Marcada Por Erik Night escrita por Roberta Matzenbacher


Capítulo 12
Capítulo doze


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas aqui está.Ando ocupada, por isso não consegui postar antes, mas estou adiantando uns capítulos e em breve (em breve mesmo!) vou postar a continuação.Bem, estamos chegando ao final da fic, ou nem tanto, mas eu gostaria de finalizá-la logo, pois a cada vez mais me decepciono com a saga House of Night. E antes que eu jogue tudo para o alto em frustração vou finalizar o que comecei, afinal não posso deixar vocês na mão né?!Obrigada pelos puxões de orelha, por sinal, se não fossem vocês eu teria esquecido completamente de continuar.Façam isso quantas vezes acharem necessário!Ah, o capítulo ficou grande, mas vocês merecem!Boa leitura.



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Eu estava nervoso. Muito nervoso, realmente.

Encarar de perto a garota pela qual eu tanto admirei platonicamente foi difícil. Eu quase joguei tudo para o alto e me afastei, dando uma desculpa qualquer para ir embora. Eu podia até mesmo procurar sua colega de quarto, Stevie Rae, e pedir para que ela ajudasse Zoey a enfrentar essa situação. Estava prestes a dizer, juro. Porém, algo em sua expressão surpresa e singela me impediu. Ela em nada parecia a mulher sexy de minutos atrás, pelo contrário, estava abatida, deprimida. Algo estava errado. Eu não podia deixar que uma barreira estúpida como o meu medo me impedisse de chegar ao meu objetivo, que era conhecê-la, confortá-la, ser solícito. O cara gostosão e seguro de si, que costumava perambular pela House of Night pegando a garota que quisesse se encontrava em algum lugar muito longe dali, eu era agora um amigo com o qual ela podia realmente contar.

– Você está bem? - disse por fim em um tom calmo e preocupado, o que em nada revelava a minha confusão interior. Resolvi que ser educado seria a escolha mais adequada para começar o assunto, já que meu cérebro parecia derretido ou, sei lá, torrado. Eu era um idiota!

– Sim, estou bem - ela rapidamente respondeu - De fato, estou ótima.

Para todos os efeitos, - e por mais estranho que pudesse parecer - repentinamente, tive a estranha vontade de rir. É claro que não o fiz, mas mesmo assim. Só mentalmente. Zoey sentia-se de qualquer forma compreensível, menos ótima. Aquela mentira era normal entre garotas, eu sabia. Elas sempre tentavam mascarar seus sentimentos para parecerem bem perante os outros. Eu não sabia o real motivo daquilo, talvez para não incomodar ninguém, ou para não se sentirem tão fracas; eu só sabia que seja lá qual fosse o motivo, não valia muito à pena. Mas fazer o quê? Já que cabia a nós, pobres servos de seu poder de persuasão, a tarefa de consolá-las, por que não fazer isso logo e de bom grado?

– Você não parece ótima. - Revelei o óbvio. E num impulso impensado de coragem perguntei - Importa-se se eu me sentar?

Ela mal olhou para mim quando disse:

– Não, pode ficar à vontade. - Suspirei em alívio. Pelo menos ela permitira minha aproximação, o que já era um bom começo.

Não perca as esperanças, Erik!

Sentei-me devagar, preparando qualquer diálogo para debater com ela, o que, na teoria, era simples, mas nada aplicável na prática. Pensei em começar falando sobre o problema com Afrodite e o sangue na taça, porém logo preferi não dizer, afinal o assunto era um pouco pesado e ela parecia tão frágil...

Ela interrompeu meus delírios internos depois de alguns instantes, porém, com um assunto que não poderia me chocar mais.

– Caso você não tenha percebido, fui eu quem presenciou aquela ceninha entre você e Afrodite ontem no corredor - Ouch! Senti a frase como um golpe no meio da cara.

Não poderia ser um pouquinho mais direta?

Viu? Disse uma vozinha irritante dentro da minha mente. É nisso que dá sair escondido com Afrodite para "conversar" sobre o rompimento em um corredor escuro. Desdenhei a mim mesmo, a maldita vozinha tinha razão.

Mas, pensando bem... O que eu poderia fazer? Eu sabia que ela sabia que era eu naquele corredor com Afrodite - que frase bizarra, hehe - não havia razão para mentir, afinal.

– Eu sei, e lamento que tenha presenciado. Não quero que faça uma ideia errada de mim - Surpreendi a mim mesmo revelando tudo o que eu realmente sentia em uma jorrada só.

Se eu fosse esperto o suficiente, jamais teria falado algo assim. Desconversaria sutilmente e, por fim, acabaria mudando de assunto, apressado, para dar um fim ao constrangimento que o tópico escolhido causava. Mas como eu era um retardado e não estava a fim de mentir para ela, acabei falando tudo. Eu quis verdadeiramente revelar meu único sentimento puro: o de redenção.

– E que ideia seria essa? - ela questionou. Eu não consegui decifrar se ela estava realmente interessada ou me esnobando. Pensando melhor, a segunda opção poderia ser a mais apropriada na minha situação. Mesmo assim, decidi continuar tentando fazê-la mudar de ideia ao meu respeito, apesar de eu saber que seria absolutamente complicado.

– Que exista entre Afrodite e eu algo além do que realmente há - respondi calmamente, mas por dentro eu rezava para ela se convencer de que eu realmente não tinha nada com Afrodite.

Por Nyx, eu preciso da aprovação dessa garota! Se eu estava ficando maluco? Sei lá, o que eu sabia era o fato de que eu faria de tudo para apagar a péssima impressão minha deixada rudemente nela.

Ela não facilitou, porém.

– Não é da minha conta - respondeu.

Acabei dando de ombros, incomodado. O que mais eu poderia dizer depois disso? Agora, minha reputação estava em suas mãos, para ela me tratar da forma que quisesse, conforme seu próprio julgamento. Eu poderia dar mais mil desculpas: que Afrodite era insistente e pegava no meu pé; que a olhei com nojo àquela noite, depois do que fez à Zoey, por isso a repudiava ainda mais... Ou, que também havia presenciado uma cena nada agradável entre ela e Heath (Heath, que nome de gay). Enfim, poderia falar desculpas incontáveis, mas preferi ficar calado e não revelar nenhuma delas. Eu não precisava jogar sujo desse jeito.

E, além do mais, creio que ela sabia de todas aquelas coisas.

– Tudo bem. Então vocês não estão ficando. - Ela disse finalmente.

Eu me surpreendi com sua rápida aceitação, sério. Já pensava que tinha perdido meu tempo tentando convencê-la do contrário, de que, realmente, eu e Afrodite não tínhamos mais nada e ela não precisaria ficar com nojo de mim por aquela cena lamentável no corredor. Não revelei meus sentimentos de assombro, apesar de tudo. Continuei encarando o espaço à minha frente, mas sem realmente enxergá-lo. Eu pensava em outras coisas, coisas mais importantes.

Agora que tínhamos, aparentemente, colocado todas as principais confusões em pratos limpos, pensava se eu teria a liberdade de conversar sobre o que me levou a procurar Zoey, em primeiro lugar. O sangue no vinho era um assunto que a apavorou tremendamente, e fiquei inseguro quanto a voltar a falar sobre ele, principalmente quando ela finalmente pareceu se acalmar e parar de chorar. Nem o seu nariz estava mais vermelho.

Fiquei com tanta raiva de Afrodite por ter colocado Zoey naquela situação, que acabei não conseguindo me segurar.

– Afrodite não lhe contou sobre o sangue no vinho. - minha voz pareceu um rosnado, a fúria mascarada me consumia internamente, mas eu a guardaria para depois. Afrodite ainda não tinha escutado tudo o que eu queria lhe dizer.

Ah, mas ela iria me ouvir, cada palavra!

– Não. - ela respondeu, confirmando o que eu já sabia.

Eu balancei a cabeça devagar, concordando com a sua afirmação.

– Ela me disse que ia te contar. Disse que contaria quando você estivesse mudando de roupa, para que você pudesse deixar de beber se não quisesse.

Tentei ao máximo soar calmo, mas com a tensão acumulada pelo ódio que sentia de Afrodite, mais o pensamento repentino, e inconveniente, de Zoey trocando suas roupas foi extremamente complicado.

– Ela mentiu - novamente, Zoey confirmou o que eu já sabia.

– Nada muito surpreendente - disse afinal.

– Você acha? - Ela perguntou irritada, o sarcasmo escorria de seus lábios nervosos como labaredas incandescentes quase tocáveis demais. Eu me afastei um pouco. - Isso tudo está muito errado. Elas me pressionam para ir ao Ritual das Filhas das Trevas e me fazem beber sangue sem saber. Depois, encontro meu ex-quase-namorado que é cem por cento humano e nenhum desgraçado me avisou que a mínima gota de sangue me transformaria num... Num... Monstro.

Eu teria palavras muito melhores para traduzir ao que Zoey se transformou quando bebeu o sangue daquele humano babaca. Matadora, mordaz, musa... Essas estavam no topo da lista, mas nada disse a ela sobre isso. Apenas fiquei lá, dando uma de professor retardado enquanto morria de vontade de mudar de assunto, para que ela não ficasse tão irritada e triste. O seu dia já estava aparentemente uma merda, mas, pensando melhor sobre o assunto, explicar à Zoey sobre tudo isso poderia ajudá-la a resolver seus problemas, que eram muitos. E assim ela não precisaria contar para sua colega de quarto, se não quisesse.

– Ninguém lhe explicou porque esse tipo de coisa não era para começar a acontecer antes de você entrar no sexto ano.

Como eu sabia que aconteceria, obtive uma resposta semelhante a "Ahn?". Eu quase ri de sua expressão de choque, quase.

– Sede de sangue não costuma começar antes de você estar no sexto ano e com a Transformação praticamente completa. Às vezes a gente ouve falar de alguns casos do quinto ano que passam por isso logo cedo, mas não acontece muito.

Acho que dizer que um desses casos era o meu não me ajudaria muito. Por isso, fiquei calado, deixando-a processar essa nova informação com calma.

– Espere... O que está dizendo? - disse Zoey. Ela parecia mais confusa do que nunca, o que era mais que natural, devido a sua situação.

– Você começa a ter aulas sobre sede de sangue e outras coisas que acontecem com os vampiros maduros no quinto período, e depois, no último ano, a matéria básica na escola é essa, além de qualquer outra na qual você deseje se formar.

– Mas sou terceiranista; aliás, mal se pode falar que eu sou. Eu fui Marcada faz poucos dias.

Sim, essa era uma questão que perambulava em minha mente também. Como ela poderia ter desenvolvido uma sede de sangue tão forte em tão poucos dias como caloura? Bem, pensando sobre isso, ela nunca fora exatamente normal. Sua Marca completamente preenchida provava isso, todos queriam saber a razão para tal acontecimento, mas nem ela mesma parecia saber. Nyx fazia coisas muito confusas às vezes.

– Sua Marca é diferente; você é diferente. – eu queria dizer muitas coisas a mais, mas me contive.

– Eu não quero ser diferente! - Ela berrou tão alto que chegou a me assustar. Eu acho que ela estava mais assustada do que eu, por isso sua reação. Ela pareceu dar-se conta do que acabara de fazer, pois em um volume mais baixo disse - Só quero entender como faço para passar por isso como todo mundo.

Hum, tarde demais para isso...

– Tarde demais, Z. – Ops, eu disse isso mesmo? Imaginei? Eu não acredito que acabei de revelar meus pensamentos assim tão rapidamente. E ainda chamei-a por um apelido que vinha pensando há alguns minutos! Você é mesmo um idiota, Erik.

– Então, e agora? - Ela pareceu não notar meu desconforto.

Pensei sobre a sua pergunta. O que eu faria se estivesse em sua situação? Certamente não falaria com meus amigos. Talvez com um professor... Meu mentor, acho que seria uma boa opção.

– Acho que é melhor você conversar com sua mentora. Neferet, não é? – eu já tinha escutado de Afrodite que Neferet escolhera ser a mentora de Zoey, mas decidi não revelar que eu sabia dessa informação. Eu não queria que ela pensasse que eu a estivesse espionando.

Mesmo que eu estivesse, de fato.

– É. - ela pareceu triste ao dizer isso.

– Ei, anime-se. Neferet é ótima. Ela raramente aceita novatos, então ela deve realmente confiar em você.

A última novata que eu me lembrava de Neferet ter aceitado era a própria Afrodite. Eu achava que era justamente pelo fato de se revelarem especiais. Zoey possuía sua estranha Marca e Afrodite tinha estranhas previsões trágicas... Como Alta Sacerdotisa, Neferet provavelmente deveria receber algum conselho divino, sei lá.

– Eu sei, eu sei. É só que isso me faz sentir... - ela hesitou, procurando por uma palavra - estúpida. Fico me sentindo estúpida.

Estúpida? Como uma caloura tão linda e especial como ela poderia pensar que era estúpida?

– Não se sinta estúpida. Na verdade você está bem à frente de todos nós.

– Então...

Ela hesitou de repente. Parecendo não saber ao certo se falava ou não. Confesso que fiquei curioso e quase lhe apressei para que continuasse de uma vez, mas, logo em seguida, ela respirou fundo e falou em um tom muito baixo:

– Você gostou do gosto do sangue naquela taça?

Tentei ser o mais honesto possível ao responder. As memórias vinham livres à minha mente, envergonhando-me. Mesmo sabendo que Zoey não tinha nenhuma noção do que ocorrera comigo, não pude deixar de me sentir um retardado.

– Bem, o negócio é o seguinte: meu primeiro Ritual de Lua Cheia com as Filhas das Trevas foi no fim do meu terceiro ano. A não ser pela geladeira que também estava lá naquela noite, eu era o único do terceiro ano por lá; como você hoje – Afrodite me convidara exclusivamente para aquele Ritual e eu estava caidinho por ela na época, dei um sorrisinho sem graça ao relembrar aquilo, eu não iria contar essa parte à Zoey - Eles só me chamaram porque eu fui finalista do concurso de monólogos de Shakespeare e ia tomar um avião para a final em Londres no dia seguinte - eu a olhei nos olhos, o que ela estava fazendo comigo afinal? Será que não percebia que eu era um idiota total? - Ninguém dessa unidade da House of Night conseguiu chegar a Londres. Foi algo importante - Eu balancei a cabeça, desdenhando a mim mesmo por ter sido tão estúpido. Todos os meus amigos sentiram um pouco de inveja de mim na época e eu estava me sentindo um máximo - na verdade, achei que eu fosse importante. Então, as Filhas das Trevas me chamaram para fazer parte do grupo, e eu aceitei. Eu sabia sobre o sangue. Eu tive a oportunidade de rejeitar. Mas não rejeitei.

Tentei pular a parte em que eu vomitei meu intestino.

– Mas gostou? – caramba, ela não desistia!

Para minha total surpresa, eu gargalhei como um idiota com a lembrança. Na verdade, eu havia feito quase a mesma coisa que Zoey essa noite.

– Eu engasguei e vomitei tudo. Foi a coisa mais nojenta que já havia provado.

Ela colocou a cabeça entre as mãos e a balançou levemente, exasperada.

– Você não está me ajudando.

– Por que, você gostou? – perguntei. Querendo saber o que realmente havia acontecido.

– Mais do que isso. Você diz que é a coisa mais nojenta que você já provou? Para mim foi a coisa mais deliciosa. Bem, a mais deliciosa até eu...

Flashes de sua cena quente com Heath tomaram minha mente, é... Sangue humano poderia ser tentador para Vampiros adultos.

– Até experimentar sangue fresco?

Ela balançou a cabeça, confirmando meu questionamento.

Ela parecia querer estar em qualquer lugar, menos ali. Suas bochechas estavam tão coradas que a vermelhidão chegava quase às têmporas. Eu não queria que ela ficasse envergonhada daquela maneira, eu queria que ela abrisse seus sentimentos para que eu pudesse ajudá-la, confortá-la. Agarrei suas mãos e as puxei com suavidade até que ela olhasse em meus olhos, mas ela não ergueu o rosto em chamas como eu esperava. Então, fiz uma coisa que eu estava tentado a realizar desde que a vi pela primeira vez, coloquei o dedo delicadamente em seu queixo e ergui seu rosto devagar, encarando seus profundos olhos.

– Não fique constrangida nem com vergonha. Isso é normal.

– Gostar do gosto de sangue não é normal. Para mim, não é.

Eu senti por sua tristeza. Ela parecia prestes a chorar novamente e eu absolutamente não queria que isso acontecesse.

– É, sim. Todos os vampiros precisam conviver com sua sede de sangue. – Se ela fosse se tornar uma Vampira teria de se acostumar com essa rotina.

– Eu não sou vampira! – Ela gritou.

– Talvez não seja ainda. Mas você com certeza não é do tipo de novata comum, e não tem nada de errado com isso. Você é especial, Zoey, e ser especial pode ser o máximo.

Minha empolgação deu espaço à coragem, que me impulsionou a fazer outra coisa que eu quis novamente desde que a toquei antes do Ritual. Tirei o dedo de seu queixo e contornei lentamente o pentagrama que eu havia feito com a mistura gosmenta de óleo. A pele estava um pouco ressecada devido ao produto seco, mas ainda assim me impressionei com a maciez. Eu poderia ficar acariciando seu rosto para sempre. Distraí-me tanto que acabei me surpreendendo com uma repentina pergunta:

– O que você está fazendo aqui, Erik? - Ela não parecia estar me acusando, pelo contrário, parecia tão abalada com o meu contato quanto eu por tocá-la. Olhei em seus olhos.

– Eu segui você.

– Por quê? - Ela parecia verdadeiramente curiosa.

– Eu imaginei o que Afrodite havia colocado na bebida e achei que talvez você estivesse precisando de um amigo. Você está dividindo o quarto com Stevie Rae, certo?

Ela assentiu.

– É, pensei em procurá-la e trazê-la aqui para ajudar você, mas não sabia se você ia querer que ela soubesse que... - Eu fiz um gesto vago em direção ao centro de recreações. Eu achei que ela não fosse querer contar a sua mais nova colega de quarto que tinha provado sangue de uma “geladeira” e gostou.

– Não! - Ela se apressou em dizer - Eu... Eu não quero que ela saiba.

– Foi o que pensei. Então é por isso que estou aqui. – Depois sorri meio desconfortável, ao relembrar ela e Heath em cima do muro leste, e como ela estivera gostosa - eu realmente não tive a intenção de ouvir o que você e Heath estavam dizendo. Desculpe.

Ela olhou para baixo de repente, em direção a sua gata, como se lá estivesse o segredo do Universo. Corou violentamente e começou a acariciar nervosamente a pequena bola de pêlos laranja em seu colo.

– Acho que isso nos deixa quites. Eu também não tive intenção de ouvir você e Afrodite.

Eu sorri de volta. Quites... Gostei.

– Estamos quites. Gostei disso.

– Eu não ia descer voando para sugar o sangue de Kayla.

Há, nem me lembrava mais disso. Só conseguia pensar em suas pernas expostas e em como sua voz foi sensual lá em cima, com o garoto humano totalmente hipnotizado... Ei, espera! Hipnotizado?

– Eu sei disso. Vampiros não voam. – Tentei fazer uma piada, mas minha mente estava longe.

– Mas ela ficou apavorada.

– Pelo que eu ouvi, ela mereceu. – Hesitei muito antes de fazer a próxima pergunta. Eu não queria chateá-la nem nada assim, mas a curiosidade palpitava em mim como uma mosca indo em direção a forte luz: impossível resistir - Posso lhe perguntar uma coisa? É meio pessoal.

– Ei, você me viu beber sangue de uma taça e gostar, me viu vomitar, beijar um cara, lamber o sangue dele como se eu fosse uma cachorrinha, chorar que nem um bezerro desmamado. E eu vi você naquele dia, no corredor. Acho que dá para responder uma pergunta meio pessoal.

Caramba, mal havíamos nos falado e tudo isso já acontecera entre nós. Não citei o fato de que não a vi vomitando, acho que não era necessário. Eu tinha questões mais importantes.

– Ele estava mesmo em transe? Ele parecia estar e gostar.

Como eu sabia que ela faria, ela trocou de posição, desconfortável. Eu sabia que o assunto era delicado, mas como disse antes, minha curiosidade era maior. A pequena gata reclamou com sua mudança repentina e Zoey rapidamente acariciou seus pêlos para acalmá-la. Os gatos eram meio irritantes às vezes.

– Parece que ele estava. Não sei se ele estava em transe ou não, e não tive a menor intenção de colocá-lo sob meu controle ou qualquer coisa do tipo, mas ele mudou. Sei lá. Ele andou bebendo e fumando. Talvez só estivesse chapado.

Uau! Ela era mais poderosa do que eu pensei. Hum, interessante...

– Ele estava assim o tempo todo ou só depois que você... Hum... Começou a... – A virar a mulher mais sexy que eu já vi na vida! Eu não iria dizer uma coisa dessas, é claro.

– Não o tempo todo. Por quê?

Ainda havia várias alternativas.

– Bem, isso elimina duas coisas que poderiam estar fazendo com que ele agisse de modo estranho. Uma: se ele estivesse apenas chapado, teria estado assim o tempo inteiro; dois: ele podia estar agindo assim porque você é realmente muito linda, e isso bastaria para deixar um cara em transe ao seu lado.

– É mesmo? – Ah, sua modéstia era inacreditável.

– É mesmo. Mas também não foi por isso, pois ele devia ter reparado como você é atraente antes mesmo de você beijá-lo, - eu queria beijá-la dessa forma, o pensamento repentino me assustou, mas por sorte não o verbalizei - e o que você está dizendo é que ele não parecia estar arrebatado antes do sangue entrar na jogada.

O que será que poderia ter provocado aquilo, afinal? Certamente que ele não estava drogado, isso era mais que óbvio. Talvez um pouco bêbado e fora de si, mas não completamente chapado. E ele tinha uma queda por Zoey, o que também era evidente, mas ainda assim não correspondia exatamente ao que...

– Na verdade, começou quando eu escutei o sangue dele. – Meus pensamentos congelaram.

– Repita. – Consegui dizer.

– Heath começou a mudar quando eu ouvi o barulho de sangue pulsando em suas veias.

Minha Deusa! Ela era realmente impressionante!

– Somente vampiros adultos conseguem ouvir isso. – Fiz uma pequena pausa, rindo ao relembrar o nome do humano - Heath para mim soa como nome de astro de novelas gay.

Ela também rio.

– Quase isso. Ele é um astro de futebol, zagueiro do Broken Arrow – eu balancei a cabeça e comecei a rir com a novidade. Típico garoto humano babaca: bêbado, chapado e zagueiro de futebol, por que não deduzi isso sozinho? - Ah, aliás, eu gostei do nome que você adotou. Night é um sobrenome legal.

Sua declaração me fez rir ainda mais. Várias pessoas já haviam me dito isso, achando que eu escolhera meu sobrenome. Eu entendia, pois ele era um tanto incomum, e não o mudaria mesmo que encontrasse um melhor. Era a única forma de me lembrar de casa, mesmo sabendo que a vida que eu levava não era um mar de rosas.

– Eu não mudei. Erik Night é meu nome de registro.

Ela pareceu chocada.

– Ah, bem. Eu gosto.

– Obrigado.

A conversa estava muito boa, surpreendentemente não vi a hora passar, mas uma pequena espiada para o horizonte me revelou que o céu estava um pouco mais claro que o normal. Tive de verificar as horas em meu relógio de pulso, assustando-me um pouco com o que os ponteiros estavam indicando, eram quase seis e meia da manhã – horário invertido.

– Em breve vai clarear.

Sentindo a deixa, Zoey começou a levantar ao mesmo tempo em que segurava sua gata, processo que não deu muito certo. Segurei seu cotovelo para lhe dar apoio, - o breve toque me enviou estranhas sensações - mas, mesmo que ela já estivesse ereta, não consegui me afastar. Algo me puxava em sua direção.

– Eu ia lhe perguntar se você quer comer alguma coisa, mas o único lugar servindo comida no momento é o centro de recreações, e imagino que você não queira voltar lá.

– Não, com certeza não. Mas não estou mesmo com fome. – eu não queria que ela se afastasse, não agora, não sem antes ficar mais um pouco perto dela.

– Bem, você se importa se eu lhe acompanhar até o dormitório? – Eu esperava que não...

– Não. – Sorri em resposta.

Andamos lado a lado, porém ficamos em silêncio durante o trajeto. De vez em quando sentia que nossos braços se tocavam e, a cada vez que isso acontecia, minha vontade de segurar sua mão aumentava, mas me contive. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas eu queria ouvir um pouco mais de sua voz, parecia que minha mente estava viciada. Mas o quê eu posso falar com ela? Puxe qualquer assunto da memória, seu idiota!

– Ah, eu não terminei de responder sua pergunta. A primeira vez que bebi sangue em um dos Rituais das Filhas das Trevas eu odiei, mas depois foi melhorando cada vez mais. Não posso dizer que acho delicioso, mas fui me acostumando. E com certeza adoro o que sinto quando bebo.

– Fica tonto e de pernas meio bambas? – ela perguntou - Como se estivesse bêbado, sem estar?

A explicação soou meio estranha, mas eu poderia dizer que sim. Quase não tinha ficado bêbado quando era humano, pois me lembrava de meu pai, por isso não sabia muito bem qual era a sensação.

– É. Ei, você sabia que é impossível um vampiro ficar bêbado? - ela balançou a cabeça, quase ninguém sabia disso, mesmo. Que comentário nerd, por Deus! - Tem a ver com o que a Transformação provoca em nosso metabolismo. Os novatos têm até dificuldade em ficar chapados.

Como se alguém quisesse saber sobre isso!

– Bem, então por que ninguém avisou aos professores o que Afrodite está fazendo?

– Ela não está bebendo sangue humano.

– Ahn, Erik, eu estava lá. Com certeza tinha sangue no vinho e era sangue daquele garoto, o Elliot. E que escolha horrorosa, ele.

Realmente.

– Mas ele não é humano.

– Espere aí... É proibido beber sangue humano, mas não tem problema beber o sangue de outro novato?

– Só se for consensual. – Bem, eu e Afrodite fazíamos isso o tempo todo...

– Isso não faz sentido.

– Claro que faz. É normal que nossa sede por sangue se desenvolva à medida que nossos corpos se transformam, - ou no caso, se você bebe enquanto faz sexo com a gostosa Afrodite – de modo que precisamos de uma válvula de escape. Os novatos se curam rapidamente, portanto não há chance de ninguém se ferir de verdade. E não há nenhum efeito colateral, como quando um vampiro se alimenta de um humano vivo.

– Humano vivo?! - ela berrou - Diga que isso não significa que a outra opção seria alimentar-se de um cadáver.

Eu gargalhei com seu comentário.

– Não, a outra opção seria beber sangue colhido dos doadores humanos.

– Nunca ouvi falar disso.

– A maioria dos humanos nunca ouviu falar. Você só vai estudar isso no quinto ano.

Nós nos aproximávamos do dormitório de Zoey rapidamente – rápido demais, para meu desgosto – e eu queria prolongar aquela conversa eternamente. Por isso diminuí um pouco o passo, para podermos ter mais tempo de conversar.

– O que você quis dizer com efeitos colaterais?

– Começamos a estudar isso agora em sociologia vampírica 312. Parece que quando um vampiro adulto se alimenta de um humano vivo um laço muito forte se forma. Nem sempre o laço é da parte do vampiro, mas os humanos ficam ligados com a maior facilidade. É perigoso para os humanos. Quer dizer, pense só: A perda de sangue em si não é boa coisa; acrescente a isso o fato de que vivemos décadas, às vezes séculos mais que os humanos. Pense nisso do ponto de vista dos humanos, deve realmente ser uma droga você se apaixonar totalmente por uma pessoa que nunca envelhece enquanto você fica velho e enrugado e depois morre.

Com um lamento silencioso, avistei a porta do dormitório. Zoey estava imersa em minhas palavras e não percebeu que havíamos chegado.

– É, deve ser uma droga. – ela respondeu, divagando interiormente.

– Chegamos. – anunciei.

Ela pareceu surpresa com o fato de já estarmos perto de nos despedir, e um pouco decepcionada, também! Será que ela estava gostando da minha companhia? O pensamento me fez sorrir internamente.

– Bem, obrigada por me seguir, acho. - ela deu um sorriso irônico.

– Ei, sempre que você quiser alguém para se meter onde não foi chamado, conte comigo. – A piada parecia mais engraçada em minha cabeça, droga!

– Vou me lembrar disso, obrigada.

Ela se virou para a porta. Eu não podia deixá-la ir sem antes mostrar que pelo menos estava interessado, mais do que apenas um mero amigo, pelo menos.

– Ei, Z. – chamei. Ela virou-se rapidamente para me encarar.

– Não devolva o vestido a Afrodite. Ao incluí-la no círculo desta noite, ela formalmente lhe ofereceu uma posição entre as Filhas das Trevas, e a tradição manda que a Alta Sacerdotisa em treinamento dê um presente ao novo membro em sua primeira noite. Imagino que você não queira entrar no grupo, mas mesmo assim você tem direito a ficar com o vestido. Principalmente porque você fica muito melhor com ele do que ela. – eu realmente pensei que Zoey ficara muito melhor no vestido do que Afrodite. Cheguei a babar feito um cachorro durante toda a noite, até... Ei, isso me deu uma ideia! Era arriscado, não saberia dizer qual seria sua reação, mas não me custava em nada ao menos tentar.

Peguei sua mão direita e a virei suavemente para cima, expondo o pulso. Ela era tão pequena e delicada em minha palma enorme... Tracei meu dedo pela sua veia, sentindo que a pulsação aumentou com meu toque. Pelo visto eu não era o único que ficava nervoso em sua presença.

– E você deve saber também que eu sou o cara com quem você deve contar se resolver provar mais um pouquinho de sangue. Lembre-se disso também.

Eu me curvei, então, indo lentamente em direção ao seu pulso latejante e, ainda olhando fixamente para seus olhos assustados, mordisquei a pele exposta. Em seguida a beijei. Passei a língua sensualmente por ele por ele, como uma pequena piada íntima e, sorrindo como um bobo, afastei-me para as luzes do amanhecer. Deixando-a ali com a expressão mais surpresa e encantadora que eu havia visto em toda a minha vida.


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