Um arrepio percorreu todo o corpo da princesa. Podia não estar lá perto, mas era visível até para mim.

– Como assim, recusaram novamente? - disse ela, ainda abalada pela notícia que supostamente devia agradá-la.

Um brilho de surpresa nos olhos do seu servo, surpreendentemente parecido com ela, comprovava a minha especulação anterior. Ele tinha vindo sorrindo, exalando felicidade pelos poros, e estava visivelmente chocado com a reação da jovem princesa. A grande notícia (aparentemente tão importante, que a primeira pessoa a sabê-la tinha que ser a princesa) era nada mais nada menos do que a proposta de paz do país verde. Um país que, mesmo não tendo as melhores armas nem o exército mais poderoso, não se rendia de modo algum na guerra com Lucifenia. E mesmo com a grande quantidade de armas que o país amarelo tem e com a grande qualidade do exército, a teimosia do país esverdeado era admirável, e estava a deixar os grandes generais verdadeiramente apreensivos.

– Quem está aí? - desta vez fui eu que estremeci. A voz do irmão da princesa, e seu servo, assustou-me. Dei uma última e rápida olhada na sua direção, para comprovar se ele estava a olhar para mim. E estava.

Aprecei-me a desaparecer do local, para não arranjar problemas desnecessários para mim. Afinal, a única coisa que eu estava a fazer era um favor a uma velha amiga.

Haku pov's

Mais um dia normal e aborrecido nesta estranha rotina que agora é a minha. Já se passou quase uma semana desde o início da guerra entre Lucifenia e o meu país. A minha casa. Acho que até mesmo os grandes generais pensam que algo assim tão grave entre dois países vizinhos é repulsivo. Mas nada nem ninguém pode contrariar a princesa, dizem eles.

Eu contrario! Como aceitar que uma simples criança comande uma potência tão grande, sozinha? Se outro alguém estivesse à frente do reino, talvez as batalhas nunca tivessem sequer um motivo para terem começado.

– Raios - disse simplesmente quando deixei cair uma bola de cristal, uma das peças de coleção de Rilianne. Hum, acho que não tenho nenhum motivo para me importar. É ela que está a tentar destruir a minha família, amigos, todos os do país verde. E a conseguir. Não tenho nenhum motivo para me preocupar com a destruição de um dos brinquedinhos de cristal da "princesa do mal". Hum... Este apelido combina com ela na perfeição.

Desde quando eu me tornei assim?

Ah, já me lembro. Desde que a minha melhor amiga tem uma arma apontada à sua cabeça por causa de uma guerra. Uma guerra para extreminar todos que tiverem cabelos verde-pálido.

– Haku-san, já encontrei aquilo que procuravas - uma voz tilintante fez-se presente atrás de mim, no preciso momento em que um dos meus dedos ía, possivelmente, cortar-se num dos pequenos cacos de cristal.

– Então sempre há tréguas. A guerra vai terminar, certo? - perguntei, fixando um dos cabelos verdes-claros vibrantes da minha "espia".

– Não - a voz dela estava mais gelada do que alguma vez tinha ouvido. - Fiquei lá algum tempo a mais para descobrir isso. Mas antes de eles sequer mencionarem o assunto eles estavam a falar sobre outra coisa completamente diferente.

Ela estava demasiado hesitante. Cerrei os punhos. Porque ela não podía simplesmente falar de uma vez?

– Gumi, diga logo.

O ambiente ficou instantâneamente mais pesado. Esperei ouvir algo que me deixasse em completo estado de choque, afinal, aquele suspense todo devería ter um bom motivo. Mas mesmo que eu tentasse imaginar, nunca me passaría pela cabeça que algo assim havía acontecido.

– Haku-san... A Michaela... não... A Miku morreu.

Sim, sem dúvida nenhuma outra notícia me deixaría no tamanho estado de choque em que me encontrava agora.