Nerfet nos encontra no trem. Ela parece muito animada. Disse que eu já sou sucesso absoluto na Capital. Em uma hora estaremos lá, já que somos o 1, o distrito mais perto da Capital. Ficamos um pouco nas montanhas, assim a viagem até a Capital é cheia de curvas. Nerfet nos mostra nossos “quartos”:

-Podem usar de tudo. Em breve chegaremos a Capital, mas mesmo assim, podem querer tomar um banho antes de conhecer sua equipe de preparação.

Ela saiu pulando, e Grant me encara:

-Tente não me matar, certo?

Ele entra no seu quarto e depois de alguns segundos, eu entro no meu. Deve ter o tamanho de todo o andar de baixo da minha casa. Talvez seja metade de um vagão. Uma cama fofinha. Comida. Roupas. Eu resolvo ficar com meu vestido, e tomar um banho. Choro um pouco no chuveiro, deixando que a água leve minha lágrimas embora. Nem parece que eu dei uma chorada quando estou seca e arrumada. Não lavei o cabelo, então ele continua preso num rabo de cavalo alto com uma trança descendo ate o meio das minhas costas. Decido que eu quero entrar na arena com ele assim.

Rápido. Chegamos muito rápido. É claro que eu sei quem será minha mentora. Cashmere, com seus vinte anos e cabelos loiros lisos. Ela ganhou os Jogos com dezoito, um ano antes do seu irmão Gloss. Ela está sempre no treinamento, o que é bom. Não somos estranhas. Cashmere abre um sorriso quando me vê:

-Oi, Diana. Fico feliz que você tenha sido a escolhida.

Eu sorrio de volta, sabendo que ela será minha maior ajuda na arena:

-Bem, obrigada, Cashmere. É bom o fato de que nós nos conhecemos... mesmo que bem pouco.

Ela joga os cabelos, sua marca registrada:

-Bem, é por isso que eu gosto de ir ao treinamento, hein? Me dá alguma vantagem, não que vamos mesmo precisar dela- ela balança a cabeça- Você é um dos tributos mais talentosos do 1!

-É o que todos dizem... Eu sinceramente espero que seja verdade. Acho que meu tamanho é meio que uma desvantagem. Eu sou bem baixinha. Algumas lanças são maiores do que eu.

-Não se tiver uma bela coleção de facas- ela pisca- Vá conhecer sua equipe de preparação, fique ainda mais linda e aí nós conversamos.

Eu reviro os olhos. Cashmere era um tanto irritante, isso eu já sabia. Não tenho tempo de pensar em muita coisa antes de ser atacada pela minha equipe de preparação. Mats, Brit e Lilly. Mats com seu cabelo black power e azul brilhante, Brit e suas tatuagens douradas pelo braço combinando com o cabelo e Lilly de roxo dos pés a cabeça.

Eles falam sobre suas vidas e sobre meu já famoso apelido:

-Rainha das Facas? Eu tive tantas ideias, tantas ideias- tagarela Brit. Mats completa:

-Garras. Eu pensei: vamos transformas suas unhas em garras. E Harold amou! Disse que vai combinar totalmente com o que ele tem preparado...

Lilly reclama dos tributos do Distrito 3, que eram seus no ano passado:

-Você não está tão cheia de pelos!- não, claro que não. No Distrito 1 nós cuidamos da aparência, embora seja um pouco doloroso- apenas com uma sobrancelha, bem, meio peludinha. Não se preocupe. Eu te ajudo.

Eles realmente acham e querem ajudar. Respondo suas perguntas e tento parecer interessada. Eles dizem que eu vou usar algo maravilhoso na abertura.

Eles terminam comigo, por hoje. Estou com um roupão fino e meio transparente. Eles estão encantados com a pulseira de Genna. E meu estilista finalmente entra.

Como todas as pessoas da Capital, ele é multicolorido. Veste um terno dourado e tem o cabelo verde metálico (você não leu errado). Ele sorri com dentes muito, muito brancos:

-E então? Diana? Rainha das Facas, hein?

Eu respiro fundo e sorrio:

-Prazer, Harold.

Ele ergue uma sobrancelha artificial:

-Eles contaram meu nome? Acabaram com toda a surpresa- ela joga um roupão mais grosso, como número 1 nas costas- Vista isso, e vamos comer.

Depois de um ótimo jantar, ele observa minhas unhas:

-Essa ideia das garras. Foi boa. Depois de pintadas de vermelho ficaram perfeitas. Vamos aos eu traje na abertura. Amanhã de tarde. Vai ser espetacular. O que o Distrito 1 produz?

-Artigos de luxo- respondo, como se ele fosse um idiota.

-Sim. E nada mais luxuoso que diamantes. Mostre essa pulseira- eu mostro e Harold fica encantado também- Perfeita. Vai ficar linda com seu vestido. Bem, mas não será só com diamantes. Isso aqui são os Jogos Vorazes. Vamos dar uma incrementada... Com vermelho.

“Como o sangue”. Isso fica estranhamente subentendido. Faço uma última pergunta:

-Vai me tingir de dourado e me botar num vestido vermelho?

Ele faz uma careta, o que é bem estranho, levando em conta o verde metálico:

-Não. Não vou tingi-la. Isso é meio clichê, você é inteligente para saber Diana.

-Eu sei. Eu só... -suspiro de novo. Mal conheço esse cara!- Eu só quero estar reconhecível. Na arena. Queria entrar lá com meu cabelo assim.

Harold dá de ombros:

-Pensei que isso fosse subentendido. Fica bem em você. Agora, vamos assistir a colheita. - ele me entrega a roupa que eu estava quando cheguei.

Depois da sala principal do nosso nível, onde os mentores e Nerfet jantaram, há uma outra sala, com sofá em L e uma TV gigante. Todos já estavam lá, concentrados:

-Agora são vocês, olha!- disse Nerfet animada, como sempre. Essa mulher tem um entusiasmo irritante.

Nós somos os primeiros. E depois os gigantes do Distrito 2, Dixie e Draco. Na ordem, as colheitas de todos os distritos. 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12. Eu não consegui prestar muita atenção. Só pensava: está vendo? Eu vou matar vocês. Eu tenho que matar vocês. Assim que os pobres tributos do Distrito 12 são escolhidos, eu vou direto para cama. Sem saber se podia. Simples assim.

_____________________________________________________________________________

Durmo como uma pedra. Nerfet me acorda ás onze para o almoço:

-Já estou tão ocupada!- ela me dá instruções pelo caminho- Á tarde será por conta da equipe de preparação... E de noite já seremos um sucesso!

O almoço é delicioso, e corrido. É servido por criados mudos, Avoxes, que me parecem bem prestativos. A parte da língua cortada é meio sinistra, eu admito. Cashmere quer conhecer a equipe de preparação, que fica deslumbrada pela visão de uma ganhadora dos Jogos.

Quando estou com o cabelo, maquiagem e unhas pintadas, Harold aparece com meu vestido. Ele faz um sinal de que aprova meu visual. Até agora fiquei longe de espelhos. Fecho os olhos quando eles colocam meu vestido. É ombro único, solto e, claro, boa parte é coberta de diamantes. A cintura marcada com uma fita grossa e a única manga são vermelhas.

Quando me olho nos espelho, uma estranha eu melhorada me encara. Meu cabelo cai liso pelas costas. Minha pulseira foi inclusa no look. A cauda incrustada de diamantes parece acabar numa poça. A parte da frente do vestido, na altura dos joelhos, também cheia de diamantes. Eu estou linda e perigosa. Tão linda que todos se aproximariam de mim. Batom vermelho. Sombra e cílios dourados destacam meus olhos castanhos. Eu estou brilhando.

-Acho que vou chorar- digo a eles, principalmente á minha equipe de preparação- Muito obrigada, eu nunca achei que pudesse parecer tão... bonita.

Eles parecem emocionados, mas dizem:

-É o nosso trabalho, querida.

Harold aparece com o que decide chamar de “toque final”. Eu pego a mim mesma desejando colocar a mão naquelas armas e usa-las. Facas. Lindas facas de ouro. Ele as prende no que eu achava ser uma fita, mas na verdade é um cinto, que está marcando a cintura. E então se afastam para observar pela última vez.

Nerfet e Cashmere entram. Mais uma vez, Nerfet parece entusiasmada. Elas aprovam o trabalho. Olho para as duas:

-E então? Como eu devo agir? Quando estiver na carruagem, na abertura dos Jogos?

Elas pensam um pouco. Nerfet é a primeira a falar:

-Eles já amam você. Seja simpática. Sorria- ela indica seu grande e branco sorriso- Assim.

Cashmere balança a cabeça:

-Não. Não vai combinar muito. Sem sorrisos forçados. Quer dizer, olha bem para a roupa dela, Nerfet. Não sorria assim.

Harold continua ali:

-Temos que ir agora. Não vejo a hora de todos verem o quão brilhante estilista eu sou!

E ouvindo sobre suas brilhantes ideias, eu me preparo para a abertura.