- Vai uma carona para casa? – perguntei à Dean no estacionamento.

         Seus olhos passaram de mim para Charlie, que estava ao meu lado, observando alguma coisa atrás de Dean. Ou tentando, ao julgar pela forma com que seus olhos se estreitavam, como se diante de um enigma difícil de desvendar.

         - Não, obrigado. – falou, parecendo um pouco cauteloso.

         - Ahn. Tá. – falei.

         - Até amanhã, Emily. Tchau, Charlie.

         - Tchau. – Charlie sorriu e acenou.

         Observei Dean abrir a porta de um Lamborghini preto reluzente, e quis esconder minha simples picape prateada caindo aos pedaços.

         Acomodei-me no banco do motorista enquanto Charlie fazia o mesmo no banco do carona.

         - Uau, ele tem um Lamborghini! – Charlie falou admirado enquanto percorríamos a Gilley Ave. Observei-o pelo canto do olho. Ele estava boquiaberto.

         Dei de ombros.

         - E daí? – perguntei, com total indiferença.

         Charlie me olhou chocado, como se eu tivesse dito algo terrivelmente ofensivo.

         - Você sabe quanto custa um Lamborghini, Emy? – ele perguntou, e, quando percebeu que eu não iria responder, acrescentou: - Muito. Ele custa muito.

         - É só um carro, Charlie. – falei como quem conta a uma criança que o Papai Noel não existe.

         - É aí que você se engana. É muito mais que um carro. A velocidade dele...

         Eu o interrompi, fazendo um sinal para que ele parasse.

         - Charlie, eu não estou muito interessada em falar sobre carros no momento.

         - Como quiser. – falou, se calando.

         Virei o volante bruscamente e peguei a Oakland St. Achei que iria bater no carro à minha frente, mas felizmente isso não aconteceu.

         - Emy, você é uma péssima motorista. – Charlie falou, assustado pelo quase-acidente que eu quase causei.

         - Falar de como eu dirijo tem a ver com carros.

         - Então, como foi seu primeiro dia de aula? – Charlie perguntou, mudando de assunto.

         -Ruim. E o seu?

         - Ótimo. – falou, um pouco empolgado. – O Sr. Fredricksen me pôs em dupla com Christie.

         - Fico feliz por você. – falei sarcasticamente.

         - Emy, você não sabe como ela é de verdade. – Charlie falou, mas no fundo eu sabia que nem ele gostava dela.

         Christie Haggen é a menina mais bonita – na opinião dos garotos – e popular da escola. Ela é tipicamente esnobe e patricinha, e só liga para sua cabeleira loira que pende até metade das costas e para o cartão de crédito do pai dela. Ela tem gigantes olhos azuis e cílios negros grossos que toda garota inveja. Ela vive com sua amiga e companheira de compras, Nicky, uma garota de cabelos castanhos ondulados longos, pequeninos olhos acinzentados e lábios carnudos.

         - E você sabe? – perguntei.

         - Ela é... – Charlie franziu o cenho, tentando pensar em alguma coisa. – Ela é muito gata. – declarou enfim.

         Revirei os olhos, ignorando seu comentário.

         - Droga, está praticamente impossível andar de carro aqui com tanta neve nas ruas. – falei revoltada.

         - Deixe que eu dirija. – Charlie falou.

         - Não. – falei, indignada com sua falta de confiança em mim.

         - Emy, por favor. – falou, sem alterar a voz.

         - Tá bom. – resmunguei, contrariada com a situação.

         Encostei a picape ao lado da calçada e saí do carro, e entrando novamente nele, mas no banco do acompanhante e Charlie assumiu o volante.

         Observei, chocada, enquanto a picape deslizava por sobre a neve com facilidade, e logo já estávamos na porta da minha casa. Charlie se divertiu com a minha expressão.

         - Sério, Emy, como você conseguiu a carteira de motorista? – falou sorrindo.

         - Eu não dirijo tão mal assim quanto você pensa. – resmunguei.

         - Eu sei. – Charlie fez uma careta. – É pior.