Mind Readers escrita por lovemyway


Capítulo 37
Capítulo XXXVI


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! Duas semanas nem foi muito tempo se você considerar que o capítulo tem mais de 8.OOO palavras, né? :P Então eu queria deixar uns recadinhos e, POR FAVOR, leiam tudo antes de começar o capítulo, ok?
1) MIND READERS TEM CONTINUAÇÃO. Pelo amor de Faberry, mantenham isso em mente.
2) TENTEM não surtar! Sei que é meio impossível... Mas respirem fundo UAHSUAHSUAHUSA.
3) Eu descobri (escrevendo esse capítulo) que sou péssima em cenas de ação, então me desculpem se não ficou bom. Entretanto, eu dei o melhor de mim.
4) Eu não sei quando vou poder postar a continuação, porque vou precisar me focar mais na minha Faculdade. Se tiverem dúvidas e quiserem se comunicar comigo, procurem-me no twitter (@_lovemyway), e eu estarei à disposição de vocês.
5)Queria pedir um favor especial: esse é o último capítulo, pessoal. Se tem alguém aí que não deixou review, e que não costuma deixar, então a hora é agora. Eu preciso desse feedback de vocês. Digam-me o que vocês mais gostaram, o que vocês acham que poderia melhorar, e coisas assim. Será muito importante quando eu for escrever a continuação :)
6) Queria agradecer a todos os que acompanharam a Fanfic. Muito obrigada pelo apoio, e pelos reviews maravilhosos que vocês deixaram. Um agradecimento em especial à little j, mhell e isis agron pelas recomendações, e um grande OBRIGADA a uma das melhores amigas, N., por sempre me incentivar a escrever *-*
7) Tentem não me odiar UHASUAHUSHAUSHUAH
8) Obrigada mais uma vez, e BOA LEITURA!



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Capítulo XXXVI

Quinn Fabray





–– Olá, Quinn.


Eu deveria saber. Talvez haja algo de errado comigo, ou talvez seja apenas o destino, mas confiar nas pessoas erradas parece ser algo que eu tenho feito com certa freqüência nos últimos tempos. Portanto, não foi completamente surpreendente quanto percebi que eu conhecia aquela pessoa melhor do que eu gostaria de admitir; melhor do que eu gostaria de conhecer. Afinal, eu cresci ao lado dela.

–– Blair –– disse, acenando com a cabeça em sua direção.

Foi com uma agradável surpresa que reparei que minha voz saiu mais firme do que eu realmente me sentia. Por fora, eu tinha uma expressão indecifrável no rosto que aprendera a usar há algum tempo, e que se mostrara extremamente útil quando eu não queria que as pessoas lessem meus sentimentos em meus olhos. Mas, por dentro, eu sentia que estava prestes a explodir. A raiva consumia cada pequena parte do meu corpo e queimava minha pele, deixando-me com uma vontade descomunal de avançar naquela filha de uma mãe. Foi preciso todo o meu autocontrole para não pular em cima de Blair e quebrar cada maldito osso do seu corpo. Eu ainda precisava de respostas, afinal de contas. Eu ainda precisava escutá-la dizer na minha cara a grande vadia que ela sempre foi, e o quanto eu fui burra por ter acreditado em todas aquelas palavras melosas de arrependimento.

–– Você não foi burra –– disse Blair, abrindo um sorriso cínico. –– Ingênua, talvez, mas não burra.

–– Você consegue ler minha mente?

Aquilo me pegou de surpresa. Por alguns segundos, deixei que as emoções tomassem conta de mim. Medo, raiva, confusão, dor... Respirei fundo várias vezes, e tentei manter tudo guardado dentro do meu peito. Aquela não era a hora nem o lugar para explodir e deixar que meus sentimentos guiassem as minhas ações. Eu precisava encontrar uma forma de tirar Rachel das garras da minha irmã, e descobrir de uma vez por todas o que realmente estava acontecendo ali. Apertei minha mão em forma de punho com força e tentei assimilar uma informação de cada vez. Blair Vadia? Confere. Quinn idiota? Confere. Namorada em perigo precisando da minha sanidade? Confere. A verdade? Pendente, mas eu não cansaria até descobrir.

–– Sim –– disse Blair, revirando os olhos. –– Honestamente, Quinn, você imaginou mesmo que fosse a única? Mesmo depois de saber do papai? Mesmo depois de descobrir sobre a nossa genética?

Sim, pensei, eu ainda imaginei que fosse a única, porque não pensei que meu pai e minha irmã me deixariam passar por isso sozinha, no escuro. Aparentemente, eu sempre estive enganada em relação a vocês. Pude perceber a expressão no rosto de Blair se tornar irritada, e sustentei o olhar que ela lançou em minha direção. Se ela pensava que eu ia fraquejar, diabos, ela estava muito enganada.

–– Nós não sabíamos Quinn –– disse Blair. –– Nem sequer desconfiávamos que você... Eu fiquei sabendo quando voltei à cidade.

–– E ainda assim, não falou nada?

–– Você vê? –– disse Blair, caminhando lentamente em minha direção. –– Eu não podia fazer isso, porque colocaria meu plano em risco. Se eu pensei em te incluir nele quando te vi na Starbucks no primeiro dia e percebi que você lia mentes? Ah, sim, eu realmente pensei nisso. Eu fiquei surpresa no início, mas pensei que me reaproximar de você fosse a coisa certa a se fazer, ainda mais se fosse precisar da sua ajuda. Entretanto, você estava apaixonada por ela...

E então, Blair indicou Rachel com a cabeça e lançou um olhar de nojo na direção da minha namorada. Nunca senti tanto ódio da minha irmã quanto naquele momento. Então ela planejara tudo aquilo? Então aquilo era um plano estúpido dela para se livrar da Rachel? Mas por qual motivo?

–– Não era exatamente ela –– disse Blair com asco. –– Quando a chance de filmar um filme em Lima surgiu, eu simplesmente a aproveitei. Eu pretendia me aproximar de Rachel, fazê-la se apaixonar por mim, fazê-la confiar em mim, para depois acabar com ela de uma vez por todas. Porque, você vê?, se eu atingisse a filha, então eu também atingiria a mãe.

E então, eu finalmente compreendi do que tudo aquilo realmente se tratava. Meu pai e Wonder trabalhavam juntos para o Governo. E agora, Wonder era uma fugitiva e Russel passava mais tempo bêbado do que sóbrio. Soltei um suspiro cansado e balancei a cabeça. Aquilo era vingança. Shelby estava certa aquele tempo inteiro. Provavelmente Wonder, Blair e meu pai armaram aquilo juntos. Olhei para a porta pela qual Blair saíra, quase esperando vê-lo caminhar em minha direção, mas isso não aconteceu.

–– Eu sinto muito, Quinn –– sussurrou Wonder.

Virei-me em sua direção sentindo o ódio fervilhar em meu corpo, mas a expressão no rosto de Wonder me desarmou. Seus olhos praticamente imploravam por perdão, e as lágrimas desciam em cascata pelo seu rosto. Ela tinha as mãos segurando a corda que amarrava Rachel, que estava estática, seu olhar vagando de Blair para mim, de mim para Blair, e de Blair para Wonder. Fiz menção de dar um passo em sua direção, mas ela se encolheu na cadeira, assustada. Tentei não me sentir magoada. Ela não fez aquilo de propósito, afinal de contas. Se todos estavam nos enganando, então que garantia ela tinha de que eu estava falando a verdade? Encarei a minha irmã.

–– Deixei-a ir. Eu não vou permitir que você machuque minha garota.

–– Desculpe, Q., mas isso é tarde demais –– disse Blair, soltando um longo suspiro. –– Se você for esperta, vai virar as costas agora e sair andando antes que as coisas saíam de controle.

–– O que você quer dizer com isso?

–– Que isso não é uma simplesmente vingança, Q., e que há muito mais nessa história do que você pode imaginar.

–– Como assim?

A porta se abriu, e dois brutamontes passaram por ela. Blair indicou Wonder com a cabeça, e a mulher se encolheu no próprio lugar, observando os dois homens com receio. Assim como Rachel, eles prenderam-na em uma corda apertada e a jogaram de qualquer jeito no chão. Logo em seguida, um deles, o mais baixo, aproximou-se de minha irmã e sussurrou algo em seu ouvido.

–– NÃO! –– berrou Wonder debatendo-se. –– Você prometeu!

Mas Blair a ignorou. Ela apenas acenou a cabeça em concordância, e se virou em minha direção, encarando-me preocupada.

–– Devemos sair daqui.

–– Não até você soltar Rachel e me contar o que diabos está acontecendo –– avisei, tentando me controlar.

Ela soltou um longo suspiro e passou as mãos pelo cabelo.

–– Não soltarei sua namorada, mas posso resumir a história para você. Como você sabe, papai e Alexia trabalharam juntos no Governo –– indiquei que sabia com a cabeça, e pedi para que ela prosseguisse, o que ela fez. –– Papai e Alexia acreditavam que éramos o futuro da espécie humana, o próximo passo para a evolução. Eles queriam mais recursos para pesquisas, e queriam descobrir mais sobre nossa “raça”, mas o Governo não parecia interessado em nos entender, apenas em nos usar. Papai queria que o mundo inteiro soubesse do que somos capazes, mas Shelby e os outros do Governo discordavam.

“Nem mesmo Alexia ficou ao seu lado quando as coisas se complicaram. Por que você acha que ela fugiu? Por medo. Papai apenas foi expulso, mas ele tinha alguns amigos poderosos. Amigos que concordam com ele, e amigos que precisam tirar Shelby do poder para assumirem em seu lugar. A tentativa de assassinato de Rachel não resultou em nada, então foi preciso elaborar um plano mais complicado. Contudo, nós precisávamos de uma isca. Corcoran sabe que nosso pai está debilitado demais para tramar qualquer coisa, mas ela definitivamente não sabia sobre Alexia.

Depois disso, tudo o que precisei fazer foi que Alexia trouxesse Rachel e Brittany até mim. Demorou um pouco, mas eu só precisei usar as cartas certas, e tive Alexia Reynolds nas palmas de minhas mãos. Eu sabia que, por você estar envolvida com a Berry, você também viria. Mas eu nunca imaginei que você fosse deixar sua amiguinha nas mãos de uma mulher em quem você não confia.”

–– As pessoas em que eu confio tem me deixado muito na mão ultimamente –– retruquei.

–– Touché –– disse Blair, sorrindo cinicamente. –– Mas não importa, maninha, porque mesmo que Shelby saía fisicamente ilesa disso, ela nunca mais vai se meter no meio do caminho. Agora, se eu fosse você, eu daria a meia-volta e sairia daqui antes que o lugar explodisse.

–– O que você quer dizer com isso? –– perguntei chocada.

–– Você ainda não entendeu, não é? –– perguntou Blair, soltando um longo suspiro. –– Acho que terei que ser mais simples com você, Quinnie.

–– Apenas diga, vadia –– retruquei irritada.

–– Muito bem –– disse Blair, dando de ombros. –– Simplificando? Se você não largar essa sua namoradinha e a traidora aqui, então todas vocês vão morrer.




 

Rachel Berry



Eu estava confusa. Minha cabeça dava voltas e mais voltas, e ainda assim eu não parecia ser capaz de assimilar tudo o que estava acontecendo. O grito de Brittany ainda ecoava em meus ouvidos, e eu ainda podia sentir o peso daquelas mãos pesadas me levando para o andar de cima, onde fui amarrada e amordaçada. Mas quando Wonder assumiu sua postura ao lado dos brutamontes, eu soube que estava certa em fechar minha mente e desconfiar dela. Eu soube que ela era uma traidora. A mordaça me impedia de gritar os insultos que eu gostaria, e eu não estava querendo me arriscar abrindo minha mente para depois descobrir que eu não era mais capaz de fechá-la. Contentei-me apenas em lançar um olhar irritado na direção da mulher que estava constantemente encolhida.

Eu deveria estar surpresa por Blair estar envolvida em tudo isso. Eu deveria estar surpresa por saber que ela –– e o bando de idiotas o qual ela representada –– estavam por trás do meu quase assassinato, e eu deveria estar surpresa por Wonder –– ou Alexia, seja lá o nome que ela tenha –– estar sendo chantageada. Mas a verdade é que aquilo fazia tanto sentido, que eu estava quase aliviada por, pela primeira vez em muito tempo, estar diante da verdade. Por alguns momentos, quando percebi a presença de Quinn, eu tive medo de que ela também fosse uma traidora. Entretanto, vê-la enfrentar a vaca da irmã daquela maneira, eu soube que, se ela precisasse escolher, então ela escolheria a mim. Isso me causou uma sensação estranha no peito, e mesmo que a mordaça já não estivesse em minha boca, eu também não conseguia pronunciar nenhuma palavra. Tudo o que eu conseguia era ficar calada, observando aquelas coisas se desenrolarem diante dos meus olhos.

–– NÃO, NÃO! –– berrou Wonder, lutando contra as amarras. –– EU AJUDEI VOCÊ! VOCÊ PROMETEU!

–– E minha promessa será cumprida –– disse Blair indiferente. –– Eu não prometi impunidade a você, Reynolds. Eu nunca disse que você sairia ilesa disso.

–– Você é uma vaca –– pronuncie-me pela primeira vez, e senti minha voz rouca. –– E se nós vamos morrer aqui, então você também vai.

–– Engano seu, querida –– riu Blair, lançando-me um olhar de escárnio. –– Você e sua mãezinha deveriam apodrecer aqui dentro. Bem, acho que Shelby não é tão sortuda. Algumas últimas palavras que você gostaria que eu repetisse a ela, Berry? Alguns apelos pela sua vida? Oh, droga, eu realmente deveria ter trazido minha câmera!

–– Rachel nunca nos fez nada! –– exclamou Quinn, avançando na direção da irmã e puxando-a pela gola da camisa. –– Por que você está fazendo isso com ela? Deixe-a em paz! Cresça, Elizabeth, e seja, pela primeira vez nessa sua vida de merda, uma pessoa decente. Você está dizendo que vai matar pessoas inocentes! Você enlouqueceu!

–– Eu não enlouqueci! –– gritou Blair, empurrando Quinn para longe com força. –– Você quem enlouqueceu! Será que você não vê, Lucy? Nossa família está acabada por conta dessa vadia e da mãe dela. Eu perdi tudo por causa dessas duas! Eu perdi meu pai, eu perdi minha mãe, eu perdi você!

–– Você perdeu tudo sozinha –– disse ácida. –– Não venha me culpar pela sua estupidez.

–– MINHA ESTUPIDEZ? –– gritou Blair. –– VOCÊ NÃO TEM IDEIA DO QUE EU PASSEI EM CHICAGO! PAPAI EXPULSO DO GOVERNO POR CONTA DA SUA MÃE, EU PRECISEI MUDAR DE ESCOLA POR SUA CAUSA! EU NUNCA TERIA IDO A CHICAGO SE VOCÊ NÃO TIVESSE ESTRAGADO TUDO!

–– Do que diabos você está falando? –– perguntei irritada. –– Você não está fazendo o menor sentido! Foi você quem brincou comigo!

–– PAPAI SABIA! –– esbravejou Blair. –– Ele me levou à escola no primeiro dia de aula e conheceu você! Ele viu todo o seu maldito potencial, e quando foi para Chicago, ele só me ligava para me perguntar de você! “Você fez amizade com a garota, Blair?”, “Você descobriu mais sobre ela?”. E então, a sua mãe descobriu que papai sabia sobre você, e deu um jeito de expulsar ele do Governo para que ninguém soubesse de você. Eu sabia que precisava me vingar de alguma forma. Nunca teve nada a ver com as idéias dele. Nunca teve nada a ver com os interesses da nossa espécie. Esse maldito mundo tem que girar em torno de você, uma menininha estúpida!

Meus olhos se arregalaram. Aquilo não podia ser verdade. Meu coração se apertou no peito. Shelby tentara mesmo me proteger?

–– E quando ele foi expulso, ele começou a beber. Bebia demais, e não conseguia enxergar o quanto suas idéias eram brilhantes! Eu estava revoltada, e fingi uma maldita gravidez para chamar sua atenção. E então, eu fiz uma enorme encenação, fingindo perder um maldito bebê e inventando uma história idiota! Funcionou tão bem com a mamãe! Mas papai podia ler minha mente, e ele sabia das minhas reais intenções. Ele sabia que eu queria apenas chamar atenção, ele sabia que eu queria apenas que ele ouvisse, mas ele fez isso? NÃO, ELE CONCORDOU COM A VADIA DA SUA MÃE! Ele ficou ao lado dela, mesmo sabendo que ela só estava contra ele para proteger você! E agora, Berry, eu finalmente vou ter minha vingança! Eu perdi tudo, mas você também vai perder!

E assim que Blair terminou seu discurso, o zumbido que Brittany escutara enquanto ainda estávamos lá embaixo se tornou cada vez mais alto. Blair começou a gargalhar histericamente.

–– Você quer morrer, irmãzinha? Bem, o problema é seu. Fique aqui com a ralé, mas eu vou me mandar!

–– O que está acontecendo? –– perguntou Quinn, em choque.

–– Há outros aliados lá fora –– esclareceu Blair, com um sorriso maligno no rosto. –– E eles vão botar fogo no armazém.

E assim que Blair terminou de falar, eu pude sentir o cheiro da fumaça entrando pelas janelas abertas. Eu comecei a tremer violentamente, e senti minhas mãos sendo soltas. Olhei para cima, e percebi que Quinn me soltara. Entretanto, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela correu na direção de Wonder e a soltou. Wonder lançou um olhar em minha direção, como se pedisse desculpas, mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela gritou:


 

–– CUIDADO!

As telhas soltas no teto se desprenderam, e caíram no chão. O fogo começou a se espalhar com rapidez. Blair correu até a porta pela qual ela entrara, mas aparentemente a mesma estava trancada. Foi a vez de Wonder começar a rir.

–– Acho que você também vai morrer, não é, Blairzinha? –– comentou amargurada.

A irmã de Quinn se virou em nossa direção, paralisada. Assim como Wonder, Quinn e eu, ela também estava presa. Assim como nós, ela também iria morrer. Não sei por quanto tempo fiquei parada encarando o rosto apavorado de Blair, mas fui puxada de volta à realidade quando os braços de Quinn envolveram com força minha cintura, e ela beijou meus lábios com urgência. Mal consegui corresponder. Em parte, eu ainda estava entorpecida; em parte, eu ainda acreditava que tudo aquilo não passava de um sonho ruim, mas eu finalmente despertei quando os lábios de Quinn pressionaram meu ouvido, e ela disse baixinho, apenas para que eu ouvisse:

–– Eu vou tirar você daqui.

–– Eu te amo –– disse-lhe em resposta.

E não dei nenhum tempo à Quinn para reagir. Saí correndo na direção de Wonder que, assim como Blair, ainda estava estática, e plantei um belo tapa em sua cara. Talvez, em qualquer outra ocasião, eu a odiasse pelo que estava fazendo. Entretanto, algo dentro do meu peito dizia que a chantagem que a irmã de Quinn fez não poderia ter sido evitada, e o que quer que fosse que estivesse em risco, então deveria ser realmente valioso para Wonder. Portanto, apenas confiei em meus instintos. Wonder pareceu despertar de seu torpor, e seus olhos correram pela sala. Quinn apareceu ao meu lado, e dirigiu seu olhar para Wonder.

–– Qual é a saída mais próxima? –– perguntou ela, tentando manter sua voz controlada, embora o pânico estampado em seu rosto denunciasse seus verdadeiros sentimentos.

–– Só há uma saída –– gritou Wonder em resposta. –– Precisamos descer antes que o fogo se espalhe.

Mas o fogo já havia se espalhado. Embora ainda não houvesse muita fumaça, a visão já estava sendo dificultada, e eu já não podia mais ver Blair. Eu não me importava. Se dependesse de mim, aquela vadia ficaria trancada naquele armazém em chamas, e eu adoraria ver seu corpo explodindo pelos ares. Lancei um olhar vacilante na direção da Quinn, mas eu sabia que ela não faria nada para livrar a irmã. Naquele momento, era praticamente cada uma por si.

–– Fiquem juntas! –– ordenou Wonder. –– Cubram a boca e o nariz com a blusa. A fumaça é pior que o fogo!

Cobri minha boca e meu nariz com a blusa, e agarrei a mão de Quinn com força. Nós precisávamos ir depressa, ou senão a saída também ficaria bloqueada. Isso, é claro, se já não estivesse. Quem quer que tenha colocado fogo no armazém definitivamente não queria que saíssemos com vida, e eu não me surpreenderia se a única saída estivesse bloqueada. Entretanto, aquela era a única chance real que tínhamos de sobreviver.

Senti uma mão de Wonder tocar meu ombro, e vi, com o canto do olho, Quinn se encolher ao toque. Eu não podia culpá-la, afinal, Wonder nos traíra. Entretanto, aquele não era o momento de desperdiçar nenhum tipo de ajuda. Apesar de termos que nos apressar, nós não podíamos correr. O teto desabara, e as chamas eram mortais. Qualquer passo em falso poderia ser a nossa morte. Quinn tinha os braços esticados à frente do corpo, tateando cegamente, tentando encontrar a parede. Imitei seus movimentos.

–– Acho que estou vendo a porta! –– gritou Wonder. –– Esquerda!

Precisei forçar a minha visão, mas percebi que ela estava certa. Quinn apertou meu ombro, o que provavelmente foi algo bom, já que eu teria jogado todo o cuidado para o alto e saído correndo. A urgência queimava em meu peito, e eu precisava sair daquele lugar. Quanto mais tempo ficávamos ali, maior era a minha sensação de que alguma de nós não iria sobreviver. E se Quinn morresse, então eu também estaria morta.

–– Descemos uma de cada vez, ou todas juntas? –– gritou Quinn.

–– Uma de cada vez –– gritou Wonder em resposta. –– É mais seguro. Muito peso pode fazer a escada desabar.

–– Tem certeza? –– perguntei preocupada. –– Ela me parecia bem firme.

–– Não é –– gritou Wonder em resposta. –– Esse lugar todo está caindo aos pedaços.

–– Por isso que o escolheram –– pensei em voz alta.

–– Sim –– concordou Quinn.

Seu olhar encontrou o meu, e eu pude ver o reflexo das chamas no verde avelã. Senti vontade de abraçá-la, e nunca mais soltá-la. Senti vontade de dizer que a amava, e que daria tudo para tê-la ao meu lado pelo resto de minha vida. Senti vontade de esquecer o passado, e recomeçar do jeito certo: sem segredos, sem mentiras. Seria apenas eu e ela, e um grande futuro pela frente. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa que tenha pensado, sua mão soltou a minha e ela desapareceu pelas escadas.

–– Vou gritar quando for seguro descer –– disse Wonder, apertando meu ombro e descendo logo em seguida.

Senti-me inquieta. Eu não podia ver nem Quinn, nem Wonder, e as chamas estavam cada vez mais perto. Um grito veio do andar de baixo, e eu soube que era seguro ir. E assim que eu comecei a descer, senti alguém me segurar pela cintura. Uma explosão aconteceu, e eu fui jogada com força para baixo. Alguma coisa pesada caiu por cima de mim e então, eu perdi completamente a consciência.

Eu ainda estava jogada no chão quando acordei. Eu podia escutar vozes ao longe, mas nenhum delas parecia fazer sentido. Eu não lembrava onde estava. Eu não lembrava quem era. Meus olhos ainda estavam fechados, e eu sabia que deveria abri-los. Entretanto, todas as vezes que eu tentava alguma força maior do que eu fazia-me fechá-los novamente. Seria aquilo um sonho? Seria um pesadelo? Lutei contra a vontade de deixar me levar pela escuridão, e com muito esforço, consegui abrir os olhos. Eu só consegui perceber o que estava acontecendo quando vi algo prendendo meu ombro.

–– Você está bem? –– gritou alguém. –– Rachel, você está bem?

Eu levei alguns segundos a mais para entender que estavam gritando comigo. Levantei a cabeça e percebi que era Quinn, minha namorada. Ao seu lado, Wonder tentava tirar o peso de meu ombro, o peso que me prendia ao chão. Imaginei que o chão do segundo andar tenha desabado, e que algum pedaço tenha caído em cima de mim. Entretanto, não é o que mais me importava no momento. Meu coração batia mais rápido no peito, e eu precisava dizer à minha namorada que estava bem. Eu abri a boca diversas vezes para dizer alguma coisa, qualquer coisa, para reconfortá-la, mas é como se o peso não estivesse apenas em meu ombro, mas também dentro de mim, impedindo-me de pensar, de falar, de respirar. Tudo o que eu conseguia fazer era deixar as lágrimas rolarem pelo meu rosto, e deixar meu corpo ser consumido pelo medo e pela dor.

–– Quinn! –– gritou Wonder.

Minha namorada levantou a cabeça, e seus olhos se arregalaram. Blair estava parada há alguns metros, e tinha um olhar maníaco estampado no rosto. Quinn deu alguns passos lentos em direção a ela, mas Blair gritou alguma coisa e Quinn travou no lugar. Wonder parou de tentar tirar o peso do meu ombro, e lançava olhares preocupados na minha direção. Blair gritava, mas eu não conseguia escutar o que ela dizia.

–– Onde ela conseguiu essa arma? –– perguntou Quinn, preocupada.

–– Com um dos caras –– respondeu Wonder. –– Eu vi quando ela pegou, mas não pensei que...

Mas Wonder não terminou de falar. Bastou um disparo. E então, tudo estava acabado.




 

Quinn Fabray


Eu sabia que alguma coisa ia acontecer. Mas quando o chão do segundo andar desabou, e Rachel ficou presa, eu simplesmente soube que Blair tinha alguma coisa haver com isso. Mas vê-la empunhar uma arma e puxar o gatilho me deixou sem ação. Minha mente ainda estava muito confusa, e por alguns segundos, eu simplesmente não soube o que fazer. Entretanto, quando vi o corpo de Wonder desabar no chão, eu sabia que precisava deter a minha irmã, bem como eu sabia que ela não hesitaria em atirar em Rachel.


Blair estava de guarda baixa quando corri em sua direção, sem nem ao menos pensar no que estava fazendo. Tudo o que minha mente gritava é que eu precisava salvar Rachel, que eu precisava tirar minha namorada daquele inferno. Eu colidi com força contra minha irmã, e nós duas caímos no chão, Blair por baixo, e eu por cima. Seus olhos se arregalaram, e eu senti o cano da arma tocar minha costela.

–– Vai atirar em mim, Blair? –– perguntei, sentindo o ódio me dominar por completo.

–– Quinn –– sussurrou ela.

–– Vai atirar na sua irmã como fez com a Alexia? Como fez com uma mulher inocente, cujo único crime foi discordar no nosso pai em alguma coisa?

–– Você não entende! –– exclamou Blair.

–– Você quem não entende! –– gritei. –– Você que é cega demais para perceber que, assim como todas nós, está sendo apenas usada. Eles te largaram aqui, Blair! Eles te largaram para morrer. E, mesmo assim, você ainda quer matar uma pessoa por essa gente?

–– E-e... E-eu...

–– Mas fique sabendo uma coisa, irmãzinha –– rosnei, puxando-a pela gola da camisa e a sacudindo. –– Se você quiser tocar na minha garota, então vai ter que passar por cima de mim.

Os olhos de Blair se encheram de lágrimas, e ela começou a tremer. Respirei fundo algumas vezes, tentando me controlar para não fazer nenhuma besteira. Uma voz em meu cérebro dizia que eu não tinha tempo para aquilo, mas eu sentia que era algo que eu precisava fazer. Eu precisava tentar, mesmo que por uma última vez.

–– Eu sinto muito, Q. –– murmurou Blair.

–– Não é tarde demais –– disse. –– Você ainda pode mudar, Blair.

–– Não, Q. –– discordou Blair. –– Eu não posso. É tarde demais para mim, mas não é para você. Cuide-se, irmã. Seja tudo aquilo que eu não tive a coragem de ser.

E antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, o cano já não estava encostado em minhas costelas, e eu pude escutar um disparo. Blair havia atirado em si mesma.

Meu coração apertou no peito, e minha boca foi ao chão. Eu me levantei de cima de Blair, e meu corpo todo tremia. Ela atirou em si mesma. Ela se matou. Minha irmã mais velha tirou a própria vida. As lágrimas desceram pelo meu rosto, e eu simplesmente quis fugir. Não, aquilo não podia ser verdade. Blair provavelmente já saíra do armazém, e estava lá fora, torcendo para que alguma coisa desse errado. Tudo aquilo não passava de uma ilusão.

Você precisa se mexer, disse uma voz em minha mente.

Mas eu não conseguia. Meus pés pareciam grudados ao chão, e eu não tinha mais o controle do meu próprio corpo. Eu sabia que as chamas estavam se espalhando, e a fumaça estava começando a tomar conta de tudo. Eu sabia que precisava sair dali, que precisava salvar a minha namorada, como precisava fazer. E como um estalo, eu me lembrei que se eu não me movesse, então também perderia Rachel. Saí correndo na direção da minha namorada, mas parei ao lado de Wonder.

–– Você está bem? –– perguntei. –– Ela acertou você?

Seus olhos estavam abertos, e ela acenou com a cabeça. A bala acertara sua barriga, mas eu não podia perceber se tinha ou não perfurado seu estômago. Balancei a cabeça e respirei fundo. Não pense, apenas aja, disse a voz em minha mente. E eu a obedeci. Passei a mão pelas costas de Wonder e a trouxe para mais perto de mim. Ela entendeu o que eu estava fazendo, e passou o braço pelos meus ombros, apoiando-se em mim para levantar.

–– Rachel –– sussurrou. –– Precisamos tirar aquilo de cima dela.

–– Eu faço isso –– disse. –– Você não vai suportar o peso.

–– Você não consegue sozinha, Fabray –– retrucou Wonder. –– Não discuta comigo.

–– Você está tentando se matar? –– perguntei irritada. –– Eu não vou mais perder ninguém hoje, Reynolds.

Wonder soltou uma risada baixa, mas eu sabia que ela estava certa. Eu não podia fazer aquilo sozinha. Com esforço, caminhei na direção de Rachel. A fumaça já tinha se espalhado, e a visão estava comprometida. Comecei a tossir, e Wonder deu tapinhas em minhas costas. Ela se separou de mim e, juntas, começamos a tentar soltar o ombro da minha garota. Nossos esforços conjuntos estavam fazendo efeito. Rachel evitava gemer de dor, mas eu podia ver o que ela sentia apenas olhando para o seu rosto. Seus olhos estavam fechados, e ela mordia os lábios com força. Algumas lágrimas caíam de seu rosto. Wonder e eu empurrados a viga de madeira, e Rachel estava quase solta quando o fogo consumiu tudo, e já não éramos capazes de ver a saída. Desesperei-me. E se ela fosse bloqueada também? A fumaça tornava a respiração cada vez mais difícil e atrapalhava a visão. O fogo só fazia o medo aumentar, e o desespero crescer cada vez mais.

–– Vá, eu tiro ela daqui –– gritou Wonder.

–– Não –– disse, balançando a cabeça. –– Ela é minha namorada.

–– Vá, Quinn. Eu consigo assumir daqui.

–– Eu não posso deixá-la.

–– Se a porta ficar bloqueada por fora, então nós todas ficaremos presas aqui dentro –– retrucou Wonder. –– Confie em mim, Quinn.

Wonder estava certa. E se a porta fosse bloqueada? Então a melhor solução era ter alguém lá fora caso algo acontecesse. Mas Alexia também estava fraca, então como ela ia fazer para tirar aquele negocio de cima de Rachel? Balancei a cabeça, mas ela tocou meu ombro, fazendo-me virar em sua direção.

–– É questão de jeito. Há uma brecha, ela pode passar o braço por lá sem que eu tenha que fazer esforço. Mas vai levar um pouco de tempo, então eu preciso que você vá.

–– Por favor, Quinn –– pediu Rachel. –– Apenas vá.

–– Eu te amo, Rachel.

–– Eu também te amo, Quinn.

E quando seus olhos encontraram os meus, eu senti que aquela seria a última vez em muito tempo que eu escutaria aquelas palavras.




 

Alexia Reynolds


Quinn correu. Eu podia ver o desespero estampado em seus olhos, e eu me sentia tremendamente mal por isso. Parte de tudo o que estava acontecendo era minha culpa, eu sabia, e se alguma coisa acontecesse com Quinn, Rachel, ou Brittany, então eu jamais ia me perdoar. Mas que escolha eu tinha, afinal? Se eu não seguisse as ordens de Blair, então meu bem mais valioso seria tirado de mim. Perdê-lo seria como perder um pedaço da minha alma, e eu não conseguiria mais viver. Ele era tudo o que eu tinha, era o meu mundo.


–– Você consegue dobrar seu cotovelo? –– perguntei, agachando-me na direção do rosto de Rachel.

–– Sim –– murmurou ela em resposta, fazendo o que pedi. –– Por que você está me ajudando?

–– Eu sinto muito por tudo isso, Rachel –– disse-lhe, e esperei de coração que ela acreditasse. –– Mas eu precisava, entende?

E quando seus olhos encontraram os meus, eu soube que ela sabia meu segredo. Eu soube que ela estava lendo minha mente. Não era surpreendente, porque foi impressionante a facilidade com a qual ela conseguiu me colocar para fora. Eu podia ver o motivo pelo qual Shelby lutava para proteger Rachel –– assim como eu lutava para protegê-lo ––, e que o Governo realmente correria atrás da garota se eles tivessem a mínima noção do que ela pode representar.

–– Ele vai ficar bem –– disse-me ela. –– Você não precisa fazer isso sozinha.

Peguei o braço se Rachel, e empurrei seu cotovelo na direção da brecha. Se eu tivesse sorte, eu poderia puxá-la com força, libertar seu ombro, e se eu fosse rápida o bastante, então a viga não cairia em cima dela. Talvez Rachel estivesse certa. Talvez eu não precisasse ter feito tudo sozinha. Mas em quem eu confiaria, afinal de contas? Ninguém que eu conhecesse se arriscaria por mim daquela maneira. Russel, talvez, se ele não estivesse bêbado o tempo inteiro. Ele foi um grande amigo, e eu me sinto na obrigação de ao menos defender uma de suas filhas, pelo menos da maneira que posso. Blair estava perdida, talvez até morta, e eu sabia que ela nunca teria escapatória. Quinn, por outro lado, tinha um grande coração. Ela podia lutar contra o que estava vindo. Diabos, ela podia até mesmo vencer!

–– Você pode confiar na Quinn –– disse Rachel, e começou a tossir logo em seguida. –– Confie nela, assim como ela confiou em você.

E só então eu percebi que Rachel estava certa. Quinn também me confiara parte de sua alma, sua vida. A garota que eu tanto decepcionei deixou as mãos de sua amada nas minhas, confiando que eu faria as escolhas certas. Senti um aperto no peito, e prometi a mim mesma que faria. Eu tomaria as escolhas certas, nem que isso levasse à minha morte.

–– Você sabe o que vou fazer? –– perguntei, indicando seu braço.

–– Sim –– murmurou Rachel.

–– Eu preciso que você me ajude, certo? Você precisa jogar seu corpo na minha direção. Você acha que consegue?

–– E-e... E-e-eu...

–– Rachel! –– gritei. –– Você acha que consegue.

Ela acenou com a cabeça uma vez. Inclinei seu cotovelo o máximo possível, respirei fundo, e com toda força que consegui arrumar, puxei-me em minha direção.

Rachel não foi rápida o suficiente.

A viga bateu com força na cabeça de Rachel, e eu consegui puxá-la a tempo, impedindo-a de ser esmagada pela mesma. A garota desabou em meus braços inconsciente e, por causa do peso, eu caí no chão. Não pude conter o gemido de dor. Eu tinha certeza que a bala tinha causado danos sérios, mas eu estava me controlando para ignorar tudo o que estava sentindo. Entretanto, naquele momento, meu autocontrole ruiu. Durante tortuosos segundos, tudo o que eu podia sentir era dor. A dor de ser baleada. A dor do fracasso. A dor em saber que a vida da pessoa que eu mais amava no mundo estava correndo perigo. A dor de ser fraca. E como um amparo, uma lembrança me veio à mente.

Eu estou na cozinha, e o jantar está quase pronto. Shawn está brincando com o cachorro, seus dedos pequenos agarrando o rabo do labrador com firmeza, e o sorriso sapeca em seu rosto ao ver o cachorro grande empurrá-lo com o focinho, e se deitar no chão ao seu lado, não se importando com o fato de seu rabo estar sendo puxado por uma criança.

Fico feliz que tenham me indicado esta raça de cachorro. Não são muitos animais que tem a tolerância com crianças, ou que agüentam ser alvo de suas brincadeiras. Snuggles, entretanto, nunca avançou em Shawn. Minha sogra diz que é porque nem mesmo um animal teria a coragem de machucar algo tão lindo e tão precioso. E olhando para o meu filho, eu sei que ela está certa. Ninguém machucaria algo tão puro e magnífico quanto uma criança.

Shawn se cansa de mexer com Snuggles, e seus lindos olhos castanhos encontram com os meus. O seu sorriso aumenta, e ele desajeitadamente se levanta, apoiado em Snuggles. Meu coração bate mais rápido no peito, e eu sinto as lágrimas descerem de meu rosto quando, pela primeira vez, meu filho anda em minha direção e abraça minha perna.

–– Ti amu, mama.

E meu peito se explode de alegria, porque não há nada mais lindo no mundo que o som daquelas palavras. Abaixo-me em sua direção e seguro meu bebê em meus braços.

–– Eu também te amo, meu filho. E eu sempre vou amar.

Meus olhos se abriram novamente, e eu senti algo apertar meu peito. Esperança. Aquilo não precisava acabar assim. Meu filho não precisava ficar desprotegido. Com todas as forças que consegui arrumar, levantei-me e passei meu braço pela cintura de Rachel. Eu iria tirar ela de dentro daquele armazém. Eu não permitiria que ela tivesse o mesmo destino que Blair. Shelby não merecia isso, Quinn não merecia isso, e a própria Rachel não merecia passar por uma situação daquelas. E, com toda a força que consegui encontrar, eu caminhei para fora do armazém. Quinn correu em nossa direção, e seus olhos se esbugalharam ao ver a condição de Rachel.

–– Ela está bem –– murmurei. –– Apenas inconsciente.

–– Eu já chamei a polícia –– disse Quinn, tirando Rachel de meus braços. –– E a ambulância.

E quando o peso do corpo de Rachel foi tirado de cima de mim, eu simplesmente desabei. Quinn caminhou até um pouco mais longe da entrada do armazém e colocou Rachel deitada em segurança, para logo em seguida correr em minha direção. Segurei a mão dela, e seus olhos encontraram os meus. Havia tantas coisas que eu gostaria de dizer, tantas coisas que eu precisava dizer, mas meu coração estava apertado demais, e eu não parecia ser capaz de encontrar a minha voz. Eu queria pedir desculpas por todo o mal que causei; eu queria pedir desculpas por Brittany e, principalmente, queria saber como a loirinha estava. Eu realmente gostava dela, e traí-la foi uma das coisas que mais me doeu.

–– Ela vai ficar bem –– disse Quinn, como se entendesse o que eu estava pensando.

Acenei com a cabeça. Claro que ela ficaria bem. Brittany era uma boa garota, afinal de contas. Ela merecia um final feliz. Todas elas mereciam um final feliz. Puxei Quinn para mais perto de mim, porque eu podia sentir que meu tempo estava acabando. Ela precisava entender o porquê de eu ter feito tudo aquilo. Ela precisava ver que eu não era uma má pessoa, e que estava defendendo a minha razão de viver. Quinn apertou minha mão, e eu pude ver as lágrimas descendo de seus olhos. Talvez ela soubesse, afinal de contas. Talvez ela não me veja como um monstro. Senti meu coração apertar no peito, e as lágrimas desceram pelo meu rosto.

–– Shawn Carter –– disse num fio de voz. –– É o meu filho. Cuide dele por mim, Quinn.

–– Eu vou cuidar –– prometeu a garota.

E essa foi a última coisa que ouvi antes do armazém explodir, e de ser tragada pela inconsciência.




 

Quinn Fabray

Uma semana depois

 



–– Eu realmente sinto muito –– murmurou Sam.


Eu concordei com a cabeça, porque não confiava em minha voz naquele momento. Um nó havia se formado em minha garganta, e os acontecimentos de uma semana atrás ainda pareciam girar em minha cabeça, deixando-me sobrecarregada e imensamente confusa. Brittany, por sorte, não estava tão machucada quanto aparentava. O corte feito pelo esfaqueamento foi feio, mas não perfurou nenhum órgão e não causou nenhuma hemorragia interna. Rachel, por outro lado, ainda estava inconsciente, embora sua situação fosse estável. Os médicos disseram que, em breve, ela estaria acordando. Entretanto, a espera me deixava angustiada.



Minha mãe estava inconsolável. Depois que o armazém explodiu, eu apenas me lembro de ter acordado em uma cama de Hospital, e não ter aberto a boca desde então. Foi um choque para Judy quando ela descobriu o motivo. Blair tinha sido uma vadia, é verdade, mas mamãe não era uma má pessoa, e não merecia sentir a dor de perder uma filha. Dói-me o coração quando ela começa a me fazer perguntas, e eu prefiro o silêncio porque simplesmente não as posso responder. Acho que se alguém deveria contar a verdade, então esse alguém é meu pai. Ele veio correndo a cidade quando soube que eu estava no Hospital, e ele escutou em minha mente tudo o que tinha acontecido. Russel me pediu desculpas, mas eu não estava disposta a aceitá-las. No momento, tudo o que eu queria era poder me desligar do mundo, e fingir que nada daquilo tinha acontecido. Mas infelizmente aconteceu.



Wonder foi enterrada quando eu ainda estava hospitalizada, mas a primeira coisa que fiz quando recebi alta foi visitar seu túmulo. Ela salvou a vida da minha garota, e ela foi muito mais corajosa do que eu poderia imaginar. Suas últimas palavras ainda rondavam em minha mente e, engraçado, mas eu não estava surpresa por saber que ela tinha um filho e que o “abandonara”. Não foi o que Shelby fez com Rachel? E o que Shelby me disse, certa vez? Que nós não podemos ter família? Vendo o estrago que foi feito à minha, eu sou perfeitamente capaz de enxergar o motivo. Eu já não acho abominável o fato de Shelby e Wonder terem abandonado seus filhos. Depois de tudo o que eu passei, acredito que eu faria a mesma coisa, porque provavelmente é o melhor, mesmo que não seja o ideal. Quando você realmente ama uma pessoa, então você precisa se certificar que ela sempre esteja feliz e em segurança, mesmo que isso signifique que você precise deixá-la partir.


–– Q., será que podemos conversar? –– perguntou Santana, tocando-me levemente no ombro.


Virei-me em sua direção, e só então percebi que Sam não era o único do clube do coral presente. Todos eles estavam ali. Mike, Tina, Artie, o senhor Schuester, Finn e Puck –– e eu tinha certeza que eles estavam de mãos dadas ––, e até mesmo Santana, que eu não pensei que fosse desgrudar do lado de Brittany até que a loirinha tivesse alta. Senti o nó em minha garganta aumentar, e fiz o possível para não chorar. Eu estava cansada de todos aqueles sentimentos conflitantes dentro de mim, e eu só queria um pouco de paz, para poder processar tudo o que estava acontecendo. Mas acho que paz era algo que eu não teria em um bom tempo.



Segui Santana para longe da minha mãe, que agora se jogara em cima do caixão de minha irmã, e precisei repetir mentalmente várias vezes que eu não podia deixar aquilo me atingir, muito embora, é claro, já tivesse me atingido. Eu estava furiosa com Blair por tudo o que ela tinha feito, chocada por saber que minha irmã tirara a própria vida, e triste, porque aquela estúpida era parte da minha família, e apesar de tudo, eu ainda a amava. Balancei minha cabeça, e tentei afastar aqueles pensamentos. Concentrei-me em Santana, que parou de andar, virou-se em minha direção e cruzou os braços sobre o peito.



É engraçado o quanto você pode conhecer uma pessoa apenas pelos gestos. Certo, eu posso ler sua mente, mas eu conhecia aquela pose de Santana, porque eu já a vira usar muitas vezes. No ano anterior, quando eu me sentia entediada, sentava-me nas arquibancadas e assistia o treino das líderes de torcida. Sue Sylvester e seu método de treinar a base de xingamentos arrancou boas gargalhadas de mim nos tempos em que minha maior preocupação era esconder minha esquisitice. Portanto, eu já estava familiarizada com o jeito de Santana de tentar demonstrar que não estava tão abalada quanto ela realmente se sentia, e que ela não se importava nem um pouco quando, na verdade, ela estava desmoronando. Revirei os olhos e suspirei. Isso tudo parecia ter se tornado tão pequeno!



–– Você vai me contar o que está acontecendo? –– perguntou Santana. –– E não me venha com essa mudez para cima de mim, Fabray, porque eu não vou ter pena de baixar o Lima Heights nesse seu traseiro branquelo.


–– Obrigada pela consideração –– disse sarcasticamente, e minha voz saiu mais rouca que o de costume, provavelmente por eu ter passado dias sem dizer uma palavra.


Santana abaixou os braços e passou uma de suas mãos pelo cabelo, sinal que ela estava nervosa. Eu podia escutar sua batalha interna, e quase abri um sorriso quando percebi o quanto ela se importava. Santana podia demonstrar ser uma idiota, mas ela tinha realmente um grande coração. A latina respirou fundo e me surpreendeu com um abraço, que retribuí.



–– Eu realmente sinto muito pelas suas perdas.


–– Brittany comentou sobre Wonder? –– perguntei, soltando-me do abraço.

–– Sim –– concordou Santana. –– Ela me disse que vocês três eram amigas.

–– Ela salvou a vida de Rachel –– deixei escapar. Pude ver os olhos de Santana se arregalarem, mas ela rapidamente recuperou a postura. –– Eu a abandonei dentro do armazém.


E nesse momento, eu simplesmente não consegui mais segurar a dor que carregava no peito. Minhas pernas cederam, mas Santana me segurou antes que eu pudesse cair no chão. Abracei-a com força, e deixei que as lágrimas rolassem pelos meus olhos. Aquilo tudo era tão injusto! Nada disso deveria estar acontecendo! Eu não deveria ser capaz de ler mentes, Wonder e Shelby não deveriam ter que abandonar sua família, Rachel não deveria estar desacordada, Blair não deveria ter morrido...



–– Tenho certeza de que, se você fez isso, então foi necessário. Olha, Quinn, eu sei que eu sou uma vadia na maior parte do tempo, mas eu não sou tão idiota assim –– disse Santana, fazendo-me soltar um risinho nervoso. –– Mas eu realmente me importo com vocês, ok? E te conheço bem o bastante para saber que você literalmente morreria para salvar a vida da sua garota.



–– Eu morreria se a perdesse –– admiti.


–– Sei como você se sente –– concordou Santana, acariciando minhas costas. –– Mas elas estão bem, certo? Rachel vai acordar em breve, e vai começar a falar pelos cotovelos, e você vai implorar aos Céus para que ela cale a boca, ou coisa assim. Então nada de lamentação, pelo menos não por isso.

–– Você está certa –– disse, afastando-me dela e enxugando as lágrimas. –– É só que é tudo muito confuso.

–– Eu sei –– disse Santana, segurando minha mão. –– Mas você não está sozinha, Q.


Concordei com a cabeça. Santana esperou até que eu me recompusesse, sua mão nunca soltando a minha. Meu peito se encheu de gratidão. Talvez eu realmente não estivesse sozinha, afinal de contas. Talvez eu pudesse enfrentar aquilo. Passei a mão livre pelo rosto, limpando os últimos resquícios do choro.



–– Você sabe que eu não posso falar nada –– disse a Santana, desculpando-me com os olhos.


–– Eu sei –– concordou a latina. –– Britt-Britt não me contou, e eu não esperei que você fosse ter uma atitude diferente em relação a isso. Eu não sei o que aconteceu, Quinn, eu não sei por que diabos vocês estavam naquele fim de mundo, ou o porquê daquele lugar pegar fogo do nada, mas algo em meu peito me diz que é só o começo. Então tome cuidado, certo? E, por favor, tente deixar a Brittany fora disso.

–– Não foi culpa minha!

–– Eu sei que não, Fabray, nada disso foi culpa sua. O que eu estou dizendo é: se no futuro você se meter em alguma coisa perigosa, por favor, não arreste minha garota para dentro disso. Eu não posso protegê-la às cegas. Como você se sentiria confiando a vida de Rachel em minhas mãos sem ao menos saber o que estou planejando?

–– Você tem razão –– admiti. –– Em prometo não envolver Brittany desde que ela não queira ser envolvida. Mas eu não posso impedi-la se entrar nisso por conta própria, você sabe.

–– Eu sei –– concordou Santana. –– Mas se ela o fizer, então quero que seja pela sua escolha, e não porque ela acha que deve.

–– Justo –– disse.


Santana acenou com a cabeça, em concordância. Senti-me um pouco aliviada. Afinal, aquela era uma promessa que eu poderia cumprir. De fato, se dependesse de mim, então Brittany nunca mais seria envolvida em nada disso. Entretanto, eu não sei o dia de amanhã, e é melhor prevenir do que remediar. Santana e eu voltamos para perto dos outros, e o padre estava dizendo suas últimas palavras enquanto o caixão era lentamente colocado dentro da cova.



Aproximei-me de minha mãe e segurei sua mão com força, tentando transmitir o máximo de conforto que conseguisse. Ela apertou minha mão de volta, e antes do caixão ser coberto pelo cimento e pela areia e, juntas, nós jogamos a última mentira a ser enterrada: uma foto da família Fabray reunida. Porque não importa o que acontecesse, ou quanto tempo se passasse, de uma coisa eu tinha a absoluta certeza: minha família jamais seria a mesma.



––



Eu precisei esperar mais três longos dias até ouvir a ligação de Shelby em meu celular. Meu coração só faltou sair do peito quando ela disse que Rachel finalmente havia acordado, e mesmo sendo cinco horas da manhã, eu levantei da minha cama num pulo, coloquei uma roupa qualquer, roubei as chaves do carro da minha mãe –– o meu foi confiscado –– e dirigi o mais depressa possível para o Hospital.



Durante o caminho, eu senti algo ruim tomando conta de mim. Procurei tirar esses pensamentos da cabeça, porque, merda, Rachel estava bem, e nós finalmente poderíamos ficar juntas. E então, eu faria as coisas do jeito certo. Nós sentaríamos para conversar, e eu começaria tudo de novo. Sem mentiras, sem segredos, sem nada que pudesse ficar entre nós duas. Dessa vez seria apenas eu, Rachel, e a incrível sensação de ter meu coração saltando do peito e das borboletas revirando meu estômago todas as vezes que nossos olhares se encontravam. Um sorriso surgiu em meu rosto, e fiquei ansiosa para segurar minha garota em meus braços, beijá-la e acariciar seu rosto lindo.



Estacionar se tornou uma tarefa zilhões de vezes mais complicada, respirar parecia ser a coisa mais difícil de ser fazer, e eu simplesmente não conseguia impedir minhas mãos de tremerem quando cruzei as portas do Hospital e caminhei –– porque minhas pernas estavam bambas, e eu definitivamente não conseguia correr –– até a recepção, peguei um crachá de identificação –– eu tinha passe livre porque passei algumas noites dormindo no quarto esperando minha garota acordar –– e andei até o elevador, onde apertei o botão do terceiro andar.



Shelby estava na porta do quarto quando apareci no corredor. Seu olhar encontrou o meu, e minha ansiedade apenas aumentou. Alguma coisa estava muito errada, e eu podia ver isso estampado em seus olhos. Aproximei-me mais, sentindo as lágrimas começarem a descer pelo meu rosto e me preparando para ouvir qualquer notícia de que Rachel não tinha resistido aos ferimentos, e que minha razão de viver tinha sido arrancada de minhas mãos.



–– Quinn –– sussurrou Shelby, parando-me antes que eu pudesse entrar no quarto. –– Não pensei que você viesse agora.



Um dos pais de Rachel –– Leroy –– apareceu na porta e, quando ele me viu, seus olhos se arregalaram no rosto, e eu vi que ele também estava chorando. Dei um passo em sua direção, mas Shelby me segurou novamente. Encarei-a, mas ela balançou a cabeça em sinal negativo.



–– Eu não acho que você deva...


–– Eu estou esperando por isso há dez dias –– resmunguei irritada. –– Seja o que for, eu tenho o direito de ver minha namorada.

–– Sim, eu sei disso, Quinn. Mas veja bem, há algo que você precisa entender, e...

–– Papai? –– chamou a voz que eu reconheci ser de Rachel. Meu coração começou a bater mais rápido no peito, e a ansiedade embrulhava meu estômago. –– Quem está aí?


Livrei-me das mãos de Shelby e caminhei decidida até a porta do quarto de Rachel. Meu corpo todo tremia, e quando eu a vi, soltei a respiração que nem sabia estar prendendo. Não foi nada, afinal. Ela estava bem... Não estava?



–– Hum, querida, você tem uma visita –– comentou Hiram, que estava ao seu lado.



E foi só então que ela pareceu ter me percebido. O seu sorriso brilhante surgiu em seus lábios e eu suspirei, porque nunca me senti tão aliviada em minha vida.



–– Olá! –– disse Rachel.


–– Rach –– disse sorrindo.


Ela tentou disfarçar, mas eu a conhecia bem o suficiente para notar o olhar confuso estampado em seu rosto. Rachel olhou de mim para Hiram, de Hiram para mim, e de mim novamente para o pai, como se esperasse por uma explicação.



–– Hum... Rach? –– chamei-a insegura. –– Tudo bem?



Rachel abriu um pequeno sorriso sem graça e acenou com a cabeça.



–– Desculpe, mas nós nos conhecemos?



Meus olhos se arregalaram a respiração ficou presa em minha garganta. Foi a minha vez de olhar para Hiram, e só então eu percebi as lágrimas em seus olhos.



–– Eu sinto muito, Quinn –– disse-me transtornado. –– Mas Rachel perdeu a memória.



E foi aí que meu mundo todo desabou.



 


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Notas finais do capítulo

NÃO ME MATEM! T.T
Vale lembrar que ainda falta o Epílogo, e que MR tem continuação. Então, algum review final com ameaças de morte, xingamentos, elogios, críticas, etc? :P