Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 28
Fiz origami com seu papel de trouxa - PARTE 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! \o



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Marjorie e eu entramos no quarto onde papai repousava. Zeferino estava de olhos abertos, estes quase saltando de suas caixas. Fiquei assustada por ver meu pai, um cara que sempre foi tão tranquilo, estar sofrendo daquele jeito por uma coisa tão... besta.

— Rosemary, minha filha! Minha única filha! — ele quis tomar minhas mãos para si, mas eu não deixei, após ouvir aquilo. Marjorie apenas nos observava.

— Pai, Rubem também é seu filho. — falei, ele fez cara feia — E se o senhor não o aceitar mais como filho, não posso lhe aceitar mais como pai, já que Rubem é meu irmão.

Meu pai voltou a pousar sua cabeça no travesseiro e respirou fundo.

— Rose, minha filha! Você é muito nova para entender essas coisas.

— Nova? Eu? Ah, papai, por favor! O senhor é quem está agindo como criança. Se Rubem demorou para lhe contar a verdade foi porque o senhor sempre se mostrou preconceituoso com as outras pessoas. Zombava do filho do vizinho ou dizia que o rapaz da TV iria para o inferno. O inferno está cheio de pessoas preconceituosas, isso sim!

— Se sua mãe tivesse me dado a guarda de vocês logo quando nos separamos, seu irmão não seria... desse jeito. — falou, com repulsa.

— E eu seria uma ótima mãe. — Marjorie se intrometeu. Ela já estava me dando nos nervos. Ignorei-a.

— E então, papai, me promete que vai conversar com o Rubem? Ele tem muito o que contar ao senhor.

— Esse traste tentou me enganar.

— Eu acho que o que ele fez foi muito grave. — Marjorie abraçou meu pai e lhe deu um selinho — Meu Zef quase bate as botas. Eu não aguentaria o luto se eu perdesse meu maridinho querido.

— Marjorie, me faz um favor? — pedi.

— Sim, Rose, todos os favores que você quiser.

— Cala a boca, por favor! — minhas pernas estavam bambas de tanta raiva dessa bruaca. — Olha papai, juro ao senhor que meu irmão teve seus motivos. Só me prometa que vai conversar com ele civilizadamente. Por mim?

Meu pai estava suspreso com minha reação quanto à Marjorie e quanto às suas próprias atitudes. Ele percebeu - e eu percebi também - que havia amadurecido muito desde o dia em que cheguei à sua casa, como uma louca, batendo o carro do meu irmão na árvore em frente à sua mansão.E ele me prometeu que iria falar com Rubem, mas quando saísse do hospital. E eu esperava que meu irmão contasse tudo, tintim por tintim, sobre o porquê de ele ter armado tal casamento falso com Dóris.

De súbito, escutamos uma gritaria vinda do corredor que dava acesso ao quarto onde papai estava. Fiquei com medo, porém curiosa, mas antes que eu abrisse a porta para ver o que se sucedia, mamãe entrou no quarto. Suas ventas pegavam fogo.

— Mãe?! O que a senhora tá fazendo aqui?

— Vim acertar as contas com alguém. — ela estalou os ossos da mão. Foi macabro.

— Ah, Solange, por favor. Nem chegou o dia de pagar a pensão ainda... — papai brincou, mas dona Solange nem mexeu os lábios para rir. A coisa era séria.

— Não, Zeferino, o meu acerto de contas não é com você. É com a lacraia que você chama de esposa. Essa daí. — mamãe apontou para Marjorie.

— Mãe, por favor, o que a senhora vai fazer? — questionei.

— É melhor sair de perto, Rosemary, pois pode sobrar pra você também E PRA TODO MUNDO QUE ME IMPEDIR DE AMACIAR A CARNE DESSA VACA!

E então eu saí de perto, fiquei escorda na porta, enquanto meu pai gritava e Marjorie se encolhia entre a grade do leito onde papai estava e a parede.

— Você tá ficando maluca, é? Eu vou chamar a polícia, ouviu?

— Aproveita que você está num hospital, pois você não vai sair daqui tão cedo. — minha mãe agarrou o megahair loiro de Marjorie e o arrancou, jogando-o em cima de papai. As madeixas verdadeiras de Marjorie eram horrendas, cheias de pontas duplas e oleosas.

— Zeferino, acalma essa louca! Rosemar, chama a segurança, ela vai me matar!

— Depois dessa lição você nunca mais vai mexer com meus filhos, ouviu bem?

E então, para não aumentar o nível de violência da história (e, consequentemente a classificação indicativa) vou resumir: Marjorie aponhou. E merecido. Saiu com o olho roxo, alguns ossinhos quebrados, a cara rasgada, enfim. Marjorie não poderia participar das campanhas dos Supermercados Maldonados por um bom tempo e Rubem quase colocou minha mãe num pedestal por causa disso,

Meu pai conversou com Rubem, dois dias depois. Na verdade, ele foi até a nossa casa onde reuniu mamãe, eu, Rubem e Dóris para conversarmos, juntamente com um advogado. Medo.

— Trouxe seu advogado, Zeferino? Já sei, sua mulher quer me processar pela coça que eu dei nela, não é?

— Mamãe, não provoca! — Rubem a repreendeu. — Pai, por favor, senta aqui.

Papai se sentou no sofá, sem cumprimentar direito o filho, apenas a mim. Dóris, sempre calada diante das situações, não fez diferente. O advogado abriu sua pasta e tirou alguns papéis.

— O combinado era que Rubem se casasse e... apesar das circunstâncias, ele se casou. Bom, vocês sabem que eu sou um homem de palavra e eu nunca volto atrás no que eu digo. — Zeferino fez um sinal para o advogado, que entregou um cheque e um papel para Rubem assinar.

Rubem leu o papel, depois viu a quantia do cheque - uma quantia gorda, aliás - ficou calado por um bom tempo e, por fim, rasgou tudo. Todos, em coro, abriram suas bocas em O.

— Obrigado, meu pai, por não voltar atrás com o que me prometeu, mas não posso aceiar seu dinheiro depois de tudo o que eu fiz. Eu preciso muito do dinheiro, mas não quero.

— O quê?! Como assim?!

— Eu errei muito, pai. E queria consertar um erro com outro erro. É só isso que o senhor tem para entender. Não vou ligar se o senhor não quiser mais falar comigo por eu ser o que sou, mas só quero que o senhor me olhe como um homem. Um homem sim que, como a Rosemary me ensinou, sabe reconhecer os próprios erros.

Eu fiquei emocionada, mamãe ainda mais. Parecia outra pessoa falando no lugar do Rubem. Cara, que orgulho do meu irmão!

Meu pai e seu advogado se levantaram do sofá.

— Então... já não tenho mais nada para fazer aqui. — papai olhou em volta, aquela casa foi onde ele morou enquanto era casado com mamãe e fazia muito tempo que ele não ia por ali — Adeus.

Depois que eles saíram, Dóris, mamãe e eu abraçamos Rubem muito forte, mas o questionamos sobre o que ele iria fazer para se acertar com Tereza, a dona da Folk Basfond.

— O prazo já se foi, minhas caras. — disse Rubem — agora vou esperar a polícia. Sera que eu vou ficar bem, vestido de laranja? — ele brincou.

— Não é justo você pagar por uma coisa que aquele tal de Martin fez. Você acreditou nele e...

— Acabei me ferrando. Mas é a coisa certa a fazer.

A noite caiu. Estávamos apreensivos sobre o destino de Rubem, mas eu me lembrei então do resultado do vestibular. Corri até o computador do meu quarto, que era muito lento, e esperei que ele ligasse. Entrei no site da universidade e meu coração foi à mil quando vi que o resultado do vestibular já havia saído.

Cliquei. Vamos lá, Rosemary, você passou, você passou, você passou.

A internet estava mais lenta ainda, então demorou um pouco para carregar o documento onde havia a lista de aprovados em cada curso. Passei pelo de Administração e, pela ordem alfabética, o meu, Arquitetura, seria o próximo. Minha mão tremia à medida que eu descia pelo mouse até chegar na letra R.

Meu nome estava lá: Rosemary Campos Maldonado. Futura arquiteta.

Minha primeira reação foi correr ao telefone e fazer uma ligação (caríssima) internacional para ele, Sebastian, que por falar nele, havia um tempinho que não dava notícias.

Digitei o número que ele me dera e esperei que o telefone chamasse. Tentei duas, três vezes e só na quarta vez alguém me atendeu. Era o pai de Sebastian.

— Alô? Oi! O Sebastian está podendo falar? Diz que é a Rosemary! — a felicidade que eu estava sentindo era imensa e mal cabia no meu sorriso. — Eu tenho uma notícia ótima pra dar.

É que... eu nem sei como falar isso, mas o Sebastian sumiu.

As palavras do pai de Sebastian apunhalaram meu coração. O que será que havia acontecido?


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