Tear Flower escrita por Daijo


Capítulo 4
Capítulo 4 - Porque nós temos um triste destino


Notas iniciais do capítulo

Atualizando o/

Essa história era para ser uma shortfic, com no máximo 4 capítulos... Mas por causa da temática dela, acabei pensando melhor e decidi transformá-la em uma longfic.

Nas notas finais, eu deixei um link para um playlist no youtube com músicas instrumentais. Eu gosto muito de escutá-las enquanto vou escrevendo a fic. Então, se alguém curtir...

Obrigada pelos reviews anteriores e vamos ao capítulo!
Boa leitura



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O homem gesticulava ao seu companheiro, enquanto mantinha uma conversa impaciente em dialeto chinês. Uma jovem japonesa serviu-lhe o chá, um pouco receosa de seu tom, apesar de não entender o que era discutido na sala.

O outro chinês tentava argumentar com seu senhor, respeitando, no entanto, a hierarquia posta sobre eles. Quando a criada desapareceu do cômodo, o mais velho bateu o chawan* sobre a mesa, irritado.

- Eu sabia que era arriscado confiar neles! – reclamou, mirando seu subordinado. – Depois de todos esses anos aqui, foram esses os tipos de pessoa que você conseguiu reunir?!

- Xiãnsheng*, por favor, tenha um pouco mais de paciência. – O homem abaixou a cabeça, reforçando seu pedido. – Um deles me trouxe uma notícia interessante...

- Que seria...?! – interrompeu, enquanto ordenava em um gesto que o outro erguesse seu rosto para encará-lo.

- O general Li Syaoran está aqui... Em terras do Clã Tsukishiro.

- O que?

O velho aprumou-se no tatame, esperando que o subordinado continuasse. Não era uma surpresa que o antigo general pisasse em terras japonesas, uma vez que seu trabalho agora se resumia em acompanhar nobres mercadores em negociações econômicas entre os dois territórios. O que lhe surpreendeu fora o local em que se instalara.

- Eu ouvi do daimyô* daqui. – explicou, regozijando-se internamente por capturar o interesse de seu mestre. – Parece que está acompanhando um comerciante importante da capital.

- Por isso estão em terras dos Tsukishiro? – indagou, enquanto alisava sua barba alva, pensativo – Os Tsukishiro tem uma estreita relação com o Clã Tokugawa*... Você sabe o que isso significa?

O mais novo não respondeu, embora tivesse certeza que compartia as mesmas ideias que passavam pela mente de seu senhor. A família Tokugawa era uma das mais importantes do território japonês, que vinha ascendendo aos poucos.

- Li Syaoran sim pode ser útil aos nossos planos. – concluiu o velho, soltando uma rouca risada.

***

Sakura caminhava apressadamente pelos corredores da parte oeste do Okiya. Logo pela manhã recebera um recado de sua superiora, passado por uma ansiosa Akemi. Prontamente, a gueixa se arrumou e ignorando o desjejum, seguiu para seu compromisso.

A mulher parou diante do fusuma e esperou que uma aprendiz que aguardava do lado de fora, o abrisse. Ao vê-la, a garota de dezesseis anos, abriu uma brecha do portal, de tamanho suficiente para que a mais velha adentrasse com delicadeza.

Ao entrar, Sakura abaixou o rosto em uma reverência. Diante de si, uma senhora a olhava atentamente, com uma expressão impassível no rosto. Seus olhos, no entanto, sorriam diante da figura que viera até seu quarto.

- Okami-san*, desejava me ver?

- Sim, Sakura... Por favor, sente-se.

A gueixa obedeceu, ajoelhando-se no tatame depois de sua superiora. A proprietária do Okiya depositou um chawan com chá sobre a mesa, oferecendo-o silenciosamente para Sakura. A mais jovem aceitou sem cerimônia; chá de pêssego sempre fora seu favorito.

- Ouvi que Tsukishiro-dono visitou-lhe durante a madrugada - Fuyuki-sama tomou um gole do próprio chá, olhando para a gueixa em seguida. – Você o serviu bem?

- Claro, Okami-san – a mais nova também sorveu um pouco do líquido adocicado, ansiosa com rumo que aquela conversa poderia tomar.

- E então, você aceitou o pedido dele?

Sakura encarou Fuyuki-sama, que por sua vez observava-a com uma expressão astuta. A gueixa depositou o chawan sobre a mesma, com um leve suspiro.

- Não. – respondeu simplesmente, provocando um pequeno sorriso na proprietária.

- Eu realmente não sei se me alegro ou me entristeço com sua teimosia, pequena flor.

Sakura sorriu com o comentário. Ela poderia imaginar o dilema em que sua Okaa-san vivia, entre perder umas das principais atrações da casa a custa de mantê-la presa ali. Apesar de ser a dona do Okiya, Fuyuki-sama não era uma mulher má. Ela tinha muito apreço por suas garotas.

- Okami-san, eu tenho um pedido... Eu gostaria de ir ao mercado esta tarde. – Sakura inclinou parcialmente o tronco durante o pedido, sentido um frio percorrer seu estômago. – Eu gostaria de comprar um novo kimono.

Alguns minutos se passaram, enquanto sua superiora considerava o pedido. Tais minutos pareceram eternidade para a gueixa, que cruzara os dedos por debaixo da mesa. Ela queria sair de sua prisão por um momento, queria encontrar com o guerreiro chinês.

- Por acaso... Você quer agradar algum cliente? – A Okami-san franziu o cenho, curiosa.

Sakura corou diante do comentário. Sua Okaa-san nunca fora fácil de enganar. A pequena flor, como era chamada carinhosamente pela mais velha, já desanimava, quando sua superiora voltou a se pronunciar:

- Você pode ir ao mercado, desde que leve sua minarai* junto – Fuyuki-sama voltou a sorrir, para a surpresa de Sakura. – Eu acho que o Tsukishiro-dono vai gostar desse agrado.

A gueixa sorriu nervosamente com a observação da outra. Ainda sim, sentiu seu interior agitar-se com a permissão que lhe fora concedida. Se tudo ocorresse como planejara, ela se encontraria novamente com Li Syaoran, naquela tarde.

***

Aquela sensação lhe perturbava. Enquanto caminhava por entre as barracas da vila, Li Syaoran podia sentir uma sombra seguindo seus passos. Seus anos de treinamento lhe permitiam perceber coisas sutis como aquela.

Sem demonstrar sua desconfiança, o guerreiro adentrou em uma das lojas que adornavam a rua principal. Syaoran cumprimentou em silêncio o vendedor e rumou direto para os fundos da loja. Surpreendeu-se ao notar que estava no mesmo estabelecimento que visitara no dia anterior.

Logo, as amostras de seda, flutuaram diante de seus olhos mais uma vez. Cedendo ao seu desejo interno, o chinês aproximou-se dos tecidos que lembravam sua nação... E também lhe faziam pensar na jovem japonesa, que de certa forma lhe encantara.

Li roçou os dedos em um dos cortes de seda. Sentiu em suas pontas a suavidade da peça, imaginando se a pele da gueixa teria o mesmo toque. E foi com essa dúvida em mente que ele a viu.

Entre os leves tecidos pendurados, uma mulher permanecia parada, observando como eles se movimentavam com a brisa que vinha de fora. Mesmo com os tremulantes cortes de seda, Syaoran conseguiu reconhecer a figura feminina através da transparência dos panos.

Era Sakura, a mulher de temperamento tempestuoso que ele encontrara na noite anterior. O homem deu um passo automático em direção a ela, que não percebeu sua aproximação.

- Pensei que nos encontraríamos apenas no ocaso... – sussurrou perto do ouvido dela, parando rente as suas costas.

O guerreiro sorriu ao vê-la sobressaltar-se com sua repentina aparição. Mas tal como era, a gueixa tratou de recuperar-se, voltando a atenção para a peça de seda que analisava antes de ser interrompida.

- Foi o que eu pensei – ela murmurou em resposta, fingindo estar mais interessada no tecido de cor amarela. – Por acaso... Houve algum imprevisto e Li-dono veio cancelar o nosso compromisso?

Syaoran sorriu, levando uma das mãos a mesma seda que Sakura acariciava. A japonesa sentiu o coração agitar-se enquanto seus olhos seguiam a mão do guerreiro. Os dedos dele foram traçando um caminho pelo pano, em direção aos da gueixa.

- De maneira nenhuma... Eu apenas estava dando um passeio pelo mercado e acabei entrando nessa loja.

Li podia sentir a ânsia que apontava em seu interior. Estava tão próximo de experimentar a sensação de tocá-la.

- Então... – Antes que a mão do chinês a alcançasse, Sakura inclinou o tronco, abaixando-se parcialmente para passar por baixo do tecido amarelado. – Posso acreditar que nosso encontro aqui seja apenas uma coincidência?

A mulher ficou finalmente de frente para o guerreiro, mesmo que estivessem separados pela seda semitransparente. Syaoran permaneceu um tempo atônito, enquanto observava a expressão marota que brincava na face da gueixa.

- Sim, uma coincidência... – recuperou-se, esboçando um leve sorriso, divertido com agilidade de Sakura. – Creio que estamos destinados. Coincidências... É a nossa quarta vez...

Li afastou a seda para o lado, divisando o rosto da mulher com mais clareza. Sakura não mascarou sua surpresa diante da fala dele. Em sua cabeça, contou quantas vezes eles haviam se encontrado daquela maneira.

O primeiro encontro no Okiya... A noite anterior, enquanto ela praticava com seu shamisen... Aquele momento. Eram apenas três...

O guerreiro chinês sentiu mais uma vez aquela incomoda sensação. Ainda o observavam.

- Por que... Oh, que está fazendo?! – Antes que Sakura pudesse tirar suas dúvidas com relação aos seus encontros, Syaoran agarrara-lhe a mão repentinamente, puxando-a pelo emaranhado de tecidos coloridos.

- Vamos adiantar nosso compromisso...

Li guiou-a até a saída da loja, levando-a para o meio do mercado. A gueixa não prestara muito atenção no caminho pelo qual ele a guiava. Naquele momento, ela só conseguia sentir a mão dele junto a sua.


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Notas finais do capítulo

Chawan - Utensílio para se preparar e beber chá
Xiãnsheng - senhor (em chinês)
daimyô - senhor feudal (Japão)
Clã Tokugawa - uma família daimyô poderosa do Japão.
Okami-san - dona, proprietária
minarai - aprendiz de gueixa. Aprende observando uma gueixa já formada.
Okaa-san - Na história, Sakura se refere a Fuyuki como Okaa-san por ela ser a dona do Okiya, cuidando de todas as outras gueixas.

Playlist instrumental: http://www.youtube.com/playlist?list=PL1eCC_9GkhKPcBZ2-qrHJe4mN6hGTKiye