Burlesque escrita por Rita de Cássia


Capítulo 4
Alice


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi... ♫



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PDV. Bella:

Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!

Uma buzina alta e grave, de provavelmente um caminhão, me fez cair da cama. Acordei assustada, pensado que algo grave poderia ter acontecido e fui ver na janela. E o que eu vi me deixou doida de raiva: O caminhoneiro estava apenas tentando chamar a atenção de uma loura na rua.

Filho da mãe.

Voltei para cama, mas, para a minha infelicidade, eu não estava mais com sono. Então fiquei me revirando na cama pelo menos meia hora, até desistir e ver que horas eram. Oito horas da manhã. Eu não fazia ideia se era muito cedo, mas decidi me arrumar e procurar uma padaria pelo quarteirão. Tomei um banho com a água gelada para despistar qualquer tipo de sono que viesse a aparecer e troquei de roupa. O dia estava ameno, então decidi usar apenas uma camiseta e uma causa jeans. Prevenida, coloquei o meu All Star, caso andasse muito. Botei uns brincos e uma pulseira que ganhei de Anna, no meu aniversário anterior. Para não ir de “cara limpa”, passei apenas um pouco de gloss labial e eu já estava pronta. Rapidamente, peguei a bolsa que estava ao lado da cama e saí do quarto.

 No hotel eles ofereciam café da manhã, almoço e jantar, mas eu aproveitava cada oportunidade para desvendar essa cidade maravilhosa. Quando eu desci do meu quarto, notei que a maiorias das pessoas também já haviam saído dos seus quartos e se dirigiam ao restaurante do hotel, em busca do seu café-da-manhã. Desviando o caminho delas, eu fui logo para a rua, onde a sensação de liberdade me atingiu prazerosamente. Apesar do pouco tempo em que eu estava aqui, eu sentia que já amava a “Cidade dos Anjos”. Eu comecei a andar distraidamente pelas ruas, pensando no que fazer hoje, até que eu notei que havia chegado ao Subway. O mesmo que eu havia ido ontem. E voltado com o Edward.

Noite passada, eu até pensei, por uns instantes, em ligar para ele. Mas, acima de tudo, eu prezava a minha segurança. Por mais que eu me sentisse um pouco ridícula, eu não poderia confiar em um cara que eu conheci há menos de 24 horas. Mas, que foi tentador, aaah… Isso foi.

Obriguei-me a voltar meus pensamentos para o presente, e, já que eu estava lá, eu podia tomar o meu café por lá sem problema nenhum. Mas, uma coisinha mínima dentro de mim, sussurrava outra coisa. Algo que juntava o nome de Edward e a palavra reencontro. Sentei-me em uma mesa e esperei que um dos atendentes viesse anotar o meu pedido e aproveitei também para comprar um jornal de uma marca diferente do de ontem. Eu precisava de novas ofertas de apartamento. Enquanto o meu café expresso e a minha baguete não ficavam prontos, abri o jornal novamente à procura da sessão de aluga-se. A maioria dos alugueis eram os mesmo que eu havia visitado ontem, mas é claro que havia algumas exceções. Quando o meu café-da-manhã chegou, eu pedi para que o atendente se pudesse, me emprestasse uma caneta por alguns minutos. Ele pegou uma caneta que estava no seu bolso e me ofereceu. Com isso, eu fiquei marcando todos os lugares em que eu poderia procurar um quarto decente e barato.

Depois de ter marcado todos os lugares possíveis no jornal, fui ao balcão devolver a caneta. Mas, distraidamente, acabei esbarrando em uma pessoa. Imediatamente, a sensação de deja-vú apareceu para me dar um oi, e, por um instante, desejei para que fosse Edward. Uma coisa realmente estúpida de se desejar.

- Vê se olha por onde anda garota! – uma voz masculina, num tom irritado quebrou o silêncio.

Respirei fundo, estrangulando o grito de raiva. Raiva ao cubo porque primeiro, o homem realmente parecia bastante irritado; Segundo, por conta da minha falta de atenção constante, acabei causando uma confusão; E terceiro, e ainda mais revoltante, eu estava decepcionada por não ter sido com Edward.

Estúpida – repreendi-me mentalmente.

- Desculpe-me – respondi, com vontade de me chutar. Ainda estava revoltada.

Pela primeira vez, olhei diretamente para o homem. Alto e moreno, tinha um claro parentesco indígena. Estava vestido com um terno azul marinho e seus cabelos eram cortados perfeitamente. Ele exalava poder e rigidez. Ele olhou para mim, me medindo com os olhos, fazendo com que eu me sentisse desconfortável, uma ninguém. Depois de alguns segundos, ele apenas deu um “humf” e foi em direção ao caixa.

Praticamente morta de vergonha, tratei logo de sair de lá e com uma promessa mental de procurar outro lugar para comer quando estiver com pressa. Saí do Subway sem coragem de olhar na cara de qualquer pessoa que passasse na minha frente. Aquele homem havia me deixado constrangida com o tamanho do seu desprezo e ignorância.

Quando saí do Subway, olhei no meu relógio de pulso e ele marcava nove horas. Perfeito! – pensei. À uma hora dessas tudo já estava devidamente aberto, sem contar que hoje eu tinha um bom pressentimento. Eu tinha certeza de que hoje arranjaria um apartamento decente.

Três Horas Depois...

- É oficial! Desisto! – gritei feito uma louca no meio de uma rua, para mim, desconhecida.

E era verdade. Durante três desgastantes horas, eu procurei um apartamento que fosse. Mas era sempre os mesmo. Ou muito caro, ou muito sujo ou até em lugares perigosos demais para se morar. Eu sinceramente que ria encontrar um lugar em que eu me sentisse, no mínimo, em casa. Acho que teria que me contentar com o hotel... Lá pelo menos, era mais barato que certos alugueis que eu vi. Decidida a voltar para o hotel e almoçar, recomecei a andar e depois de alguns metros, vi uma coisa que me deixou um pouco curiosa.

Em um beco, um homem imprensava uma mulher fortemente na parede. No começo eu achei que eles estavam apenas trocando um amasso – e, diga-se de passagem, bem pesado. – quando a mulher virou o rosto em minha direção. Ela parecia não me olhar e depois eu fui notar o por quê. Ela estava chorando. Estranho... Tentei olhar com mais atenção te que notei uma coisa que fazia bastante diferença naquela cena.

Ele estava bêbado.

Nesse exato momento, pude sentir o mundo parar de rodar. Uma nuvem densa de lembranças que, a todo custo eu tentava apagar da minha cabeça, um passado sofrido e pavoroso, imagens que toldavam os meus olhos, me coração começou a bater mais rapidamente e imediatamente a minha respiração se acelerou. Havia tanta confusão, tanta dor...

Fui despertada de minha semi-letargia, quando ouvi a voz abafada e arrastada do homem.

“- Vai dar uma de difícil agora, docinho? Eu te vi ontem à noite e não consegui esquecer... Agora eu vou ver se você é tão deliciosa quanto parecia...”

“- Não, por favor!” – sussurrou a garota, que se debatia inutilmente, já que estava imobilizada pela força do homem.

“- Vadia.”

Notei que eu ainda estava parado no mesmo lugar e que havia passado apenas segundos desde quando entrei no beco. Também reparei que, em meio às lágrimas, a garota pareceu ver que eu estava lá e moveu seus lábios em um silencioso “Me ajude”.

Em Elwood, por ser uma cidade pequena, o índice de criminalidade era quase nulo. Mas, agora vendo o problema, literalmente, de frente, eu sentia que não poderia apenas virar as costas e deixar aquela pobre garota em apuros. Maldito extinto de proteção.

Ainda com o coração trovejando no meu peito, respirei fundo tentando lembrar algumas cenas de briga dos filmes de ação que eu já havia assistido. Tudo parecia ao mesmo tempo fácil e ridículo, então optei por uma coisa mais prática. Olhei para o chão procurando algum tipo de coisa que eu poderia usar para tentar incapacitar o agressor. O beco estava um pouco úmido e estranhamente escuro, para uma hora daquelas da manhã. Havia sacos de lixo e pedaços de madeira jogados no chão. Não pensei duas vezes antes de pegar um pedaço mediano de madeira e tentar ir silenciosamente em direção a garota. A cada passo para frente que eu dava, meu coração seguia um ritmo cada vem mais forte e minhas mãos suavam e tremiam. O medo quase me fez dar meia volta e seguir o meu caminho.  Isso acontecia sempre, não acontecia? Pessoas eram atacadas a todo segundo. Mas eu também não podia deixar de pensar que aquela garota só teve a infeliz sorte de está no lugar errada e na hora errada.

Continuei caminhando até chegar a praticamente meio metro do homem, que estava de costas para mim. Inspirei fundo silenciosamente e levantei o pedaço de madeira acima da minha cabeça. A garota ainda olhava para mim quando o homem pareceu notar a direção do olhar dela e se virou. Não vi outra chance e o golpeei com toda a força a sua cabeça.  O homem caiu no chão, com um gemido estrangulado de dor e nessa hora eu soube que só poderia fazer uma coisa. Olhei para a garota que ainda tremia, colada a parede e disse:

- Corre!

Saímos correndo em disparada, pois talvez, a qualquer momento o homem poderia acordar e sabe-se lá o que ele poderia fazer. Eu já tinha corrido o muito e mais uma vez, agradeci mentalmente em ter botado o meu All Star. Correr com saltos não era muito confortável. Já estava a pelo menos uma quadra de distancia, num lugar menos movimentado, quando decidi olhar para trás. Grande erro.

A única coisa que eu senti, foi o meu corpo sendo praticamente lançado para frente e caindo no chão. A primeira pessoa que eu pensei que fosse obviamente foi o bêbado. Mas como? Era para ele ainda estar desmaiado, quiçá morto. Não fazia ideia se a batida na cabeça dele poderia ter sido grave. O pânico me tomou por alguns segundos e eu sabia que dessa eu não ia sair ilesa. Mas tudo tomou um rumo diferente quando eu ouvi:

- Por que você parou de correr?

Oi?

A minha respiração que estava presa, coisa que, misteriosamente eu nem sabia que estava, se soltou em uma arfada audível. Olhei para cima, e vi que quem havia me atropelado, era a garota do beco. O alívio que senti foi tão grande que eu soltei um palavrão baixinho. Meredith iria me matar se ouvisse isso.

-Posso falar se você sair de cima de mim... – respondi.

De repente, a garota pareceu notar que ainda estava por cima – literalmente – e saiu rapidamente de mim, ajeitando as suas roupas em seqüência. Tentei me levantar e a garota me ajudou, estendendo a mão, par que eu pudesse pegar força e me apoiar.

- Me desculpe. Eu não havia notado que você havia parado de correr – falou ela, com um sorriso culpado em seu rosto. – Que jeito maluco de se agradecer, não é? Você salva a minha vida e eu faço você se machucar.

- Machucar? Mas eu não estou machucada. – respondi.

A garota inclinou um pouco o rosto para o lado e cerrou os olhos. Eu a fitei assustada.

- Verdade. Não está. – Ela respirou fundo. – Ainda bem. Eu tenho o estômago fraco para sangue e também não seria nada legal se eu machucasse a minha salvadora.

- Eu acho que salvadora requer mais coisa. – Falei tentando ajeitar as minhas roupas. - E não foi nada. Qualquer um faria a mesma coisa...

- Você está errada. Antes de você entrar no beco, passaram três homens. E você pode adivinhar o que eles fizeram... Nesse caso, o que eles não fizeram.

Fiquei chocada. Não era possível que ninguém tenha tido um pouco de coragem para ajudá-la. Isso Era tão... Errado. Eu queria falar alguma coisa, mas apenas consegui fazer papel de idiota abrindo e fechando a boca como um peixe fora d’água.

- Não precisa falar nada. Eu que tenho que te agradecer. Muito, mais muito obrigada mesmo por ter me ajudado naquela hora. Eu nunca vou esquecer a sua atitude. – ela falou segurando firmemente as minhas mãos. – E, por falar nisso, qual é o seu nome?

- Isabella. Mas pode me chamar de Bella. – decidi falar o meu nome verdadeiro para ela. Ela me transmitia certa confiança.

- Bella, já que eu estou em dívida com você, que tal se eu te pagasse um almoço? Já está tarde e eu ainda não almocei. Está com fome?

- Bem para falar a verdade, eu iria agora para o hotel almoçar e...

- Ótimo! – ela interrompeu. – Eu conheço um lugar onde nós podemos almoçar e ainda é bem baratinho. Vamos.

Ela não esperou eu aceitar o convite e começou a me puxar. Eu podia não conhecer ela, mas sabia que ela não era o tipo de pessoa, que não aceitava um não como resposta, então decidi acompanhá-la. Durante o caminho, começamos a conversar e nesse meio tempo aprendi algumas coisas sobre ela. Ela tinha 21 anos e tinha nascido em Los Angeles. Morava sozinha e trabalhava em uma boate como dançarina. Ela era adotada e nunca tinha conhecido os pais biológicos. À medida que ela falava mais sobre ela, eu comecei a contar algumas coisas sobre mim. Assim como eu, Alice tinha uma verdadeira compulsão por compras e quando ficava nervosa falava muito. Alguns minutos depois, estávamos entrando em um pequeno, porém aconchegante restaurante. Depois que já estávamos acomodadas, eu fiz uma pergunta que já estava me deixando ansiosa.

- Alice, não tem naquela hora em que eu entrei no beco? – ela olhou para mim interrogativamente, mas assentiu. – Eu ouvi um pouco do que ele havia falado e... - pausei, tentando encontrar a palavra certa. – Bem, você o conhecia?

- Humm... Conhecer, conhecer, eu não conheço. Apenas o vejo às vezes no clube em que trabalho. Nunca pensei que ele fosse fazer esse tipo de coisa.

- Qual é o nome dessa sua boate? – perguntei curiosa.

- The Lounge Burlesque. Na verdade, lá era um antigo teatro que faliu. Esme, a dona, comprou e reformou-o.

- Nossa... Deve ser enorme.

- Enorme e lindo. Majestoso, pra dizer a verdade.

- Dá para ver que você gosta muito de lá.

- O Burlesque é a minha vida. Não faço ideia do que faria se não estivesse lá. E um lugar apaixonante.

- Com você falando desse jeito, dá até vontade de ir lá. – comentei sorrindo.

- Boa ideia! Vou te dar o endereço e você pode aparecer lá e ver algumas apresentações. O que acha?

- Eu acho que iria ser ótimo.

Continuamos a conversar até que o nosso pedido veio. Alice era uma pessoa de fácil comunicação e às vezes bastante elétrica. Eu notei que ela falava do emprego dela com verdadeira devoção. Ri bastante dos momentos engraçados que aconteciam, como, por exemplo, alguém esquecer a coreografia ou cair no palco. E a cada minuto eu ficava mais curiosa para ir a essa boate. Depois do almoço convidei Alice para que fossemos dar uma volta. Eu realmente tinha sentido uma empatia muito forte por ela. Infelizmente, ela disse que não poderia porque tinha que ensaiar algumas coreografias para as apresentações de hoje à noite. Mas, antes de ir, ela me deu o endereço da tal boate, se despediu, ainda murmurando um “muito obrigada por mais cedo...” e foi embora.

Assim que ela saiu, não demorei muito e também sai do restaurante com a intenção de voltar para o hotel e descansar. Eu estava passado por mais coisas do que poderia imaginar em apenas 48 horas.

___________

Ponto de Vista: Esme

- MAIS ONDE DIABOS TÂNIA SE METEU? – perguntei já estressada.

Estresse. Uma boa palavra e que podia muito bem caracterizar a minha vida agora. A dançarina principal da boate ainda não tinha chegado para ensaiar a nova coreografia; Havia dezenas de roupas que eu deveria ajeitar; Organizar o Burlesque para abrir hoje à noite; Sem falar em contas, contas e mais contas... Eu estava sobrecarregada.

- VOCÊS ACHAM QUE EU SEI LER MENTES OU O QUÊ? DÁ PARA ALGUÉM ME RESPONDER?

As garotas estavam encima do palco se alongando e pararam para apenas negar. Ninguém sabia onde Tânia estava e isso me deixou ainda mais nervosa. Ninguém também parecia se importar que eu estivesse gritando feito um general no exercito. E de certa forma, eu gostei disso, porque eu não gostaria que elas ficassem chateadas comigo, afinal, todas elas eram como uma família para mim.

Mais a raiva que vinha do estresse era ainda um sentimento predominante e então eu tentei me acalmar. Sabia que não conseguiria fazer nada estressada.

- Tá certo. – falei com a voz mais amena. – Coco, se Tânia não vier nos próximos cinco minutos, você vai se apresentar no lugar dela.

Courtney – Coco, no caso – ficou euforia com a notícia e começou a ensaiar os passos com mais determinação. Todas ali queriam tanto destaque quanto Tânia e essa era uma ótima oportunidade.

- Ah, e tem mais uma mudança. Eu falei ontem com Aro e nós dois concordamos que esse esquema de grupos de dança não vai mais funcionar. Selecionaremos aleatoriamente as dançarinas, mas isso não significa que alguém não irá dançar.

- E você esqueceu mais um tópico querida – disse Aro andando até a minha direção. – Eu tive uma ideia genial. Eu ai falar para você ontem, só ficamos muito ocupados...

- Sem rodeios...

- Tá. Que tal se elas começassem a dublar as músicas que dançam?

- Dublar? – repeti confusa.

- Exato. A música toca, junto com o áudio e elas apenas fechem os lábios, como se fossem elas mesmas que estivessem cantando... É ou não é uma boa idéia? – finalizou Aro, com um ar de “eu sou demais”.

Ignorando o seu ar de Einstein, eu tinha que admitir que fosse uma ideia interessante. Muito interessante.

- Huumm... Meu pequeno Newton, se, mas apenas se, eu concordasse com essa sua ideia, quando isso tudo iria ficar pronto?

- My Lady... Ficará tudo pronto para hoje mesmo.

Desfiz o sorriso.

- Como assim?

- Essa ideia já vinha fervilhando na minha cabeça há algum tempo. Então eu tomei a grande iniciativa de preparar tudo antes e depois contar para você.

- Essa eu demorei um pouco mais para entender. Então quer dizer que você iria me falar apenas quando as garotas já estivessem no palco cantando?

- Dublando – ele frisou. – E não. Eu iria te contar ontem a noite esqueceu?

- Certo, certo. E o que você mais esqueceu para o novo show?

- Então quer dizer que eu estou com um ok? – perguntou Aro, desconfiado.

- E eu lá tenho escolha? Se eu disser não é capaz de você e todas as meninas me assassinarem... Às vezes nem parece que eu sou a dona...

-Oh mulher exagerada! Agora vamos parar com o vale das lamentações e escuta o êxtase da minha ideia: Que tal se a minha estrela voltasse a brilhar?

- Perdão? – falei sem entender nada. - Estrela? Brilhar? Decodifique, por favor.

- Simples: Eu quero que você seja uma das apresentações principais. Você vai lá para a palco dan...

- Não. – Interrompi. – Nem pensar.

Mas você nem me deixou terminar de falar!

- Exato. Olha Aro, eu gostei muito da sua ideia de fazer algo novo pelo clube e tudo mais, mas isso já é demais.

- Mas a ideia é per...

- Não - interrompi novamente. – Aro, quem é que vai pagar para ver uma velha doida dando uma de dirty dancing?

- Você ainda nem chegou aos 35 e já está tendo crise da meia idade...

- Para ter crise de meia idade tem que ser bem mais velho... No mínimo...

- Não estou nem aí para isso. – ele me cortou. – É obvio que você não vai seguir a coreografia das garotas. Você vai ter uma especial.

- Isso é tudo desespero atrás de dançarinas? Se for isso, eu faço um anuncio no jornal e tudo mais... Não podemos chegar a esses extremos...

- Posso deixar para rir depois? – ele revirou os olhos. – Agora dá para me deixar terminar a minha ideia ou eu vou ter calar essa inda boquinha com fita durex?

Dessa vez, eu revirei os olhos.

- Se você gosta de gastar saliva, continue...

- Obrigada! Como eu estava dizendo, você vai lá para o palco dançar e cantar!

Soltei uma gargalhada.

- Definitivamente não.

- O quê?! A ideia é perfeita!

- Não você é louco! Faz ideia de quanto tempo eu não seguro um microfone? Que ao menos canto?

- Cantar é que nem aprender a falar: Todo mundo sabe. Só tem algumas pessoas que não tem a sorte de falar... Digo, cantar, tão bem. Mas você tem esse dom e pode usá-lo a nosso favor.

- Aro, a minha época como cantora acabou.

- Mas, Esme, você nunca pensou em reviver os seus dias de glória? “A Voz de Ouro” ou então “Sucessora de Marilyn Monroe”?

De repente, fui jogada a um avalanche de lembranças da qual eu tão obstinadamente tentava esquecer. Tudo parecia tão mais fácil a 10 anos atrás... “A voz de Ouro”, meu apelido, era citado em todas as rádios e programas de TV... Em uma época em que todas as minhas músicas eram hit’s... Numa época em que pessoas morreriam por apenas um autógrafo meu...

- Esme... Esme...? – Acordei dos meus devaneios com Aro, que continuava de frente para mim, estalando seus dedos bem perto do meu rosto.

- Quê? Dá pra tirar seus dedos de frente do meu rosto?

- Aleluia! Pensei que você iria ficar com essa cara de peixe morto para sempre...

- O quê?

- Eu disse que você tem que ver o lado brilhante da minha ideia! Isso vai trazer mais pessoas para o Burlesque, Esme! E é isso que nós estamos precisando! De mais público.

- Você não está entendendo, Aro. Eu prometi a mim mesma que não seguiria por esse caminho novamente...

- Não. Você é que não está entendendo. Eu não estou dizendo pra você sair atrás de um empresário e uma gravadora para gravar um CD. Eu só queria que você cantasse, pelo menos uma vez a cada dia aqui. Como se fosse um tipo de “Seja Bem Vindo”. Nada mais, nada menos.

- Aro... – tentei argumentar, já sem forças.

- Esme... Você sabe muito bem que nós temos que tentar todas as nossas armas para conseguir voltar aos tempos de glória desse nosso lugar. O Burlesque merece voltar a brilhar. E você também. Vamos. Dê-me uma oportunidade. Dê ao nosso clube essa oportunidade. Dê a si mesma uma oportunidade.

- Aro... Por favor... Não faça isso comigo... – choraminguei. Odiava quando ele vinha com esse discurso motivador. Odiava pelo simples fato de sempre conseguir me motivar.

- Sinto muito, mas já fiz. E se você não aceitar agora, eu vou ter que emendar mais frases animadoras que eu pesquisei na Internet. Tá preparada?

- Tá Legal! Você ganhou! Eu faço o que você quiser. Só pelo amor de tudo que é mais sagrado, fica longe do computador! No mínimo pelo resto da sua vida!

- Não prometo nada baby... Agora vem que eu tenho que te explicar tudo.

- Ah! Ainda tem mais?

- Dããh! Ainda tenho que te mostrar o figurino, a coreografia, as músicas...

- Certo. Então vamos ao meu escritório organizar isso direito antes que eu mude de ideia.

- É pra já chefinha!

Revirei os olhos novamente. Aro às vezes podia ser muito infantil. Fomos em direção ao meu escritório conversar melhor essas apresentações. Ele tinha mesmo tudo preparado. Desde as fitas com as canções até as coreografias. Notei que um tipo de planejamento desses, levaria no mínimo meses e perguntei para ele como e quando ele tinha pensado isso.

- Acredite se quiser, mas eu tive um sonho. Não, eu não vou começar um discurso digno de Martin Luther King. E sonhei com tudo isso Esme, com todos esses detalhes que eu acabei de te falar. Quando eu acordei, escrevi tudo o que eu sonhei e depois organizei pacientemente até ficar desse jeito. Isso faz no mínimo, uns... Quatro meses? Cinco no máximo.

- E você ficou me escondendo isso durante todo esse tempo?

- Se eu tivesse te falado na hora, você com certeza nem teria me deixar terminar de falar. Como você fez ainda agorinha.

Bufei. Ele me conhecia bem demais.

- Ok. Você vai parar de me recriminar agora? Eu aceitei essa sua loucura genial. Agora vamos pensar na apresentação de abertura. O que eu vou ter que cantar? Etta James como a maioria?

- Não. Você é exclusiva, amor. Você se lembra do barman loiro? O Jasper? Pois é. Ele conhece um cara...

- Por favor... Dá pra encurtar isso? Eu estou quase me arrependendo...

- Aff... Em miúdos, um cara já escreveu a música e a melodia que você ira cantar.

- Mas, como você consegue isso? Sério! Você é humano?

Aro se aproximou ainda mais da minha mesa, e quando o seu rosto estava bem em frente ao meu, ele soltou uma gargalhada e disse:

- Você nunca vai saber...

Não resisti ao impulso de revirar os olhos.

Aro se levantou e foi em direção a porta.

- Agora eu tenho muito trabalho a fazer. Daqui a pouco, você passa lá no palco que eu vou te ajudar com a coreografia e a música, ok? Bejinho! – ele terminou, fechando a porta.

Agora eu que estava sozinha, a ideia de Aro parecia assustadora. E se não desse certo?

Mas eu tinha que tentar. Afinal, aquela era uma das únicas esperanças que o Burlesque tinha de continuar existindo. Abri umas das gavetas da minha mesa e lá estavam elas. As contas do banco. Fechei a gaveta com força, jurando a para mim que iria lutar até o fim e com todas as minhas forças para ficar com o meu clube.


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Notas finais do capítulo

Voltei!! E mais cedo do que eu mesma imaginava!
E aí, o que vocês acharam do capítulo? Novos personagens chegando, mais confusões se formam no horizonte... Tanta história para rolar! Eu sinceramente estou adorando escrever essa história. Parece que quanto mais eu escrevo, mas nova eu fico! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Espero que tenham gostado e que comentem... Sinto falta da opinião dos meus leitores... :(
Nosso próximo encontro vai ser semana que vem, ok?
Boa semana para todas! ♥



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