Um Fio De Esperança. escrita por Pequena Garota


Capítulo 38
Capitulo 38.


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capitulo para vocês meus amores.
Esse capitulo estava praticamente pronto. O começo dele eu comecei a escrever quando estava no capitulo 35. Mas não se encaixava na hora com aquilo que escrevi no 34. Ai deixei de lado e acabei esquecendo ele. Ai fui dar uma olhada nas coisas que tinha perdida lá na pasta da fic e achei duas partes la perdidas. Uma eu nem lembrava que não tinha postado... ( gente pelo amor de Deus se tiver uma parte repetida ai no meio, uma coisa que vocês já leram ai pelo meio da fic, me avisem. É muito serio, tem uma parte que realmente não lembro se já enfiei em algum capítulo ou não. Por favor me avisem)
Então está ai, espero que gostem. Boa leitura meus amores.



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A primeira vez que ouvi falar em anorexia não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida.

Eu não sabia nada sobre o assunto. Sabia apenas que era uma doença. E esse era o tipo de assunto que eu não levava muito a sério, - como aquele monte de doenças sexualmente transmissíveis que o professor de biologia obrigava a gente a apresentar na frente da sala, com aquelas fotos nojentas e horríveis. - para mim era apenas mais uma daquelas coisas que te impressiona na hora e depois você esquece. E vamos concordar que quando se tem 12 anos de idade esse tipo doenças não nos interessa nem um pouco. Você chega a achar que é frescura, daquelas de criança que não quer comer.

Eu era muito nova para entender que era uma doença tão séria.

Quando descobri que Claudia tinha um transtorno alimentar comecei a pesquisar sobre o assunto na internet e fiquei horrorizada com as coisas que encontrei.

Blogs, sites e chats para garotas que se denominavam Ana’s e Mia’s. Todos eles tinham muitas fotos do tipo “inspiração” para essas garotas. Fotos de costelas, fotos de meninas mostrando os ossos da coluna bem saliente, de barrigas lisas e ossos do quadril saltado. Fotos de pernas e braços tão finos que dava para fechar a mão em volta e ainda sobrar espaço.

Tudo aquilo me veio tão fácil, foi apenas um click e eu fui bombardeada por milhares de paginas e fotos.

Em um blog achei dicas de como perder 7kg em uma semana. Em outro, dietas com apenas 200kcal e ate 70ckal por dia. Truques de como enganar a fome, e enganar a todos a sua voltas. Coisas absurdamente ridículas como, beber muita agua, exercícios nunca é de mais, diuréticos também não. Chá para acelerar o metabolismo e diminuir a fome. Dizer que comeu antes de sair de casa ou que é intolerante a tal alimento. Não levar muito dinheiro quando sair de casa para não comprar nenhuma besteira no caminho. Guarde seu dinheiro e compre uma roupa bonita, de um numero menor é claro, assim quando você conseguir entrar nela vai saber que emagreceu, etc."

Não sabia quem eram aquelas garotas e nem o motivo de terem blogs assim, mas sabia que se eu encontrasse uma delas, eu mesmo pediria a internação de uma pessoa assim. Uma pessoa em sã consciência não daria dicas a outra para passar fome.

Nesses blogs encontrei também frases “motivadoras”, coisas como: Não coma. Se sentir fome beba agua, e se sentir que vai desmaiar, parabéns, está no caminho da perfeição. Garotas bonitas não comem.

Não foi fácil para mim descobrir que minha melhor amiga estava indo por esse caminho tão triste e solitário. Não foi fácil para mim entender como uma garota que tinha tudo, uma garota linda e inteligente estava se deixando levar por uma coisa tão medíocre. Um caminho onde a “perfeição” é tudo. Onde o caráter não vale de nada. Onde não importa o que você faça, sempre vai ser uma perdedora, uma fracassada. E o pior de tudo, não importa o quão magra você seja, vai ser sempre uma “porca gorda”.

Fiquei uma semana sem conseguir encarar Claudia direito, sempre que olhava em seus olhos tinha vontade de perguntar o porque. Eu não conseguia entender. Claudia nunca foi gorda. Ela sempre teve um corpo bonito, ela praticava esportes todo dia. Não conseguia enxergar o motivo. Quando estávamos juntas eu lhe empurrava comida a todo instante. Mas ela sempre recusava. Até que uma hora eu estourei e finalmente despejei todas as palavras em cima dela. Estava ficando sufocada com aquilo. Não conseguia mais guardar uma coisa tão seria só para mim e sem poder fazer nada.

Foi um baque quando as palavras “distúrbio alimentar” se chocaram contra ela. Ela chorou, ela negou. Ela gritou e disse que não queria mais me ver. E no fim ela pediu segredo.

Mas como eu poderia guardar segredo de uma coisa que podia acabar com sua vida daquela forma? Como podia guardar segredo enquanto a via morrer aos poucos?

Deixei bem claro que ou ela parava com aquilo, parava de ficar vomitando tudo o que comia e voltava a comer direito, ou eu contaria tudo aos pais dela. Já estava desesperada e não sabia o que fazer, então usei tudo o que tinha para ter minha amiga bem.

Claro que sabia que chantagear não resolveria nada, pois não ia mudar a forma como ela se via diante do espelho. Porem eu não tinha escolha, ou eu contava, ou a via definhar.

O tempo foi passando e ela tinha jurado para mim de pé junto que estava bem, que estava levando uma vida saudável. E por um tempo eu acreditei. Ou pelo menos quis acreditar.

Até uma noite em que fui a sua casa e a encontrei no banheiro desacordada. Minha primeira pergunta quando ela estava consciente foi: Quando foi a última vez que você comeu? E ela apenas disse: Eu não me lembro.

A gota d'agua foi quando naquela mesma noite, eu pude notar varias linhas avermelhadas em sua perna.

De uma coisa eu sei. Não me arrependo de ter feito aquilo. Não me arrependo de ter pego o telefone e ligado para Ana e ter contado tudo a ela.

Mas estava começando a me arrepender de ter mostrado o diário dela para Rubens.

Depois de pagar a conta nós entramos no carro e ele tirou um papel de dentro do porta luvas. Era uma folha sulfite com o nome e endereço de uma clinica psiquiátrica.

Quando Rubens disse que internaria Claudia achei que ele se referia a um hospital, onde ela ficaria até ela recuperar o peso, e não a algo tão radical assim.

A data no rodapé da folha era de semanas atrás, o que indicava que ele já vinha pensando nisso fazia um tempo.

–– Você não pode fazer isso. - disse um tanto quanto assustada. - Ela vai ficar bem, não precisa de tudo isso.

Minhas mãos começaram a tremer e a suar frio.

Ana ficou calada o tempo todo, não deu um indicio de que também era contra o internamento da própria filha.

–– Ana, por favor? - supliquei quando percebi que era a única contra aquilo.

–– Sinto muito Nanda, mas prefiro que minha filha me odeie agora do que não poder ver o rosto dela nunca mais.

Senti uma dor aguda e então arfei de dor. O bebe estava mais inquieto do que nunca.

Alisei a barriga tentando acalma-lo.

–– Vai ficar tudo bem. - sussurrei mais para mim do que para ele.

–– Você está bem? Ana perguntou já tirando o cinto de segurança.

Eu fiz que sim tentando não fazer outra careta com aquela segunda pontada.

–– Tem certeza? Rubens perguntou.

–– Posso pelo menos falar com ela antes de vocês? perguntei respirando fundo e me endireitando para ver se a dor diminuía.

Eles se entreolharam e então concordaram.

Rubens deixou Ana em seu escritório primeiro e então me levou para a casa. Ele disse que chegaria mais cedo hoje, só tinha que resolver algumas coisas antes.

Imaginei que ele iria até a tal clinica e isso me deixou nervosa.

–– Você tem certeza de que está bem? Se quiser te levo ao hospital. - disse.

–– Não, eu só preciso descansar um pouco. - disse. - Daqui a pouco a Claudia chega, melhor você ir. Quero falar com ela sozinha.

Ele assentiu e então saiu com o carro.

Mandei uma mensagem para Claudia dizendo que já estava em casa e então esperei.

Fiquei deitada na cama pensando em como diria a ela que seus pais queriam interna-la e a culpa era toda minha.

Me virei algumas vezes tentando achar uma posição confortável para ficar, mas de jeito nenhum estava bom, então eu me sentei.

Abri minha bolsa e tirei de lá o caderno de capa dura, o diário cheio de segredos e mentiras e comecei a ler desde a primeira pagina.

Todas aquelas informações estavam me deixando atordoada. Toda aquela situação estava me deixando enjoada.

Em algumas paginas ela dizia estar apaixonada por alguém mas não disse o nome da pessoa nem uma vez.

Comecei a ler um pequeno texto onde ela falava sobre o nosso beijo. Aquilo me deixou entorpecida.

"Eu a amo e só aquela idiota não vê. Mas talvez seja melhor que ela não perceba. Não suportaria magoa-la, e olhe bem para mim, sou a decepção em pessoa. Gostaria de poder dizer que a amo, mas que a amo de verdade. Tenho medo de acabar com o pouco que sobrou de nossa amizade. "

Aquelas palavras ficaram ecoando em minha mente. Algo dentro de mim formigava sempre que pensava nas palavras "eu amo".

Afinal de contas o que estava acontecendo comigo?

Eu amava a Claudia, isso era obvio. Mas que tipo de amor eu sentia por ela?

Meu coração começou a bater mais rápido quando lembrei das duas vezes em que ela me beijou. Das vezes em que ficávamos de mãos dadas, da sensação gostosa que era seu abraço.

Eu a amava. Estava apaixonada por Claudia.

Comecei a chorar, sem saber exatamente o porque.

Ouvi o portão se abrindo e então me recompus.

Claudia entrou no quarto poucos minutos depois, com o celular nas mãos.

–– O que aconteceu? Perguntou assustada quando viu que eu estava séria.

E logo ela notou que eu segurava seu caderno em meu colo.

–– Senta ai. – disse mantendo o tom firme.

–– Isso é meu. – disse ao se sentar sem sua cama de frente para mim. – Você não tem o direito de mexer nas minhas coisas. – dava para notar que ela estava nervosa pelo tom vacilante em voz.

Abri o caderno na ultima pagina escrita e comecei a ler em voz alta.

–– "Me sinto proibida de dizer o que penso sobre mim. Não posso dizer o quanto estou gorda, porque na verdade não estou...

–– Para com isso Nanda. - ela encolheu os ombros.

–– ...Não posso dizer que sou idiota, porque sou uma garotinha meiga e carinhosa. Não posso dizer a palavra estupida porque não tive culpa do que me aconteceu. Não posso dizer que sou uma fracassada, uma inútil, perdedora. Que me sinto ridícula. Patética. Porque o problema é esse...

Ela pediu para que eu parasse mais uma vez e como não fiz, ela tampou os ouvidos.

–– ...Eu não sei ver coisas boas em mim e tudo isso não é verdade. É coisa da minha imaginação. Eu sou uma boa pessoa. Atenciosa, dedicada, amorosa, educada e realmente me importo....

–– Eu não quero ouvir, para com isso. – gritou.

Claudia se levantou e arrancou o caderno de minha mão rasgando a folha em pedaços.

–– ...Por isso é proibido dizer que me odeio. - terminei a ultima frase olhando diretamente em seus olhos.

–– Você não tinha esse direito. – berrou.

Continuei sentada sem mudar a postura. Não esperava essa reação dela, estava um pouco assustada, mas tinha que continuar firme se quisesse que ela me levasse a serio.

–– Claudia. – chamei quando ela se debruçou sobre cama chorando.

–– Me deixa em paz. – disse.

–– Claudia, olha pra mim agora! - disse indo me sentar ao seu lado.

Ela enxugou o rosto com a blusa e se sentou direito.

–– Você invadiu meu espaço. – disse ainda sem olhar para mim. – Eu tenho direito a privacidade.

–– Sim, você tem. Desde que a sua privacidade não coloque sua vida em risco. – eu me levantei e fui até ela. – Eu acreditei em você Claudia, deixei você com o seu espaço e é mentindo que você retribui? Você jurou que pararia de vomitar e eu acreditei em você. E agora eu descubro que, além de estar burlando as refeições, você está vomitando e tomando aquelas porcarias outra vez. Eu confiei em você Claudia e você está fazendo exercícios de madrugada? Para que isso Claudia? Você tinha recuperado o seu peso e agora perdeu tudo. – eu fechei a mão em volta de seu pulso. – Olha isso, - esperei ela olhar para a minha mão. – só osso Claudia.

Ela puxou o braço e o cruzou no peito.

–– Estou muito decepcionada com você. – disse.

Claudia finalmente olhou para mim. Seus olhos estavam cheios de lagrimas e seu rosto retorcido numa careta de dor.

Aquilo cortou meu coração.

–– Não fala assim não. – ela me abraçou e começou a chorar. – Me desculpa Nanda.

Eu a abracei. Nunca a tinha visto chorar daquela forma.

–– Claudia calma, – eu respirei fundo. – vai ficar tudo bem.

Segurei seu rosto com as duas mãos para poder olhar em seus olhos. Sabia que meus olhos também estavam cheios de lagrimas. Tudo aquilo tinha sido tão dramático, o meu dia estava sendo mais difícil do que nunca. O bebe ainda estava inquieto e tinha aquela dor aguda me incomodando.

Respirei fundo tentando buscar um pouco de força de algum lugar.

–– Quando seus pais chegarem vão querer falar com você. – disse.

–– Contou a eles? Perguntou. – Nanda, me diz por favor, que você não fez o que eu acho que fez. – Ela ficou de pé e se afastou.

–– Eu mostrei o seu diário para eles. – disse devagar. – E eles me deixaram falar com você primeiro.

–– Falar o que comigo? Ela se apoiou na cômoda.

–– Eu acho melhor você se sentar.. - comecei a dizer um tanto quanto preocupada, ela parecia estar tonta, estiquei o braço para segura-la.

–– Fala de uma vez. - disse se esquivando. Claudia aumentou o tom de voz e usou toda a rispidez que conseguia.

Eu já não sabia o que dizer ou o que fazer. Não queria estar fazendo aquilo. Minha cabeça estava pesada, estava girando. O ar parecia mais denso, e meu estava amolecendo. Não era como se fosse desmaiar. Parecia mais que tinha entrado em um daqueles brinquedos de girar e tinha ficado tempo de mais girando e girando.

–– Claudia, você tem menos de 80% do seu peso, você já foi internada uma vez por isso...

–– Meus pais vão me internar de novo? Sua voz quase sumiu. – Eles não podem fazer isso comigo.

–– Claudia você tem que entender que não está nos dando outra escolha. Fizemos de tudo para não precisar chegar a esse ponto. - olhei para a cama, precisava me sentar um pouco.

–– Eu te odeio! - ela me empurrou.

Cambaleei para o lado o tanto quanto assustada.

Encarei Claudia horrorizada.

Ela cobria a boca com a mão.

–– Me desculpa. – ela deu um passo para a frente.

Eu me afaste.

–– Não encoste em mim Claudia. – pedi.

Senti meu corpo todo tremer, como se um choque elétrico tivesse passado por ele, pouco depois senti aquela mesma dor aguda de antes.

–– Nanda?

Minha respiração ficou ofegante de repente e eu grunhi de dor.

–– Nanda eu te machuquei? ela se aproximou de mim mais uma vez.

Arregalei os olhos quando senti alguma coisa escorrer por minhas pernas. Me apoiei em Claudia com uma mão e usei a outra para passar a mão entre a perna.

O cheiro de sangue me fez cambalear para o lado. Encarei a ponta de meus dedos avermelhados.

–– Claudia. - sussurrei. - Chama uma ambulância agora.


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Notas finais do capítulo

E estamos muito perto do fim meus lindos.
Espero que tenham gostado.
(não esqueçam de me avisar se foi uma parte repetida ai.Obrigada *-*)
Até o próximo capitulo.



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