Por Toda A Eternidade escrita por Giinossaura
Ok. Os irmãos deles eram legais, mas eu fiquei desconcertada com o Char. Tinha algo naquele garoto que estava me deixando confusa. Eu sentia que o conhecia. Eu sabia. O irmão dele quando me viu melhor ergueu uma das sombrancelhas. Eu me senti intimidada com esse ato.
-Charlotte... Eu te conheço. Tenho total certeza disso. Você é a garota da livraria da cidade. Não é?
-Eu não me lembro. Eu não me lembro de nada.
-Estranho. -Disse Susana. - A primeira vez que viemos aqui, ainda nos lembrávamos das coisas. E concordo com Pedro, você não me é estranha.
-Gente.... Vocês estão sobrecarregando a Char. -Disse Edmundo e pos a mão no meu ombro. Ok, as coisas começaram a ficar estranhas.
Lucia percebeu que eu fiquei desconfortável e se ofereceu em me levar ao quarto que seria meu, já que agora eles não poderiam me deixar sozinha. Ela me pegou pela mão, mas a mão de Edmundo escorregou até minha cintura e ele apertou-a. Decididamente, tinha que me afastar dele. Ela me levou até o alto da escada em silêncio e me levou até a última porta à direita.
O quarto era grande e confortável, tinha uma cama esculpida com colchão de folhas e um armário na parede direita. Ela fechou a porta e me pediu para sentar na cama. Definitivamente, confortável.
-Edmundo gostou de você.
-Eu percebi...
-Você não parece feliz.
-É que... Toda vez que alguém se apaixona por mim, eu fujo. E não sei...
-Não faça isso. Você seria a primeira namorada dele, e como estamos em Nárnia, ele finalmente acharia sua rainha.
-Ele nunca se casou?
-Não. Várias princesas se candidataram, mas ele disse que queria a garota da livraria. -Ela riu.
Ele me conhece. Se Pedro e Susana disseram que eu trabalho numa livraria, e eu me lembro apenas de livros, então eu sou a garota da livraria.
-Você também se lembra de mim?- Pergunto num sussurro à Lúcia. A intenção não era sair num sussurro, mas saiu.
-Sim. Fui várias vezes à livraria para chamar Edmundo pra ir jantar. Ele sempre ia lá para te ver. Mas você é muito atarefada. Até onde sei, você arruma as prateleiras. E a livraria é grande. E Ed é tímido demais para ir falar com você. Tem uma menina na livraria que gosta dele. Ela nunca deixou ele ir falar com você.
-Mas vocês me conhecem apenas da livraria? O uniforme dele não me é estranho.
-Você estudou lá por dois anos. Edmundo queria que eu e Susana fossemos falar com você por ele.
Não pude deixar de rir com esse comentário. Ele era mesmo tímido. Lúcia continua me contando mais algumas coisas engraçadas sobre a família até ouvirmos alguém bater na porta. Ela se abre e lá está Edmundo, com roupas normais de rei. Ele sorri. Eu sorrio e abaixo a cabeça. Lúcia se levanta e eu olho suplicante para ela ficar. Ela ri.
-Ed, o que você acha de mostrar o último andar à Char?
-Ahh.... Seria legal, vamos? -Ele estica a mão e eu a pego. Ele entrelaça os dedos nos meus e eu não posso evitar o rubor. Agora eu começava a me lembrar dele.
Me lembrei que uma vez, numa tarde de inverno, caía uma forte nevasca. Eu estava com botas, calça jeans sobre a grossa meia calça de lã, três casacos, cachecol e ainda batia os dentes. A livraria estava congelante. A porta se abriu e eu virei para ver que deixara meio quilo de neve entrar. Era ele. Usava enormes casacos e touca. Ele tinha um casaco de tricô colorido nas mãos e ainda tinha etiqueta da loja. Ele havia acabado de comprar. Ele me olhou, abaixou a cabeça e foi até o caixa. Ele disse algo rápido para meu pai, o dono da livraria, que o olhava carrancudo. Após meu pai rugir com ele, ele o entregou o casaco e foi-se embora. Meu pai encarava o agasalho e me chamou. Ele me entregou o casaco e disse que aquele garoto havia mandado. Foi aquele casaco que me salvou do frio aquele dia.
Ao me lembrar disso, não pude evitar sentir que estava em dívida com o estranho garoto que frequentemente ia à livraria. Apertei a mão dele enquanto subíamos a escada. Ele sorriu e quando chegamos ao topo da escada, senti sua mão indo até minha cintura. Naquele momento tive uma certeza: eu gostava dele, desde o casaco.
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