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Nos dois meses que se seguiram passei planejando minha fuga, guardando mantimentos e fazendo pequenos preparativos, uma semana antes do dia de todos os santos peguei a bolsa pequena onde guardara os mantimentos, colocara algumas roupas e água e deixara escondida em meu quarto.

No almoço do mesmo dia com a desculpa de que estava passando mal, pedi licença e deixei a mesa em direção ao meu quarto, pegara a bolsa com cautela para não ser vista e escondera no estábulo sob um monte de feno próximo de seu cavalo.

Não sei se conseguiria dar detalhes na minha fuga, ao contrario do que eu pensava foi de certo modo fácil, mas ir em direção ao desconhecido? Essa era a parte assustadora.  Era meio do almoço e o estábulo estava vazio com exceção dos cavalos. Como não era tempos de guerra a proteção do castelo e da aldeia era menor, e o fato de ser dia de todos os santos e a maioria das pessoas estarem preparando ceias, jejuando, rezando e todo esse simplório simbolismo cristão, era um ponto a mais para mim.

Respirei profundamente contando até dez.

Era realmente isso que eu queria? Ainda havia tempo para desistir...

Não, não havia tempo para desistir, só haveria tempo se o casamento não estivesse arranjado. Estava tão cansada de ter pessoas mandando em mim como se fosse um bonequinho de pano, vestindo-me de acordo com os gostos de minha madrasta, penteando e trançando meus cabelos loiros... Talvez mesmo que não houvesse casamento, esse momento um dia chegasse.

O cavalo não estava com a cela então a coloquei sozinha, demorei um pouco por causa do peso, mas por sorte não fora muito e ninguém aparecera ali, não queria arranjar desculpas ou correr o risco de ser descoberta.

Assim que coloquei a cela no lugar e prendi a firmemente, amarrei também as bolsas.

 Alguns dias antes, furtara uma adaga de meu pai, não que ele fosse dar falta, era uma linda adaga de lamina de gume duplo de 18 centímetros e 12 centímetros cabo envolto em couro decorado com pequenas rubis. Era melhor prevenir levando a adaga do que remediando, a escondi em meu vestido.

Puxei pelas rédeas minha égua de nome Stella até a porta do estábulo.

- Vamos fazer uma viagem minha garota. – disse acariciando o seu focinho.

Stella era extremamente branca e era tão veloz quanto uma estrela cadente, daí seu nome. Stella.

Eu trajava um leve vestido, cor azul clara e branco, a saia longa, mas não cheia, esperava que não me atrapalhasse muito. As mangas longas e o corpete preso atrás não muito apertado. Peguei minha capa preferida e coloquei sobre meus ombros, prendi o broxe na frente e puxei o grande capuz sobre o rosto. Mamãe deixara para quando eu fosse mais velha, era realmente muito chamativo, mas não podia deixar este presente para trás, a capa era macia, quente e vermelho sangue.

Respirei fundo, era agora ou nunca.

Sai de vagar puxando Stella, andamos silenciosamente pelo pequeno pátio de atrás do castelo, estava vazio, não havia guardas no portão e este estava entreaberto. Isso tudo estava fácil demais, embora estivesse desconfiada não deixei que isso me atrasasse, puxei Stella em direção ao portão e quando a mesma o atravessou, montei-a. Olhei pela ultima vez para o castelo de pedras ao sol primaveril. Desculpe-me meu pai, eu simplesmente não posso ser feita como uma boneca aos comandos dos outros. Foi meu ultimo pensamento antes de virar-me em direção ao horizonte claro e cavalgar o mais rápido que podia afastando-me das fortalezas do Reino do Oeste.

Só dias após a fuga é que descobri porque havia sido tão fácil, sempre serei grata a ela por isso.