A Ordem de Drugstrein (Versão antiga) escrita por Kamui Black


Capítulo 46
Capítulo 46 - Sob a Chuva


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos especiais para a Beta Reader Lubea, que revisou este capítulo.



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Arco VII - Povos Bárbaros

 

 

Capítulo 46 – Sob a chuva

 

Furioso com os comentários prepotentes de Kamui, Kiliker avançou contra o mago. Sob seus pés, as pegadas eram deixadas na lama, deformadas, tamanha era sua velocidade. O jovem, porém, não esperava outra reação e avançou na mesma velocidade. Apesar do tamanho três vezes maior do punho adversário que vinha em sua direção, ele contra-atacou da mesma forma. No entanto, Kamui utilizava um Aurus Pulse enquanto o fazia.

Os dois encontraram-se no ar, o mago havia saltado para alcançar o do inimigo. Os espetos de aço não chegaram a tocar a carne humana, pois o feitiço que teria força para lançar o ogro para longe impedia que isso acontecesse. No entanto, a criatura de pele esverdeada não saiu do lugar. Um brilho estranho e uma ventania incomum surgiram das estranhas luvas de Kiliker.

Surpreso, Kamui foi arremessado para o alto e para trás com a mesma força que acometeria o seu adversário. O rapaz girou o corpo no ar e caiu, em pé, alguns metros para trás de Sarah, que assistia a tudo aflita. Os pés do jovem foram arrastados, através da inércia, pelo chão e ele foi obrigado a tocar o solo com sua mão esquerda para se equilibrar novamente e não cair.

O mago colocou-se novamente ereto e encarou o adversário, que sorria com a resolução da investida de ambos. Sarah, quando viu o que aconteceu, apressou-se em agir. Em meio a um grito “Explosion”, chamas intensas foram lançadas contra o ogro, que permaneceu em seu local, imóvel. As explosões seguiram-se em um ritmo que seria possível desintegrar o corpo do adversário completamente.

A chuva – que naquele momento começava a se tornar intensa – dissipou completamente a fumaça e a poeira. Em seu lugar, apenas restou Kiliker. A única mudança em sua posição eram os braços a frente do rosto, como se quisesse protegê-lo de algo.

Não conseguirão me derrubar com ataques tão medíocres como estes.

O capitão dos orcs desafiou enquanto cerrava os dentes. Em seguida, avançou contra a maga branca. Sarah esperou que o seu oponente aproximasse o suficiente para esquivar-se de seu golpe no momento exato. Antes que o ogro pudesse atacar novamente, Kamui lançou um Thundera contra o mesmo.

O ataque elétrico também não fez o menor efeito. Kiliker foi rápido o suficiente para estender o braço esquerdo contra o raio lançado pelo mago. Ele abriu sua enorme mão e o ataque foi amparado por ela, fazendo com que arcos voltaicos se espalhassem pela região. O feitiço principal, porém, desapareceu logo em seguida.

O mago negro observava, atônito, a maneira incomum como seu adversário havia se defendido de seu ataque. Ele não sabia o que havia acontecido, mas ficou grato por ter dado tempo suficiente para que Sarah se afastasse do inimigo e se aproximasse dele.

Quero saber quais as intenções das tropas aliadas nessa empreitada pela montanha, e quero saber agora – ordenou o ogro de tamanho descomunal.

Como se nós fossemos contar para você...

A garota foi interrompida quando Kamui passou a sua frente e lhe fez um sinal indicando que assumiria a palavra.

Nós pretendemos atacar Naubusec.

Sarah mal pôde acreditar que Kamui havia entregado os planos dos aliados para um inimigo. Ela pensou em protestar, mas o rapaz olhou-a de canto e piscou um olho. Ele tramava alguma coisa, disso ela tinha certeza. Simplesmente confiaria nele, então.

Atacar Naubasec. Vocês só podem estar brincando. Quando acabar com vocês dois, irei conduzir minhas tropas imediatamente contra seu exército medíocre e esmagar a todos.

Neste exato momento, Sarah percebeu o que o rapaz pretendia. Ele simplesmente tentou – e aparentemente conseguiu – fazer com que o exército inimigo não atacasse Gynoloock, pois esta estava com defesas realmente baixas.

O rapaz sorriu e, antes que o ogro pudesse fazer algo mais, começou a formar chamas negras em suas mãos. A seguir, apontou ambos os braços em direção aos adversários e duas rajadas precipitaram-se das palmas de suas mãos, que estavam abertas.

O fogo das trevas avançou rapidamente, porém, foi amparado pelas enormes e grossas mãos enluvadas da criatura à frente. Kiliker parecia estar aguentando sem dificuldade alguma. No entanto, Kamui mudou a estrutura das chamas para que elas tentassem penetrar na carne de seu alvo.

A nova investida pareceu não ser eficaz. Quando o mago pensou em desistir da tentativa e iniciar uma nova, surpreendeu-se com a incrível velocidade do adversário em esquivar-se das chamas que lhe acometeriam. O Dark Fira, então, atingiu as rochas atrás de onde a criatura verde encontrava-se há pouco, penetrando-as e as destruindo completamente.

Defendeu-se deste também. Droga!

Não vai me atingir com nenhum de seus feitiços, garoto. Eu sou invulnerável – Kiliker disse enquanto ria.

Kamui deu um de seus sorrisos que só empregava quando se sentia acuado em um combate. Sarah pensava em alguma maneira de ajudá-lo, mas nada que pudesse atingir o inimigo lhe vinha a mente.

Você não é, disso tenho certeza, se fosse, não iria se esquivar de meu último feitiço. Talvez eu tenha alguma ideia do que faz de você um inimigo formidável.

A expressão no rosto selvagem de Kiliker mudou repentinamente de surpresa para ódio. Para ele não interessava mais o que aquele casal de magos – principalmente Kamui – pensava conhecer, ele simplesmente acabaria com os dois.

A nova investida do ogro foi em meio a uma grande fúria. Ele saltou a uma altura impressionante e caiu entre o casal. Antes, porém, que ele desferisse seu golpe, ambos já haviam se afastado o suficiente para evitá-lo. Novas tentativas se seguiram contra o rapaz, que se esquivou de todas elas, não ariscava utilizar um Proteggio em sua defesa temendo que o feitiço não funcionasse.

Vendo que o amigo e companheiro de equipe estava cada vez mais acuado, Sarah lançou um poderoso Oath contra o adversário. A esfera de energia luminosa alastrou-se veloz enquanto Kamui afastava-se do local a ser atingido. Kiliker, por sua vez, amparou o ataque com ambas as mãos estendidas. A cúpula de luz curvou-se diante de seu corpo enquanto ele tentava detê-la. O rapaz, afastado do local, observava com grande curiosidade.

Por fim, a maga branca não mais conseguiu manter o feitiço ativo e o cessou. O Atreius juntou-se a ela no segundo seguinte em que isso aconteceu.

Sarah, temos de sair daqui. Gostaria de terminar essa luta contra esse tal Kiliker, mas você também deve poder sentir a aura dos gnolls que se aproximam velozes.

Sim, mas o que podemos fazer para escapar?

Pela montanha – sussurrou pouco antes de gritar – Ultimate Explosion!

As chamas investiram contra o ogro, que se preparava para efetuar a defesa. Elas queimavam e destruíam tudo por onde passavam. Quando chegaram próximo ao alvo em potencial, Kamui revelou que não era realmente esta a sua intenção. O fogo dividiu-se e subiu, formando duas grandes ondas, por cima do ogro gigantesco. Por fim, ele atingiu ambos os desfiladeiros que cercavam a região, causando grandes explosões.

O impacto causou um enorme desmoronamento de terra e pedras. Kiliker Broch teve uma imensa dificuldade para evitar tudo o que ameaçava sua vida, mas conquistou a façanha com grande êxito. No entanto, quando pôde voltar a sua atenção para onde antes havia um casal de magos, percebeu que nada restava além de lama proveniente da forte chuva que acometia a região.

Durante alguns minutos o capitão dos orcs insultou a si mesmo com ofensas inimagináveis por ter permitido que os dois escapassem de seus punhos ávidos por sangue. Por fim, quando a chuva que principiava uma tempestade já havia praticamente apagado os vestígios de chamas das rochas da região, ele viu sua tropa, aproximando-se em uma marcha acelerada.

Kiliker levantou-se de maneira lenta e pesarosa da enorme pedra onde estava sentado. Caminhou até atingir o centro do caminho e lá ficou, enquanto a água atingia e escorria em sua armadura suja de fuligem.

Os goblins que seguiam a frente pararam de imediato. Alguns deles acabaram sendo “atropelados” pelos ogros que seguiam atrás. Os gnolls conseguiram manter sua pose e os trolls eram os últimos e apenas acompanhavam o batalhão graças às suas passadas largas.

Em sua voz grossa e autoritária, Kiliker Broch disse, em órquico, para todo o exército que se mantinha parado a sua frente:

Mudanças de planos. O nosso grande orgulho no planalto de Minorria está para ser atacado – iniciou seu discurso. – Os aliados planejam derrubar Naubasec. Sendo assim, teremos de retornar e interceptar as tropas inimigas. Os goblins devem seguir em frente e trazer nossos batedores de volta. O restante deve seguir comigo. Burbagaur, venha até aqui.

Em meio à multidão verde e cinza, um ogro de tamanho avantajado para a espécie, porém, muito inferior a Kiliker se prontificou a juntar-se a ele. Este possuía uma pele verde cinzenta, resultado do sangue troll que corria em suas veias. Sua armadura também era robusta, assim como a de seu capitão. Em suas costas, uma enorme montante de mais de dois metros estava presa através de tiras de couro. Suas orelhas pontiagudas eram perfuradas em diversos pontos e, nestes, argolas de prata eram usadas como brincos. Seus cabelos eram relativamente curtos e presos em pequenas tranças, no estilo rastafári.

Sim, meu senhor.

– Pegue quarenta dos ogros caçadores mais rápidos dos quais você disponibilizar e siga o rastro de um casal de jovens magos. O rapaz pode ser muito perigo e o quero morto.

Sim, meu senhor.

 

 

A chuva castigava os magos e os anões. Fortes torrentes banhavam as armaduras que, outrora reluzentes, agora estavam manchadas com o sangue da batalha. Raios atingiam os picos das montanhas próximas e o barulho das trovoadas podiam ser ouvidos há quilômetros de distância.

Mesmo com a situação tensa do pós combate e com a noite caindo, Spaak fazia seus preparativos para deixar o grupo. O mestre encontrava-se em uma pequena barraca em meio a tantas outras. Ele concentrava-se em apenas separar o estritamente necessário em sua mochila. Sua distração permitiu que Aghata entrasse em sua tenda de maneira que ele nem a notasse.

Está um caos lá fora, a chuva tem atrapalhado aos anões a despacharem os corpos dos seus mortos junto aos feridos.

Ah! Aghata, nem te vi aí – respondeu distraído.

A moça retirou sua capa de couro, que usava contra a chuva, e revelou suas vestimentas habituais. Uma calça azul escura com coturnos na mesma cor, uma blusa também azul, porém, num tom bem mais ameno. Esta peça tinha muito mais detalhes, como finas faixas num verde muito claro. Duas estendiam-se da cintura e se seguiam, cada qual para uma das mangas longas. Outras duas cercavam a gola, passando pouco acima de seu busto. Em suas costas, havia a capa preta com detalhes em prata.

Spaak reparou que, com o longo cabelo castanho escuro umedecido, a baixinha ficava ainda mais bonita do que o habitual. Alguns pensamentos inoportunos para o momento invadiram sua mente, mas ele os afastou no mesmo instante.

Foi uma dura batalha. Sorte que nenhum mago se feriu gravemente – a moça continuou.

Sim, sorte mesmo. Temos poucos magos entre nós. E todos sabem que somos a principal força de combate aqui.

Só então que ela reparou no que o mestre fazia. Via a pequena mochila vermelha e azul no chão e uma espessa capa de couro cinzenta no canto da barraca. De imediato ela entendeu o que ele planejava.

Sabendo disso ainda planeja nos deixar?

Não posso deixar aqueles dois garotos sozinhos em território hostil, Aghata, você sabe disso.

Deixe-me acompanhá-lo, então.

Também não posso permitir isso, você é importante demais aqui.

Você também é.

Spaak inspirou e expirou o ar lentamente. Sabia que aquela discussão não levaria a nada e teria de encontrar argumentos convincentes para forçar Aghata a deixá-lo ir. Caso isso falhasse, simplesmente utilizaria a autoridade que possuía como ex-membro dos Mestres de Elite.

Escute, sei o que você quer fazer.

Talvez saiba, mas não sabe o que eu estou sentindo.

Mais uma vez ele respirou de maneira lenta, sabia tudo o que viria a seguir.

Não percebe o quanto eu... Gosto de você – ela continuou. – Eu apenas tenho medo de que você desapareça de novo, Spaak.

Isso não vai acontecer, eu vou até aqueles garotos e os trarei de volta. Vai levar, no máximo, três dias pra ir e voltar através desta montanha. E, então, mais um dia para alcançar a comitiva com os anões.

Tudo muito bem planejado na teoria, mas na prática pode haver algum imprevisto e você estará sozinho nessa.

Cansado de toda aquela conversa e com as coisas arrumadas dentro de sua mochila, o ruivo levantou-se parcialmente – a barraca permitia que Aghata ficasse ereta, mas a ele não – pegou sua capa de chuva e saiu da tenda. A moça o seguiu. Rapidamente os dois mestres vestiram suas capas de couro e o ruivo encarou a baixinha para então lhe dizer.

Eu irei e não há nada que você possa me dizer para me impedir.

Ela, então, desviou seu olhar para o chão. Observou algumas formigas lutando contra a terra molhada que se formava para levar comida para seu ninho. Por fim, disse.

Sabia que não iria adiantar, mas tinha que ao menos tentar.

Ele levou suas mãos até a dela e segurou ambas. As pequenas e delicadas mãos femininas foram parcialmente cobertas pelas masculinas. Isso fez com que Aghata encarasse seus olhos acobreados.

Spaak já planejava dar um fim ao relacionamento afetivo com Aghata, mas aquela definitivamente não seria a melhor hora para tal coisa. Mesmo sabendo que se arrependeria por tornar as coisas mais difíceis futuramente, ele seguiu em frente e a beijou de maneira muito carinhosa.

Nenhuma outra palavra foi trocada entre o casal antes que ele partisse. Ninguém mais além dela e de Jonathan saberiam disso até a manhã seguinte, quando todos levantassem acampamento e seguissem com a marcha até a fortaleza dos orcs.

 

 

O caminho era íngreme e dificultado pela chuva intensa. Kamui e Sarah, porém, percorriam-no com velocidade, pois sabiam que estavam sendo seguidos por ogros. Sabiam também, que seus algozes estavam a poucos quilômetros de distância.

Kamui, eu estou cansada e essa chuva vai acabar nos deixando doentes.

Eu também estou exausto, Sarah, e estou procurando um bom local para descansarmos. Enquanto eu não encontrar, não podemos parar. Devem ser uns trinta ogros ou mais, não teríamos chances no estado em que estamos.

Como que por uma benção do destino, o casal encontrou uma caverna oculta entre as rochas e pobres vegetações da encosta montanhosa.

Sarah, ali – Kamui indicou.

Ambos correram para dentro da gruta e a penetraram com extrema cautela. A garota utilizou uma magia básica para gerar um pequeno ponto luminoso. Assim que verificaram que o local não era profundo e não apresentaria perigo, ficaram felizes em esconderem-se da chuva.

A seguir, o rapaz utilizou um Clay para fechar completamente a passagem. Ele imaginou que seu trabalho devia ter sido bem feito e ocultaria completamente o local da visão dos ogros. Além disso, torcia para que a chuva espantasse o rastro que ambos deixaram pelo caminho percorrido.

Acho que encontramos um lugar seguro para passarmos a noite – Kamui disse em meio a um sorriso enquanto virava-se para a garota.

Sarah sorriu de volta pouco antes de secar suas roupas com magia. O mago negro, imitando a amiga, o fez da mesma maneira. Já secos e um pouco mais confortáveis, ambos sentaram-se um ao lado do outro, recostados na parede.

Tá muito frio aqui – a garota comentou enquanto abraçava os próprios joelhos na vã tentativa de se aquecer. – Gostaria de poder acender uma fogueira para nos esquentarmos.

Eu também, mas não podemos, senão iríamos sufocar com a fumaça. – Kamui mantinha-se sentado ao lado de Sarah. Seus braços estavam sobre os seus joelhos. – Estou com fome.

Eu também. Não deveríamos ter deixado nossas coisas para que os anões carregassem. Agora não temos sequer um agasalho.

O rapaz concordou com a cabeça. Ambos tentaram dormir, mas Sarah recusou-se a apagar completamente a luz do ambiente, deixando apenas uma fraca luminária mágica. Por essa pequena iluminação, Kamui pôde ver que a garota tremia muito por causa do frio. Ele mesmo podia sentir a baixa temperatura do ambiente. Sabendo que eles não conseguiriam dormir daquela maneira, ele tomou uma atitude.

Sarah, eu vou te aquecer. Vem comigo.

Sutilmente, o rapaz segurou a mão da garota e separou as próprias pernas uma da outra, insinuando que ela deveria se recostar nele.

O quê?! – Ela disse, com espanto.

É o único jeito, senão vamos morrer congelados.

Foi imperceptível por causa da fraca luz do ambiente, mas o rosto da garota tornou-se rubro ao pensar no que Kamui lhe convidava a fazer. Porém, logo percebeu que seria apenas mais um abraço, como tantos outros que já haviam trocado, apenas a posição seria um pouco diferente da habitual.

Ela levantou-se, ainda tremendo e sentou-se onde havia sido convidada. Alguns segundos foram gastos até que encontrassem uma posição confortável para ambos. A seguir, o rapaz fechou suas pernas o melhor que pode envolvendo as delas e pousou seus braços encima dos femininos, cruzando-os sobre a barriga de Sarah.

Está melhor?

Sim, muito mais quente...

A garota virou o rosto para obter um contato visual com o do Atreius. Coincidentemente, ele tinha avançado sua cabeça na tentativa de vê-la melhor. Suas faces ficaram a menos de cinco centímetros uma da outra. O tempo parecia ter parado, assim como a ação do casal. Ambos os corações estava descompassados e batiam agitados dentro do peito.

Kamui não pensou, agiu conforme as emoções do momento pediam, ignorou toda e qualquer consequência que seu ato poderia trazer. Ele uniu seus lábios aos femininos. Sem sequer um segundo de hesitação, Sarah correspondeu o afeto de maneira intensa.

O beijo aprofundou-se cada vez mais. De olhos fechados, a garota contorceu-se numa tentativa de ficar o mais próximo possível de uma posição frontal em relação ao corpo do mago negro. Percebendo isso, e também com os olhos fechados, Kamui tateou a procura das pernas da garota e as passou por cima da sua própria perna esquerda. A seguir, seus braços repousaram sobre as costas da maga branca, enquanto os dela procuravam por seus ombros.

Como tudo sempre acaba, um beijo daquela intensidade também teve seu fim. Após alguns minutos, os lábios desejosos finalmente separaram-se. As testas do casal estavam coladas uma na outra e eles olhavam-se ofegantes.

Sarah... Eu tenho que te perguntar de novo... Será que você quer namorar comigo. Eu...

Sim!

Kamui surpreendeu-se com a repentina resposta da garota. Ele já esperava que ela cedesse desta vez – principalmente que ele planejava não desistir até conseguir seu objetivo – mas não esperava que seria uma reação tão imediata.

Você não sabe quanto tempo eu esperei por isso – ela continuou. – Você... Você sabe quando fazemos algo e nos arrependemos profundamente no momento seguinte? – Ele apenas assentiu a cabeça afirmativamente, mantendo sua testa unida à dela. – Então... Eu... Você não sabe quanto eu me arrependi por ter te dito não naquela noite, Kamui.

Não sabia mesmo. Eu não deveria ter levado tanto tempo pra tentar de novo.

Seis meses, você fez eu te esperar por seis meses – disse, na intenção de repreendê-lo, porém, não conseguiu esconder a felicidade em sua voz.

Então eu vou compensar essa sua espera.

Ele voltou a selar os lábios femininos junto aos seus. Um novo beijo ainda mais intenso surgiu do novo contato. As línguas pareciam que estavam dançando enquanto se encontravam em um intenso desejo mútuo. As mãos masculinas começaram a explorar o corpo feminino. Começando pela coxa direita, a mão esquerda percorreu até a cintura enquanto sua irmã repousava nas costas de Sarah, mantendo o abraço apertado. Quando, segundo a concepção da garota, o ato começou a tornar-se abusivo, ela freou o namorado enquanto cessava o beijo.

Eu acho que tem alguém que está querendo compensar esses seis meses meio rápido demais – ela disse, em um tom de voz divertido.

O que fazer? É um tempo muito grande, temos que tirar o atraso – respondeu com um sorriso malicioso.

Tá, mas pode ir com calma aí, tudo tem seu tempo.

Certo, mas chega de falar que eu quero te beijar mais um pouco, assim nos mantemos aquecidos.

Novamente, um beijo. A maneira como o casal se completava parecia que iria durar a noite toda. No entanto, a exaustão do dia anterior ao crepúsculo – e até além deste – acabou por vencer os dois, que acabaram adormecendo, um nos braços do outro.

 

 

A tênue luz da esfera brilhante que Sarah havia criado ainda iluminava o ambiente. Ainda sonolenta após despertar, a garota inclinou a cabeça para cima e pôde visualizar o rosto de Kamui, que estava dormindo serenamente.

O rapaz mantinha-se sentado de maneira pouco confortável, enquanto ela estava recostada e aninhada em seu peito. Suas pernas mantinham-se encolhidas sobre as de seu namorado. Quando ela pensou nele desta maneira, sua mente imediatamente se recordou da noite que se passou. Era verdade que foram apenas alguns beijos e leves carícias – pois ela sempre limitava os movimentos de Kamui quando este tentava algo mais intenso –, mas foram suficientes para que ela sentisse o rosto ferver enquanto adquiria um tom leve de carmesim.

Sua vontade era de permanecer ali por quanto tempo fosse possível, porém, sabia que deveriam estar cercados de inimigos e não poderiam demorar muito mais tempo. Sendo assim, ela tomou a decisão de acordar o mago negro para decidirem o que fariam.

Kamui... Acorda – chamou enquanto sacudia levemente o corpo do rapaz.

Ele resmungou alguma coisa inaudível e, logo em seguida, despertou. Olhou para Sarah e sorriu, a seguir, levou sua mão esquerda ao seu rosto e o acariciou levemente, provocando um sorriso por parte da namorada. Somente após um breve beijo que ambos levantaram-se do solo gelado.

O rapaz esticou os músculos das costas e os sentiu estalarem e doerem por causa da posição desconfortável. Sua perna esquerda estava dormente por causa do peso das de Sarah que suportaram a noite toda. Por fim, ele soltou um espirro que saiu quase silencioso.

Acho que vou ficar resfriado – comentou.

Também pudera, depois de tomar chuva o dia inteiro e ficar a noite todo nesse chão gelado... Suas costas também devem estar super doloridas. Eu deveria ter pensado nisso antes de me aproveitar tanto de você – ela disse enquanto esboçava uma expressão preocupada.

Tudo bem, foi eu quem me ofereci, lembra-se. Agora vamos sair daqui logo.

Kamui aproximou-se da parede que ele mesmo havia feito para fechar a entrada da caverna. Ele a tocou levemente e, através do feitiço Clay, começou a mover a rocha lentamente. Quando uma abertura suficiente para olhar o que havia fora da caverna foi obtida, ele vasculhou a área o melhor que podia. Constatou que a chuva havia parado e não viu nada suspeito, então terminou de desobstruir a passagem.

Assim que o casal saiu do local onde haviam passado a noite, um ogro apareceu na curva de uma rocha e os avistou. Ele rosnou baixo e preparou-se para soltar um rugido extremamente sonoro. O mago negro, porém, agiu com uma velocidade maior. Antes que a enorme criatura esverdeada pudesse emitir o som planejado, sentiu o punho do inimigo lhe atravessando o abdômen.

O embate foi decidido extremamente rápido devido ao fato de Kamui ter envolvido sua mão direita em chamas negras providas por um Dark Fira. O fogo das trevas consumiu a carne do ogro em questão de segundos e, em pouco tempo, ele estava morto, sendo que o mago negro simplesmente deixou que o corpo da criatura caísse inerte ao chão.

Poucos segundos depois, um urro ensurdecedor foi ouvido pelo casal. Sarah tapou os ouvidos com as mãos, enquanto Kamui estreitava os olhos com a dor que o som causava. Eles olharam para mais alto na montanha e perceberam que um ogro de tamanho descomunal era quem estava causando o barulho. Provavelmente aquele também era uma mistura de raças, então, os magos preocuparam-se com a possibilidade dele ser tão poderoso quanto Kiliker Broch.

O combate que eles imaginaram que iria se iniciar não aconteceu. Ao invés disso, o ogro meio gigante desapareceu entre as rochas das montanhas. Pouco depois, um rufar de tambores se iniciou próximo de onde eles estavam. Depois, outro tambor foi ouvido mais ao longe, quase totalmente abafado pelo primeiro.

Droga! Eles estão se reagrupando. Vamos sair daqui, Sarah!

No instante seguinte, o casal disparou pela encosta da montanha. Parcialmente restaurados pela noite de sono – apesar de mal aproveitada para descansar – eles puderam correr realmente velozes com o auxílio de sua aura.

Assim que se passou pouco mais de meia hora, ambos começaram a perceber o som de passadas pesadas e largas. Mesmo com a velocidade que eles mantinham, o inimigo estava se aproximando, e ele vinha veloz.

Em meio ao desespero, ambos impuseram ainda mais velocidade em sua corrida. Kamui pensava na possibilidade de se esconderem novamente, mas sabia que cedo ou tarde teriam de enfrentar o perigo.

Por fim, sem que ele esperasse, um ogro surgiu de meio a algumas rochas. O rapaz surpreendeu-se com o ataque brusco e não teve tempo para se esquivar ou defender, apenas reforçou seu corpo com a aura. O punho do adversário atingiu o lado esquerdo de seu rosto. A dor foi grande, mas nem se comparou ao último que ele tinha recebido de Turenhead.

Kamui foi arremessado para o lado com o impacto, porém, não chegou a cair. Apoiou o braço direito no chão e virou seu corpo no ar, parando em pé logo em seguida. Limpou o filete de sangue que escorria do canto de sua boca enquanto Sarah o observava, preocupada. A seguir, ele encarou seu agressor com raiva. A garota fez o mesmo.

A situação começou a se tornar realmente complexa quando mais alguns ogros juntaram-se ao primeiro. A frente do casal estava impedida e, atrás deles, seguia uma tropa ainda maior de inimigos.

 

 

 

 

 

 

N.A. - Sabe, eu simplesmente adorei escrever esse capítulo. Já fazia muito tempo que eu queria descrever essa cena do beijo, ma só agora foi possível ^^ Bom, como não fiz nenhum especial de natal, este capítulo fica como presente para os leitores que tanto cobram a cena entre o casal (principalmente para a Yasmim, que deve ser a maior torcedora deles).

Tirando isso de lado, também foi mostrado que Kiliker é forte, sim, mas não quase invencivel como Turenhead. Além disso, Kamui e Sarah terminaram mais um capítulo em apuros, mas, fazer o que né?

Anyway, as perguntas da semana serão: Será que Spaak termina mesmo seu relacionamento com Aghata? E, mais importante, o que acharam da cena do beijo? Ficou boa? Gostaram?

Até mais, e quero meus reviews como presente de natal =D

 


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