Serpentes e Leões escrita por Gaia Syrdm


Capítulo 5
O pior cego é aquele que não quer ver


Notas iniciais do capítulo

Para quem achou confuso, eu misturo os nomes dos personagens em português e no original =PP Assim, utilizo Severus, Lucius e Remus assim como Alvo, Pedro, Tiago e Lílian.
Desculpem por isso, eu tento padronizar, mas quando percebo, já passou.



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Eles eram diferentes dela. Seu completo oposto. Eram como Chikage. Como ele haviam vindo de fora, eram os mais espertos e típicos casos perdidos, sempre aprontando e fazendo todos os odiarem mais do que já odiavam. Sempre menosprezando o ódio que despertavam. Sempre sendo felizes mesmo quando todos tentavam o contrário. Sempre rindo.

Eram o trio dos horrores para os antigos. O símbolo da decadência.

Eram os de fora e eram aqueles que não temiam ninguém. Eram aqueles que viam graça na vida e principalmente gostavam de criar essa graça.

E ela ria muito da criatividade deles nas suas brincadeiras.

Eram a alegria do castelo e a sua própria.

E ela sentia, sim, muita falta das brincadeiras de Chikei. Não que Maxxcy não colocasse o castelo abaixo sozinho, claro.

Capítulo 5 – O pior cego é aquele que não quer ver

É impressionante o quanto não notamos algo, mas depois de mencionado o percebemos em todos os lugares. Isso acontece com noticias, comidas e objetos perdidos. Isso acontece em relação a pessoas. E isso acontecia com Harry no momento. Antes de saber que Malfoy estava cada dia mais popular entre as meninas Harry não notara um único olhar na direção do sonserino loiro, mas foi só Gina lhe informar o fato que em todos os lugares Harry ouvia suspiros e surpreendia olhares na direção do rival.

Era como se da noite para o dia Malfoy mudasse completamente! Primeiro vivia sumido e quando Harry enfim resolvia não se importar com ele, o loiro aparecia em todos os lugares, então de um rapaz de pele pálida e rosto fino, metido e antipático ele virava um cara bonito! Realmente bonito. Harry sempre soubera que havia algo muito errado com o mundo mesmo. Draco Malfoy bonito e desejado! Era ilógico demais. Idiota demais. Irreal demais. E 100% verdade.

E a cabeça de Harry definitivamente não estava preparada para tantas mudanças de uma só vez.

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No sábado Harry chegou cedo na sala de Trancy, pois não queria irritá-lo e assim receber uma detenção ainda pior. Não conhecia o professor, mas tinhas suas suspeitas quanto ao outro ser meio sádico. E quando já se tem cicatrizes de detenções (realmente odiava Umbrigde!), o melhor é não se arriscar a conseguir outras. Em seu íntimo rezava para dessa vez obter uma detenção diferente da de Malfoy e de preferência bem longe do loiro também.

Até achou que estava com sorte quando chegou antes do professor, mas mudou de ideia assim que Trancy apareceu e pouco depois um Draco Malfoy altamente irritado entrou na sala.

– Muito bem, já soube que é a segunda detenção em menos de dois meses que os senhores pegam por brigas. A essa altura já deveriam ter demonstrado um pouco de inteligência e aprendido que essas brigas não levam ambos a lugar nenhum. Bem, minha ideia inicial era mandar vocês dois limparem a Sala de Troféus ou as Comadres da Enfermaria – e ambos arregalaram os olhos, a palavra "limpar" ressoando em suas mentes – mas como Minerva me disse que vocês já passaram por esse castigo em outubro... Pensei em outra coisa que realmente espero que faça vocês dois aprenderem a se respeitarem ao menos.

E ambos os garotos engoliram seco quando diversas ideias de castigos que poderiam ser inventados pelo excêntrico professor povoaram suas mentes. O que não passou despercebido por Trancy que simplesmente sorriu de forma sádica. Esperou um pouco para continuar absorvendo o receio dos garotos e então se dirigiu a sua escrivaninha, de onde tirou um pergaminho e uma caixa. Os garotos sentiram mais medo da caixa.

– Aqui – disse mostrando o pergaminho – tenho um trabalho extra, para os dois, que espero que seja feito em dupla. Assim, cada um deverá escrever a cada 5 centímetros, nem um milímetro a mais, e alternadamente até os 30 centímetros obrigatórios. Acho que isso deve garantir que farão o trabalho juntos, não? Não é difícil, se colaborarem devem fazê-lo em umas duas horas, não precisam fazer essas caras de horror, vocês terão tempo para fazê-lo. Dois dias, para ser mais exato, hoje e amanhã, quero o trabalho na minha mesa segunda-feira, às 8h. Ah, acho que é um pouco cedo para essas expressões de alivio, esse é o castigo pela briga, ainda falta o castigo pela reincidência – falou o professor sem disfarçar um sorriso que era no mínimo cruel, fazendo ambos sentiram uma espécie de calafrio, que eles também tinham certeza que não era pelo frio de dezembro. Então Trancy retirou da caixa dois aros de prata idênticos, ligados um no outro por uma corrente de mais ou menos um metro. Harry sabia que os aros eram algemas, apesar de nunca as ter visto com uma corrente tão longa, normalmente ela era pequena, para impedir que a pessoa afastasse as mãos... Já Draco não fazia à menor ideia do nome de tal objeto de tortura – e isso... é o que vocês dois vão usar no próximo domingo a Hogsmeade.

– O quê! – exclamaram os dois juntos. Digno ou não de um Malfoy, Draco estava chocado. Digno ou não de Harry Potter, Harry considerou se o professor havia pirado.

– Isso mesmo. Durante 14 horas vocês dois usarão uma algema cada um, podem escolher quem terá a mão direita e quem terá a mão esquerda presa, depois vão passar todo o tempo a um metro um do outro. Sendo assim, meu conselho é que vocês dois aproveitem o tempo que terão juntos para fazer o trabalho escrito que passei. Está na hora de aprenderem a trabalhar em equipe. Do contrário, vão ter um triiiiste domingo. Bom trabalho para vocês, podem ir.

Mas nenhum dos dois se mexeu, ainda estáticos com a perspectiva.

E Harry desejou limpar mais masmorras.

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Harry já tinha ouvido a expressão "atropelado por um caminhão" mais de uma vez. Quando estava no Ensino Fundamental trouxa, as crianças costumavam brincar de perguntar se alguém havia "anotado a placa" quando algo ruim acontecia com elas. Normalmente esse algo ruim estava relacionado a Duda perseguindo-as. Harry sempre achara engraçado, mas ele próprio nunca pudera brincar assim, já que não tinha amigos. Agora, pela primeira vez desde que entrara em Hogwarts, lembrava da brincadeira e se via tentado a brincar fazendo a pergunta infantil de seu tempo esquecido de escola trouxa. Agora ele tinha amigos e ele definitivamente sentia como se tivesse sido atropelado por um caminhão loiro. Trancy definitivamente conseguia ser pior do que McGonnagal. E Harry considerava se ele não poderia ser pior que Snape também. Aquilo fora desumano! Cruel demais, talvez quase tão ruim como os castigos de Umbrigde. Psicologicamente era com certeza mais devastador.

– Definitivamente, o mundo está conspirando contra mim – resmungou enquanto se jogava numa das poltronas da Sala Comunal da Grifinória. Primeiro ele trombando com Malfoy o tempo inteiro logo depois de ter decidido que nunca mais ia prestar atenção nele e agora isso? – Eu realmente devia ter lhe azarado!

– Azarado quem, Harry?

– Gina! Que susto você me deu!

– Desculpe, é que você entrou na sala como se tivesse recebido a pior noticia do mundo. Vim ver se está tudo bem – disse a garota, sentando no braço da poltrona que o moreno ocupava – Tudo legal?

– Tudo péssimo. Acabei de receber mais uma detenção, acho que não vou conseguir ir a Hogsmeade e agora tenho pelo menos 16 horas para passar grudado ao idiota do Malfoy, literalmente – disse o moreno com um suspiro cansado, sentindo outro arrepio apenas de pensar no assunto e por isso não percebeu o olhar que a ruiva lhe deu. Nem a mão que se ergueu no ar para lhe acariciar a cabeça, num típico carinho de conforto, um garoto que Harry não conhecia (mas sabia ser o novo namorado de Gina) chegou antes, perguntando num tom de poucos amigos o que eles faziam.

– Estou conversando com Harry, algum problema? – perguntou a garota de forma não menos rude. Ela não se levantou, nem se mexeu, como se o desafiasse a perguntar algo mais. Por algum motivo Harry achou que o namoro dela não ia durar muito. De novo.

É, Gina andava mesmo trocando de namorados muito rápido.

Também foi quando percebeu o quanto estavam próximos e o quanto a cena podia realmente ser suspeita. Não conseguiu disfarçar muito bem seu desconforto e o namorado de Gina interpretou seu gesto como um sinal de culpa, ficando ainda mais bravo e começando a discutir com a garota.

Mas ela era a filha de Molly e se tinha uma coisa que puxara da mãe, e da família, era a capacidade de dizer o que pensava. Não era preciso mais do que dois minutos como expectador para saber que ela ia ganhar a discussão. Nem que ela não se mexera apenas um centímetro de seu lugar ao lado de Harry.

Foi sem que Harry percebesse que seus pensamentos vagaram, fugindo da briga da ruiva como namorado irritado e se questionando, pela primeira, se Malfoy tinha uma namorada e quem seria ela... poderia pensar em Parkinson, mas... não, a garota não era nem de longe tão bonita quanto Malfoy.

Não que Malfoy fosse bonito, veja bem, ele era um idiota e esnobe. Pálido e arrogante demais.

Harry não percebeu que apenas uma das características citadas por sua mente para justificarem a falta de beleza do sonserino era física, não percebeu que ao erguer o olhar para encarar o provável ex-namorado de Gina ele ficou num ângulo perfeito para apreciar os seios pequenos. Não percebeu que não viu nada.

E mesmo que sua mente tenha realmente vagado para o que o tecido branco escondia, não foi aquele tecido especificamente alvo de seus pensamento e sim um outro, molhado e adornado por uma gravata verde e prata.

Era como se os seios pequenos, antes apreciados, agora fossem grandes demais. Era como se de repente ele preferisse algo mais liso.

Se Harry tivesse percebido a direção que seus pensamentos tomavam sentiria raiva de si, ficaria furioso e enojado se sua mente registrasse o fato dele estar comparando a ruiva com Malfoy. Mas o moreno não percebeu esses detalhes, afinal sua mente já estava tão acostumada a invocar imagens de um rapaz pálido, com cabelos loiros e olhos tempestade manchados, que não fazia o menor sentido se alarmar por isso. Era algo natural. Mesmo que Harry não soubesse disso. Claro que se soubesse ele ficaria, no mínimo, alarmado.

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– Estudando de sábado, Granger? Isso é que eu chamo de aluna aplicada! Isso é legal.

Hermione, que escrevia no momento, não precisou olhar para trás para saber a quem pertencia a voz que surgira do nada atrás de si. Reconheceria aquela voz meio rouca e aquele tom alegre em qualquer lugar. Ela também não se assustou, e assim não pulou de susto, coisa que a maioria das pessoas faria se alguém, do nada, falasse com as suas costas, ela apenas fechou os olhos e parou de escrever. Não se importando em controlar seu descontentamento em ouvir Chikage às suas costas, ela também não respondeu.

– Você sempre estuda aos sábados? – perguntou o oriental, se apoiando na mesa. Diante de sua aproximação Hermione o fuzilou com o olhar, como se o desafiasse a se sentar na sua mesa.

– Alguns precisam realmente fazer os trabalhos e se preparar para as provas. Agora, se me dá licenç...

– Está estudando o que? Soube que você faz Aritmância. É bem legal, disseram que difícil também. Estudando Feitiços? – perguntou o rapaz, ignorando o olhar que agora não lhe era dirigido, mas sendo esperto o suficiente de não encostar nos livros que a garota usava, lendo por cima e acertando a matéria estudada.

Hermione respirou fundo se esforçando para não o expulsar e ser o mais educada possível, mesmo que no momento quisesse era azarar aquele sorriso insuportável.

– Se continuar apertando sua pena de tal forma, vai quebrá-la. E manchar seu pergaminho – disse Chikage, levemente mais sério, mas sem desistir de conversar e sem deixar de sorrir – Sabe, acho que você não gosta muito de mim, se importaria de me dizer por quê?

– Você mesmo disse, em novembro, que já tinha percebido que grifinórios e sonserinos não se davam bem.

– Sim, mas para ser sincero não entendi bem o motivo, sabe? Achei que era porque os sonserinos prezavam o sangue-puro, mas eles aceitam mestiços. E a grifinória aceita sangues-puro. Então li "Hogwarts, uma história" e vi que toda essa rivalidade foi porque há mil anos dois melhores amigos resolveram brigar e iniciou-se a guerra do bem e do mal! Assim, como numa grande história épica. Achei meio idiota, entende? É como se porque eles brigaram, nós temos que brigar. Numa grande segregação racial onde um só vê os defeitos do outro. E o pior é que é algo sem motivo! Se houvesse um critério do tipo, sangue-puro numa casa, mestiço, noutra e sangue-ruim numa terceira. E os filhos de sangue-ruins em outra! Pronto, quatro casas. Mas não. Quer dizer, nem há uma verdadeira segregação sanguínea aqui. Não é como se Sonserina só aceitasse sangues-puro e Grifinória não os aceitasse. Parece que há toda uma regra de bons na casa do leão e maus na casa da serpente. E nenhum grifinório nunca será mal, mesmo quando o mais fiel seguidor do tal Voldemort tenha sido um grifinório. E não é como se todo sonserino apoiasse a magia negra ou fosse um Comensal da Morte.

– O que quer dizer com o mais fiel seguidor de Voldemort?

– Sirius Black, não? Foi o que eu li nos jornais. Também li um desses livros que falam da guerra passada e de Harry Potter. Achei que era importante eu me informar do que está acontecendo. Quer dizer, a Inglaterra está em guerra bem atrás dos muros do castelo!

– Você falou Voldemort – disse a garota em tom acusatório. Não que ela própria fosse contra o uso do nome, mas era estranho ouvi-lo da boca de outros que não a de Harry.

– Disse mesmo, desculpa! Tento me policiar, mas esqueço. Sabe como é, nunca antes tinha ouvido falar do cara antes de chegar aqui. O que foi uma grande surpresa na verdade – disse Chikage, se sentando na frente de Hermione e ignorando o olhar que recebeu – Acredita que eu nem sabia que havia uma guerra por aqui? Cheguei e bum! Caiu o mundo. Então achei que o mínimo que eu devia fazer era ler um pouco a respeito. Mas ainda não me acostumei com a ideia de não poder utilizar um nome. É meio esquisito. Ter medo da pessoa é uma coisa, mas de um nome?

– Dumbledore diz a mesma coisa, que temer o nome apenas aumenta o medo da coisa em si.

– Ele é sábio. Mas não vou negar que fiquei com medo. Quer dizer, pareço um ET! Se um dia eu acabar capturado espero que aja um desconto para o fato das histórias sobre Voldemort não terem chegado com tanto impacto no pacífico. Quer dizer, quando aprendi a ler o cara já estava derrotado há tempos! Não é como se as noticias sobre ele continuassem circulando anos depois de sua queda num país onde suas ações não significavam nada.

– Acho que não é só por isso que você parece um ET – disse a garota mal humorada – Mas se for capturado acho melhor não utilizar o "suas ações não significavam nada" e lembrá-lo que é um sonserino. Apesar de tudo, ele tem muito orgulho de sua casa e não suporta grifinórios.

– O que lhe dá mais um ponto negativo. Isso se chama imposição de opinião.

– E parece que você já tem uma bem formada.

– Assim como você.

E Hermione levantou o rosto e olhou fundo nos olhos verdes. Chikage estava como o rosto apoiado na mão esquerda e a encarava. E de repente ela sentiu muita vontade de saber de onde ele vinha e porque estava ali, num país em guerra quando o seu parecia em paz, fosse ele qual fosse. E o que ele achava dessa guerra.

Mas não perguntou, nesse momento uma das garotas da Sonserina apareceu atrás do oriental. Chegou cheia de sorrisos, segurando no ombro do rapaz e fulminando a grifinória com o olhar. Sem realmente se importar Hermione juntou seu material e se despediu, indo embora, sem deixar que o sonserino a segurasse no local. Se agora que ele havia resolvido aparecer por lá preferia, em vez de estudar, ficar usando a biblioteca para namorar, bom para ele. Ela não tinha nada a ver com isso. E se ele falhasse nos testes antes do natal, não seria como se ele não merecesse.

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– Soube que brigou com Malfoy bem na frente da sala do Trancy, Harry – disse Luna se aproximando do trio da Grifinória. Eram princípios de Dezembro e o tempo, apesar de frio, ainda não expulsara os alunos dos jardins da escola. Harry, Rony e Hermione estavam perto do lago, abaixo das árvores que há muito tempo seu pai ficara depois dos seus exames. E Harry tinha, naquele exato minuto, acabado de terminar seu relato de sua maravilhosa manhã na sala de Trancy. Quando contou qual seria seu castigo Rony fez cara de nojo e Hermione de pena, e ambos concordaram que Trancy realmente sabia ser sádico ao extremo.

– Olá, Luna – disse Harry a garota, convidando-a, com um gesto, a se sentar com eles – Como estão as coisas?

– Da mesma forma que sempre. Passei a manhã inteira com a Gina, ela brigou com Taylor hoje de manhã, mas você já sabia disso, não Harry? – perguntou a garota, seus olhos azuis fixos nos verdes.

– É, humm... eu, meio que por acaso, estava por lá quando eles brigaram – Harry respondeu sem jeito e fingiu não perceber o contentamento de Rony que começou a questionar o que ocorrera e se eles haviam, enfim, terminado. Harry riu quando Hermione deu uma cotovelada em Rony e falou para ele deixar de ser idiota.

– Quem está chamando de idiota? – perguntou o ruivo mal humorado, enquanto massageava o braço dolorido.

– Você. Deixa de ser infantil, Rony! Gina não tem mais 10 anos de idade. Ela já tem 15 anos e acho que você já devia ter aprendido a lidar com isso.

– Mas ela é minha irmã!

– Mas ela não fica atrás de você querendo saber com quem você namora ou deixa de namorar.

– Mas Rony nunca namorou, não é? – perguntou Luna, numa inocência duvidosa, deixando o ruivo quase tão vermelho quanto seus cabelos. Harry não teve muita certeza se ela ouviu o "não" que o amigo murmurou – Entendo. Eu também não – disse a garota numa tentativa de consolo que mais piorou a situação do ruivo do que ajudou, ainda mais quando ela completou – Hermione e Harry namoraram Vitor Krum e Cho Chang, não?

– Hum... é – disse Harry, sem graça. Não era como se o namoro dele com Cho fosse algo cheio de boas recordações. Na verdade, era uma das coisas nas quais ele tentava não pensar.

Mas Graças a Merlim Luna nada comentou ou perguntou sobre o fato de Rony também ser o único entre seus irmãos que nunca namorara e Harry se perguntou pela primeira vez se ele já beijara alguém antes. Gina com certeza já. E talvez muito mais do que isso. Mas Harry não queria pensar no quanto era o mais.

– Ah, Hermione, vi você hoje de manhã na biblioteca, estava com o sonserino novo, o Kakinouchi. Vocês estão saindo? Ele estava sorrindo tanto para você! – perguntou a loira, inocentemente – Quando começou a sair com Krum, no 4º ano, vocês também começaram a sair depois de se encontrarem na biblioteca, não?

– O quê? – perguntaram os rapazes do trio de ouro, em coro. A suposição era um completo choque para os três que nunca tinham sequer imaginado tal absurdo. Hermione não suportava o oriental!

– Eu não estou saindo com ele! Isso é absurdo, Luna! Ele que começou a conversar comigo lá na biblioteca. Nem sei por que! Nem sei o que ele estava fazendo lá, ele nem estuda! E depois mal conversamos, nem 10 minutos, porque mais uma das paqueras dele apareceu e eu aproveitei a chance para sair de lá. Não vou com a cara dele, se quer saber. E depois, ele é muito metido – disse Hermione, ofendida pela simples menção de um envolvimento seu com o sonserino. Era absurdo!

Luna apenas a olhou, seus olhos grandes parecendo ver, mais uma vez, mais do que os outros.

– Ele é bonito. Muito bonito. E tem um sorriso encantador, é verdade. As pessoas confiam nesse sorriso. Mas para ser sincera eu também não gosto muito dele. Ele é inteligente, sorridente e tem uma aura de mistério em volta dele, mas não me sinto a vontade quando ele me olha. E ele é muito dissimulado.

– Ele é o quê? – perguntou Rony.

– O que você quer dizer com dissimulado? – questionou Harry.

Dessa vez Hermione não disse nada, ainda assimilando o "inteligente" e percebendo ali um tom e uma realidade que ela nunca ouvira junto de seu nome. Era a diferença entre ser inteligente e ser estudioso. Um tinha o talento nato, o outro o esforço. Normalmente estudiosos se davam melhor que pessoas inteligentes. Era o esforço que contava. Mas Kakinouchi, para variar, estava quebrando mais uma regra.

– Dissimulado quer dizer mentiroso. Uma pessoa que engana as outras. Ela afaga você com uma mão e te apunhala com a outra, te beija e te morde. Pessoas dissimuladas são perigosas porque não tem a mesma moral que as outras, vendo o mundo pelo seu ponto de vista, que é único. É como Venus Pisci Euler. Ele também é muito dissimulado! Mas, ele é assim porque viveu junto dos pirilampos a maior parte da vida e foi criado para ver o mundo de uma forma meio distorcida, sabe? Para ele as coisas tem outra escala de valores. Ele é do tipo que prejudica seu melhor amigo enquanto parece estar ajudando! E ajuda enquanto parece estar prejudicando. É muito difícil confiar nele, porque suas ações são imprevisíveis!

– Quem é Venus Pisci Euler? – perguntou Hermione.

– Um cara que saiu na revista de papai em abril passado. Estávamos fazendo uma matéria sobre pirilampos e ele entrou no box "a vida perto dos pirilampos". É a única pessoa conhecida, na atualidade, que morou com eles. São criaturinhas mágicas muito arredias!

– E o que são pirilampos?

– São criaturinhas pequenas, que parecem humanos, mas tem asas de borboletas ou de libélulas, parecem com fadas, mas são menores, tendo por volta de 10 centímetros e habitam as matas tropicais. Seriam poderosas se não tivessem magias exclusivas de cura...

– Mais uma história sem pé nem cabeça – murmurou Hermione para si mesma. Não sabendo porque ainda ouvia as histórias de Luna. Ela com aquele sonserino idiota? Ridículo, realmente

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– Está atrasado, Malfoy, nos marcamos às 4h – ralhou Harry, mal o loiro entrara na biblioteca, sua expressão demonstrando todo o seu mal humor.

– Problema dos incomodados, Potter – respondeu Draco, sem se importar nem um pouco de ter feito o outro esperar. Na verdade, gostando muito, do fato. Não havia nada mais divertido do que irritar o herói da Grifinória, com certeza. Ainda mais num chato domingo à tarde, quando ele poderia estar fazendo muitas outras coisas que não incluíam permanecer duas horas numa chata biblioteca. Sentou-se na cadeira que estava na frente do moreno e sem uma palavra ou cumprimento começou a ler sobre o trabalho.

Realmente, não era algo difícil, com certeza não levaria muito tempo. Respirou fundo quando percebeu o rumo que seus pensamentos tomavam e colocou o pergaminho na mesa, ficando subitamente irritado.

– Ok, Potter, o melhor aluno de DCAT e nosso grande herói salvador. O trabalho está bem na sua área, ainda mais se levarmos seu dom natural na matéria. Qual feitiço sugere que utilizemos no trabalho, senhor sabe-tudo? – disse arisco. Infelizmente era assim que ele era, quando se sentia acuado ele atacava, como um gato assustado. E se tinha algo que o assustava era estar na presença do moreno, pois nunca sabia bem como agir. Atacar acabava sendo um reflexo. Não era como se Harry não merecesse. Potter não o queria por perto, então estar perto era algo mais complicado do que realmente parecia. Muito mais complicado. Porque eles não eram amigos. Nem nunca seriam. E ele não podia tratar um inimigo como amigo, certo? Mesmo que por apenas duas horas.

E foi exatamente esse comportamento que mais irritou Harry. Primeiro o sonserino se mostrava altamente indiferente e no outro disparava farpas sem a menor razão!

– Escuta aqui, Malfoy, eu não vou fazer esse trabalho sozinho. Você vai me ajudar, ok?

– Não, Potter. Porque eu perguntei sobre o que o você sugere que falemos. Você é o grande aluno de DCAT, não eu. Podemos escolher qualquer feitiço do nosso ano, então escolha um.

– Isso não parece um elogio... – disse Harry, desconfiado.

– E não é um elogio. É que já que teremos que fazer esse trabalho idiota, então que tiremos uma boa nota. Você é o sabe-tudo da matéria, então é inteligência da minha parte, apenas – disse Draco, dando seu famoso sorriso de lado.

– Se é assim que quer – respondeu Harry, irritado. Ah, era assim que ele queria, pois bem, assim seria – Patrono. É meu melhor feitiço, por que não escrevemos sobre ele? Você já conjurou um Patrono? – perguntou, sarcasticamente.

– E porque acha que eu já teria feito isso, Potter? Os dementadores não me afetam tanto a ponto de eu precisar aprendê-lo antes da hora. Diferente de você, claro. Afinal não pega bem para o grande Harry Potter ficar desmaiando cada vez que um aparece, não?

Harry trincou os dentes, furioso. Maldito Malfoy que nascera apenas para lhe importunar. Sentados frente a frente naquela mesa, sozinhos (quem mais frequentaria a biblioteca num domingo à tarde? Nem mesmo Hermione), ambos se olhavam de forma desafiadora, querendo ganhar uma batalha sem vencedor. E como vinha acontecendo ultimamente, Harry não conseguiu não reparar no loiro a sua frente. Malfoy estava sentado com as costas apoiadas no encosto da cadeira, levemente inclinado, numa postura displicente, levemente desafiadora, o tornozelo esquerdo sobre o joelho direito, estava vestindo jeans e um suéter (simples, mas muito diferente daquele que Harry ganhava todo natal). A corrente que Harry percebera que o outro usava no estranho dia da chuva dentro do castelo apenas levemente a vista. Dessa vez ele estava seco e não menos atraente. Muito diferente de Harry com seus jeans largos e o moletom que usava. Talvez Harry devesse começar a se vestir melhor.

– Então, o feitiço do Patrono. Como faremos? Eu sugiro...

– Você escolheu o feitiço, Potter, assim eu sugiro como devemos fazer. É justo, não? Você me diz o que sabe do feitiço e eu faço o mesmo. Estruturamos o que sabemos por tópicos, fazendo a estrutura do relatório. O que acha?

Harry quis dizer que não concordava, contudo não pode negar que o método sugerido pelo maldito sonserino era o mesmo que ele sugeriria. Trincou os dentes, vendo-se sem saída, apenas lhe restava concordar.

– Ok, façamos do seu jeito, quero acabar o mais rápido possível, mesmo – disse Harry, irritado e já abrindo o livro na página certa. Draco sorriu novamente e concordou, não sem antes provocar novamente:

– Eu também, Potter, pode ter certeza. Sorte nossa que você é tão bonzinho e passivo, não?

Seria uma loooonga tarde.

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Hermione empilhou os livros que ia devolver e suspirou, cansada. Há muito tempo não se sentia tão esgotada mentalmente. E nem havia estudado tanto! Devia ser cansaço acumulado. Espreguiçou-se, lembrando das palavras de Harry. Sabia que o moreno tinha razão, tanto que tinha diminuído o ritmo de estudos e nem sequer estudara no domingo (apenas lera um livro muito interessante). Agora, sentia-se como se, com isso, estivesse admitindo a derrota, era falhar em algo que queria. Hermione não gostava de falhar ou se achar incapaz em algo, ainda mais em algo no qual sempre fora boa.

Mas sabia que seus esforços não estavam adiantando. E quando não havia o que fazer, o melhor era ser inteligente e parar, parar antes de se afogar. Depois, estava cansada demais para aprender algo e sabia que se continuasse só ia piorar sua situação e suas médias. Fora as brigas que teria com Rony. Rony. Ele já vinha lhe irritando nos últimos tempos.

O pior, o mais frustrante, não era sua posição cair em relação a média da turma. Era perder para alguém que em nada se esforçava, que nunca estudava e passava o dia rodeado de meninas que ficavam suspirando apenas por ele ser um idiota feliz demais, sorridente e infantil demais. Lembrava bem de seu último encontro com ele, naquela mesma ala da biblioteca e do quanto ele não conseguira ficar ali com ela nem 10 minutos sem ter uma garota atrás dele. E ele nem sequer era realmente bonito! Se ele se arrumasse, se não fizesse tanta questão de ser diferente, e demonstrasse um pouco mais de respeito pelo uniforme, se ele acertasse aquela camisa, pelo menos! Mas aquele cabelo bagunçado, aquele monte de tralha. Entendia porque as meninas iam atrás de Harry, ele era simpático e gentil, entendia porque as garotas paqueraram tanto Diggory, ele era realmente bonito. Vitor era famoso e legal, alguém que conseguia deixar os outros a vontade, até mesmo Malfoy tinha seu charme. Que até poderia ser reparável se ele não passasse a maior parte do tempo sendo insuportável. Mas o que o oriental tinha que valesse a pena? Um rosto de menina? Um sorriso bobo? Um cabelo ridículo?

"Ele foge completamente ao estereótipo 'nerd' ou 'inteligente'. Se jogasse quadribol seria perfeito. Popular, o primeiro da turma e esportista. Alegre e sem defeitos. Se bem que para seguir os novos padrões das histórias publicadas deveria ter uma péssima personalidade."

Ok, não adiantava ficar pensando nisso. Releu os títulos das duas pilhas de livros a sua frente, conferindo aquele que devolveria e os que guardaria. A pilha a devolver era consideravelmente maior. Bom, ao menos suas costas agradeceriam. Abriu a mochila, guardando os livros com que ficaria.

– Se quiser te ajudo a carregar seus livros.

Hermione quase pulou com o susto que levou. Diferente do que ocorrera na última vez, ela agora estava completamente distraída e certa de que estava sozinha. Fechou os olhos, sabendo bem quem estava ao seu lado. Sua voz podia não ser arrastada como a dos sonserinos, mas definir a mais irritante era páreo duro. Idiotamente se viu perguntando:

– O quê?

– Quer que eu carregue os livros que não cabem na sua mochila? – ele perguntou, o sorriso se alargando – Nossa, você carrega coisa pra caramba! E está sempre por aqui também. Você é mesmo muito estudiosa, Granger.

– Você já me disse isso antes e, obrigada, mas não preciso da sua ajuda, vou devolver a maioria deles.

– Wow, quer dizer que já leu todos esses? Caramba! Posso me sentar aqui? – disse Chikage apontando para uma cadeira vazia. Ela ia negar, mas já que estava saindo da biblioteca... bom, ao menos isso calaria as fofocas sobre ela ter inveja do outro. Por que as pessoas não podiam aceitar que ela simplesmente desgostava dele? Balançou a cabeça dizendo sim e voltou a guardar suas coisas.

– Me diz, você é boa em História da Magia? – perguntou o rapaz, apoiando o rosto numa das mãos, o sorriso inocente substituído por um mais desafiador.

– Sou sim, por quê?

– Nossa, então é verdade que você consegue prestar atenção naquela aula? Incrível. Você é demais mesmo. Ei, será que nós poderíamos estudar juntos? – e desencostando o rosto das mãos e se apoiando na mesa, inclinando-se para a frente – Eu te ajudo em alguma coisa e você me ajuda em História. Por favor, vai, ninguém aqui é bom e eu nunca antes estudei História Inglesa! A História de onde eu vim é completamente diferente – pediu o oriental, deixando a garota muda. Quando ele pediu para sentar a sua frente ela imaginou qualquer coisa, mas nunca, nem em seus sonhos mais doidos, imaginou que ele pediria sua ajuda para algo! Que mudança louca de destino era aquela? Um sonserino pedindo a ajuda dela? Hermione considerou seriamente se não estava sonhando.

– Está pedindo... a minha ajuda? – perguntou ela ainda incerta.

– E por que não? Você é boa na matéria, estamos no mesmo ano e somos colegas, por que não podemos nos ajudar? Se não tiver algo no qual precise de minha ajuda eu te ajudo... a sei lá, praticar algo. Poções ou feitiços de preferência, que é no que eu sou melhor. O que acha? – e agora ele parecia uma criança pedindo um doce.

Claro que a garota se viu mais do que tentada a negar, quer dizer, odiava aquele cara, odiava seu sorriso permanente. Mas não conseguiu deixar de sentir um certo orgulho. Ele estava mesmo pedindo a sua ajuda. Ele estava precisando dela. Tinha algo no qual ele não era bom e queria a ajuda dela.

– Não sei se é uma boa ideia – disse lentamente, não querendo de verdade ajudá-lo, mas aproveitando o gosto do pedido.

Tão do nada quanto aparecera ele puxou a varinha e apontou para a mochila dela. Murmurou algo que a grifinória não ouviu, mas não demorou a perceber que agora sua mochila comportava facilmente todo o seu material. Era o feitiço Indetectável de Extensão que ela tanto quisera aprender. [1]

– Então? – ele perguntou, encarando os olhos achocolatados. Já Hermione não pôde negar que ele tinha olhos realmente bonitos. – Please? Onegai?

– "Onegai"?

– Desculpe, lapso. Eu disse "por favor", em japonês.

– Então você é japonês – ela disse lembrando vagamente de uma discussão antiga sobre a nacionalidade do oriental. Não que ela se interessasse por algo a respeito dele, claro.

– Sim. Achei que era bem perceptivo pelo meu nome. Comprido e tão difícil que ninguém o acertou ainda. Mas não tenho cara de japonês, né? Sou mestiço.

– Seu nome é impronunciável, se quer saber.

– Então, me chame de Chikage. Consegue pronunciar? Realmente não me incomodo que me chamem pelo meu primeiro nome. E não vou te pedir para te chamar pelo seu. Então, me ajuda? Farei o que quiser em troca – Chikage insistiu, juntando as mãos em pedido, num ato típico dos japoneses, mesmo que Hermione não soubesse disso.

– Você em nada se parece com os japoneses. Pensei que eles não fossem tão expansivos – disse a garota, completando a frase em sua mente com um "e tão ridiculamente alegres".

– Ah, sim, isso é verdade, eles são fechados, muito difíceis de se relacionar com os outros e não muito sociáveis. Às vezes, muito chatos. Mas, como disse, sou mestiço. Só não me pergunte com que raça porque não faço à menor ideia – e apontando para o próprio rosto – Entretanto bastou me olhar no espelho para saber que não sou um japonês puro. Sem muito esforço, realmente. Cabelo não preto e olhos claros, já seriam um grande indicativo disso, de qualquer forma.

– Mas viveu lá... Devia chamar a atenção.

– Sabe... eu realmente achava que as pessoas me olhavam estranho... mas não exatamente pela mestiçagem, as pessoas gostavam de me chamar de esquisito. Não faço ideia do porquê – disse o meio-japonês apoiando o rosto na mão, o sorriso maior que o normal.

– Eu poderia te dar vários porquês – Hermione resmungou – Suas roupas, sua expansividade, sua aparência.

– Nossa! Você é bem observadora, hein! As coisas não escapam a seu olhar. Incrível!

Falando sério, aquele cara nunca se ofendia? Poderia ser tão inteligente na escola e tão burro a ponto de não perceber uma ironia?

– De qualquer forma, eu realmente vivi lá, mas não foi a vida toda, passei muitos anos longe do gelo de Hokkaido, derretendo perto dos trópicos no verão e virando um picolé no inverno. Parecendo um camaleão, alterando a cor da pele em cada estação. Triste mesmo – continuou Chikage, com sua típica teatralidade, sorrindo demais, fazendo cara de tristeza em seguida e voltando a sorrir.

– Não é a primeira vez que sai do Japão, então – disse a garota, percebendo a questão do sotaque pela primeira vez. Era verdade, ele não tinha um sotaque forte, mas não estava acostumado com o inglês, definitivamente, já que cometia erros claros de concordância – Por que saiu de lá? E ainda veio para um país em guerra – perguntou antes que percebesse.

– Não é não, passei uns anos da minha infância fora. Se quiser te conto os detalhes. Te conto a história da minha vida e porque vim para cá. E você me ensina História da Magia Inglesa! O que acha? Temos um acordo?

– Infelizmente para você – disse a garota se levantando, ainda irritada – Não tenho o menor interesse na história da sua vida. Nem no porque veio para cá, perguntei apenas por perguntar. E muito menos tenho tempo para te ajudar. Sinto muito. Porque não pede ajuda a outra pessoa – disse, erguendo um pouco o rosto, consciente que naquela matéria a única ajuda confiável era ela – Tenho que ir, bye.

– Bye, bye – ele disse, acenando com a mão esquerda, a cabeça ainda apoiada na mão direita, acenando até a garota sumir e então abaixando a mão, um novo sorriso, mais predador dessa, no rosto – Sei que não tem interesse, Granger... mas deveria ter.

SL&SL&SL&SL&SL&SL

Harry não era muito fã do inverno, principalmente quando tinha que jogar. Se já era frio no chão imagina a 10 metros desse? Toda a deliciosa sensação do voo ficava esquecida para que todos os seus pensamentos se dirigirem a um chuveiro de água quente.

Mesmo assim Harry ficou voando depois do treino de segunda. Não fez isso por nenhum motivo em especial, ele apenas queria ficar sozinho, longe dos Salões cheios. Ele apenas queria pensar. Pensar na grande confusão que estava sendo sua vida nos últimos anos.

Voldemort retornando, a Ordem ressurgindo, Sirius morto, seus sentimentos malucos por Gina, o fato dele não tirar Malfoy da cabeça, a nova obsessão de Hermione. Pareciam tão poucas coisas listadas dessa forma... mesmo assim tudo aquilo estava virando seu mundo de pernas pro ar.

Toda a guerra ao seu redor e a situação de ser o Eleito. Tudo isso, por si só, já acabava com ele. Queria não se preocupar e esquecer tudo, mas não conseguia. Voldemort, Gina e Malfoy, seus maiores problemas. E ele definitivamente não precisava que Trancy arruinasse uma das poucas coisas que ainda amava, que era ir a Hogmeasde.

Como, por Merlim, ia passar 14 horas junto do loiro? Como se às três horas passadas no dia anterior já não tivessem sido um inferno completo.

E pensando no diabo...

Harry era um apanhador, era seu talento ver coisas douradas ao longe. Era seu talento ver demais. E não é que lá estava Malfoy, do outro lado, voando também!

"O que ele estará aprontando?" – perguntou-se Harry, considerando a ideia de quebrar sua promessa e seguir o ponto loiro e verde. Mas não foi preciso. Malfoy também parecia estar apenas voando, como ele. Não que Harry acreditasse que o loiro poderia fazer algo tão inocente como apenas voar.

Com cuidado Harry mudou a direção da vassoura e deslizou rente ao chão, para subir depois e se esconder no telhado do castelo, pronto para perseguir o outro assim que ele se descuidasse, assim que saísse da linha.

Que se danasse a sua resolução de esquecê-lo, quando teria outra chance de pegá-lo no flagra como essa?

Sentou-se ali, seus pensamentos agora sob a figura loira que voava abaixo.

Malfoy era uma pedra constante no sapato, mas voava bem.

De repente, parado ali, observando o rival, Harry percebeu pela primeira vez todos os pensamentos que vinha tendo e que não sabia. O quanto vinha observando a aparência do loiro, o quanto os olhos cinza manchados estavam sempre invadindo sua mente, o quanto ele tinha que admitir que o outro era bom aluno, tinha bons feitiços e voava bem (apesar de não jogar).

Foi como se um raio tivesse caído sobre sua cabeça.

Uma coisa é pensar demais em seu rival e admitir que ele é bonito, outra bem diferente é admitir esse pensamento. E a mais difícil é encontrar um porque para tais pensamentos preencherem sua mente. E não era como se houvesse um motivo!

Não, não havia a menor razão para se pensar nele!

Malfoy não era nada! Nada além de um colega irritante que insistia em infernizá-lo, assim como Duda tinha feito no passado. Ôh sina! Primeiro Duda, depois Malfoy e agora Voldemort! Harry parecia ter nascido para ser perseguido! Quando um "parava", outro começava. E se seus perseguidores continuassem evoluindo dessa forma ele não tinha muita certeza se chegaria a idade adulta.

Viu uma garota se aproximar do campo, viu Malfoy descer. Não conseguia ver mais do que isso. Estariam ambos sorrindo? Sobre o que conversavam? Não pareciam garotas sonserinas. E por que não pareciam estar brigando ou conversando sobre coisas sem a menor importância? Foi quando Harry percebeu. Era o segundo raio que caia sobre sua cabeça em menos de dez minutos e ele, de repente, via as coisas fazendo todo o sentido. Ele de repente sabia porque não parava de pensar no loiro ou o porque ficara no telhado, naquele frio, observando o outro.

Ele poderia até ter se sentido aliviado se não estivesse tão aterrorizado!

Seus pensamentos voltando ao turbilhão de antes, sua razão ainda lhe dizendo que ele estava errado, que aquilo não era possível.

Entretanto poderia haver outra razão?

Se houvesse Harry adoraria conhecê-la.

– Não, não, não. Eu não estou pensando isso – disse Harry agarrando os cabelos e escondendo a cabeça nos joelhos flexionados. Sua cabeça fazendo uma enorme lista dos porquês que ele tanto buscava, mas quanto mais pensava, mais sua cabeça doía.

Se recusando a aceitar os fatos que sua nova descoberta significava, Harry subiu novamente na vassoura e voou a toda velocidade para longe do loiro, que ainda conversava com a tal garota, como se tal distancia pudesse também distanciar seus pensamentos.

Voando cada vez mais rápido, sentindo cada vez mais frio, Harry se afastou do sonserino e de tudo o que ele o fazia pensar e perceber.

Chegou na Torre da Grifinória com seu corpo dormente de frio e seu estomago reclamando de fome.

Sua mente ainda uma confusão.

Porque não é todo dia que percebemos algo que pode mudar toda a sua própria concepção. E isso é pior ainda quando se percebe que o motivo de uma grande raiva direcionada a uma pessoa é apenas e simplesmente... inveja.

E o pior é que não era como se o outro realmente tivesse algo significativo para ser invejado. Quer dizer, os pais dele eram uns idiotas, preconceituosos, orgulhosos e arrogantes. E depois amar um filho é um reflexo natural. Então, inveja do quê? Inveja dele possuir uma família? Da beleza masculina recém descoberta? Não era como se pudesse invejar aquela péssima personalidade e o sorriso arrogante, ou a voz arrastada e irritante.

Não era como se ele quisesse um pai covarde ou um monte de amigos idiotas. Harry tinha plena certeza que não queria, ele amava seus pais e a coragem deles de morrerem por ele, ele amava seus amigos e não os trocaria por nada.

E ele era melhor do que Malfoy.

– Então por quê? Droga.

Ver os Weasley juntos sempre o fazia pensar no que era ter uma família. E por pior que fosse a família do outro, eles ainda tinham algo que os unia, um sentimento que os fazia protegerem um ao outro. Algo que Harry nunca conhecera de verdade. Mas era mais do que isso, não era?

Não era a personalidade de Malfoy, não era a família de Malfoy e muito menos era algo relacionado a seus amigos (que eram um desastre! Harry considerava se era possível que fossem realmente amigos)! Os seus eram definitivamente muito melhores. Era algo... mais... era a expressão despreocupada, eram os cabelos finos e sedosos (que pareciam sedosos, Harry não tinha como saber se eram mesmo), era a masculinidade e a beleza do outro. Eram coisas que ele não possuía. Um charme natural e arrogante, mas de uma arrogância que atraia. Do estilo "posso me achar bom, porque de fato, sou". Era a vida que o outro tinha, uma vida que só fora ameaçada com o retorno de Voldemort (como a de todo mundo, alias), mas que antes disso... não era como se alguma vez Malfoy tivesse tido problemas. Eram vidas muito diferentes, personalidades opostas.

E ele só podia estar ficando louco por invejar tais coisas.

SL&SL&SL&SL&SL&SL

– Então, eles foram verificar?

– Sim, mas não foi algo assim tão inesperado.

– Sei... isso seria justificável em outubro, não agora. Me pergunto se...

– Está tudo ok. Nihany me avisou antes, fui lá. Deu tudo certo.

– Acho... que não sou bom para esse tipo de coisa...

– Relaxa, você está indo muito bem. E Ni confia em você. Não pode haver melhor prova de que está tudo dando certo do que isso.

– Hum... sei...

– Seu cabelo está ficando úmido de orvalho, vão reparar – disse o moreno. Os dois rapazes estavam na torre de Astronomia, os braços cruzados na grade. O rapaz de cabelos castanhos tinha o rosto apoiado numa das mãos. O vento fraco mal movia os cabelos longos que ambos possuíam. O orvalho da madrugada (eram 3:40h da manhã!) já se acumulando nas roupas e nos cabelos. Mas o moreno estava de botas e calças de couro, assim como a jaqueta. Ele não sentiria frio. Já o garoto ao seu lado, muito mais baixo, estava vestindo apenas um conjunto de moletom que ele costumava usar para dormir. Mas o rosto triste não dava o menor sinal de sono.

– Ei, me diz, qual o feitiço que usou no 9º andar? – perguntou o moreno, quebrando silencio, virando de costas para a grade, mas ainda apoiando seus braços nela, ficando de costas para as montanhas escuras e o lago negro pela noite. Não era lua cheia, a vista era uma imensidão negra que parecia sem fim. E ambos se sentiam em enorme paz diante dessa imensidão – Era ficou completamente furiosa! Foi bastante criativo. Claro que ela está ameaçando 20 minutos sobre a pior Cruciatus que ela puder lançar.

– Imagino a cara dela. Quando o feitiço reagiu? Eu o lancei já faz 9 semanas.

– Há 24 dias. Claro que ela imediatamente desconfiou de nós. Não entendo porque, até parece que somos os únicos naquele castelo que fazemos esse tipo de arte! Eu poderia processá-la por injuria, mas... acho que não seria muito inteligente.

– Ela ainda não sabe que fui eu? Quer dizer, só há 3 pessoas que se atreveriam a enfeitiçar seu castelo.

– Digamos que ela desconfia, mas você já havia saído quando aconteceu. Ela não pode te acusar.

– Isso poderia significar... cara, estou morto.

– Não se preocupe. Erick disse que se ela realmente te acusar de algo ele vai assumir a autoria. Você sabe que o Cruciatus não funciona nele. Nem qualquer oura maldição dessa natureza. Ele está imune. Uma das vantagens de ser imune a dor.

– Não quero dar problemas a ele.

– Você vive tirando-o de problemas. Acho que não tem ideia de como a vida dele era difícil sem você por lá. Você cuida dele o tempo inteiro. Permite que ele lhe use e não diz nada. Sem você ele estaria preso. Vocês dois estão ligados. Para sempre. E ele não pode sentir nada mesmo. Deixe-o fazer o que ele quiser. Não é como se ele permitisse o contrário mesmo.

– Ei... você acha que eu vou conseguir?

– Claro que vai. Estamos aqui para te ajudar se precisar de ajuda. E mesmo que Era nos proíba, bem, não é como se alguma vez na vida eu tenha lhe escutado.

– Você gostaria daqui, Maxxcy. É muito legal. As pessoas, os professores, o diretor, o modo como as pessoas confiam uma nas outras.

– E mesmo assim você sente falta daquele Castelo Maldito?

– O que posso fazer? Vocês três estão lá – e o sorriso que estava morto voltou. E Maxxcy sentiu seu coração gelado aliviado ao ver que ele sorria. Ele realmente gostava do japonês. Não o amava, pois sabia que não conseguia amar. Amava apenas a Nick e mais ninguém. Não era louco pelo amigo, esse tipo de sentimento só fora nutrido por duas pessoas em sua vida. Mas gostava dele. Nunca ligara para a tristeza de ninguém com exceção da de Nick ou da pequena libiana que confiava nele. Mas, admitia, não queria ver o japonês triste. Por ele, e Erick, Maxxcy sabia que agiria de forma a protegê-los. Eles confiavam nele e Maxxcy admitia que eram uma das poucas cinco pessoas no mundo que realmente poderiam fazê-lo.

– Acho que esse é realmente um bom motivo. Erick não é tão animado com você. Não tem a mesma graça aprontar por lá tendo a ele como parceiro. Quando voltar vamos soltar aqueles fogos que você me deu no Salão Principal? Bem na cara de Era? – perguntou, sorrindo de forma sádica, já antevendo a ira da Rainha.

– Bem, eu realmente não estou com tanta vontade de morrer ainda, mas... vamos. Essa eu não perco por nada! Que bom que gostou deles, achei que ficaria chateado por eu tê-los escondido dentro do seu armário – respondeu travesso.

– Digamos assim, quando abrir o seu armário, tome cuidado, você pode ter uma revanche. E não adianta rir, se eu fosse você, tomaria muito cuidado.

– Ok, vou tomar. Estamos combinados?

– Sim, estamos. E acho que Erick também vai entrar nessa, mas depois falo com ele. Ele está chateado por não poder sair de lá para vir te ver...

– Não que você possa... – interrompeu Chikage, mas o moreno continuou como se não tivesse ouvido.

– ... Ei, você está tremendo. Acho melhor eu ir e você voltar para a cama.

– Não estou com frio!

– Bye, Chikei. Se cuida. E qualquer coisa, seja o que for, chame e eu estarei aqui.

– Claro, claro. Não é como se você fosse me dizer por que decidiu ir embora do nada. Até a próxima, Maxx... – mas quando se virou para se despedir apropriadamente percebeu que já estava sozinho na Torre – Realmente, quando se trata de desaparecer ele é o melhor! Mas por que eu ainda me surpreendo com isso?

Um minuto depois a porta da Torre de Astronomia era aberta por um zelador mal-humorado que resmungava sem parar algo sobre "aquele maldito Pirraça e seus truques". Mas a Torre estava completamente vazia.

Continua...


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Notas finais do capítulo

- N/A: Não me matem! É o Harry! Ele não admitiria tão fácil que gosta do Draco, ele tinha que dar um outro nome para o que sente. Ele tinha que arranjar uma explicação lógica. Ou quase. Ficou muito confuso? Tentei não deixar muito, mas são os pensamentos dele e ele está confuso!
O que acharam da detenção do Trancy? Para quem conhece Death Note com certeza percebeu na hora de onde eu tirei a ideia. Mas eu achei muito legal! Harry e Draco presos? *¬* Para um personagem que nasceu no 2º. capítulo até que Trancy está ajudando bastante, não?
Vocês também acham que 14 horas é muito pouco tempo?
E esse capítulo foi um dos mais difíceis de escrever até agora.
- Agradecimentos: Obrigada a todos que tem acompanhado essa fic. Pode não estar muito boa, mas me empenho de verdade nela!