Folheava um livro de Monólogos de Shakespeare sem prestar muita atenção no que eu lia, pois já sabia todas as falas de cor. Apenas matava um tempo na aula para poder pensar no que minha vida medíocre havia se tornado.

Como um dos caras mais populares da House of Night, eu não me considerava tão nobre. As consequências não me agradaram muito. Tudo bem, no começo sim, mas agora estava tudo uma chatice, sem muitas novidades, somente o caos. Caos que aconteceu quando a liderança das Filhas e Filhos das Trevas ficou sob responsabilidade de Afrodite...

Afrodite, minha namorada. Não sinto mais nenhuma emoção ao falar isso. Ela era tão pé no saco que chegava a me encher. Até mesmo conversei com meus amigos Cole e TJ sobre isso. Todos nós concordamos que eu deveria chutar ela, mas eu nunca consegui realmente. Ela me tentava. Parecia sentir quando eu ia terminar com ela, sempre me fazendo mudar de ideia na hora H.

Porém, hoje seria diferente! Nada do que ela pudesse dizer ou fazer mudaria meus planos. Eu conseguiria ter qualquer garota que quisesse, não iria sentir necessidade de ficar com ela. Claro, sexo era muito bom, mas qualquer garota da House of Night poderia me proporcionar isso, não precisaria necessariamente ser ela.

O sinal soou, sinalizando o fim das aulas. Saí devagar e sem pressa, pois não estava com cabeça para falar com ninguém. Mas como o destino não era o mar de rosas que eu gostaria, vi Deino se aproximar rapidamente de onde eu estava no corredor principal.

– Olá Erik! – Gritou ela à distância, seus cabelos escuros balançavam-se fervorosamente conforme ela se movimentava.

Segurei um suspiro exasperado. Qualquer que fosse a razão de ela estar me procurando não seria nada boa, eu tinha certeza.

– Deino. – Respondi simpaticamente. Meu melhor sorriso nos lábios.

– Afrodite mandou que eu lhe entregasse esse bilhete. – Peguei-o de sua mão e, por mais afastado que estivesse das minhas narinas, eu era capaz de sentir o forte cheiro de sua cara colônia. – Também pediu para você não se atrasar muito, que ela estaria lhe esperando.

– Claro. Obrigado, Deino. – Disse sem muito interesse. O que Afrodite poderia querer desta vez?

– Disponha. – Ela sorriu para mim enquanto se virava e caminhava para longe.

Não abri o bilhete de imediato. Afrodite não poderia querer algo bom. Enfiei ele no meu bolso, ao invés, e fui em direção ao dormitório masculino.

Ao passar pela sala principal, Cole e TJ literalmente correram em minha direção, empurrando um ao outro como se estivessem em alguma importante competição.

– Erik! Já sabe da maior? – Disse TJ, ofegante. Cole lançou-lhe um olhar feio.

– O quê? – Perguntei confuso.

– A novata está chegando hoje.

– É. – Disse Cole, a irritação aparentemente esquecida. – Ninguém sabe por que ela demorou tanto para chegar.

– Verdade. Essa demorou mesmo. – Disse com desinteresse.

– Rezamos fervorosamente para que ela seja gostosa, amigo. Essa House of Night precisa de um temperinho novo. – TJ falou enquanto fingia mexer em uma panela. Cole se juntou a ele e começaram a dançar conforme uma música da MTV que tocava na TV.

Gargalhando devido a idiotice dos dois, saí da sala indo diretamente para o meu quarto no segundo andar.

Eu não tinha nenhum colega de quarto. Por um lado isso pareceria bom: havia muito espaço e privacidade, além de ninguém a quem dar satisfações ou explicar sobre sua vida. Mas, na verdade, era meio assustador. Lembro-me dos meus primeiros dias na House of Night, em como estava confuso e receoso, sem ninguém com quem conversar. Conforme o tempo passava, porém, acostumei-me aos poucos com a solidão. Agora ela se tornara uma confortável coadjuvante.

Foi pensando nisso que entrei no banheiro, liguei o chuveiro no modo quente e comecei a tirar as roupas sujas. Sentia-me tenso. Não sei se por ter de enfrentar Afrodite mais tarde ou qualquer estresse proveniente da escola. Bem, a primeira opção era a mais provável. Ela era intimidante quando queria, mas eu confiava nas minhas habilidades de atuação. E demonstrar desinteresse, mesmo que apenas por fora, já serviria para dar o primeiro golpe, sei que ela não se convenceria facilmente.

Sequei-me devagar e pus roupas limpas, estirando-me na cama com alívio a seguir. Hesitei muito antes de pegar a carta de Afrodite, mas por fim me dirigi até o cesto de roupas sujas e retirei a missiva do bolso de minha calça jeans. Não sabia se devia ler ou não.

Decidi abrir.

Querido Erik:

Será que podemos nos encontrar mais tarde? Espero que sim, pois estou com muitas ideias interessantes do que poderemos fazer...

Te encontro daqui uma hora naquele lugar de sempre.

Com amor,

Afrodite

PS: Não se atrase.

Encarei aquela folha em minhas mãos por mais alguns minutos, relendo várias vezes seu conteúdo para me certificar de que não estava ficando louco. Pelo visto, não. Aquela carta perfumada realmente sugeria um encontro entre mim e Afrodite.

Mas que diabos?

Eu achei que ela já houvesse compreendido que nosso relacionamento acabara. Bem, acho que não. Chutei-me internamente por ser tão estúpido. É claro que Afrodite não aceitaria isso tão facilmente, não sem uma última tentativa de recuperar o que tínhamos.

Será que era certo ir a esse encontro? Eu conhecia o lugar onde ela desejava me ver, e ele possuía um significado muito diferenciado para nós dois. Um significado meio quente. Denio entregara-me o bilhete cerca de meia hora atrás. Ainda me restavam alguns minutos para pensar no que fazer. Eu sabia muito bem o quanto Afrodite era insistente e difícil de resistir, mas precisava tentar ao menos lutar. Iria me encontrar com ela! Mas não faríamos nada do que ela estava planejando. Eu estava decidido a terminar. E sim, seria definitivo dessa vez.

Troquei meus pijamas por calça jeans e camiseta apressadamente. Correndo escada abaixo até a cozinha para pegar uma coca cola. Eu precisava urgentemente de uma dose de açúcar. E também matar um tempo. Olhei para o relógio no micro-ondas rapidamente e comecei a caminhar em direção ao lugar combinado.