love. escrita por Taengoo


Capítulo 32
Chapter 32: Reality, Fatality




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♫ How does it feel?
         Oh how does it feel to be you right now dear?
You brought this upon
          So pick up your piece and go away from here ♪

A tragédia não é quando um homem morre. A tragédia é o que morre dentro de um homem quando ele está vivo. 

— Cascão. Jun22

[...♥...]

Magali não soube como, mas conseguiu chegar ao hospital. Ela estava muito ofegante, e não poderia estar mais encharcada. A chuva engrossou a medida que ela corria a caminho do local. Porém, pegar um resfriado era o menor dos seus problemas.

Assim que o elevador parou no andar que Dona Lurdes disse que estava, ela disparou até um dos corredores e olhou em volta, respirando com dificuldade. Estava tão desesperada pra achar Cascão que sua memoria deixou de funcionar e ela acabou se perdendo.

Por sorte ouviu:

— Magali? – Lurdes estava na sala de espera, do outro lado do corredor. Magali se aliviou um pouco ao acha-la e caminhou depressa ao seu encontro.

As únicas pessoas presentes eram ela e Cebola. Viu também Seu Antenor conversando com dois policiais em um canto. Cebola estava quase no mesmo estado que Magali, molhado dos pés a cabeça.

— Minha nossa, você também chegou encharcada, querida... por que não veio com um guarda-chuva?

— Estava com pressa – disse sem dar muita atenção a isso.

— Oi Magali, que bom que veio – falou Antenor se dirigindo até ela, enquanto um dos policiais anotava algo.

— Cadê ele?

— No quarto... – respondeu Lurdes entregando a toalha que Cebola estava usando para se secar.

— Quer entrar agora?

Magali afirmou com a cabeça rapidamente e engoliu em seco. Tinha medo que do que lhe esperava.

Cebola que ainda não tinha dito nenhuma palavra, ergueu os olhos para a comilona ao vê-la entrando.

Seu Antenor deixou que Lurdes entrasse junto. Parecia que só poderiam ter no máximo duas pessoas ali dentro.

Magali viu Cascão em uma cama, com alguns aparelhos em volta dele. Seu coração apertou ainda mais. A cada passo que dava para se aproximar, viu que o garoto estava repleto de ferimentos no rosto. Sentiu vontade de chorar.

— Como... como aconteceu isso? – ela se virou para Lurdes tendo dificuldade de engolir a própria saliva. Suas roupas e seu cabelo molhado ia pigando água por onde passava.

— Um atropelamento... a pessoa que estava dirigindo fugiu, mas por sorte teve um garoto que anotou a placa. Antenor estava contando aos policias.

— Meu deus... – Magali levou a mão boca, quando chegou a direita da cama de Cascão, observando-o. Ele dormia profundamente, e estava um pouco soado.

— Quando foi isso?

— De madrugada. Ele não dormiu em casa... e nós ficamos preocupados com a demora, até recebemos uma ligação daqui do hospital quando o trouxeram – disse Lurdes, passando a mão pelos cabelos do filho. – Hoje de manhã ele passou a ter febre... e algumas horas atrás, começou a delirar... chamava por você o tempo todo. Achei melhor te avisar.

— Fez bem... – respondeu a morena e limpou as gotas de chuva que estavam em seu rosto. – Quando ele vai ter alta? Vai poder ir pra casa hoje?

— O médico ainda não disse... fez um exames nele e disse que voltaria com os resultados daqui a pouco.

Magali assentiu e voltou seu olhar para Cascão. Ela sabia que aquele atropelamento não tinha sido por acaso. Seu amigo com certeza tinha voltado a beber, mas não quis dizer nada na frente de Lurdes. As broncas que queria dar ao sujinho teriam que ser para mais tarde.

De repente, Cascão começou a se mexer e a ofegar na cama.

— Magali... Magali... – ele murmurou o nome da comilona, enquanto virava o rosto de um lado para o outro.

A morena se assustou, e Lurdes correu para o lado de fora pra chamar a enfermeira.

— Eu tô aqui... – ela respondeu, se aproximado ainda mais do garoto. – Eu tô aqui Cascão...

Para o alivio da garota, ele pareceu mais calmo ao ouvir a voz dela e sem abrir os olhos, levantou uma das mãos com um pouco de dificuldade, para procurar sinais de alguma parte do corpo de Magali. Vendo isso, a comilona segurou rapidamente a mão dele e apertou.

Cascão sorriu.

— É você mesmo...? – perguntou quase sem conseguir falar.

— Sim, sou eu! – respondeu ela, apertando com mais força sua mão.

— Que bom... eu... q-queria...

— Shhh, não precisa falar nada agora, Cas. Só descansa...

Magali não precisou pedir duas vezes, e Cascão adormeceu logo em seguida.

[...♥...]

Cascão só foi liberado na manhã seguinte. Seu corpo doía bastante, e ele se sentia completamente indisposto para fazer qualquer coisa. Precisava de ajuda até quando precisava ir ao banheiro. Seu pai, Antenor, teve que voltar ao trabalho naquela segunda-feira, mas Lurdes se encarregou de tomar conta do filho.

Magali que tinha passado praticamente todo o dia no hospital, só voltou pra casa à noite. Explicou o que tinha acontecido para os pais, e quando subiu pro quarto, ligou para Marina. A desenhista ficou super preocupada, mas a morena a tranquilizou quando disse que ele não tinha sofrido nada grave. Ela não quis comentar com a amiga sobre sua suspeita de que Cascão provavelmente tinha sido atropelado por estar bêbado. Não tinha provas, e mesmo que fosse verdade, ela não tinha o direito de se meter na vida do garoto mais do que já tinha feito.

Já dera suficiente conselhos a Cascão, embora ele não os seguisse.

No dia seguinte, quando chegou no colégio, várias pessoas se reiunaram para falar com Cebola quando ele chegou. E algumas pessoas também foram até Magali procurar saber o que tinha acontecido com Cascão, já que eles dois foram os únicos que estavam presentes no hospital.

Mônica quando descobriu sobre o acidente do amigo, ficou furiosa. Ninguém tinha lhe dito absolutamente nada, e ela só soube por Aninha, que soube por Titi, que soube por Cebola. Claro que umas das primeiras coisas que Magali pensou em fazer quando chegou ao hospital, foi ligar para Mônica, porém desistiu no mesmo instante, se lembrando que tinha sido bloqueada por ela.

Estava chovendo muito mais forte naquela manhã, então no intervalo, Marina e Magali procuraram se esquentar na biblioteca. Também porque era o único lugar que a comilona se sentia a vontade de conversar com Do Contra, já que não tinha ninguém por perto. Ele a seguiu assim que a viu sair da cantina.

— E a policia conseguiu encontrar o babaca que estava dirigindo? – perguntou ele quando os três se sentaram em uma mesa perto da janela.

— Acho que ouvi alguma coisa sobre ter encontrado o carro dele em uma esquina... parece que o homem parou em um bar logo depois – suspirou Magali.

— Só podia ser um bêbado mesmo – exclamou Marina, balançando a cabeça. – Ele podia ter matado o Cascão!

— Podia mesmo... – concordou Do Contra.

— É, mas ele já foi preso e graças a Deus o Cascão está bem... falando nisso hoje ele recebe alta... você não se importa se eu for até a casa dele depois daqui, não é? – Magali perguntou olhando para o moreno.

— Não, pode ir – respondeu ele, alisando o braço dela.

Marina não pôde deixar de sorrir com aquela cena.

— O que foi? – perguntou Magali sem entender o motivo do sorriso repentino.

— Nada, só estou feliz de ver vocês juntos assim... vem cá, então é oficial?

— Oficial o que? – perguntaram os dois ao mesmo tempo.

— Isso – disse apontando para eles. – Estão namorando, certo?

Magali e Do Contra se entreolharam, depois desviaram a atenção para outro lugar.

— A gente... não parou pra pensar nisso ainda – respondeu Do Contra, e tossiu.

— Como não? – Marina franziu a testa. – Achei que depois que toda aquela história envolvendo a Mônica terminasse, vocês iam assumir. Não era esse o propósito?

— Está cedo ainda Marina... – disse Magali corando. – Deixa as coisas irem devagar como estão.

— Tudo bem mas, se não são namorados, o que vocês são, afinal?

— N-não precisa de titulo!

— Claro que precisa! – rebateu a desenhista.

— Somos dois amigos coloridos! – disse Do Contra pra finalizar aquele assunto constrangedor. – Pronto, taí o seu titulo. Agora podemos mudar de assunto?

Magali respirou aliviada, e Marina tentou segurar a risada. Adorava provocar aqueles dois

[...♥...]

Assim que bateu o sinal da ultima aula, Magali foi a caminho a casa de Cascão. Do Contra pediu para ir com ela, mas ela achou melhor que ele fosse sozinho, e em algum outro horário para evitar comentários.

Assim que chegou lá, Lurdes a recebeu com um sorriso e um abraço apertado. Estava feliz de ver a comilona pois ela praticamente não quis sair do hospital até Cascão acordar.

— Você veio em um bom momento – disse acenando para Magali a seguir. – Ele não quis tomar café, nem almoçar... talvez você consiga convencer aquele teimoso que precisa comer.

— Ele já tá melhor?

— Um pouco sim – o sorriso da mulher sumiu, e Magali sentiu que havia algo estranho em sua voz. Parecia preocupada. – Faça com que ele coma tudo, está bem? – Lurdes entregou o prato para a comilona e ela assentiu com a cabeça.

Magali bateu duas vezes na porta, mas não foi preciso esperar, pois ouviu Cascão dizendo que estava aberta.

A garota entrou no quarto com um enorme sorriso, e assim que o sujinho bateu os olhos nela, deixou a sua revistinha do capitão pitoco cair sobre o colo.

— Magá? – disse se endireitando na cama.

— Oi – ela respondeu, deixando sua mochila perto da porta e se aproximando dele. – Como está?

— Tive dias melhores – disse ele fazendo uma careta.

Ela riu baixo e se sentou na ponta da cama.

— Sua mãe me disse que o senhor não quer comer.

— Não estou com fome...  – disse olhando com nojo para o prato nas mãos da garota.

— É sopa de legumes – ela entregou o prato para ele. – Deve está uma delicia. Por que não prova?

— Depois, depois... – respondeu, colocando a comida no criado-mudo.

Magali lançou um olhar de reprovação, mas decidiu relevar.

— Como foi que você se meteu nessa, hein? – perguntou ela, sorrindo. – Deixou todo mundo preocupado, sabe? Quase que mata seus pais.

— Vai ver é minha sina... viver perigosamente... – disse e riu.

— Não tem graça, Cas. Você podia ter morrido, tem noção?

— Tenho – seu sorriso sumiu e ele encarou o teto. – Tenho sim... me desculpa.

Magali negou com a cabeça e soltou um risinho pelo nariz.

— Não... você realmente não tem noção – ela suspirou e se aproximou mais dele, para tocar em seu rosto. – Doí?

— Sim... um pouco. – Cascão engoliu em seco, tentando não se contorcer quando ela apertou de leve um ponto da sua testa com o dedão.

O sujinho percebeu que aquele movimento fez os dois ficarem muito próximos. Mesmo que Magali tivesse acabado de chegar da escola, podia sentir o perfume dela com intensidade. Sua respiração começou a elevar a cada segundo que a morena passava os dedos sobre o seu rosto. Ele não conseguia tirar os olhos dela por algum motivo.

Sonhara com Magali várias vezes aquele noite, e na noite anterior, e na anterior. Era como se não tivesse tendo nenhum sonho diferente. Sempre o mesmo. E em todos Magali estava. Por semanas. Cascão teve esperança que aquela “queda” que estaria sentindo por ela fosse embora com o tempo, mas não foi isso que aconteceu. Ao contrário, ele se via pensando na morena com tanta frequência, que achou que estivesse ficando doente.

Apesar de ter prometido de que nunca mais iria beber, foi tentado a fazer quando já não aguentava mais ver aquele sorriso de Magali toda vez que fechava os olhos.

Ela estava tão perto.

— Ai!

— Opa, desculpa... – ela tirou imediatamente a mão dali, mas Cascão foi mais rápido e a segurou.

Magali não tinha reparado que o olhar do seu amigo estava diferente agora. Cascão a encarava de outra forma.

— Cascão... o que foi...?

Quando ele estava prestes a responder alguma coisa, uma música irritante começou a tocar bem alto, fazendo os dois pularem de susto.

— Foi mal, foi mal! – ela levantou com pressa e foi até a mochila. Tirou seu celular dali, desesperada para desligar aquele som quando viu a cara de impaciência que Cascão estava fazendo. – Pronto, pronto! A-alô? Oi mãe... sim, eu vou pra casa almoçar... não, eu não vou demorar... vim ver o Cascão, mas já estou indo pra casa. Aham, aham... ok tchau.

Ela soltou um longo suspiro e voltou a sorrir fraco.

— Era a minha mãe... pediu pra eu ir pra casa.

Cascão afirmou com a cabeça, parecendo meio desapontado.

— Ela desejou melhoras.

Magali voltou a se sentar perto dele e pegou o prato no criado-mudo.

— E por favor toma essa bendita sopa! Eu prometi pra sua mãe que você iria comer tudo...

— Ah não Magali...

— Ah sim Cascão! – a morena tentou entregar nas mãos dele, mas ele apenas virou o rosto e cruzou os braços como um menino de cinco anos.

Ela decidiu então apelar e fazer aviãozinho, forçando a colher entrar em sua boca. Pela resistência que ele estava fazendo, as vezes acabava manchando sua camisa. Magali ria da sujeira que o amigo estava fazendo, e como consequência, ele também.

Cascão pareceu querer cooperar de repente e tomou a sopa inteira, dada por Magali na boca.

Quando ela se levantou para ir embora, ele a chamou.

— Você vai voltar?

— Claro que eu vou voltar – ela disse e os dois sorriram.

Lurdes agradeceu imensamente a Magali por ter feito Cascão tomar toda a sopa. A comilona chegou a achar um exagero já que o sujinho ia acabar comendo de qualquer jeito no fim. Mas por alguma razão a mulher estava bastante interessada em que seu filho comesse alguma coisa.

— Tem alguma coisa errada...— pensou Magali durante o caminho pra casa. 

[...♥...]

~ 15:23 ~

Como prometido, Magali voltou naquele mesmo dia a casa de Cascão. Lurdes atendeu, e pediu para Magali fechar a porta quando entrasse, correndo de volta para cozinha dizendo que tinha deixado o fogão ligado, sem notar que Magali trazia consigo um embrulho de pano nas mãos. 

Dessa vez ela não bateu na porta, e quando abriu, seu sorriso desapareceu.

Mônica e Cebola estavam ali. Cada um de um lado da cama, conversando alegremente com o sujinho. Assim que a viu, Mônica fechou a cara.

— Ahm, desculpe... eu... eu não sabia que...

— Bom, Cas – a dentuça se levantou da cadeira e beijou a testa do amigo – eu vou indo. Amanhã eu volto pra te ver. Fica bem, tá?

— Mas já Mônica? Por que não fica mais um pouco? – perguntou Cascão.

— Eu... – Mônica lançou um olhar rápido para Magali depois desviou. – Eu tenho um monte de dever pra terminar. Deixei muita coisa pra ultima hora... mas eu volto, sim? Tchau Cebola.

O careca fez um aceno com a cabeça e baixou o olhar, parecendo também chateado com a ida da garota.

Quando Mônica passou por Magali, a morena sentiu vontade de dizer que ela podia ficar, e que mais tarde passaria ali, mas não conseguiu. Sem nem ao menos olhar para a comilona, Mônica foi embora.

Soltando um grande suspiro de derrota, Magali tomou o lugar onde Mônica estava sentada.

— Desculpa por não ter feito ela ficar, Magá... queria muito que vocês voltassem a se falar.

— Eu também, Cas... eu também... – disse olhando para o teto.

— Mas todos sabemos que isso não vai acontecer tão cedo, não é mesmo? – comentou Cebola, se levantando.

— Como assim, careca?

— Nada não, nada não... – ele disse encarando Magali, que retribuía com uma certa tristeza no olhar por estar sendo condenada por ele também. – O que é isso ai? – ele apontou para o colo da garota.

Só ai que ela se lembrou do que trazia.

— Ah – voltou a sorrir para o sujinho. – Eu e minha mãe fizemos pra você quando cheguei em casa.

— Uau! – ele exclamou quando abriu o pote. – Pudim... era tudo que eu precisava... você não sabe as coisas que minha mãe anda me obrigando a comer dês de que você saiu.

— Ok, mas não exagera... – disse ela. – Não quero ser a culpada de outra ida sua ao hospital.

— Humm – Cebola meteu a mão no pedaço que Cascão ia levar à boca, e comeu. – Tá realmente bom – disse com a boca cheia. – Pelo menos uma qualidade encontramos em você, certo?

Magali se mexeu na cadeira onde estava e olhou para o lado.

— O que há com você, Cebola? – perguntou Cascão irritado. – Não já basta a Mônica, vai ficar você também contra a Magali? O que ela te fez afinal?

— Ué, eu não falei nada demais... – ele respondeu pegando mas um pedaço do doce e caminhando até a porta. – Vou beber água.

— Vá mesmo! E com açúcar, pra ver se acalma esses seus nervos!

— Deixa ele, Cas... – disse Magali tocando em seu braço. – Tá tudo bem.

— O Cebola está muito nervosinho esses dias. Você soube da briga que ele arranjou com o DC na semana passada?

— Soube.

— Queria saber o motivo... pela Mônica com certeza não foi...

— Ahm, eu não imagino o que seja...Enfim, está melhor? – perguntou, tentando mudar de assunto.

— Ainda meio dolorido... – disse ele consertando sua almofada – aproveitando que você está aqui, fecha essa janela pra mim? Tentei mas não consegui, e estou congelando.

— Ué, por que não pediu pra Mônica ou ao Cebola?– Magali se levantou e foi até a janela.

— Esqueci.

A morena teve um pouco dificuldade para conseguir abaixar o vidro. Subiu na cadeira e no final obteu sucesso. Quando começou a fechar as cortinas, ouviu:

— Minha mãe me disse que você ficou o tempo todo no hospital do meu lado, ontem.

Magali se virou, e viu Cascão olhando para frente, um pouco sério.

— Ahm... – disse, e desceu. – Sim, fiquei... ela me ligou depois que você...

— Chamei pelo seu nome. É, eu sei disso também.

— Você estava delirando de febre... – ela disse, sentando ao seu lado, no mesmo lugar que estava da ultima vez. – É normal chamar pelos amigos, dizer coisas sem sentido, etc.

— Talvez... – ele suspirou e finalmente olhou nos olhos da comilona – mas e se não for isso?

— Como assim?

— Eu não acho que te chamei só causa da febre... eu acho que... eu realmente quis você ali.

Magali abriu um pouco a boca, mas não disse nada. Ela sabia o que Cascão estava querendo dizer com aquilo tudo.

— Magali... – ele começou, apertando os olhos. – Eu achei que ia conseguir, mas eu ainda não te esqueci. E sei que a gente combinou de nunca mais tocar nesse assunto, que eu ia lidar com isso sozinho, afinal você não tem culpa de nada... mas esse acidente me fez repensar várias coisas. Eu não posso continuar vivendo assim... calado.

— Cascão...

— Espera – ele a interrompeu, fechou os olhos e tornou abri-los. – Eu sei o que você vai dizer. Nós somos amigos. Melhores amigos, e que nunca daria certo.

Magali concordou com a cabeça.

— Eu sei disso tudo e talvez seja verdade... mas a gente nunca vai saber se não tentar.

— Cas o-olha só... a gente não pode... olha só pra Mônica e o Cebola... eles...

— Esquece a Mônica e o Cebola, Magali. Não somos eles. Aqueles dois são orgulhosos demais, e eu nunca terminaria com você por besteira.

A comilona estava começando a se desesperar. Cascão estava realmente falando sério, e ela não sabia o que fazer.

— Mesmo assim... Cascão... nossa amizade vale muito mais do que uma relação, entende isso...

— É claro que eu entendo. Mas eu preciso dessa prova... eu preciso. Percebi que a vida é curta demais. Não vale a pena sentir medo de coisas que nem vivemos. E pode dar muito certo, mas nunca vamos saber se a gente não tentar!

Magali engoliu em seco.

Cascão continuou encarando-a e posicionou a mão sobre o rosto macio dela.

— Não precisa responder nada agora... mas eu quero que você ao menos pense um pouco no que eu to te pedindo.

— O que você tá me pedindo é uma loucura – respondeu ela, baixando o olhar.

— Não, não é... você sabe que não é... dá certo com tantas pessoas, por que daria errado justo com a gente? – ele disse, sorrindo.

Magali não conseguiu sorrir. Estava cansada de passar por tantas coisas ao mesmo tempo, agora mais essa.

Prestes a negar, e dizer que não iria fundo com aquela ideia de ficar com Cascão, a porta se escancarou com violência e eles se afastaram.

— Magali! O Cebolinha chegou na cozinha comendo alguma coisa e disse que você trouxe para o Cascão?! Cadê? – Lurdes entrou olhando para todos os lados.

Os dois franziram a testa sem entender nada e Cascão ergueu o pote que estava ao seu lado.

Lurdes pegou o doce rapidamente e olhou para eles apreensiva.

— V-você não comeu? Comeu?

— Não... o Cebola não deixou – disse dando de ombros. – Ei, fica calma mãe... era só um pedaço. Eu sei que tenho que ficar um tempo sem comer besteiras, mas não é pra tanto.

— Você não pode comer besteira, nem hoje, e nem nunca mais! – ela disse, parecendo histérica.

Cebola apareceu no quarto, com o olhar mais confuso do que o dos amigos.

— Desculpa Dona Lurdes – disse Magali se pondo de pé, constrangida. – Eu que fiz, achei que o Cascão ia gostar... não sabia que ele estava proibido de comer.

— Não, tudo bem querida... eu só...

— Mãe, qual o problema? Por que a senhora e o meu pai estão agindo estranhos desde que voltamos pra casa?

— Só queremos cuidar da sua alimentação, Cascão... obrigada pelo doce, Magali. Mas ele será confiscado.

— Mas... – Cascão tentou protestar, mas parou quando viu seu pai entrando no quarto com as roupas do trabalho.

— Lurdes... é melhor contar pra ele de uma vez.

— Mas Antenor, agora? – ela fez uma cara de choro, mas o pai continuava firme.

— Sim. Não podemos esconder isso dele por muito tempo.

— Esconder o que? Do que vocês estão falando? – perguntou Cascão impaciente com o mistério que os pais estavam fazendo.

Eles se entreolharam por um minuto, em seguida Lurdes voltou seu olhar para o filho e se sentou perto, segurando as duas mãos dele.

— Filho... quando você estava no hospital, o médico fez um exames em você pra ver se estava tudo certo.

— Ele achou até bom que tivesse acontecido tudo isso, porque... bem, descobrimos uma coisa – continuou Antenor.

— Que coisa?! – ele perguntou, nervoso.

Magali e Cebola prestavam atenção a conversa no canto do quarto bem quietos, embora achassem que não deveriam estar ali.

— Filho... você está com diabetes.


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