Passageira escrita por Ayelee


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Estou apaixonada pelo filme Drive. Tanto que decidi escrever esta short fic, que é uma espécie de destino alternativo para os personagens, focando mais na relação do "driver" com Irene e seu filho.
Se você não viu o filme, recomendo demais. Desde a trilha sonora, roteiro, fotografia, atuações, tudo é incrível e sem dúvida vai causar uma grande impressão.
Sem contar que, conhecendo a atmosfera do filme, você possa sentir um pouco mais o clima da fic.
Não deixem de deixar seus comentários!
Boa leitura, espero que gostem do meu novo bebê. :)
Clipe no youtube com a música 'Real Hero' traduzida, da trilha sonora de 'Drive' > http://www.youtube.com/watch?v=P0kFJ7ISAcE



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A porta do elevador antigo abre fazendo um ruído irritante. Ao sair, Irene tropeça no batente que formou entre o piso e o elevador. “Maldita lata velha desregulada!”

Caminhando até a saída do condomínio, Irene passou por um sujeito estranho, que a encarou discretamente. Sentiu um frio na espinha. Ele parecia um artista de filme dos anos 80.

Encolheu-se dentro de seu casaco, baixou a cabeça e seguiu em direção a rua para pegar sua condução. O dia estava amanhecendo.

Mal havia se mudado para o ‘novo’ apartamento, em uma periferia da cidade, Irene não via a hora de sair dali. Gostava mais da vida que levava antes. Cuidava da casa, do filho Beni de 5 anos. Mas depois que descobriu a verdade sobre o marido, Diego, decidiu que aquilo não era vida.

Preferiu encarar uma realidade dura do que viver naquela mentira. Seu único remorso era ter que fazer Beni passar por isso. Mas ela não tinha escolha. Melhor viver sem um pai do que ser criado com um péssimo exemplo dentro de casa.

Como pôde ter sido tão cega esses anos todos?

Na cafeteria Jeanette a esperava ansiosamente na porta dos fundos. Sr. Goldman gritava por Irene, irritado. Jeanette não queria ver a amiga em apuros. Fazia menos de um mês que Irene começara a trabalhar na cafeteria, mas rapidamente ganhou a simpatia e confiança dos colegas, especialmente de Jeanette, veterana da luta no ‘inferninho’, apelido carinhoso que havia dado ao local de trabalho.

“Desculpa.” Irene sussurrou apressando-se para entrar e vestindo seu avental, que ficava pendurado na parede ao lado da porta. “Beni vomitou no chão do quarto justo quando eu estava de saída. Tive que limpar tudo e tomar outro banho.”

Jeanette era uma mulher bonita, apesar de estar um pouco desleixada com sua aparência, como se tivesse desistido de passar uma boa impressão sobre si mesma. Com seus quase quarenta anos, já tinha idade para não dar importância a essas banalidades.

“Sinto muito, querida” Jeanette suspirou com as mãos nos quadris, como se estivesse pensando em uma maneira de ajudar a amiga. “Você conseguiu alguém para ficar com Beni hoje?”

“Estou indo, Sr. Goldman,” Irene gritou para o proprietário da cafeteria, que a aguardava impaciente no balcão. “Não. Ele tinha melhorado da febre, não achei que fosse necessário chamar ninguém. Agora ele amanheceu vomitando, não sei...”

“Você não pode continuar assim, Irene. Não é certo deixar uma criança de cinco anos sozinha em casa. É perigoso. Podem tirar seu filho de você. Você sabe disso, não sabe, querida?”

Irene deixou os braços caírem do lado do corpo exasperada, deu um suspiro profundo e começou a chorar, cobrindo o rosto com as mãos. “Não tive escolha, Jean! O que posso fazer?” Soluçou apoiando-se no ombro da amiga.

“Você não acha melhor pedir dispensa ao Sr. Goldman e voltar para casa? Ele vai entender.” Jeanette sugeriu, sem acreditar nas próprias palavras.

“Não vai. Ele vai me despedir.” Suspirou desanimada.

“IRENE!”

“Tenho de ir, ou nem precisarei pedir dispensa.”

“Onde diabos você estava, Irene? Os clientes estão esperando. Você acha que com essa artrite nos joelhos tenho condição de fazer o meu trabalho e o seu? Anda logo, menina!” Sr. Goldman disparou as palavras como uma metralhadora, sem intervalo para respirar.

“Sim, senhor.”

Irene silenciosamente pôs-se a trabalhar, servindo os poucos clientes presentes no café. Para compensar os quinze minutos de atraso, Sr. Goldman reduziu seu já curto intervalo de almoço para apenas 15 minutos naquele dia.

“Você explicou para ele sobre Beni?” Jeanette lhe perguntou depois do almoço. “Não.” “Como não? Ele entenderia...” Insistiu.

“Não faria diferença, Jean. Ele está apenas estressado.”

Jeanette escutou a amiga calada e não disse mais nada.

Irene não entendia pessoas como o Sr. Goldman. Usam grosserias como forma de demonstrar autoridade. “Que se dane.” Pensou. “Enquanto este trabalho estiver botando comida na minha mesa, pouco me importa Sr. Goldman e seu maldito mau humor.”

Trabalhou como um zumbi, contando as horas para o fim do expediente. Precisava ver se Beni estava bem. Ele havia garantido que sim quando Irene ligou durante o almoço. Mas não foi o suficiente para acalmar seu coração. Sentia-se muito culpada por deixar o filho pequeno em casa para trabalhar. Mas não havia outra alternativa.

Antes de encerrar seu turno, por volta das cinco da tarde chegou um cliente sozinho. Sentou-se na mesa do canto, de onde tinha visão total da cafeteria.

Quando aproximou-se para atendê-lo Irene reconheceu o homem. Era o cara com visual de artista dos anos 80. Ele parecia mais jovem agora sob a luz fluorescente do restaurante.

“Boa tarde. Já escolheu seu pedido?” Irene perguntou automaticamente, sem mais disposição para oferecer seu sorriso mecânico de atendente.

“Panquecas com ovos mexidos e chocolate quente, por favor.” Ele respondeu com um sorriso discreto no canto da boca. Sua voz era aveludada, calma, o que formava uma estranha combinação com seu aspecto misterioso, e seu olhar obstinado. Intimidante, eu diria.

“Pois não.” Irene retirou-se e pediu para Jean preparar o pedido o mais rápido possível. Não via a hora de se livrar logo do cliente e poder ir para casa.

O rapaz observava cada movimento que ela fazia, deixando-a ainda mais exasperada. Em oito minutos o pedido estava pronto. Tempo suficiente para Irene trocar de roupa. Ela pegou a bandeja no balcão, já estava pronta para ir embora, havia tirado o avental, aquela touca horrenda que o Sr. Goldman a obrigava a usar no cabelo, “para mostrar para os clientes que somos higiênicos”, estava com o cabelo penteado e com a bolsa traspassada envolvendo seu corpo.

Dirigiu-se à mesa do cliente e colocou sobre a mesa o prato com a panqueca e ovos mexidos e a caneca com chocolate quente fumegante.

“Vê se amanhã chega na hora, Sra. Vega!“ Gritou Sr. Goldman de trás da caixa registradora, fazendo um gesto com a mão, como se cortasse a garganta.

O estranho observou o velho gritando, em seguida olhou para Irene que, humilhada, o encarou de volta rapidamente e então baixou a cabeça.

“Bom apetite. Aqui está a nota.”

O cliente estendeu uma nota de vinte dólares sobre a mesa. “O troco é seu.” E sorriu novamente encarando Irene.

Não podia se dar ao luxo de recusar uma gorjeta tão generosa, mas também não estava interessada em fazer amizade com um sujeito esquisito que aparece no seu trabalho e lhe dá uma gorjeta alta e um sorriso misterioso.

Agradeceu, foi ao caixa trocar o dinheiro e lançou-se porta afora.

Ainda não tinha anoitecido, o céu estava pintado em tons de lilás e rosa. Irene caminhava apressadamente, enrolando-se com seu casaco para aquecer-se. Seu apartamento ficava cerca de três quilômetros de distância da cafeteria. Sempre voltava do trabalho a pé, assim economizava alguns trocados para ajudar a pagar as contas, ou até para fazer um pequeno agrado a Beni.

Beni era um bom garotinho. Herdou a aparência do pai, olhos e cabelos escuros, o charme latino, mas por sorte foi somente isso. Seu gênio dócil e amável claramente vinha da mãe.

Irene apressou ainda mais o passo. As ruas já estavam escuras quando se aproximava de sua vizinhança, e os malandros já vadiavam pelas esquinas procurando qualquer motivo para arrumar confusão e se divertir incomodando mulheres indefesas.

Sentiu uma estranha sensação de estar sendo seguida. Olhou por cima do ombro e percebeu que havia um carro a acompanhando a uma certa distância, em uma velocidade no mínimo suspeita. Tão devagar que se estivesse a pé chegaria mais rápido onde quer que fosse seu destino.

“Então é aqui que ela trabalha?” Pensou, satisfeito com a coincidência. Conhecia a vizinhança como a palma de sua mão, afinal já morava naquele buraco a quase seis anos, mas nunca havia reparado naquela cafeteria sem graça.

Sentira uma estranha simpatia pela garota naquele mesmo dia pela manhã, quando cruzaram seus caminhos no pátio do condomínio. “Parecia uma coelhinha assustada,” pensou. Talvez isso explicasse a forma passiva como ela reagiu aos insultos daquele velho imbecil. Mal conseguiu conter sua indignação quando ele gritou com a garota, humilhando-a diante dos clientes. Cerrou o punho embaixo da mesa, apertando a mão vestida em sua luva de couro marrom com tanta força que era capaz da luva rasgar a qualquer momento. Sorriu para a garota, disfarçando sua revolta.

Quis puxar assunto, mas não conseguiu pensar em nada que pudesse interessá-la, ela parecia entediada e prestes a sair dali correndo, se pudesse.

De fato, foi o que ela fez. Bem, não saiu correndo literalmente, mas estava bastante apressada.

Pensou que ela fosse até o ponto do ônibus, mas ela passou direto. Não era seguro uma garota frágil como ela andar sozinha por aquela vizinhança, já estava anoitecendo.

Caminhou tranquilamente até seu carro, e observou-a distanciar-se descendo a rua em direção ao semáforo. Deu ignição e partiu descendo a rua lentamente no carro, mantendo uma distância suficiente para que a garota não percebesse que ele a estava seguindo.

Quis oferecer-lhe uma carona. Mas pensando bem, ela talvez preferisse se aventurar pelas ruas escuras e correr o risco do que aceitar carona de um estranho que a estava observando no trabalho e agora a está seguindo feito um psicopata.

Do fim da rua, observou a garota entrar no condomínio a salvo, esperou alguns minutos e então colocou seu carro na garagem do prédio.

Irene entrou no apartamento aflita, seus olhos percorreram a sala, depois a cozinha em busca do filho, mas estava tudo quieto.

“Beni? A mamãe chegou, cadê você?”

“Aqui!” Ouviu a vozinha do garoto vindo do corredor. Sentiu um enorme alívio. Jogou sua bolsa e casaco no sofá e correu para o quarto. Beni estava esparramado na cama da mãe enrolado em seu cobertor de carrinhos vendo desenho animado.

“Você está bem? Como foi seu dia?” Irene perguntou preocupada.

“Bem. Só um pouco sem graça. Preferia ter ido para a escola. Ao menos tinha com quem brincar.”

“É, mas você está doente, não pode ir para a escola por enquanto.” Sentou-se ao lado do filho inspecionando-o de perto, checando a temperatura de seu corpo com as mãos. “Vomitou de novo? Sentiu alguma coisa?”

“Não, mamãe. Estou bem! Só estava com saudade.” Envolveu a cintura da mãe com seus bracinhos e repousou a cabeça sobre sua barriga.

“Amanhã você vai comigo para o trabalho. Nunca mais deixo você sozinho em casa.”

“Ebaaa!” Beni comemorou. Como toda criança, acompanhar os pais ao trabalho era uma grande aventura. Nunca pôde acompanhar o pai ao trabalho, pois quando ele foi preso, Beni tinha apenas três anos de idade. E ele nunca havia entendido que tipo de trabalho o pai fazia. Quando perguntava, sua mãe explicava de uma forma confusa que o que o pai fazia não era certo, por isso tinha sido preso.

“Não sei onde eu estava com a cabeça quando resolvi te deixar aqui doente. Passei o dia inteiro preocupada. Desculpa, meu anjo.”

“Não tem o que desculpar, mamãe. Eu fiquei bem. Até fiz minhas tarefas, olha só!” E correu até seu quarto para buscar seus desenhos e mostrar para a mãe.

Beni adormeceu e Irene aproveitou para levar a roupa para lavar na lavanderia do térreo. Estava morrendo de sono, mas teria que esperar mais uma hora até a roupa ficar pronta.

Jantou primeiro, strogonoff de caixinha e legumes no vapor. Era o máximo que conseguia preparar com o resto de energia que lhe sobrava. Comeu distraidamente, olhando para os quatro cantos do minúsculo apartamento. Não era tão ruim assim, considerando o valor que pagava pelo aluguel. A vizinhança do bairro não era das melhores, mas os moradores do prédio eram ok. Eventualmente acontecia algum espetáculo de gritaria, brigas entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, amantes. Mas desde que chegou lá, ainda não havia presenciado uma situação mais violenta.

Depois do banho desceu para buscar as roupas na lavanderia. Ouvia as conversas obscenas dos adolescentes no pátio e se perguntava como envelheceu de um dia para o outro. Teve Beni aos 17 anos, agora o garoto já tem cinco anos e ela se sente uma senhora de cinqüenta. Onde foi parar sua juventude?

A lavanderia estava mergulhada em uma penumbra, iluminada apenas pelos postes do condomínio. a luz invadia o espaço pela janela e porta, em raios que formavam desenhos sobre as paredes e máquinas.

“Oh.” Irene suspirou assustada.

Encostado na parede, de lado, observando uma das máquinas estava o estranho. A luz refletia em seu casaco dourado, iluminando a figura de um escorpião amarelo enorme em suas costas. Ele era grande, alto, ombros largos e loiro.

“Desculpe, assustei você?” Indagou com sua voz aveludada, olhando por cima do ombro.

“Não. É que não esperava encontrar alguém aqui essa hora.”

Ele sorriu discretamente. Irene retirou as roupas de dentro da máquina, colocou-as no cesto, em silêncio, e então virou-se para o estranho:

“Você mora aqui?”

“Quarto andar.”

“Mudou-se recentemente?”

“Estou por aqui vai fazer seis anos.”

“Hum, desculpa, nunca tinha visto você até hoje.”

Ele respondeu com outro sorriso e ficou a encarando novamente. Desta vez Irene não desviou o olhar. “Qual é a desse sujeito?” Ela se perguntou, agora se sentindo um pouco mais confortável em sua presença.

Bocejou, pegou seu cesto e dirigiu-se para o hall do elevador.

“A gente se vê por aí.” Ele acrescentou.

“Oh, ok. Boa noite.”

No hall de entrada de seu apartamento, deu uma olhada geral em todas as portas e se perguntou em qual daqueles apartamentos o estranho misterioso vivia.

–--

Não tinha planejado como seria seu dia de trabalho com Beni por perto, mas estava contando com o bom comportamento do filho. Levantou cedo e preparou o café. Beni não deu trabalho para levantar, pois tinha ido dormir cedo na noite anterior.

“Qual dos seus brinquedos você vai levar?” Irene indagou, pensando no que poderia mantê-lo entretido a maior parte do tempo.

“Meus carrinhos!”

“Certo, mas não dá para levar todos, escolha uns três, seus favoritos, ok?”

“Hum, então vou levar...” hesitou um pouco, “o Camaro, o Mustang e o Ford GT!”

“Fechado! Agora termine de comer, não posso me atrasar.”

“A tia Jean vai estar lá?”

“Sim, a tia Jean vai estar lá!”

Irene colocou os pratos sujos na pia, pegou a mochila de Beni e os dois deixaram o apartamento caminhando preguiçosamente até a parada do ônibus.

–--

Estacionou seu Chevy Malibu no final da rua sem saída. Fazia sol, mas o dia estava frio. Caminhou pela rua vazia até a entrada da oficina.

Sam não estava em nenhum lugar à vista. Certamente estava no depósito procurando alguma peça para trabalhar no Camaro. O carro estava precisando de uns ajustes depois da última corrida. O câmbio foi quebrado na última troca de marcha, na reta final da arrancada e agora Sam precisava trocar o maldito tambor seletor.

O piloto caminhou por entre os macacos hidráulicos da oficina, desviando de peças metálicas penduradas nas paredes e saindo debaixo dos carros. Apoiou-se no vão da porta do depósito e ficou observando Sam revirar caixas e peças atrás do tambor.

“E então garoto? Não vai me ajudar com o Camaro? Você ferrou a porra do tambor.”

Sam levantou a vista encarando-o depois voltou a procurar a peça entre as caixas da prateleira de metal.

“É. Não sei onde estava com a cabeça.”

“Pois trate de pôr sua cabeça de volta no lugar. Você sabe que o desgraçado do Neil está na sua cola. Falo isso para o seu bem, filho.”

“Obrigado, Sam. Um dia eu me entendo com esse filho da puta.”

O piloto caminhou até o segundo corredor de prateleiras e começou a procurar a tal peça enquanto conversavam.

“Você não sabe o que está falando. Neil não é um cara para se brincar. Eu o conheço a anos, por que você acha que estou trabalhando feito um cachorro desgraçado? Por que eu gosto? Não, garoto...”

“Sam fique frio. Vamos consertar essa marcha logo. Domingo eu faço meu trabalho, levo outra porra de troféu que não vale para nada e meto mais uns milhares de dólares no rabo do Neil. Estou de saco cheio. Isso tem que acabar.”

“Achei! Maldito tambor. Esse depósito está uma zona.”

Sam levantou-se rápido com a caixa do tambor na mão e dirigiu-se ao galpão enquanto falava.

“Seu velho deixou uma puta de uma encrenca para você, sabia? Mas ele era um homem bom. Só tinha o péssimo hábito de confiar nas pessoas erradas. Agora quem está pagando por isso é você. Pobre garoto.”

Sacudiu a cabeça pesarosamente e caminhou até o Camaro preto. Jogou um par de luvas para o piloto e começou a mexer no carro.

“Não me importo de correr. É a única coisa que me interessa. Podia correr pelo resto da vida. Mas não gosto de ter ninguém me segurando pelos pulsos.”

“Você ainda vai precisar correr muito para se livrar de Neil.”

“Foda-se.”

Os dois começaram a trabalhar silenciosamente. A conversa não agradava nada ao piloto.

Estava pagando por um erro que não cometeu. Seu pai estava morto, não se joga a culpa de suas desgraças nos mortos. Ele só precisava sobreviver. Se livrar daquela droga de dívida e seguir em frente.

Não tinha muitas expectativas na vida, vivia um dia atrás do outro, desfrutando das coisas boas que apareciam ocasionalmente. Um pouco de dinheiro, às vezes, uma viagem, bebidas ou uma garota.

Satisfazia-se com algumas vadias que conhecia em bares, mas de vez em quando se sentia solitário. Precisava de alguém com quem trocar idéias, alguém com a cabeça fresca, conversa casual que o fizesse rir para variar um pouco.

Sam era um bom amigo, um segundo pai. Fora parceiro de seu velho durante anos, o viu crescer. Por sorte teve mais juízo que seu pai e conseguiu envelhecer sem se jogar com um carro debaixo de algum caminhão. Mas Sam não era mulher.

Enquanto trabalhava, o piloto estudava diferentes maneiras de saldar a dívida que seu pai havia deixado com Neil, chefe da gangue de mafiosos que dominava a região. Neil costumava fazer empréstimos a juros exorbitantes. Seu pai caiu na besteira de pedir-lhe dinheiro para investir em um carro e acabou morrendo em um acidente na primeira vez que foi pilotá-lo.

A dívida estendeu-se para o filho, então com vinte e dois anos. Desde então o garoto, que cresceu dentro da oficina ao lado do pai, era conhecido como um piloto arrojado e autoconfiante passou a pilotar para Neil em corridas, repassando os valores integrais de seus prêmios para o mafioso, fora o dinheiro que sua vitória rendia em apostas. No primeiro ano o valor da dívida já tinha sido pago em prêmios, mas Neil sempre fazia reajustes com juros absurdos. Ele tinha meios muito eficientes para convencê-lo a continuar nesse jogo, apesar do piloto não ter muito o que perder.

O Camaro precisava ficar pronto para o treino de domingo. Ele, o piloto, já nascera pronto.


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Notas finais do capítulo

Como eu disse nas notas iniciais, esta é uma short fic, então serão poucos capítulos.
Por favor, não deixem de comentar, preciso de ânimo para continuar a história!
Beijos e obrigada.