e ele esquecia que estava com raiva , e nós voltávamos a conversar... Sim, era estranho, mas nós éramos estranhos. Sempre fomos.

Eu lembro o dia em que minha mãe descobriu que nós estávamos namorando: porque não contei a ela, ela simplesmente pegou a gente junto.

Nós sempre íamos pra minha casa quando a gente queria namorar em paz, isso porque minha mãe raramente estava em casa, então nós podíamos aproveitar.

A gente costumava sentar na poltrona da sala e ver TV – acho que esses sempre foram os melhores momentos do nosso namoro. A poltrona era só pra uma pessoa, então eu praticamente sentava no colo dele, e nós assistíamos uns filmes, ou pelo menos era essa a intenção. Ele passava os braços ao meu redor e eu deixava meus dedos fazerem traços em seu braço enquanto ele brincava com o meu cabelo. Era tão... Bom, gostoso, divertido. A gente não brigava, nem conversava, só ficava ali, juntos. Às vezes ele puxava o meu queixo e me dava um beijo, ou simplesmente me olhava sem falar nada.

Em um desses dias, eu perdi a noção do tempo. Eu tinha concordado em assistir “Guerra nas Galáxias” com o Freddie, e ele ficou tão feliz que quis me recompensar, então nos ficamos algumas horas a mais na nossa poltrona depois que o filme acabou.

Eu estava no meio do que eu poderia chamar de uns dos melhores beijos da minha vida quando a porta da sala se abriu e eu ouvi minha mãe gritar quando viu a gente junto.

Na verdade, a cena foi até engraçada. O Freddie ficou tão nervoso que começou a gaguejar e falar coisas como “não é nada disso que você esta pensando” e “nós só estávamos conversando”, e minha mãe veio com coisas indiscretas como “Espero que vocês estejam usando camisinha, sou muito nova pra ser avó”. No fim, tudo ficou esclarecido e minha mãe assumiu que estava feliz com o nosso namoro.

Desde aquele dia nós nunca mais ficamos juntos na “nossa poltrona”, e eu sentia muita falta disso.

O jantar estava marcado ás 08h00min – e já eram 07h30min. Eu já estava pronta (e morrendo de fome). Estava doida pra que o Freddie e o tal namorado da minha mãe (o nome dele era Mark) chegassem logo pra que eu pudesse comer.

Minha mãe ficava andando de um lado para o outro e ajeitando o cabelo a todo o momento.

As 8h03min a campainha tocou e minha mãe correu para atender. Freddie e o Mark tinham chegado ao mesmo tempo. Nerds e sua mania de pontualidade.

Minha mãe mal notou o Freddie e já jogou seus braços pra cima do tal Mark – eu mal pude ver o rosto dele. Só consegui registrar que ele era careca e alguns centímetros mais baixo que a minha mãe.

Freddie desviou deles e veio na minha direção.

- Hey , Sammy. – ele disse

- Não precisa fingir agora, minha mãe ta ocupada demais pra reparar. – Droga, ele estava lindo, de camisa pólo azul. - Então, esse é o tal cara? O que você achou dele?

- Ele parece ser um cara legal.

- Freddie, ele é CARECA! Como ele pode ser legal ?

- Sam , não se julga uma pessoa só porque ela não tem cabelo...

 Eu vi minha mãe finalmente soltando o Mark e vindo na nossa direção.

- Disfarça, eles estão vindo. – eu sussurrei pra ele.

Freddie pôs o braço no meu ombro e minha pele se arrepiou ao sentir o seu toque.

- Mark , eu quero que você conhece minha filha , Samantha – minha mãe disse

- Sam - eu corrigi , cumprimentando-o com um aperto de mão

- É um prazer te conhecer, Sam – O tal Mark disse. Ele era baixo, gordo e careca. Parecia um porquinho.

- O prazer é seu mesmo, tio.

Ele deu sorrisinho sem graça e continuou. – Sabe, sua mãe fala muito sobre você...

- Sim, aposto que fala - eu respondi – Mas eu estou morrendo de fome, será que nós podemos ir comer logo?

- Sam , onde estão os seus modos ?  - Minha mãe me xingou – Mark, esse é o Freddie, o namorado da Sam.

- Nós já nos conhecemos no elevador, Sra Puckett. – O Freddie respondeu, com toda a educação que uma pessoa pode ter.

- Agora que todo mundo já se conhece, nós podemos comer?

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