Serpentes e Leões escrita por Gaia Syrdm


Capítulo 8
Nascidos da Rejeição


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, muitas vezes, separo imagens para facilitar a visualização das notas da história. Como não sei colocar apenas o link de acesso à imagem em questão, deixei todas elas no meu face (sim, eu finalmente cedi a moda i.i). Além dos desenhos dos personagens, coloquei algumas informações extras!
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Chikage tinha três anos quando machucou alguém pela 1ª vez. Ele chorara e as coisas quebraram. E desde então ficara marcado como uma criança estranha. E perigosa.

Sem pais, sem saber por que era assim, aprendeu que não devia ficar nervoso. Raiva machucava as pessoas.

E sorrir as atraia.

Era melhor sorrir.

Então chegou aquele homem e o levou. E aquele homem fazia objetos voarem e os transformava em outras coisas! Ele mexia com plantas e animais estranhos! Ele era um bruxo e Chikage um sangue-ruim bastante talentoso.

E aprendera que sorrir podia ser sinal de felicidade também.

Então ela veio. E tudo acabou-se. Ele era, descobriu, um mestiço.

E aprendeu que sorrir disfarçava a dor. Sorrir o impedia de chorar.

Mas tudo o que queria era chorar.

Capítulo 8 – Nascidos da Rejeição

Um Malfoy nunca demonstra o que está sentindo. Um Malfoy não se apega facilmente aos outros, demora muito para confiar e não se deixa levar por sentimentos. Um Malfoy não permite que seus sentimentos sobrepujem sua razão. Essas eram as pequenas regras que aprendera desde a infância, regras transmitidas desde muito antes de seu tataravô, regras que permitiam aos Malfoys passarem por diversas situações sem que fossem realmente afetados por elas. Em poucas palavras, Draco aprendeu a definir, anos mais tarde: os Malfoys eram egoístas e tentavam a todo custo serem insensíveis. Seria fácil se as pessoas não tivessem personalidades próprias. Seria fácil se fosse apenas falar.

Por que Malfoys tinham uma tonelada de regras.

E nem sempre as seguiam.

E Draco já estava perdendo as esperanças de conseguir fazê-lo.

Draco demorou muito para perceber que não era errado não ser o Malfoy perfeito. Demorou muito para perceber que isso nada tinha a ver com ele, que o problema não era ele, que não era ele o imperfeito. Demorou mais ainda para tomar consciência que já há séculos os Malfoys não seguiam mais as antigas regras como deveriam.

E nem precisava ir longe para saber que não era o único que fugia das regras familiares.

Seu pai era outro. Lucius Malfoy não era um homem neutro, sabia mascarar seus sentimentos, era uma pessoa distante e fria, não era dado a contato físico e a carinhos, mas não era tão distante quanto deveria. Porque Lucius nunca conseguira esconder o quanto amava sua família, por mais distante dela que ficasse. Porque ele escolhera um partido para seguir, não sendo neutro. Ele escolhera Voldemort e isso abalara o nome da família, coisa que, Draco sabia, teria deixado seu avô furioso. A neutralidade não deveria ser de opiniões e sim de ações.

Até porque os Malfoys tinham outra característica que Draco negara por anos e ainda não admitia plenamente: a falta de coragem. Tão acostumados eram em ser egoístas que não estavam habituados a agir corajosamente em prol de outros. Fossem eles quem fossem.

E essa característica tanto ele quanto seu pai possuíam. Seu pai não tivera forças para lutar contra Voldemort, mesmo não querendo mais segui-lo (o que não significava que eles agora fossem contra aos ideais do antigo Lord. Era apenas uma questão de não desejar se manifestar, não quando as coisas enfim tinham acalmado). E Draco estava seguindo o mesmo caminho.

Draco era igual a seu pai.

Fato que na infância lhe trouxera tanto orgulho agora o deixava apavorado. Porque também não entendia o porquê todos tinham tanto preconceito à magia negra, aos que gostavam de se manter afastados dos trouxas (caramba, eles tinham um Ministério apenas para manter a invisibilidade deles!) e aqueles que achavam pouco natural que pessoas trouxas pudessem se tornar bruxas, havia uma vida inteira de conceitos novos e costumes novos para aprender! Seria isso natural? Pelo menos os mestiços faziam parte dos dois mundos (o que não significava que ele aprovava casamentos mistos. Não era preciso ser um gênio para saber o quanto isso podia dar errado). Draco não queria seguir Voldemort. Ele não tinha estômago para isso. Mas sabia que teria de fazê-lo, mesmo que não se sentisse qualificado para ser um Comensal deveria agir como um. Pelo menos, não era um Malfoy tão imperfeito assim e não se apegava fácil aos outros e não conseguia demonstrar o que sentia facilmente. Nessa hora, era uma vantagem ter sempre seus sentimentos trancados dentro de si.

Fosse qual fosse.

Nem amor, nem amizade, nem nada que não fosse o ódio.

Um bom Malfoy em alguns aspectos (frio, egoísta, medroso, incapaz de demonstrar seus sentimentos de modo espontâneo), mas ainda assim, um Malfoy imperfeito, incapaz de seguir as regras, incapaz de manter-se distante. De não se envolver.

Isso era um mal de família.

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Harry, estava sentado perto das escadas do 4º andar. Rony, Hermione, Luna, Neville e Gina estavam com ele. Falavam das notas que tinham saído e comentavam, surpresos, que pela primeira vez um aluno tinha superado Hermione praticamente em todas as matérias.

Mas mesmo que ninguém mais parecesse notar, o moreno percebeu facilmente o desconforto que Hermione tentava disfarçar, a decepção que sentia com a novidade. Ela nunca antes tinha ficado abaixo de outro aluno em todas as matérias e estava chateada e decepcionada consigo mesma (mesmo que tentasse não demonstrar isso). Ele queria segurar sua mão e lhe dizer para não se preocupar, mas não conseguia agir assim na frente dos outros, pois Rony, por mais ocupado que estivesse comentando que havia passado até em Poções, estava sempre atento a sua proximidade com a amiga. E por mais que dissesse que não se importava, Harry sabia que ele ficaria encanado. E não queria brigar com Rony.

Por que aqueles dois tinham que ser tão lentos? Por que não assumiam logo o que sentiam, por Merlin?!

– Não se preocupe, Hermione, Kakinouchi pode ter notas altas e ter conquistado a maioria dos professores, mas ele não é tão bonzinho como quer que todos acreditem – disse Luna, do nada, sobressaltando Harry (não fora o único a perceber os sentimentos da amiga, no fim) e deixando Hermione sem graça. Ela até tentou dizer que nem estava pensando nisso quando Luna a interrompeu – Já ouviu falar que as flores mais venenosas são aquelas que mais atraem?

– Flores não são venenosas – disse Neville, sem se conter.

– Ah, são... Pelo menos aquelas que nascem nos rochedos das encostas gregas. Lá tem muitas ilhas de difícil acesso e as plantas que crescem lá são muito fortes. Até o perfume das rosas é altamente venenosas.

– Sério? – perguntou o rapaz com súbito interesse e Harry ficou feliz de Luna estar olhando para Neville ou poderia ter visto que Hermione rolara os olhos ante ao que ela julgava mais uma das histórias de Luna.

– Sim. Ele é como essas flores. É de difícil acesso e muito venenoso, mas todos ficam encantados com sua aparência e não percebem. Podem notar, ele está sempre rindo e brincando, mas é exatamente por isso que ninguém pode se aproximar mesmo. Porque acreditam que está brincando, porque sua alegria se torna uma barreira aos assuntos sérios. Ninguém sabe o que ele pensa. Mas ficam todos encantados por seu rosto, sua risada, seus poderes e seu conhecimento. Por isso não veem o quanto é perigoso.

– Draco Malfoy parece ter conseguido acesso a ele – disse Harry, a noite que os vira na estufa ainda em sua memória. Sim, Malfoy e Kakinouchi pareciam ter se tornado muito amiguinhos. Eles estavam sempre juntos agora, até pareciam um casal! Se não fossem ambos homens.

E não havia nada de anormal em pensar nisso e se preocupar com isso. Na verdade, era muito normal que não gostasse de ver os dois juntos, de saber que estavam juntos. Malfoy poderia levar Kakinouchi para o lado dos Comensais e Harry realmente não queria pensar em ter o japonês como inimigo. Claro, era por isso mesmo que a aproximação dos dois o incomodava!

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Draco sempre pensava no quanto a vida podia ser diferente e o quanto cada ação sua poderia ter tido uma consequência diferente se um dia tivesse tido coragem de ser ele mesmo. De fazer o que queria e não o que esperavam que fizesse. Se tivesse coragem de tentar parar de ser o Malfoy perfeito

Diferente do que muitos pensavam, o loiro era bastante consciente de seus defeitos. Sabia que era arrogante, mimado, um pouco narcisista e esnobe, que estava acostumado a ter tudo o que queria e não podia ser chamado de um rapaz "justo", pois apreciava ver aqueles que o irritavam se darem mal. E sabia que era covarde.

E de todos eles este era o único que o incomodava de verdade.

Quantas vezes desejara ser diferente? Nem ele sabia. Por que se fosse diferente, se não tivesse tanto medo de se machucar e das consequências, tantas coisas em sua vida poderiam ter acontecido de outra forma: a primeira e mais importante era que ele poderia estar fora dessa guerra, claro que ninguém pedia demissão ao Lord, mas sempre era possível fingir que ainda eram vigiados, sempre era possível apelar a Dumbledore. Afinal, seu desprezo pelos sangue-ruins não chegava ao desejo de vê-los mortos. Não. Desprezo e desejo de destruição eram coisas muito diferentes. E ele nem queria ser um Comensal da Morte. Mas não o fariam. Não tinham feito antes e não fariam agora. E não porque apenas suas ideias eram diferentes, mas porque era tarde demais e essa era outra coisa que não podia ser mudada.

E era tarde demais para mudar o começo de tudo. Mesmo quer desejasse tanto (e há tanto tempo) mudar aquele dia, aquele início, aquele encontro em um vagão de trem, quando tinha apenas 11 anos. Seria ótimo se as mudanças pudessem ter começado ali, com ele sendo menos arrogante e mais gentil, e quem sabe sua mão também tivesse sido apertada? Talvez, se não se sentisse tão apreensivo diante da perspectiva de finalmente conhecer o poderoso garoto-que-sobreviveu, tivesse conseguido soar mais verdadeiro e quem sabe a história fosse outra? Mas não conseguira e Potter nunca saberia a importância que a amizade do testa-rachada tinha para o Draco de 11 anos. Nunca saberia que até aquele dia, o moreno fora o seu melhor amigo.

Desde pequeno, Draco ouvia histórias sobre o garoto que havia sobrevivido e o imaginava, sem saber quando começara a gostar do outro garoto que nem conhecia, quando começara a sonhar com as conversas e com os jogos que teria quando enfim se encontrassem. A verdade, nunca admitida a ninguém, amarga e guardava bem fundo em sua mente, era que desde antes de se lembrar Draco sonhara em ser amigo de Potter e não apenas pelas vantagens que isso lhe renderia.

Por isso, quando se dirigiu a cabine onde estaria o grande Potter, o loiro estava com medo, sem saber exatamente como abordaria aquele que desejava tão intensamente conhecer. Fora idiota e admitia isso, mas Potter não fora muito diferente. Potter o desprezara sem saber nada a seu respeito, Potter fora preconceituoso e cruel. E Draco não soube reagir a essa rejeição de forma diferente. A magoa aos poucos se transformou em ódio.

Foi quando machucar Potter se tornou uma espécie de compensação. Ele o machucara e Draco o machucaria de volta. O machucaria até ficar satisfeito. O machucaria até que sua própria dor pudesse ser apagada.

Mas Potter parecia ser realmente imune a tudo e Draco nunca conseguia realmente afetá-lo. Afetava os Weasley, conseguia afetar Granger às vezes, mas não o menino-mais-maravilhoso-do-mundo (ECA!). Tudo bem que sua família nunca apoiara muito os Weasley (como bruxos podiam agir como trouxas?! Era como se quisessem negar seu próprio sangue mágico!. Como se este fosse inferior!), sempre vendo a família ruiva como opostos: puros, tradicionais, mas com histórias de vida completamente diferentes, com uma visão de mundo muito diferentes. Harry não só o negara como aceitara o outro que Draco nunca seria. E machucar Ronald Weasley tornou-se também uma compensação. Potter o machucava e como não conseguia revidar, machucava o garoto que lhe roubara Harry. Fazia o mesmo com Granger, apoiando-se na desculpa (verdadeira) de não aceitar o fato de uma sangue-ruim ser melhor aluna (e bruxa) que um sangue-puro.

E assim mais de três anos se passaram.

E Potter se mostrava cada vez mais incrível, fazendo coisas que garotos de sua idade não faziam. E Draco se sentia cada vez mais distante. E seus pensamentos pareciam estar sempre pregados no rapaz grifinório que mais odiava. Então percebeu, no 4º ano, que muito do que sentia não era apenas magoa, ódio e inveja (pois Draco já era capaz, nessa época, de admitir que sentia, sim, inveja de Harry Potter, inveja de tudo sempre dar certo em sua vida, inveja dele ter a coragem que sempre lhe faltava). Potter conseguira o impossível novamente e se tornou um dos campeões de Hogwarts. E machucá-lo através dos artigos de Rita Skinner não era o suficiente. Mas o que mais podia fazer?

Assim chegou o dia que fez seu sangue gelar e toda a sua confiança despedaçar. Foi quando percebeu aquele outro sentimento que tão bem escondera de si mesmo. Estavam na primeira prova do Torneio Tribuxo e Harry enfrentava um dragão sozinho! Ele podia ter tido mais azar na escolha de seu dragão? Claro que não! Mas ele era Harry Potter e sairia dessa. Como sempre. E ao invés de sentir eufórico com toda a adrenalina da situação e irritado com o fato de Potter poder estar lá mesmo tendo só 14 anos, Draco percebeu que estava com medo! Medo de Harry se machucar! Foi quando o loiro notou que além de todo o seu ódio alguma coisa crescera dentro dele. Era aquele sentimento de amizade que tanto quisera ter de Potter, alimentado por toda a sua obsessão em manter-se perto, em fazer-se notar pelo outro que evoluíra e foi com horror que Draco percebeu que gostava de Harry! Um gostar diferente daquele que sentia por Pansy e Blaise. Passara tão mal que até assustara Pansy quando ficara trancado o resto do dia no quarto.

E foi assim, do dia pra noite, que Draco percebeu o que sentia e começou a notar os pequenos sinais que ele próprio dava e que nunca notara antes: sua insistência em atazanar a vida do outro, fazendo-o nunca esquecê-lo, sua necessidade em se provar pra ele, o ciúmes que sentia de seus amigos, o modo como ajudou a divulgar um romance entre Granger e Potter só para saber se eles realmente tinham algo, ou se Potter tinha alguém. E tudo isso não foi nada fácil de aceitar.

Depois o que fazer com tal sentimento? Não era como se depois de quase quatro anos de inimizade pudesse chegar em Harry e dizer algo! E havia outro detalhe fundamental: ele não era uma garota e Harry também não! Como se chega em outro cara e joga uma bomba dessas? Era algo impossível até mesmo de imaginar! Ele, Draco Malfoy, aquele que infernizou a vida do pobre-menino-que-não-morre-de-jeito-nenhum por anos, simplesmente não podia chegar no tal meninO e dizer "gosto de você". Porque, 1) ambos eram rapazes!, 2) eles se odiavam, 3) ele nunca fizera nada além de atrapalhar sempre que podia a simples e boa vida de Potter, 4) ele não dava um dia pra escola inteira saber que Draco Malfoy tinha se tornado gay e se apaixonado pelo seu rival.

Não era algo possível. Era algo que ia muito além da simples falta de coragem.

Foi isso que pensou e foi nisso que acreditou tão fortemente!

Mas uma vez que se toma consciência de uma coisa dessas diversas coisas começam a mudar, e nem sempre de forma lenta o suficiente para se acostumar com a nova situação. É como se ver apaixonado pelo melhor amigo, você não sabe quando começou, não pode precisar o momento que o olhou pela primeira vez de forma diferente, sabe que ele sempre foi importante, mas de repente você se vê olhando-o de outra forma e querendo mais do que acredita que ele possa te dar. E tudo muda da noite para o dia e você não consegue mais olhá-lo sem sentir seu coração disparar, fica nervoso sem motivo e ansioso e não sabe controlar tais ações. Tudo muda e é difícil lidar com a nova situação e muito mais ainda com a nova informação. Com Draco fora quase assim. Só que Harry não era seu amigo. Era seu rival, seu inimigo e aquele que devia odiar. E Draco não sabia como lidar com isso. Estava acostumado a sentir raiva ao ver o moreno e não a se sentir nervoso e ansioso e como se seu coração tivesse resolvido dar uma festa de arromba dentro do seu peito. Draco não sabia lidar com esses novos sentimentos. Sua nova realidade o torturou. E ainda o torturava.

Mas ele era o eterno rival de Harry e todos estavam mais do que acostumados a ouvirem-no falando do Potter o tempo todo por isso ninguém parecia ter percebido.

Tentava ser o mesmo, e até conseguia, desde que mantivesse uma distância segura do grifinório e o visse por pouco tempo.

Draco queria e tinha que esquecer o testa-rachada. Precisava. Pelo bem de sua própria sanidade. E chegou a achar que tinha melhorado. Então fevereiro chegou e Draco teve seu primeiro sonho com Harry. Não foi um sonho picante ou ousado, mas foi o suficiente para impedi-lo de dormir por duas noites seguidas! Fora assustador. E por dias sentiu o toque dos lábios de Harry nos seus.

O que era pior? Descobrir-se gay ou descobrir-se apaixonado pelo seu rival?

Aí chegou junho e... tudo desabou. O Lord das Trevas voltou e tudo se tornou um pesadelo. Se antes era impossível dizer algo, agora era impensável, impraticável, inimaginável e inegavelmente impossível dizer qualquer palavra a respeito. A qualquer pessoa. Era como se tudo lhe dissesse que aquilo era loucura e que não podia ser verdade.

Mas era.

E ele tinha realmente ficado preocupado com Harry. Muito preocupado. Tanto que no último dia de aula não conseguira segurar a língua e o alertar do que lhe esperava. Mas Potter não lhe dera atenção. Não percebera que lhe chamara de Harry, não percebera que era um aviso. E claro que não podia ser mais óbvio na frente de seus colegas.

Passara as férias nervoso. Preocupado. Com medo. Os sonhos ficaram mais frequentes e já estava começando a aceitar o fato de que talvez fosse gay mesmo. Isso ele podia aceitar. O que não podia aceitar era o fato de desejar Harry Potter. Queria conversar com alguém a respeito, mas quem? Não podia falar sobre isso com seus pais, mesmo excluindo o nome Potter da conversa, não podia simplesmente chegar e dizer que achava ser gay. Ainda mais quando os dois andavam tão nervosos devido ao retorno do Lord-que-também-se-recusava-a-morrer. E não tinha nenhum amigo com quem pudesse conversar. Crabbe e Goyle? Impossível, os dois nunca entenderiam. Pansy? Ela era sua amiga, gostava dela. Mas poderia dizer isso a ela? Blaise então? Duvidava muito que o amigo entendesse. E quem mais havia? Foi a primeira vez que Draco notou o quanto era sozinho. Foi quando invejou Potter mais um pouco. Porque passara a vida toda aprendendo a ter servos e não amigos e agora não tinha com quem falar. Podia contar várias coisas a Pansy e Blaise, mas não todas. Estava sozinho nessa.

E quando tivera seu primeiro sonho mais ousado com Potter, pouco antes de retornar a escola, Draco teve um ataque de raiva e dor e destruiu uma parte considerável de seu quarto.

Tivera um péssimo 5º ano. Seus sentimentos não sumiam, não importava o quanto tentasse e os sonhos que tinha com o moreno não ajudavam muito. Ficar perto de Harry ficava cada vez mais difícil. E como se tudo isso não fosse o suficiente para acabar com os nervos de qualquer um, ainda temia pela vida de Harry. Alistara-se na Brigada de Umbrigde para tentar descobrir o que Potter andava fazendo, por curiosidade, preocupação e por si mesmo. Ver Umbrigde irritando Harry o irritava e o agradava. Era ambíguo, mas era reconfortante ver que não era o único que sofria. Era como ver Potter pagar pelo que fazia com sua mente e corpo.

"Vê como é bom ser perseguido? Se ver encurralado? Ter seus planos frustrados? Viver frustrado?" – pensava.

Era infantil, mas para seu coração desesperado qualquer coisa era válida. Harry invadia sua mente e seus sonhos o tempo todo e não era justo que apenas ele sofresse com isso. Ver Potter irritado o fazia se sentir compensado pela frustração que o mesmo lhe infligia sem saber. Muito infantil, sabia. Mas o que podia fazer?

E então o desgraçado prendeu seu pai.

E mesmo assim, não conseguia deixar de gostar dele! Não conseguia impedir seu coração de disparar e não conseguia odiá-lo como devia. Ele era o cara que arruinara sua família e o típico caso de "amor impossível". Mesmo assim, não conseguia.

Tentava. E continuaria tentando sempre.

Sem muito êxito, é verdade, mas tentava.

E ainda estava negando para si mesmo que pudesse estar apaixonado por Harry.

A volta as aulas fora um alívio (sair da presença de tia Bella era sempre um alivio) e um carma (ver Harry todos os dias era desgastante).

Sentia-se injustiçado por Harry poder acabar com ele de tal forma e por estar bem quando ele estava péssimo. E era tudo culpa dele!

Dele e dos malditos grifinórios que adoravam torturá-lo! E McGonnagal era uma típica grifinória. Ela tinha que trancar os dois sozinhos numa masmorra? Ela tinha mesmo que ter feito isso com seu pobre coração aos pedaços? Fazia tão pouco tempo e parecia tanto tempo. Draco ainda se lembrava muito bem do que fora ter tanta proximidade com Harry, o que fora encarar seus olhos e quanto foi difícil para ele se segurar e não beijar Potter. Provar dos lábios que em sonhos conhecia tão bem. E Draco acreditava que teria feito isso se um dos baldes que Pirraça derrubara não tivesse caído e feito o maior estrondo. E o loiro não sabia se agradecia ou amaldiçoava o tal balde porque uma chance daquelas nunca mais se repetiria, mesmo que não conseguisse nem pensar nas consequências que tal ato poderia ter em sua vida. Imagina, beijar Harry.

Peraí, Harry? HARRY? Não era Harry, merda! Quantas vezes teria que dizer a si mesmo a mesma coisa? NÃO ERA HARRY! Era Potter, POTTER! Era Potter-testa-rachada, era Potter-qualquer-merda! Não Harry! Não podia ser Harry.

E Potter achava que ele tinha problemas.

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Jogava quadribol com os Weasley num dia chuvoso, mas quente. E isso era agradável! As risadas e brincadeiras faziam-no sentir-se mais leve, como e não houvesse uma guerra do lado de fora, assassinos lhe perseguindo e uma cicatriz dolorida na testa. Harry curtia o vento nos cabelos e os pequenos pingos de chuva que atingiam sua face quando percebeu que mudava de ambiente, como é típico nos sonhos, e agora se via no Salão Comunal da Sonserina. No mesmo salão no qual estivera aos 12 anos, disfarçado com a aparência de Goyle. Estaria sozinho se não fosse por Draco e Kakinouchi, que conversavam juntos numa mesa de canto. Vê-los juntos não o agradava. Tentou lembrar-se do porque estava ali, mas nada lhe veio a mente. Mas já que estava ali, porque não seguir o conselho de Dumbledore, que havia lhe pedido para tentar se aproximar de Malfoy, dizendo-lhe que agora que Lucius Malfoy estava preso, Draco devia ter perdido muito prestigio entre os Comensais e até mesmo entre os sonserinos e poderia estar propenso a mudar de lado para sobreviver. A Ordem queria oferecer essa chance ao loiro, mesmo que Harry achasse isso impossível.

Aproximou-se de Malfoy, que ria junto de Kakinouchi, percebendo que ao fazer isso tanto Malfoy como Kakinouchi pararam de rir e o olharam com desprezo. Quis dizer "oi", mas sua boca não se abriu. Estava imobilizado e se sentindo exposto. Quis ir embora, mas suas pernas não se moveram. Quis acordar, mas seus olhos não abriram.

O que quer aqui, Potter? Porque não volta para os seus amigos grifinórios? Afinal, não foi lá que você escolheu ficar? – disse Malfoy.

Silêncio. Harry podia sentir o clima pesado. Mesmo assim, não conseguia falar nem acordar.

Acho que ele mudou de ideia, Draco – disse Kakinouchi, mas ele não estava rindo ou alegre. Estava sério e parecia cruel. Sua expressão era muito parecida com a de Alois Trancy – Acho que agora ele quer apertar a sua mão.

E Harry quis dizer sim, mas sua voz ainda estava presa, mas conseguiu, com esforço, estender a mão, oferecendo-a. Poderia falar de novo se fizesse isso?

E os dois sonserinos a sua frente se entreolharam. Malfoy então se levantou e Harry percebeu que o loiro tinha ficado mais alto, estava também mais altivo e muito mais confiante e seus olhos, aqueles olhos cinza manchados de azul, estavam totalmente escuros de desprezo. Tentou abaixar a mão, mas agora ela se recusava a voltar a posição original. Sentiu medo. E Draco já estava na sua frente. Ele agora o olhava como se Harry fosse um ser inferior. Eram segundos que pareciam horas. Então o loiro olhou para a mão estendida e bateu nela, afastando-a da mesma forma que se afasta um mosquito chato.

Acho que ele não precisa mais de você, Potter. Afinal, porque precisaria, ele tem a mim, não tem? – disse Chikage, ainda com aquela voz séria e que em nada combinava com ele. E ele também não estava mais sentado na mesa de estudos, estava em pé, ao lado de Malfoy, as mãos cruzadas apoiadas nos ombros largos, o sorriso era convencido e cabeça quase apoiada no ombro do loiro (gesto impedido pela grande diferença de altura que tinham).

O que acha de ser rejeitado, hein, Potter? É bom, não é? – disse Malfoy. E Harry enfim conseguiu acordar.

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– Ouvi dizer que vai passar o natal conosco, Draco. Pensei que voltaria para casa para ficar com sua mãe – disse Chikage do nada, sentando-se ao lado do loiro no Salão Comunal da Sonserina. Estava bastante frio e por Draco estar longe da lareira os dois estavam praticamente sozinhos num canto. Mas sabiam que todos os olhavam com curiosidade. Isso fazia bem para o abalado ego do loiro. Mesmo que muitos o ignorassem agora que seu pai fora preso, ele ainda era capaz de despertar o interesse alheio. O interesse de alguém.

– Sim. Vou. Quem lhe disse?

– Um monte de gente comentou. Por que não vai voltar para casa? Problemas? – perguntou o japonês sentando-se na poltrona do lado do loiro e o encarando. Os olhos verdes adquirindo um tom escuro pela falta de luz.

– Não. Nada. Apenas vou ficar por aqui. E você? Vai voltar para casa?

– Não. Mas a situação é diferente. Nem adianta tentar dizer que somos iguais porque ambos ficaremos aqui. Enquanto eu não tenho para onde voltar, sua mãe está te esperando, não é justo com ela, é? – perguntou o moreno abraçando as pernas, o sorriso inabalado mesmo quando dissera "não tenho para onde voltar". A expressão indiferente e feliz de todos os dias. Essa alegria inesgotável estava começando a irritar Draco.

– Não tem para onde voltar? Como assim? E seus pais? Estão no Japão?

– Essa é uma boa pergunta. Não faço a menor ideia! – e Draco sentia que aquele sorriso não devia estar ali. Não quando palavras tristes saiam por aqueles mesmos lábios.

– Faz tempo que quero te perguntar, mas sempre esqueço. Por que você veio para cá? Você não é sangue-puro, é? – perguntou de forma cautelosa, pois tinha medo da resposta que ouviria. Chikage nunca falava de sua família ou do que o levara a Hogwarts e Draco queria saber esses detalhes. Não sabia por que acreditava que o amigo não era um sangue-puro, mas sabia que mesmo se ele dissesse sangue-ruim continuaria gostando de Chikage. Só não sabia por que.

Mas era isso amizade, não? Se atrair pelos outros sem nenhum motivo especial. Apenas gostar e gostar por gostar, sem se importar com outras coisas. Era piegas demais e muito não Malfoy. Era inédito e novo para Draco. Mas, estranhamente, era um sentimento agradável.

E depois, confiava em Chikage. Não havia uma razão. Era como gostar de Potter: sem razão, inexplicável e beirando a loucura completa. Mas algo com o qual Draco não podia e estava cansado de lutar contra.

– Hummm... eu diria que sou um sangue-ruim-mestiço.

– E o que vem a ser isso?

– Que isso é uma loooonga história, mas que vou tentar resumir. Vejamos... começamos por onde?

– Que tal do início? – perguntou Draco sem esconder o sarcasmo que era sua característica principal.

– Do início? Ok. Bem, eu não sei por que meus pais resolveram transar e muito menos se eu vim de um método anticoncepcional que falhou ou foi proposital, mas o que aconteceu é que minha mãe acabou fecundada...

– Ok, não tão do início. Será que você tem que levar tudo ao pé da letra? – indagou o loiro fingindo mau-humor e fazendo Chikage rir.

– Mas é que é aí que está a graça! Mas ok, vamos lá. Eu não sei onde estão meus pais porque eu nunca os conheci, nem sequer sei seus nomes. Acredito que meu pai fosse um japonês trouxa e isso é tudo o que arrisco dizer sobre eles. Cresci num orfanato trouxa, acho que estive lá desde que nasci, mas não sei como fui parar lá. Sempre acreditei ser trouxa, mesmo quando minha magia começou a despontar e causar problemas. Acho que você sabe do que estou falando – e ante a um aceno de confirmação que Draco deu com a cabeça Chikage continuou, sem nunca parar de sorrir – As outras crianças diziam que eu era esquisito. Então veio um homem chamado Keigo Kakinouchi. Ele era um bruxo semi-mestiço (seu pai era sangue-ruim e sua mãe trouxa) e ficou com dó de mim, pois acreditou que eu fosse um sangue-ruim e que teria muitos problemas para viver ali. Ele me adotou e me criou, eu tinha seis anos. Mas morreu há pouco mais de três anos. Desde então sou eu por mim mesmo. Claro que voltei a ser responsabilidade do orfanato, mas Kei-san me deixou dinheiro suficiente para sobreviver. Ele nunca foi um pai para mim, mas era um bom tio. Eu gostava muito dele, na verdade.

– Como foi que ele morreu?

– Um feitiço que deu errado. Sabe como é trabalhar com fusão mágica, nem sempre é seguro.

– E... você não tem mais ninguém?

– Tenho meus amigos. São uma boa família. Me tratam muito bem.

– Se você é sangue-ruim... por que diz sangue-ruim-mestiço?

– Por que na verdade eu não sou um sangue-ruim, apesar de ter crescido achando isso. Recentemente descobri que minha mãe provavelmente é bruxa...

– Como soube disso?

– Intuição! – disse Chikage sorrindo, como se fosse uma criança que chegou a uma grande conclusão que na verdade não tem nada de grande e nem de lógica – E por que parece que ela trabalhou na minha ex-escola... Outra história muito longa – disse, movendo a mão direita no ar como se espantasse algo, mas ante ao olhar de Draco, Chikage resolveu completar – Eu já sabia que ela não era japonesa, mas isso porque eu também não pareço com um japonês, né? Por isso, eu só poderia ter puxado a minha mãe. Podemos dizer que somos a "cara de um, focinho de outro". E desde que entrei no mundo mágico, já ouvi várias vezes que sou muito parecido com uma certa bruxa que atualmente vive na América. Não muito diferente do que você deve ouvir em relação a você se parecer com seu pai. Comecei a achar que essa bruxa é minha mãe porque além de dizerem que somos muito parecidos, também é público que quando ela morava no Japão abandonou um filho recém-nascido, que atualmente teria a minha idade. Um filho de um trouxa. Assim, apenas somei 2+2. Mas acredita que mesmo assim nem sei seu nome? E ela com certeza, mas também nunca tentou me ver. Acho que ambos somos mesmo idênticos, no fim. Nunca iremos atrás um do outro porque não ligamos a mínima um para o outro. Depois, porque existem pessoas que teimam em ir atrás daqueles que as abandonaram? Eu não vou fazer isso, nem tenho vontade de saber algo a seu respeito. Não quero seu nome. Não me importa, realmente. Meu nome é Kakinouchi e sempre será.

Era assim? Simples assim? Abandonado, órfão, adotado, órfão novamente. Era por isso que Chikage nunca recebia cartas? Mas ele era tão dado com todo mundo! Devia ter muitos amigos, entretanto... é, Draco nunca o vira receber nem mesmo uma coruja. E mesmo assim ele estava sorrindo.

E Draco não conseguiu não pensar "e se fosse eu?". Sabia que o japonês não dissera como ou porque fora para a Inglaterra, mas não conseguia pensar nisso. Sua mente ocupada com inúmeras comparações, cheia de perguntas. Será que se sua mãe tivesse lhe abandonado conseguiria Draco ser tão feliz? Conseguiria falar daquele jeito? Ele conseguiria ser alegre dessa forma se chegasse em Hogwarts e soubesse que Narcisa provavelmente era sua mãe e que não ligava a mínima para isso? E se seu pai fizesse o mesmo? Um orfanato não devia ser um lugar nada agradável para se viver.

Tudo bem que seus pais eram pessoas frias, que não lhe davam carinhos o tempo inteiro, nem viviam de lhe abraçando ou dando beijinhos, que ele não os chamava de 'papai' e 'mamãe', no entanto eles nunca deixavam de lhe dizer 'boa noite', de esperá-lo para o café da manhã, não importando a hora que o loiro levantasse (direito adquirido porque, afinal, o garoto está de férias), nunca deixavam de se escrever. E Draco sabia, por mais que isso não fosse dito em palavras, que eles lhe amavam. Bastava olhar para eles, bastava ver o modo como o olhavam. O amor não estava apenas em declarações e fortes demonstrações. Amor também era aquela preocupação zelosa, o carinho de lhe esperar, de levantar mais cedo por ele, de lhe preparar um chocolate quente nas noites frias para que ele "dormisse melhor". Amor também estava na preocupação que mostravam para com o seu futuro. E não era amor seu pai lhe ensinar a voar e jogar mesmo quando devia estar ocupado com seus negócios? Sua mãe ir ao seu quarto tirar sua temperatura quando estava doente de minuto em minuto, em vez de mandar que os elfos o fizessem também não era amor? Draco nunca precisara de abraços e palavras ditas ao vento. Ele só precisava dessas pequenas provas.

Ele só precisava olhar nos olhos azuis dos dois para saber.

Não era como aqueles que se viam apenas sustentados e recebiam seu dinheiro mensal sem nem um gesto de carinho ou olhar.

Não era preciso, no fim, carinhos intensos para ver amor em gestos que eram mais do que fruto da obrigação que os pais têm para com seus filhos.

Bastavam os sorrisos, as conversas noturnas, os passeios.

E não era como se Draco conhecesse uma outra forma de demonstrar amor do que aquela. Não tinha avós, não visitava casas nas quais as coisas fossem diferentes. Não podia desejar algo que não sabia que existia.

E mesmo quando soube, não desejou.

Porque sabia que seus pais fariam tudo por ele.

Assim como o contrário era recíproco.

Mas Chikage não sabia o que era nada disso.

Chikage nunca ouvira um "boa noite", nunca sentiu uma mãe carinhosa cuidando dele num período de doença ou recebera uma carta familiar.

E ainda assim ele conseguia sorrir daquela forma.

– Sabe, você é tão feliz que ninguém nunca imaginaria que não teve uma vida perfeita.

– E quem foi que disse que minha vida não foi perfeita?

– Não sei... talvez o fato de você não ter pais? Ou família?

– Você tem pais e nem por isso vai passar o Natal com eles.

Esperto. Como sempre.

– Meu... pai. Está preso. E minha mãe está com a irmã dela em casa. E eu não suporto minha tia Bella. Não suporto.

– E sua mãe a suporta?

– Elas são irmãs, é natural que se gostem.

– Será mesmo? O natural não é que mães amem seus filhos? Minha mãe nunca me amou. Nem por um minuto.

Isso era o quê? Uma lição de moral?

– Bem... é tarde demais para mudar de ideia agora.

– Ei, Malfoy. Cuidado, ok? Estamos em guerra. Cuidado para não se arrepender depois. Askaban é muito cruel e acho que ver a esposa e o filho amado é um dos melhores consolos a alguém que está há meses vivendo em pesadelos. Você não poderia viver por duas semanas o pesadelo de estar com sua tia para dar um pouco de luz ao pesadelo no qual seu pai está imerso? Isso também não é amar? Pense nisso. Pode ser tarde agora, mas ainda temos a Páscoa. Não que seu pai não vá lhe perdoar. Só que conseguir seu próprio perdão é mais difícil do que conseguir o dele. Mas claro, isso é só um conselho. Não é como se eu realmente entendesse do que estou falando, não?

E Draco se encolheu levemente ao apertar o antebraço direito ignorando completamente a voz que no fundo de sua mente perguntava:

"Eu contei tudo isso a ele?"

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Quando o despertador de Harry tocou na manhã de domingo o moreno sentiu ímpetos de destruí-lo. Mas ainda teria que levantar e ainda teria que comprar um despertador novo ou consertar o velho e feitiços reparatórios não eram bem a sua praia. Acabaria por fazer algo dar errado e ainda tomaria uma bronca de Hermione ("se você tivesse mantido a cabeça fria e não ficasse brigando com o Malfoy a cada 5 minutos não teria que passar pela detenção do professor Trancy", ela diria com aquela cara de pena e de aviso. Ele não estava a fim de pena e estava muito propenso a mandar os avisos se danarem!). Droga de domingo! Não podia ter demorado um pouco mais para chegar?

E seu corpo estava pesado. Pesado como chumbo, assim como seu humor, que estava péssimo.

Maldita manhã ensolarada de inverno!

Será que não bastava Voldemort atrás dele? Ainda precisava lidar com a perseguição dos sonserinos e de alguns professores. Parecia que todo ano ao menos um implicava com ele! Ah! Ele era um eterno perseguido mesmo!

Tão concentrado estava em xingar o mundo, curtir seu mau-humor e fingir que não via a animação dos colegas que curtiriam um ótimo domingo em Hogsmeade (enquanto ele estaria preso a Malfoy, literalmente) que não percebeu que Hermione e Rony estavam tentando falar com ele a mesa do café. Na verdade, só reparou que eles estavam ali quando sentiu a mão de Hermione em seu braço.

– O que foi, Mione? – perguntou o mais gentilmente que seu estado de animo permitia. Não queria de forma alguma ser rude com a amiga e via facilmente a preocupação expressa nos olhos castanhos. Ela preocupada com ele e ele pensando só em si mesmo.

– Nada, apenas estou te chamando faz 10 minutos e você nem percebeu. E eu me pergunto o que estava ocupando a sua mente – respondeu a garota, a mão ainda pousada em seu braço com carinho, sem nem perceber os três pares de olhos que olhavam a cena com reprovação e ciúmes.

– Várias coisas.

– Alguma delas tem cabelos loiros e olhos cinzas? – sussurrou a garota perto do ouvido de Harry para que Rony não ouvisse. A menção a Malfoy fez Harry ficar desconfortável e propenso a mentir, mas lembrou que não precisava mentir para a garota. Hermione era a única que sabia o que vinha se passando na sua cabeça e odiava mentir para ela. Não queria mentir para Rony também, mas não achava que o ruivo ia encarar bem seus novos pensamentos a respeito da doninha quicante.

– E por que acha isso? – perguntou Harry, também sussurrando. A sua frente Rony ergueu os olhos de suas torradas e encarou os dois, mas pareceu entender que não era que eles o estivessem excluindo e sim que eles apenas não queriam que os outros ouvissem. Não estavam sozinhos na mesa afinal, apesar de esta estar consideravelmente vazia. Ou nem tanto, se levassem em conta que eram 7:30h de um manhã gelada de domingo. Este ainda lhes lançou um último olhar antes de voltar a comer, mas era óbvio para os dois que eles deveriam ter um bom assunto para contar a Rony como sendo o tema da conversa.

– Porque você estava com os olhos fixos na mesa da Sonserina, exatamente onde agora este mesmo loiro está sentado junto do Kakiou – respondeu a garota e Harry não levou nem um segundo para realmente olhar para a mesa dos sonserinos e viu, bem a sua frente, Malfoy e o japonês conversando animadamente. Malfoy até mesmo sorria!

"Duplinha dos horrores essa" – pensou e antes que Mione percebesse que agora estava mesmo olhando para Malfoy, respondeu – Eu não estava olhando para ele. Foi coincidência. Estava pensando em outra coisa na verdade. Acho que está ficando paranoica, Mione – disse Harry tentando sorrir, mas seu sorriso estava duro e falso. A sua frente Kakinouchi ria de algo, abaixando levemente a cabeça – "Risada mais idiota".

– Harry, você já percebeu que ultimamente não anda mais prestando atenção no que a gente fala? – perguntou Hermione, com cuidado, mas quebrando mais uma vez a linha de raciocínio do moreno que observava com cara de poucos amigos a atual e mais famosa dupla do Castelo – E nem tem conversado direito com a gente. Fica sempre quieto, pensando em algo que não compartilha conosco. Fica difícil saber se há um problema quando você não fala. Acabamos pensando que você está pensando no Malfoy de novo.

– E por que eu teria que estar pensando nele? – perguntou Harry indignado e não percebendo que corara um pouco. Hermione sempre acertava!

– Porque eu sei que você já reparou em como Rony e eu reagimos quando você fala dele e que por isso você tem evitado culpá-lo até mesmo pelo dia que chove nos seus treinos. Claro que agora eu entendo melhor o que anda se passando pela sua cabeça, mas Rony não sabe e vai continuar pensando a mesma coisa. Eu já te disse isso Harry, acho que você está exagerando, em diversos aspectos, na verdade. Sabia que isso pode se tornar uma obsessão? E o que vai se tornar depois?

– Acho que posso dizer o mesmo de você. Já reparou como ficou obcecada em superar Kakichi?

– Mas você, como o bom amigo que é, me alertou para o fato e você já deve ter percebido que eu parei. Estou tentando não me preocupar mais com isso. E estou preocupada com você. Eu entendo que você deva estar muito chateado, e até mesmo zangado, por ter que passar o dia todo preso ao Malfoy, mas eu achei que depois de ontem você estaria menos distante. Isso está me deixando apreensiva, Harry. Não sei o que fazer.

– Ok, ok, eu vou...

– Não é parar de nos dizer o que está pensando. É parar de se preocupar com isso. Você sabe a diferença, não? – interrompeu a garota e Harry sorriu, de verdade dessa vez.

– Ninguém te supera, garota. Ok, eu vou me esforçar. Também não quero perder meu tempo pensando na doninha albina. E depois da detenção de hoje vou definitivamente esquecê-lo. Está bom assim?

– Não. Mas é um bom começo. Agora... o que vamos responder para o Rony quando ele quiser saber sobre o que conversamos? – perguntou a garota, um sorriso travesso nos lábios.

– Que tal... decidindo o presente de Natal dele?

– Ah, Harry, você é demais sabia?! – exclamou a garota, feliz ela até deu um levíssimo, e muito rápido, beijo na bochecha do moreno – Ótima ideia. Vê como você é muito melhor do que um certo loiro?

Mas Harry não respondeu, estava vermelho e sem graça. Na sua frente Rony o encarava com as sobrancelhas erguidas e no rosto uma expressão de dúvida e surpresa. O mesmo acontecia com mais três pessoas naquele salão. E enquanto duas nutriam forte ciúmes uma começava a ficar decididamente preocupada.

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– 7:50h – Harry disse para si mesmo assim que parou na porta da sala de Alois Trancy. Beleza, chegara adiantado. Saíra praticamente correndo do Salão Principal quando vira o horário, mas dera tempo. Um ponto a favor para o péssimo dia que o aguardava. Mas também só mesmo Trancy para marcar com alguém às 8 horas da manhã de um domingo! Harry sabia que ele era sádico, mas estava começando a achar que o professor estava um nível acima do sadismo, isso sim. Respirou fundo e olhou ao redor. Nada de Malfoy. Estanho, como o sonserino ainda não chegara se saíra mais cedo que ele do Salão... onde teria ido?

– Parece ansioso para cumprir nossa detenção, hein, Potter? Chegou cedo pra caramba – Harry ouviu a costumeira voz arrastada que aprendera há muito tempo a associar a "problemas". Evidentemente nem precisou olhar para saber quem havia chegado (como se pudesse ser outro).

– E você também não chegou cedo? – perguntou irritado. Seu mau-humor ficando claramente mais acentuado ao ver quem estava ao lado do loiro.

– Quanto mais rápido passarmos por isso, mais rápido me vejo livre.

"Boa resposta" – pensou Harry azedo enquanto cruzava os braços e olhava para a figura pequena que estava ao lado do loiro – E você, Kakiou, o que faz aqui?

– Apenas companhia.

– Hn, vocês dois andam tão grudadinhos ultimamente. Daqui a pouco os outros vão acreditar que estão tendo um caso ou coisa do gênero – disse Harry na voz mais amiga que conseguiu. Não deu muito certo. Kakinouchi identificou a raiva contida na mesma hora e sorriu mais ainda.

– Acho que a essa altura todos já sabem que sou homem então não acredito que corramos esse risco – e teatralmente olhou para o loiro ao seu lado, como se o avaliasse de cima a baixo. Chikage era quase uma cabeça mais baixo que Malfoy, consideravelmente mais delicado e se fosse mulher inegavelmente faria um par bonito com o loiro, pois ambos eram bonitos (Malfoy, dono de uma rara beleza masculina, e Kakinouchi, dono de uma delicada beleza feminina), populares (mesmo que de formas diferentes) e eram os dois solteiros mais desejados de sua casa (excluindo a questão do sobrenome, claro. O nome Malfoy atualmente tinha se tornado um nome desvantajoso). Nesse tipo de situação o normal seria os dois se tornarem rivais, mas apesar de possuírem personalidades bem diferentes, ambos haviam conseguido se dar muito bem – Mas sabe, Draco, você realmente não é de se jogar fora – disse travessamente enquanto mordia o indicador da mão direita (que mesmo no frio de dezembro continuava coberta por luvas sem dedos).

Talvez se Harry não tivesse ficado tão irritado com a cena a sua frente tivesse percebido o olhar de surpresa de Draco. Mas Harry não percebeu, estava ocupado demais vendo Kakinouchi "devorar" Malfoy com os olhos. Já Draco, após alguns segundos, entendeu a intenção de Chikage e colaborou a altura, entrando na brincadeira e sorrindo.

Irritar Potter era sempre divertido, o como não importava muito.

– Eu sei disso – disse da forma mais convencida que conseguiu, empregando, não com o mesmo sucesso do japonês, um tom brincalhão a sua voz – Ainda bem que você é bem forte Chikage, caso contrário teria que aguentar o ciúmes de muitos colegas. De garotas E garotos.

– Ah, eu acho que eu consigo sobreviver a isso. Qualquer coisa posso ameaçar transfigurá-los! Acho que seria o suficiente para muitos desistirem de tentar algo.

– Bem, se você é capaz de fazer tamanho estrago com um esquilo, eu realmente não quero ver o dano que pode causar numa pessoa.

– Nem queira mesmo! – disse o japonês rindo (uma risada bem irritante, na opinião de Harry) – Mas me diga, qual o seu tipo de garota? – perguntou Chikage claramente se insinuando.

– Olhos claros e – respondeu Draco sem pensar, segurando o "morenas" no último minuto, mudando a frase a tempo – mesmo preferindo cabelos curtos, não teria problema nenhum em sair com você se você fosse uma garota. Gosto de pessoas alegres e divertidas.

– É mesmo?

– Claro! Não seria trabalho algum. Pena que há um pequeno detalhe entre nós, não? – e dessa vez foi Draco quem soou de forma altamente insinuante, deixando Harry vermelho de raiva (ambos julgaram ser vergonha) ao ver os dois paquerando-se daquela forma bem na sua frente. Ora, era só o que faltava! Os dois resolverem se pegar bem ali!

– Então são gays mesmo? Quem diria – desdenhou Harry, sem conseguir esconder a irritação.

– Eu nunca disse isso, Potter – respondeu Malfoy, a voz num tom de quem explica algo pela décima vez a uma criança boba – Mas as pessoas são maliciosas e gostam de pensar besteiras quando veem duas pessoas juntas. Você sabe disso, não? E já que todos vão pensar mesmo, pelo menos vão perceber que eu tenho bom gosto. Chikage com certeza é muito superior a Granger, por exemplo. Ou a qualquer outro rapaz daqui. Dá de 10 a 0 em qualquer um.

Harry ficou chocado diante da declaração de Malfoy, não conseguindo impedir sua mente de se comparar a Kakinouchi. De fato, ele não era tão bonito quanto o oriental, nem tão inteligente, nem tão bom em magia, nem tão sociável, mas pelo menos ele não era tão idiota e feliz e... não, com certeza não estava pensando isso!

A sua frente Chikage olhou o relógio e colocou a mão sobre o braço de Draco. Não que precisasse, mas...

– Draco – disse o sonserino com a voz mais rouca que o normal e muito mais sedutora – são 8h, eu vou indo, mas se você resolver ir mesmo a Hogsmeade, me encontre lá. Se não, te vejo quando voltar. E muito boa sorte hoje – e depois de receber um acesso de cabeça de Malfoy voltou a sua irritante e normal voz meio rouca, dizendo a Harry – Boa sorte pra você também, Potter. Vocês vão precisar – completou se afastando ("finalmente" – pensei Harry), indo na direção das escadas – Ah, por favor, não se matem, sim?

E como Malfoy poderia sequer pensar que aquele afeminado fosse melhor do que ele? Ele era o garoto-que-sobreviveu e nunca era menosprezado por ninguém. Qualquer um adoraria ser amigo dele ou mesmo namorado.

E desde quando Harry pensava esse tipo de coisa? Não, ele havia sido enfeitiçado, só podia. Balançou a cabeça, como se negasse algo. Definitivamente, sua cabeça não andava bem. Ele não era assim, não era convencido desse jeito e não pensava desse jeito esnobe. E era melhor parar com esse tic de mexer a cabeça quando negava algum pensamento particularmente incomodo. O que Malfoy iria dizer? Que endoidara no mínimo.

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Chikage ainda não tinha se afastado completamente quando parou. Estava a poucos passos de distância, ainda no pé da escada, ainda tão visível para os dois quanto estes estavam para ele, mas sabendo que não era visto, pois ambos estavam mais preocupados um com o outro. Ele ainda ficou parado no primeiro degrau da escada por quase meio minuto, antes de se virar e encarar o loiro e o moreno que ainda estavam ocupados demais um com o outro para perceber seu olhar.

– É realmente impressionante o poder que a rejeição pode exercer nas pessoas.

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Logo depois da saída de Chikage o clima entre Harry e Draco tornou-se tenso, principalmente porque ambos sentiam seu nervosismo aumentar consideravelmente a medida que os segundos se transformavam em minutos e o atraso de Trancy chegava a dar-lhes esperanças de que o professor esquecera da detenção deles e que ambos sairiam livres dessa. Seria uma sorte dessas, algo possível?

O silêncio era incomodo. Ambos queriam falar algo, mas não sabiam o que. Nunca sabiam o que dizer um ao outro, apenas sabiam insultar-se mutuamente.

Por que não conseguiam ficar perto um do outro sem que trocassem farpas em formas de palavras?

Seria porque Harry era teimoso? Podia não ser um cara tão teimoso quanto Rony ou Hermione, mas quando metia algo na cabeça... nem mesmo os dois o faziam mudar de ideia.

Seria porque Draco também era igualmente teimoso, não conseguindo se afastar mesmo sabendo o quanto a proximidade com Harry não lhe fazia mal. Era como um garoto que fica puxando o cabelo da menina que gosta insistentemente apenas para que ela repare nele. Era o único jeito de se fazer notar. Não adiantava agir diferente, Draco não acreditava que algo mudaria, pois não acreditava em milagres. Isso era coisa do departamento de Potter.

– Eu vou embora – o loiro disse, depois de 5 minutos de espera imerso no incomodo silêncio – nós viemos, Trancy faltou, não sou obrigado a ficar aqui esperando para receber uma detenção. Não mesmo. Se chegarmos atrasados a aula dele, ele nós deixa entrar?

– Não vai, não. E se ele ficar com raiva e por isso aumentar o tempo que teremos que ficar presos? Nem pensar! 14 horas já é demais, não suportaria nem um minuto a mais.

– E você vai me impedir?

Harry chegou a abrir a boca para dizer sim, mas parou e pareceu pensar melhor.

– Não – disse, enfim – Mas vou deixar bem claro que não tenho nada a ver com você e que se ele resolver me punir por você fugir, eu vou falar com McGonnagal.

– Eu não estou fugindo.

– Está sim – Harry disse, convicto, fazendo Draco desejar retirar, de alguma forma, aquela maldita expressão superior do rosto do moreno.

– Desculpe, esqueci que o Santo-Potter não pode aceitar injustiças de qualquer tipo. E isso inclui que pessoas não sejam punidas quando merecem. Mesmo que ele esteja entre os que vão se ferrar. Quanto alstruismo Potter! Sério, você não cansa de ser o garoto-perfeito o tempo todo?

– E você não cansa de me provocar a cada minuto? Uma de cada cinco palavras que diz é um insulto, Malfoy. Não acha que já passamos da idade para isso? Se não vai com a minha cara, por que simplesmente não me ignora? Eu o ignoraria de volta com todo o prazer! – Harry disse, não entendo o que sentiu diante da perspectiva de nunca mais ver Malfoy. E se ele aceitasse? E se estivesse tão cansado dessa rixa entre eles quanto o grifinório? Isso seria bom. Muito bom. E incomodo. E Harry não entendia porque. Assim como não entendia porque Malfoy causava nele reações tão extremas.

– Que graça teria a vida se eu não te deixasse puto a cada segundo? – provocou Draco, seu típico sorriso torto na cara. E Harry quis lhe azarar. Ele falando sério e ele zoando?

– Então é por isso? Cai fora, Malfoy! Quer saber, não vou mais ligar para você. Faça o que fizer, diga o que quiser, eu não ligo mais. – decidiu-se Harry, sem saber por que nunca tomara tal decisão antes, mesmo que a razão para isso fosse óbvia: os dois eram inimigos naturais e como tais não podiam ignorar a atração que sentiam um pelo outro.

– Você realmente é de uma inteligência espantosa, Potter – a voz de Draco estava mais carregada do que nunca de sarcasmo – Com tanto tempo para ter tomado essa maravilhosa decisão, e muito inovadora, devo acrescentar, tomá-la justo no dia que passaremos às 14 horas mais longas da minha vida unidos não é nem um pouco idiota, é?

Não, Harry não iria lhe azarar, iria era lhe dar um soco! Simples, eficaz e doloso, fora o fato de machucar Draco Malfoy com um golpe trouxa. Ou melhor, quis socar Draco tão forte a ponto de deixá-lo inconsciente até o fim do dia. E teria feito isso (apesar de duvidar se conseguiria mantê-lo apagado por tanto tempo. Talvez fosse melhor ter certeza lhe desferindo um novo golpe a cada uma hora...) se Trancy não tivesse chegado nesse exato minuto.

– Bom dia aos dois – disse o professor que chegava no corredor e abria a porta de sua sala com um enorme sorriso nos lábios. Por algum motivo, Trancy parecia muito mais animado que o normal.

– Está atrasado – disse Draco mal-humorado.

– Ah, sim, estava conversando com Minerva e Severus e esqueci da hora. Mas tudo bem, aposto que usaram esse tempo para conversarem e acertarem os detalhes de hoje, não? Afinal, são rapazes inteligentes e com certeza querem passar por hoje da melhor forma possível, não? Sim, acho que sim, afinal não seriam burros para brigar minutos antes de terem que passar um adorável dia juntos, não é? Sim, sim, com certeza. Mas por que esperar mais tempo?! Vamos terminar logo com isso. Entrem, vou pegar as algemas – disse Alois entrando na sala muito satisfeito, a capa amarela esvoaçando as suas costas e fingindo não perceber os dois rapazes ainda parados do lado de fora.

Fora preciso muita coragem, por parte dos dois, para cruzarem aquela porta.

– Muito bem – disse Trancy, olhando para seu relógio de pulso – são 8:25h agora. São 14 horas, então 22:25h eu tirarei as correntes. Alguma dúvida?

– Nosso toque de recolher, no inverno, é às 20h – disse Draco mal-humorado – e aos domingos às 21h. Não poderemos ficar com isso até as 22:30h.

– Ah, não se preocupem! Vocês tem uma permissão extra, concedida por mim. Claro que não poderão sair do Castelo, mas Severus e Minerva também concordaram. E se no fim do dia se já estiverem se dando melhor podem até ficar na casa Comunal de um de vocês. A senha será trocado amanhã, não se preocupem.

Eles até poderiam dizer que se Potter entrasse na Sonserina provavelmente seria massacrado, e o mesmo ocorreria se Malfoy entrasse na Grifinória, mas isso parecia ser pura perda de tempo. Trancy não parecia nunca ouvi-los.

Será que eles sobreviveriam a isso?

Os dois sobressaltaram-se quando o barulho da corrente das algemas soou no ambiente,seus pensamentos interrompidos para terem toda a sua atenção voltada ao objeto que Alois tinha nas mãos.

Apenas o som já era arrepiante.

– Muito bem, agora estendam suas mãos – disse Alois, no rosto um sorriso que era no mínimo sádico – Senhor Potter, senhor Malfoy, não temos o dia todo.

Ambos se olharam e então olharam para as algemas que Trancy segurava. Aquilo ia doer. Foi Draco o que primeiro que suspirou e estendeu a mão direita. Sua expressão era a de alguém dirigindo-se a forca. O click metálico que a algema fez ao se fechar no pulso pálido arrepiou os dois garotos até os cabelos.

– Senhor Potter? Vamos, coragem, não vai doer – disse Alois. Realmente Alois Trancy era sádico, seria um páreo duro até para o pior dos Comensais.

Harry engoliu em seco e a muito custo ergueu o braço esquerdo. Sentiu como se tivesse sido mordido por uma cobra quando a argola prateada se fechou, unindo definitivamente, os dois rapazes pelas longas próximas horas.

– Prontinho – disse o Trancy, a voz num tom falsamente doce e levemente cantada – Não foi tão difícil foi? Bem, agora acho que já podem ir, curtam seu domingo e o passeio, ele não ocorre todo mês! Tenham um excelente dia.

E se um os dois garotos tivessem aprendido como matar apenas com o olhar (como faziam os basiliscos) Trancy estaria a sete palmas abaixo da terra nesse momento. Era a quarta vez na vida que Draco Malfoy e Harry Potter concordavam 100% com algo e esse algo era: como eu gostaria de azará-lo!

Só que eles não podiam e seus olhos nada mais podiam fazer do que lançar fagulhas de raiva não contida e indignação. E isso definitivamente não causava nem sequer um arrepio no professor loiro que sorria muito divertido. Passando pelos alunos ainda estáticos, os braços pesados como chumbo, Alois chegou à porta de sua sala e abriu-a:

– Podem ir. Estão livres – disse com uma leve mesura, o sorriso ainda estampado naquele rosto que ambos os rapazes queriam socar. Mas isso poderia lhes render um castigo ainda pior e Harry deu o primeiro passo em direção a saída da sala sendo atingido em cheio pela dura realidade que agora era a sua: sua mão esquerda deu um tranco para trás, Malfoy não havia se movido.

Olhos chocados se dirigiram a corrente prateada e então a pessoa presa a outra ponta. Sim, estavam presos a menos de dois passos de distância. E não faziam a menor ideia de como sobreviveriam às próximas 14 horas.

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No entanto, comparado à primeira hora seguinte sair daquela sala foi fácil. Estavam agora do lado de fora e não faziam a menor ideia do que fariam nas próximas horas que deveriam agir em comum acordo. Estavam no corredor e já começavam a engatar outra briga pelo simples motivo de qual direção deveriam tomar.

Ôh, sina maldita! Seria mesmo tão impossível assim os dois conviverem? E ambos tinham que ser teimosos demais para ceder? Pelo menos ambos haviam sido inteligentes o suficiente para tomarem o café antes de serem algemados. O que não resolvia outra questão... em qual mesa sentariam na hora do jantar? Por que a cada maldito minuto tinham que lembrar de mais um detalhe que tornava aquela convivência impossível? Parecia um pesadelo. O tipo ruim de pesadelo do qual você não consegue acordar, sabe que é um sonho, mas ele te mantém preso da mesma forma. E pior, era como se tudo convergisse para mostrar a Draco que era impossível ele e Harry conviverem e, portanto, seus sentimentos eram inúteis.

Isso machucava.

– Ok, Potter, dessa vez você escolhe, mas da próxima sou eu. Por mais que eu adore lhe provocar, não tenho paciência alguma para passar o resto do dia brigando com você por coisas tão idiotas.

– Nossa, que espanto! O que houve, Malfoy? – perguntou Harry quase cinicamente, afinal tinha certeza de que uma ação daquelas não era de graça.

Mas dessa vez era. Puxa, não eram nem 9h e eles estavam acorrentados a menos de meia hora e Draco já estava exausto! Ou ele cedia ou teria um colapso no fim do dia! Como se sua cabeça já não andasse uma confusão só! Seus sentimentos inúteis por Harry, a situação de seu pai, sua tia, a guerra, aquela maldita dor em seu braço. E, para piorar, ele não confiava nem um pouco em si mesmo quando o assunto era ficar muito perto de Potter (e se ele colocasse tudo a perder?). Mas teria que aturar um dia inteirinho junto ao cara que amava, mas tinha que fingir odiar. E queriam que conseguisse manter a cabeça fria o tempo todo? Há, o mundo sabia ser bastante cruel quando queria.

– Ora, o grande conhecedor do Castelo aqui é você! – respondeu, tentando soar o mais convincente (e irritantemente) possível. Não queria que Harry percebesse o quanto o rival estava psicologicamente frágil – Afinal vive perambulando mesmo fora do horário! E temos 14 horas para passarmos em algum canto que eu não faço ideia. Escolha você, quebre a cabeça você pensando nisso. – respondeu o loiro revoltado. Pelo menos, alfinetar Harry já era um hábito tão antigo que não era preciso nem pensar para fazê-lo. Uma vantagem, ao menos.

– Preguiçoso de uma figa – resmungou Harry, começando a andar em direção... que direção? Onde eles ficariam? Na biblioteca que não. Onde, então? Lá fora não dava, estava frio demais, e não havia no Castelo uma Sala Comunal a todos os alunos, só salas de aulas poucos confortáveis. E não levaria Malfoy a Sala Precisa de forma alguma. E o que diabos eles fariam para passar o tempo? Jogariam cartas? – Hm, Malfoy, já pensou em irmos para Hogsmeade?

– Acorrentado com você? Nunquinha.

– Mas se ficarmos aqui vamos dar ao Trancy o gostinho de ter acabado com o nosso passeio. E não temos o que fazer aqui!

– E passar na frente de todo mundo de mãos dadas com você? – indagou o sonserino, uma sobrancelha arqueada – E, se formos, seremos só nos dois, não? Eu não vou passar o dia com Weasley e a sangue-ruim e você com certeza não quer ficar com os meus amigos e muito menos eles com você. E unir os meus amigos com os seus? Eu não poderia fazer isso com eles.

– A minha vontade, Malfoy, é de te azarar nesse minuto, mas aí eu teria que te carregar e isso seria bem pior. Mas nunca mais fale assim dos meus amigos! Eles são mil vezes melhor do que os seus!

– Vamos começar a discutir isso agora? – desafiou Draco, mas internamente querendo fugir dessa discussão em particular. Já fora a época que achava que seus amigos eram os melhores. Ela tinha passado exatamente quando Draco percebeu que, mesmo aos que chamava de amigos, não podia falar o que realmente sentia ou pensava. Ou pelo menos, não podia falar tudo. A única pessoa com quem nunca se importara em ser ele mesmo era Pansy, mas não podia dizer a garota que era gay. A maioria dos amigos não aceitam a homossexualidade de um amigo muito bem, e aceitam menos ainda quando estão apaixonadas pelo amigo em questão. Mas isso não o impedia de gostar deles. E de achá-los (ou querer achar) melhores do que o Weasley e a Granger. Depois, duvidava muito que o Weasley aceitasse um Harry Potter gay. Isso quebraria o destino perfeito no qual o querido amigo finalmente seria parte da família, de forma incontestável ao unir-se a sua irritante irmãzinha. Por isso, ele se divertia pensando em como o ruivo reagiria se por acaso, um dia, claro que isso nunca aconteceria, mas era legal imaginar, se um dia, em sonhos mesmo, ele visse Harry apaixonado, ok, gostando apenas, se ele visse Harry gostando de alguém como Draco. Ele com certeza não aceitaria também!

– Não – Harry respondeu, não querendo ouvir Malfoy falando sobre Kakinouchi. Simplesmente não suportava mais a menção ao japonês. Por que todos no Castelo tinham que falar dele o tempo todo?

Sentando-se numa das escadarias do terceiro andar, Harry suspirou e se perguntou o que, diabos, fariam por todo o dia que ainda se arrastaria. Malfoy parecia pensar a mesma coisa e sentou quieto ao lado dele.

Permanecer em silêncio seria uma boa ideia, mas ambos sabiam que não aguentariam.

Claro que Harry não queria aparecer na frente de ninguém estando acorrentado a Malfoy, seria por demais vergonhoso, mas ficar sentado ali o dia inteiro era, além de inviável, ridículo! E mesmo que ninguém visse as correntes, só o fato de aparecer lado a lado...

Um deles poderia usar sua capa da invisibilidade!

Não, claro que não. Nunca contaria a Malfoy que possuía a capa. Seria útil, mas idiota, ninguém precisava saber da existência dela.

Se ninguém visse as correntes eles poderiam dizer que era uma trégua, mas ninguém em sã consciência acreditaria nisso. Uma aposta?

Absurdo.

E os ponteiros de seu relógio pareciam estar estacionados.

O consolo era saber que para Malfoy a situação não era muito melhor.

Na verdade, era muito pior.

Draco estava mais nervoso do que o normal, pois tanta proximidade com o moreno mexia com seu corpo de forma vergonhosa. Só seu coração já parecia estar dando uma festa no peito!

Pensava se Chikage teria alguma ideia. Devia ter perguntado. Ele parecia uma enciclopédia de feitiços novos, estranhos e impossíveis.

Malditos ponteiros que não andavam e tempo que se recusava a passar!

Mas e se usassem casaco com touca? Isso ocultaria seus rostos e poderia dar certo! Ninguém nunca via Harry Potter ou Draco Malfoy separados de seus amigos, então talvez conseguissem passar despercebidos se os dois fizessem isso. Podia ser uma solução.

– Ei, Potter – disse Draco tentando fazer sua voz soar o mais mal-humorada possível, e conseguindo – O que acha de nós dois... usarmos um casaco com touca? Isso tiraria a atenção de nós e poderíamos ir a Hogsmeade sem que o Castelo inteiro saiba que estamos presos um ao outro.

– Pelo visto odeia mesmo a ideia de andar ao meu lado – disse Potter sarcástico "Como se eu não odiasse essa ideia também".

– Estou num patamar acima do ódio, Potter.

– Mas não liga de andar com aqueles dois gorilas descerebrados dos seus amigos ou com o Kakinou.

– Bem, o que posso fazer? São melhores companhias do que você.

Diante dessas palavras, Harry sentiu raiva. Não era nada mais do que isso. Porque tinha que ser isso, afinal Harry nunca ficaria nem remotamente triste pelo fato de Malfoy não desejar mais sua companhia, como havia desejado há tantos anos. Harry ainda lembrava do dia que negara a mão estendida. Tinha feito muito bem. Não se arrependia disso. Não mesmo! E Malfoy falar assim não lhe incomodava. Harry não ligava para rejeições porque, diferente do que o loiro havia afirmado em seu último sonho (engraçado, deste se lembrava), Harry sabia sim o que era ser rejeitado. Ele sempre fora rejeitado por sua família trouxa, ele crescera em um armário! Se Harry Potter era diferente da maioria dos rapazes que "nascem" heróis isso não era fruto da rejeição que sofrera por parte dos tios durante toda a vida? E eles eram inimigos! Malfoy preferir a companhia de dois caras que mal sabiam falar direito e de um rapaz irritantemente feliz nada mais era do que uma prova de que ele não tinha nada melhor. E Harry era muito melhor do que eles.

– E você acha que ninguém perceberia que somos nós? – perguntou azedo o moreno. O que o impedia mesmo de azarar Malfoy?

– Acho que vamos chamar a atenção, mas nem tanto. É inverno e ninguém vai acreditar que nós dois andaríamos juntos. Se quer ir a Hogsmeade, acho que é a melhor solução.

– E como vamos pegar essas roupas?

– Acho que para isso é que servem os amigos, Potter. Eu pedirei a Chikage para pegar algo para mim. Você faz o mesmo com o Weasley. E nós nos trocamos no banheiro dos monitores. Aposto que seus amigos sabem dessa detenção – falou o loiro erguendo um pouco a mão direita – É só deixar claro que não queremos a companhia deles. Seria demais para um dia só.

Há coisa pior do que ter que concordar com seu rival? Não. Harry queria descartar a ideia de Malfoy e chamá-lo de idiota por pensar em algo tão estupido. Mas não podia. Não podia porque esta era realmente a melhor ideia que tinham tido. E tinha que ser do maldito loiro.

Por isso, levantou-se num tranco, arrastando Malfoy e ouvindo uma exclamação de reclamação. Não deu a mínima.

– Deixa de ser fresco! – resmungou, diante das reclamações ouvidas – Ok, vamos com a sua ideia. Sabe onde está o Kakiou?

– Deve estar na Sonserina.

– Ainda bem que a essa hora ainda devem ter muitos alunos indo tomar o café da manhã. A movimentação na frente das casas deve estar bem grande. Peça para alguém chamá-lo. E eu me escondo atrás de algumas das armaduras. Você faz o mesmo quando eu for chamar o Rony.

– Nossa, que espantoso ver o grande Harry Potter pensando! Pensei que sempre fosse a Granger que fizesse isso por você.

"Paciência. Respire calmamente e tenha paciência. Você não quer ter que carregá-lo o dia todo" – disse Harry para si mesmo tentando com todas as forças ignorar Malfoy e seguir com ele até as masmorras.

Longa caminhada.

E longos minutos que não passavam.

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– Aqui está, Draco – disse Chikage, estendendo para o amigo um casado cumprido de cor preta, com detalhes cinza claro. Um casaco não muito caro, mas que parecia muito confortável e quente – Peguei este porque é bem cumprido e possui cor neutra. Vai passar completamente despercebido! Ah, e não se preocupe com Meyer, eu disse que você não quis entrar porque brigou com o Crabbe e agora ele não pode te ver que gruda em você.

– Você pensa em tudo, mesmo que não peçamos, não?

– Elementar, meu caro amigo. Hello, Potter.

– Meio tarde para cumprimentar, não? – disse Harry. Ele estava escondido atrás de uma armadura desde que tinham chegado nas masmorras e ainda estava bastante mal-humorado. A ideia de Malfoy ter dado certo só aumentava sua irritação.

– É que você estava tão bem escondido que nem lhe vi. Então, Draco, trouxe também sua mochila e dentro coloquei um par de botas. Se você sair de tênis lá fora vai molhar os pés e pegar uma pneumonia. Coloquei sua carteira e um cachecol, uma touca, um par de luvas e...

– Acho que ele vai saber tudo o que colocou quando abri-la. Podemos ir agora, Malfoy? Duvido que o seu tão prestativo amigo tenha esquecido alguma coisa – resmungou o moreno ainda escondido, os braços cruzados, no rosto uma expressão de completo desagrado.

– Esse é o bom de ter amigos que pensam. E quanto a você, melhorar procurar a Granger para te ajudar porque o Weasel pode aparecer com um casaco com o brasão da Grifinória e mais nada – alfinetou o loiro. E depois dessa, eles com certeza teriam engatado outra briga se não fosse pela risada rouca de Chikage.

– Gomen, gomen, é que é engraçado! Vocês dois brigam por tudo, não? Mas assim vão acabar chamando muito a atenção, sabe? – disse o japonês, apontando com o polegar para trás, onde vários alunos passavam sem disfarçar os olhares desconfiados.

– Bando de curiosos – resmungou Harry, saindo do esconderijo e fazendo menção de andar, no entanto...

– Hum, só por curiosidade, como é que vocês vão vestir essas roupas com essa corrente entre vocês? – perguntou Chikage, mordendo o polegar e inclinando-se levemente para trás, seu olhar claramente analisava os dois.

Nenhum deles havia pensado nisso e bastava olhar para suas expressões para saber.

– Huf, venham cá – disse o japonês e só foi atendido porque o amigo loiro cortou a distância entre eles. Atrás, Harry parecia irritado com o fato e pronto para reclamar – Esse feitiço não é muito bom, e possui o inconveniente de ter um número limitado de uso – explicou enquanto puxava a varinha do bolso traseiro e apontava para o pulso direito de Draco – mas acho que pode ajudar – e Chikage mexeu a varinha em círculos e murmurou algo que decididamente não era inglês ou japonês – Prontinho.

– O que você fez? – perguntou Draco, no olhar a curiosidade estampada.

– Um feitiço de imaterialidade acionada. É bem simples! Quando vocês forem vestir as blusas, ou tirá-las, basta apontar a varinha para a corrente, e é bom estarem segurando-a com a mão que está presa, é dizerem "ativado". Aí, passam o braço e pronto. Infelizmente ele não dura mais de um minuto e não pode ser usado mais do que cinco vezes sem ser refeito, mas é melhor do que nada, não?

– Não conheço esse feitiço – resmungou Harry, incomodado.

– Ah, Potter, tem muitas coisas que você não conhece. Mas isso não quer dizer que não existam! Bom, é isso, e eu acho melhor...

– Que língua era aquela? – o moreno ainda questionou.

– E não é, é amárico. Você não deve conhecê-la. Eu até poderia te explicar os conceitos básicos de gramática e tal, mas estamos atraindo cada vez mais curiosos aqui – disse o oriental, apontando para trás, onde muita gente já esticava o pescoço para saber o que estava acontecendo.

Diante disso, ambos saíram rápido das masmorras, rumo a torre da tortura.

Claro que ir até as torres passando despercebidos pela maioria dos estudantes era bem mais difícil do ir até as masmorras e depois de muitos atalhos e caminhos mais longos (e muitos empurrões para as armaduras e estátuas mais próximas) ambos conseguiram chegar exaustos ao quadro da mulher gorda sem que ninguém na escola pudesse perceber a dupla do ano andando junto. Ou melhor, a do século!

Isso ia ser tão difícil!

Que não fosse Colin a passar por eles, que não fosse Lilá, que não fosse... Gina! É, Gina não era tão ruim assim.

– Ei, Gina! – chamou Harry semiescondido. Fingiu não reparar a cara de nojo de Malfoy e continuou acenando enquanto a ruiva se aproximava desconfiada.

– O que foi, Harry?

– Poderia chamar o Rony ou a Mione para mim?

– Por que você mesmo não vai lá chamá-lo?

– Por que estou em detenção. Não posso entrar na torre – e ante ao olhar da garota Harry suspirou e ergueu a mão esquerda, fazendo Malfoy resmungar ao ter seu braço erguido de repente, tirando-o de seu esconderijo. O olhar irritado do outro não o incomodou, nem o xingamento que recebeu. Já estava tão acostumado as provocações do loiro... – Tenho mais 13 horas pela frente, preso a ele. Não posso entrar.

E se Draco pudesse com certeza tinha azarado a ruiva naquele momento, pois a cara de pena que ela fez foi ultrajante. Mas sua varinha estava no bolso direito e Potter, parecendo prever o movimento puxou o braço rápido, fazendo o loiro quase cair em cima do moreno com o movimento brusco.

Longo dia.

Que apenas começava.

Para o prazer de Draco, Rony não foi tão esperto como Kakinouchi e trouxe apenas o casaco e a mochila, tendo que voltar uma segunda vez para completar o serviço. Mas dessa vez, encontrou Hermione no caminho e essa o seguiu para o lado de fora chegando bem a tempo de separar os dois rapazes que já se encontravam prontos para duelar, mesmo que estivessem tão perto e mesmo que isso fosse impossível aquela distância. Graças a Merlin porque se eles tivessem conseguido seu intendo com certeza estariam frente a frente a Alois Trancy e isso com certeza acarretaria consequências bem piores do que passar 14 horas acorrentados. E pensar que o motivo da nova briga era por causa de mais um insulto proferido pelo loiro sobre a inteligência de Weasley. Como se Crabbe e Goyle não fossem incrivelmente piores!

E agora a garota estava frente a frente com três rapazes altamente mal humorados e emburrados.

– Então, encontramos vocês lá? – perguntou inocentemente depois de entregar todas as coisas de Harry a ele. A seu lado Rony ficou tão escandalizado com a ideia quanto Malfoy.

– Nem pensar, sangue-ruim. Fizemos um acordo de nada de amigos. Eu não vou aturar vocês.

– E eu não vou aturar os seus amigos, Malfoy. E não a chame de sangue-ruim – protestou Harry.

– Mas é isso que ela é.

– Harry, Harry, esqueça e ignore – disse Hermione calma. Tantos anos sendo menosprezada pela casa verde tinham tido um bom efeito: ela não ligava mais para insultos baratos repetitivos. Eles nem sequer eram criativos para inventar coisas novas! – Você ainda tem muitas horas pela frente. E depois, eu não ligo mais para o que ele diz. Se ele quer classificar a todos como se fossem cavalos, problema dele. Pelo menos sou livre e não servo apenas para a assistência reprodutiva como os puro-sangue, inúteis a todo o resto.

Depois dessa, foi a vez do loiro irritar-se enquanto Harry ria com gosto! Essa era Mione!

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– Só quero saber como vamos enfiar esses casacos estando com essa maldita corrente – resmungou Harry ao entrar no banheiro dos monitores, ao seu lado Draco ainda parecia estar contagiado com seu mau-humor.

– Chikage já cuidou disso e se não der certo e não houver jeito nenhum temos um bom motivo para irmos reclamar para o Trancy – respondeu o loiro. Tinha adorado ouvir a risada sincera de Potter (um som raro para ele), mas isso não o impedia de estar extremamente irritado. Afinal, tinha todas as razões para estar soltando fumaça. Maldita Granger! Como ela se atrevia a compará-lo a um cavalo reprodutor?

– Como se Trancy fosse se importar – reclamou Harry.

Em resposta, o loiro limitou-se a dar de ombros, colaborar com Harry estava sendo muito mais difícil do que sequer um dia sonhara. E trocar-se com o moreno não era uma experiência nem de longe confortável! Apoiou a mochila num dos bancos, surpreendendo-se com o forte barulho que ela fez, Chikage devia ter colocado muito mais coisa ali do precisaria!, sentou-se no banco e começou a desamarrar os tênis para poder calçar a bota que Chikage mandara, fazendo um grande esforço para não olhar para Potter em pé ao seu lado. Fazendo mais esforço ainda para aparentar não ter percebido o modo como os olhos verdes o encaravam. E nunca desamarrar um cadarço havia sido mais difícil! Nem quando tinha cinco anos. Até porque, bem, não era como se Draco amarrasse os próprios cadarços, não quando se tem elfos domésticos o suficiente ou quando se sabe magia. Já tinha conseguido tirar o primeiro pé de tênis (e estava se sentindo muito vitorioso pelo fato de suas mãos não estarem tremendo diante da intensidade do olhar de Harry) quando percebeu que o moreno ainda estava de pé ao lado dele. Isso era mau sinal...

– Vai ficar aí assistindo, Potter, ou vai começar a se arrumar? A ideia de irmos foi sua, lembra? – disse ríspido, a respiração controlada, os olhos fixos no cadarço branco que parecia não querer soltar-se em seus dedos. Estava vendo a hora que teria que defender tal comportamento com qualquer desculpa conveniente quando percebeu que Harry não havia respondido. E tudo o que Draco não queria era ter que olhar para cima e assistir o moreno se arrumando. Isso não era uma boa ideia, não quando se tem um coração tão instável dentro do peito. Mas a resposta não veio e o loiro abandonou o cadarço amaldiçoado que se recusava a se soltar e olhou para cima. Potter estava na mesma posição, muito próximo, próximo demais, mesmo tentando estar o mais distante que a corrente permitia. Os olhos não parando em nenhum ponto específico, as mãos se mexendo nervosamente. Aí tinha coisa. Teve vontade de fechar os olhos e suspirar, mas conteve-se, mantendo as íris cinzas fixas no rosto do rival. Lá vinha.

– Malfoy... preciso... ir... no banheiro.

Merlin, tudo menos isso! Por favor, não isso, não mais esse detalhe.

– Como é? – perguntou o loiro, rezando para que sua voz não demonstrasse a histeria que ele achava que ela havia transmitido.

– Preciso ir ao banheiro.

E seria muito não Malfoy enterrar o rosto nas mãos? Sim, seria. Mas seu corpo inteiro pedia por isso. Não mais essa. Queria mandar Potter se virar, esquecer dele, mas com aquela porcaria de corrente curta ambos estavam mais atados do que um dia ele imaginou que estariam. E de uma forma nem um pouco boa. Droga! Como se já não bastasse o tempo juntos, a proximidade, as brigas intermináveis, a pressão e todo o resto agora teria ainda que... não, não, não, de forma alguma ele ficaria do lado de Potter com ele no... banheiro. Deveria ter um jeito de contornar esse detalhe. Tinha que haver um jeito! Talvez aquela corrente alongasse? Talvez ela tivesse o tamanho adequado para o uso do box privado. Ele de forma alguma ficaria do lado de Potter enquanto ele, ele, usava o banheiro. Lado a lado os dois e... graças a Merlin que Potter não estava com a mão destra presa, senão Potter estaria com a mão direita conectada a dele pela corrente e ele sentiria... teria sua mão... hã... mexendo de acordo com os... movimentos... de Harry. E ele estava ferrado – Você está brincando, não é? – perguntou num fio de voz.

– Não, não estou. Eu não brincaria com isso, Malfoy.

– Aguente!

– O dia todo? Isso é impossível, Malfoy. Qual o grilo? Somos ambos homens! Eu só preciso ir ao banheiro, não é o fim do mundo. Para de agir como se fosse.

E Draco quis retrucar, quis ofender, mas não conseguiu, seu corpo inteiro paralisado naquele banco, a perna direita ainda levantada, o pé ainda apoiado na madeira, o cadarço amarrado esquecido. Sim, ele sabia que estava fazendo tempestade em copo d'água e Potter não precisava lhe dizer isso, mas aquela situação bizarra apenas tinha lhe lembrado que havia muito mais naquele castigo do que passar 14 malditas horas do lado do grifinório. Muito mais.

E o que ele podia fazer?

Fechar os olhos não faria com que ao abri-los a situação mudasse, faria? Não, não mudaria. O jeito era suspirar fundo e manter a pose. E o melhor era tentar convencer a si mesmo que aquilo era fácil, pois do contrário Draco sabia que não conseguiria. Porque entre dois homens aquilo não era nada, mas quando um deles é gay e tem uma tremenda e irracional atração pelo outro a coisa não é tão simples assim.

"Ok, Draco, você pode muito bem sobreviver a isso. Não é o fim do mundo. Nem sequer estar perto de ser o fim do mundo. Não é nada demais e nada nem remotamente importante. Você sabe disso! Respire fundo, recupere sua compostura e aja como se nada demais estivesse acontecendo. Não tem nada de mais acontecendo. Não é como se você fosse ver Harry pelado. Você não vai ver nada. Respire e aja normalmente" – ordenou-se mentalmente, desesperadamente.

Droga! Sinceramente, era melhor ser a mais efeminada das bichas a sentir atração por Harry Potter! Por Merlim, ainda bem que seu avô, Abraxas Malfoy, já não podia expressar sua opinião a respeito. Não que acreditasse que seu pai ia encarar bem o fato se um dia soubesse. Era mais provável que morresse do coração antes! Onde já se viu, seu único filho sentindo uma atração desesperada por Harry Potter! Só podia ser piada.

Uma piada de tremendo mau gosto.

E ele estava bem no centro dela.

– Não sei o que custava você ter ido no banheiro antes de ficarmos presos, mas, ok. Só vou terminar de tirar o tênis – disse Draco orgulhando-se de sua voz ter saído até que bem parecida com seu normal. Ok, ele era um Malfoy e Malfoys eram muito bons em esconder o que sentiam. Ele podia fazer isso e passar por toda essa situação bizarra.

Percebeu o modo como Potter estreitou os olhos ao olhá-lo, mas não disse nada. Brigar com seu cadarço era bem melhor.

– Vai continuar agindo em câmera lenta, Malfoy?

Às vezes o silêncio é a melhor resposta. Draco optou por ficar calado e tirar o tênis que faltava, ficando em pé e encarando os olhos verdes pela segunda vez na vida. Ele estava por baixo e sabia disso, mas ia ficar por cima. Por pior que fosse para ele, por mais que isso também o afetasse, ele ia ganhar essa – Espero que saiba, Potter, que essa corrente – disse levantando a mão direita – não é comprida o suficiente para se usar um box privado, mesmo que fiquemos com as mãos torcidas para trás.

Sim, sabia o que essa informação queria dizer, sabia o que sobraria para ele, mas não tinha preço ver o rosto de Potter se tingir de pelo menos três tons de vermelho antes deste arregalar os olhos, percebendo enfim o problema anterior. Sim, a vingança era doce, mesmo que Draco não soubesse exatamente do que estava se vingando.

– Eu vou matar Trancy – Draco ouviu Harry murmurar e sorriu com gosto.

Os dois ainda ficaram um tempo em pé, imóveis, sem se olhar diretamente. Se a situação não fosse tão absurda e inusitada, Draco poderia até ter reclamado do frio, pois estava apenas de meias e sobre um chão de pedra, o que não é algo muito quente. Mas não disse nada. Não estava em muitas condições de provocar no momento. E sabia que devia guardar toda a sua energia para as muitas horas seguintes que ainda teriam. E ele sabia que essa era só mais uma desculpa.

Percebeu Harry suspirar fundo e seguir em direção aos banheiros. Pensou em perguntar se o moreno usaria um mictório ou tentaria usar o box mesmo assim, mas não era como se algo fosse mudar. Ambos continuariam juntos demais num momento íntimo demais.

Andando obedientemente atrás do moreno, Draco não fez objeção nenhuma quando percebeu que este tomava o caminho dos boxs privados e entrava em um, aleatoriamente, mantendo a porta aberta. Não foi preciso que nenhum dos dois falasse, pois o loiro imediatamente postou-se de costas, a mão direita levemente para trás, dando espaço para o grifinório e tentando desesperadamente pensar em outra coisa.

Droga, ele tinha que ser um rapaz nos seus malditos, infernais e descontrolados 16 anos? Justo na fase que seus corpos pareciam adquirir vontade própria e reagir de modo completamente inapropriado e nos piores lugares/momentos possíveis? Droga de adolescência! Aquilo nem sequer era uma cena sensual, sexy ou qualquer coisa do gênero! Por que tinha que pensar besteira! Colocou a mão esquerda no bolso, odiando o próprio corpo por parecer ter vida próprio no pior momento e na situação menos sexy possível. Ouviu o barulho o zíper da calça de Potter e sentiu como se este tivesse sido muito alto. Mesmo de costas, cada barulho e cada movimento que Harry fazia parecia se desenhar em sua mente e se continuasse assim ele teria sérios problemas. Seria tão mais fácil se Draco já tivesse aceitado para si mesmo que se sentia atraído fisicamente pelo moreno. Sentiu falta da infância, quando gostar nada tinha a ver com atração física.

Depois de Potter lavar as mãos ambos retornaram aos bancos onde Draco se ocupou em colocar as botas e Potter, sem olhá-lo em nenhum momento, esvaziava sua mochila. O casado de Potter era grosso, mas nenhum dos dois tinha realmente certeza se conseguiriam vesti-los. O tal feitiço de Chikage funcionaria?

Foi Harry o primeiro a tentar passar o braço pela manga, claramente descrente da eficácia do feitiço do japonês. Mas para sua surpresa, tanto a algema como e a corrente atravessaram o tecido do casaco, da mesma forma que fantasmas faziam com paredes! Droga!

"Por que Chikage sempre conseguia o impossível" – Harry xingou mentalmente, mas em voz alta disse – Nunca ouvi falar desse feitiço – enquanto falava seus olhos continuavam fixos no círculo de prata em seu pulso. A corrente ainda brilhava e lembrando que Chikage havia dito que isso não duraria mais que um minuto (e só poderia ser usado cinco vezes), Draco apressou-se em tirar o moletom e vestir rapidamente um suéter mais grosso (por cima do que já usava) e logo o casado, tentando veementemente ignorar o fato de que movimentos tão rápidos e bruscos haviam aproximado demais os dois rivais.

– Ei, você é amigo dele – perguntou Harry – De onde ele tira esses feitiços?

– Ele me disse que o tio trabalhava com fusão mágica.

– Fusão mágica?

– Criação de feitiços novos, Potter! Francamente, você é mesmo um bruxo? – perguntou sarcasticamente o loiro, acertando as roupas que vestira muito rápido.

– Se não sabe, Malfoy, vivi como trouxa por 11 anos. E se eu soubesse de tudo não estaria na escola, estaria? Mas mesmo com tão pouco conhecimento, já venci Voldemort mais vezes do que bruxos mais treinados.

– Isso porque você tem uma tremenda de uma sorte e sempre aparece alguma coisa para te ajudar no último minuto.

– Pena que seu pai não tenha tamanha sorte.

– Deixe meu pai fora disso, ok? Por que você sente tanta necessidade de sempre colocá-lo no assunto? Eu não fico chamando seu pai de imbecil ingênuo por ter confiado no fracote do Petigrew, eu não invoco suas memorias idiotas a cada minuto então porque você também não para de sempre jogar tudo em cima do meu pai? Tudo isso é inveja por eu ter um e você não?

Era sempre assim. Nunca conseguiam se manter sem brigar, sem discutir, sem se ofender. Nunca conseguiriam se manter próximos o suficiente sem que um quisesse, invariavelmente, azarar o outro. E por mais que Draco já soubesse disso... doía. Ergueu o queixo e voltou a se arrumar, guardando o que não precisava na mochila, tentando arrumar o cabelo para colocar o gorro sem que estes aparecessem, pois sabia como o seu cabelo era reconhecível. Harry, depois de um tempo, imitou-o.

O silêncio entre ambos um símbolo da tensão que os dominava.

Próximos demais, era muito difícil se arrumarem sem que se esbarrassem.

Draco estava colocando as luvas pretas quando percebeu o modo como Harry o olhava, de novo.

– O que foi? – perguntou curioso, mesmo querendo soar mal-humorado.

– Nada... É só que você está muito diferente. Nem parece você – disse o moreno de modo casual e Draco aproveitou a deixa para se olhar no espelho. Tinha evitado o gesto para não parecer narcisista na frente do moreno e porque não queria ouvir nenhuma piadinha sobre ser vaidoso, mas agora era natural querer ver, não?

Estava bonito (como sempre), mas realmente diferente. As botas pretas, de cano médio, o longo casaco preto não mostrando muito das pernas, as luvas negras, o capuz jogado displicentemente para trás. Os tons de cinza quebrando o preto exagerado. O cachecol cinza cobrindo parte do queixo. Sim, estava bonito.

– Devo agradecer o elogio?

– Vá sonhando! – rosnou o grifinório, colocando o seu gorro e passando a touca do casaco por cima. Diferente do loiro, Harry usava um casaco meio caramelo, o verde do cachecol e do gorro apenas evidenciava mais ainda seus olhos. Não que o loiro fosse admitir, mas tinha gostado do resultado final. Lado a lado no espelho, ambos poderiam passar despercebidos. Ou assim esperavam.

Olhou o relógio constatando que os ponteiros finalmente haviam se mexido. Mas não tanto quanto deveriam. Duas horas, apenas duas horas tinham se passado desde que os dois tinham sido atados um ao outro e estas já pareciam as duas horas mais longas de suas vidas.

E eles realmente não queriam pensar que ainda tinham 12 horas pela frente.

Continua...


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Notas finais do capítulo

- N/A: Alguém ainda lembra de mim? *se esconde*. Sim, eu sei que demorei muito!! Sinto por isso, mas foi falta de tempo mesmo! A boa noticia é que prometo ainda para este mês o cap 9 ^^
.
Enfim, espero que gostem desse capítulo e que o tamanho gigante compense pelo atraso (e o 9 está ainda maior! O.o) Esse capítulo foi bem difícil, primeiro pq tive uma grave crise de falta de inspiração e joguei muitos rascunhos fora (mesmo tendo escrito 19 páginas em 3 noites, as outras 19 foram escritas várias vezes), segundo pq tinha planejado mostrar os sentimentos de Draco um capítulo antes do passeio a Hogsmeade, mas mudei de ideia e resolvi apressar um pouco as coisas. Na verdade eu gostei dele apesar dele ter me dado uma dor de cabeça infernal! E vcs, o que acharam? Ficou muito corrido? Se surpreenderam? Ou já tinham percebido as pequenas dicas? Ficou confuso?
*
- Agradecimentos: a todos os que vem acompanhando e não desistiram dessa fic. Valeu mesmo!



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